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Agridoce

Capítulo 15 – Agridøcє

Agridøcє

Me virei e fui me sentar na primeira fileira de cadeiras, bem consciente dos olhares que me encaravam ao fundo, mas eu não me importei. Queria que todos se danassem!

Os minutos que se seguiram foram sufocantes, a sala de espera estava um silêncio, ninguém conversava, nenhum médico aparecia, meus pais não chegavam e o único barulho que se escutava era o irritante tic tac de um relógio em algum lugar. Foi um alívio quando as portas da entrada se abriram e mamãe e papai passaram por elas

— Como ela está? — Mamãe perguntou quase correndo até mim.

— Parece ótima. — Murmurei, cruzando os braços.

Mamãe me encarou por alguns segundos e depois se virou para recepção e em seguida passou pela porta indo em direção ao quarto 12 com papai indo logo atrás.

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Papai passou pela porta do hospital, carregando Ally. Passava um pouco das seis da tarde, apesar de alguns hematomas e cortes, os exames mostraram que Ally estava em um estado aceitável para ir para casa. Casa, não Universidade, o médico tinha sido bem claro.

Papai colocou Ally deitada na parte de trás do carro, mamãe e papai entraram na parte da frente, enquanto eu esperava ao lado do carro, Rylan ir buscar a moto onde tinha deixado.

— Vai para a casa? — Ally sussurrou, levantando um pouco a cabeça para me olhar pelo vidro aberto.

— Não. — Respondi secamente, ainda chateada pelos acontecimentos da madrugada.

— Por quê?

— Porque amanhã começa a semana de provas, já está tarde, eu preciso estudar e não compensa eu ir para casa agora se terei que voltar logo.

— Por favor, Wen. — Achei ter visto uma lágrima escorrer pela sua bochecha roxa.

— Não posso. — Sussurrei o que ela havia me falado no telefone á dois dias atrás. Parecia que semanas haviam passado.

Rylan apareceu, me despedi dos meus pais com um aceno rápido e prometendo que iria para casa no próximo final de semana, subi em cima da moto e Rylan deu a partida.

Quando Rylan me deixou no dormitório, passei pela habitual máquina de doces e reabasteci meu estoque de bolinhas de chocolate com caramelo, entrei no quarto que estava vazio e peguei de baixo da cama meus livros, dentro da bolsa algumas anotações e me joguei na cama para estudar. Estudei até adormecer, e acordei no outro dia com o pescoço dolorido de ter dormido com a cabeça em cima dos livros.

Rylan me levou até a porta da minha aula de Língua Inglesa A, no dia seguinte, na qual eu teria longas três horas de prova. Quando terminei, caminhei um pouco exausta para o refeitório, meu estômago reclamava pedindo alimento. Entrei no refeitório e encontrei Joy e Rylan sentados na mesma mesa que costumávamos nos sentar, Rylan tinha a sua frente dois pratos e eu agradeci mentalmente por não precisar pegar fila.

— E aí, dona Wendy! — Joy sorriu para mim, depois deu uma mordida em sua maçã.

— Peguei seu almoço. Arroz, salada de espinafre, tortinhas de frangos e uma água com gás. — Rylan empurrou meu prato para mim.

— Obrigada. — Sussurrei, enfiando uma garfada cheia de comida na boca.

— Como foi à prova?

— Cansativa. Sinto-me mentalmente exausta. E é só a primeira. — Mais uma garfada.

— Bem vinda ao clube, minha amiga! — Joy sorriu. Ultimamente ela andava muito sorridente, isso a tornava menos sinistra.

Terminei meu almoço em silêncio, enquanto Rylan e Joy discutiam qual seria a maneira mais gentil de dizerem para os pais que ambos não iriam para a casa naquelas férias. Depois, Rylan me levou na minha próxima prova e foi me buscar quando havia terminado.

Caminhamos em silêncio para o dormitório, eu estava exausta e com uma dúvida cruel sobre a última questão da prova. Rylan me levou até a porta do meu quarto, mas não entrou, precisava estudar e eu também. Me surpreendi ao entrar no quarto e encontrar Joy jogada na cama, com um monte de papel em todos os cantos. Ela me encarou quando fechei a porta.

— E essa cara? Eu também preciso deixar os boys um pouco e estudar! — Ela piscou e voltou sua atenção para os papéis.

Deitei-me em minha cama e peguei minhas anotações sobre Programa de Comunicação, abri um pacotinho de bolinhas de chocolate e então meu celular tocou. Era Ally.

— Tudo bem? — Sussurrei atendendo ao telefone.

— Tudo. Quando ia me dizer que estava namorando?

— Acho que está meio óbvio.

— Rylan. — Ela sussurrou.

— Ralph. — Comentei.

— Eu ia te contar. — Seu tom de voz diminuiu.

— Claro que ia. — Abaixei o tom de voz, sarcástica.

Ela não falou nada e nem eu. Não iria quebrar o silêncio constrangedor. Não dessa vez.

— Me desculpe, Wen. — Ela sussurrou, parecia estar chorando.

— Pelo que?

— Por tudo. Você estava certa… — ela fungou. — Você sempre está.

— Desculpada.

— Simples assim? — Ela pareceu surpresa.

