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Cantiga de Amor

Capítulo 14 – Cantiga de Amor

Cena 01: Igreja del Fiume. Sala do padre. Biblioteca subterrânea. Final da tarde.

Santorini descobriu que Gustavo roubara sua chave e encontrara a biblioteca secreta.

Gustavo – Eu pago qualquer penitência, eu rezo quantos terços o senhor quiser, padre. Palavra de honra!

Santorini – Não, só isso não basta. Eu já sei como proceder. Lembra-se da notícia que eu trouxe ontem para os meus fiéis, na missa? Se não, eu vou refrescar sua memória. Você, Gustavo, pecou gravemente, e para pagar por seus erros, será um dos nossos enviados para a Guerra Santa contra os mouros, em Jerusalém!

Gustavo se desespera.

Gustavo – Pelo amor de Deus, padre! O senhor não pode fazer isso comigo! Eu tenho uma história aqui nesse lugar! A mulher que eu amo mora aqui, eu não posso ir embora! E os meus pais? Não tem como eu deixá-los aqui e partir!

Santorini – Você podia ter pensado nisso antes de fazer o que fez! Além disso, errou ao se encontrar escondido com Agnella. E pior ainda: se beijaram! Sabe de uma coisa, rapaz: essa é a melhor coisa a ser feita. E eu vou lhe explicar por quê. Se outra pessoa e não eu soubesse disso que você fez, o entregaria às cortes do papa. E nesse caso seria morte certa. Se você ficar, o pai da moça que você diz que ama vai procurá-lo para fazer justiça! De qualquer jeito, Gustavo, você vai sofrer.

Gustavo – (Abaixa a cabeça) Se esse é o único jeito, então, padre, me explique: o que devo fazer? Sairei daqui sem dar notícias?

Santorini – Fique tranquilo, rapaz. Eu sei o que é certo pra você, e farei tudo do jeito que tem que ser feito.

Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Final da Tarde.

Enzo estava bufando na sala. Alguém bate na porta. Ele abre, e é Adelmo.

Adelmo – Boa tarde, senhor Enzo. Pelo visto, algo sério aconteceu aqui, para o senhor parecer tão agitado.

Enzo – Não queiras se intrometer na minha vida, rapaz. Aliás, o que fazes aqui? Não estou em bom momento para ouvir futilidades.

Adelmo – Na verdade, senhor, eu vim aqui para falar algo também muito importante. Mas acho mais conveniente voltar outra hora.

Adelmo deu a volta, mas Enzo segurou em seu braço.

Enzo – Creio que nada mais me abalará hoje. Podes contar o que quiseres.

Adelmo – Está bem.

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.

Agnella está encolhida, em cima da cama. Sua mãe, ao seu lado, tenta confortá-la.

Prudência – Acalma-te, minha filha. Não chores. Foi melhor para ti e, inclusive para ele, que isso acontecesse.

Agnella – Não, mãe, não foi! Eu o amo! Será que dá para entender isso?

Então, Agnella ouve uma voz familiar vinda da sala.

Agnella – Adelmo? O que ele faz aqui? (Tem um estalo) Não! Ele não será capaz!

Ela dá um salto da cama, abre a porta e vai à cozinha. Sua mãe, sem entender nada, a segue.

Prudência – Minha filha, o que tu estás fazendo? Volta para o teu quarto, Agnella! (A filha não lhe dá atenção) Agnella!

Agnella entra na cozinha, pega uma jarra com água, um copo e chega à sala.

Agnella – (Sorrindo, mas com um olhar fulminante para ele) Adelmo, que prazer ver-te. O que te trouxe aqui?

Adelmo – Eu… Eu…

Enzo – Agnella, eu quero saber o que tu fazes aqui! Eu e Adelmo estamos tendo uma conversa séria!

Agnella – Tudo bem, meu pai. Eu só vim aqui porque ouvi a sua voz e vim oferecer a ele um pouco de água.

Adelmo – (Sem entender) Quanta gentileza a tua, Agnella…

Agnella anda em direção a ele com a jarra e o copo na mão, mas, quando chega perto de Adelmo, tropeça propositalmente e, usando toda a sua força, bate com a jarra na cabeça dele, quebrando uma parte dela e o molhando totalmente. Instantaneamente, ele se levanta.

Adelmo – Estás louca, menina? Olha o que fizeste comigo! Agora terei que voltar a minha casa e me trocar! Infelizmente, senhor Enzo, não poderemos continuar nossa conversa hoje, por causa dessa sua filha atrapalhada. Mas muito em breve voltarei e trataremos do nosso assunto.

Enzo – Mil desculpas, rapaz. Estarei disposto a ouvir-te.

Adelmo segue, meio cambaleante, para a porta, e sai.

Enzo – E tu, Agnella, que deverias ter ficado em teu quarto, irás para lá para nunca mais sair! Já! Estarás de castigo por muito e muito tempo!

Agnella volta para o quarto, mas não mais chorando.

Enzo – Só me faltava essa!

Cena 04: Povoado das Hortaliças.

Por uma das ruas do povoado, Adelmo volta pra casa. Cambaleando em cima do seu cavalo, com a vista embaçada. A rua está vazia. Na curva entre duas ruas que ficam vizinhas à floresta, ele não enxerga o final da rua, e, mesmo avisado pelo cavalo, não freia. Bate em uma árvore, e cai rolando floresta adentro.

Cena 05: Igreja Del Fiume. Noite.

O padre Santorini está passando pela nave da igreja, seguindo para o seu quarto. Izabella o encontra.

Izabella – Padre, e o meu filho? Encontrei-o agora, mas ele não me disse onde estava