— Simples assim.

— Papai e mamãe me deram a maior bronca. Tive que prometer que vou parar de beber e ir a festas. Vou passar as férias todas em casa, longe do Ralph e ainda vou ver uma psicóloga.

— Não vou dizer que sinto muito.

— Eu sei que não.

— Preciso estudar. Boa tarde, Ally!

— Desculpe. — ela sussurrou. — Te amo, Wen.

Desliguei. Percebi que Joy me encarava pelo canto dos olhos, mas voltei minha atenção para os papéis e comecei meus estudos.

Dormi novamente com o rosto enterrado na papelada dos estudos, acordei no outro dia com a cabeça e o pescoço doloridos. Me espreguicei.

— Bom dia, senhora “cara nos livros”. — Joy já estava arrumada, com suas típicas roupas pretas e sua maquiagem escura.

— Bom dia, senhora “só ando de preto”. — Joy gargalhou, nunca vira ela gargalhar daquela forma, foi meio sinistro.

— Vai se arrumar. Vou te esperar para o café.

— Você, tomando café comigo? — arregalei os olhos, debochada. — Não quero manchar sua reputação.

— Nem se quisesse, mancharia a reputação de Joy Thomas, meu bem! — Ela piscou e virou o rosto para o celular, isso era a deixa para eu parar de falar e ir fazer o que ela havia mandado.

Peguei uma calça jeans azul e minha camiseta favorita do Mickey Mouse, minha toalha e meus itens de higiene e caminhei para o banheiro. Quando voltei para o quarto, Joy já me esperava impaciente. Puxou-me para fora do quarto, enquanto eu ainda terminava de calçar minhas sapatilhas.

— Isso é bem atípico. — Comentei enquanto passávamos pela porta do refeitório.

— O que? — Joy olhou em volta com desdém. — Se esse pessoal já é feio no almoço, quando acabam de acordar, são piores ainda!

— Você é tão delicada! — Debochei.

— Eu sei. — Ela sorriu e caminhou para a fila, encheu seu prato de tantas porcarias diferentes que duvidava muito que ela fosse comer tudo aquilo. Pagou e antes de se sentar a mesa ainda roubou uma maçã do menino da mesa ao lado. Ela comeu tudo e ainda a maçã que roubara e como se não bastasse, beliscou uns pedaços das minhas panquecas.

— Caramba! Como você come! Como pode ser tão magra?

— Genética. — Ela piscou, jogando as pernas em cima de uma cadeira.

— Não é elegante por as pernas em cima da cadeira! — Sussurrei.

— Sabe qual é o problema? — Ela puxou do bolso da calça um maço de cigarros e colocou um na boca, acendendo logo em seguida.

— Bom, nesse momento o problema é você acendendo um cigarro no refeitório! — Olhei em volta para ver se alguém tinha percebido.

— Não. — ela tragou por um longo momento o cigarro, soprou a fumaça lentamente e me encarou. — Você não é tão boazinha assim, Wendy. Ninguém é! Você quer ser uma filha exemplar pra compensar o desastre de irmã que tem. Mas você só engana a você mesma. Sabe por que eu gosto de você? — ela tragou mais uma vez o cigarro e me encarou, esperando uma resposta.

— Não. — Sussurrei, a olhando sem graça.

— Claro que não sabe. — revirou os olhos e soprou a fumaça. — Gosto de você por que sei que você não é essa boazinha que diz ser. Você é debochada, irônica. Vejo a malícia transbordar de você quando está com o meu irmão. Você é uma menina má! Não estou querendo dizer que você é totalmente amarga, por que tem um enorme lado doce em você. Você é agridoce.

Mastiguei um enorme pedaço de panqueca e bebi um longo gole de suco de laranja, sem saber o que responder diante daquele comentário. Joy transbordava sinceridade, isso ela nunca havia negado e quem estivesse à volta dela podia perceber, mas ela nunca havia sido tão sincera comigo. Na verdade, ela nunca tinha dito tanta coisa de uma só vez para mim.

— Só que, Wendy, estamos na última semana do primeiro semestre. Daqui a pouco seu primeiro ano na faculdade se foi e o que você aproveitou disso? — ela me encarou, esperando uma resposta, mas balançou a cabeça quando eu abri a boca. — Deixa que eu respondo: Nada. Você não aproveitou nada. Dar uns beijinhos em um menino e arrumar um namoradinho não é aproveitar. Você ao menos deu uma boa trepada com meu irmão? Não precisa responder também, não quero saber.

— Para aproveitar, eu não preciso fumar, nem ir a festas e me encher de bebida alcoólica, não preciso ficar distribuindo beijos de língua por aí e nem dar uma “boa trepada”.

— Pense nisso. — Ela murmurou se levantando. — Vou te esperar para o café da manhã, amanhã. Esteja pronta quando eu acordar. Odeio ficar com fome de manhã cedo.

Antes que eu pudesse fazer qualquer comentário Joy se levantou e saiu. Fiquei encarando a porta por alguns minutos, sem conseguir entender direito o que havia acontecido ali. Havia levado uma bronca de Joy? Um conselho?

Me levantei e caminhei para a minha próxima prova.

Capítulo 16 – 31/01

Stephanie

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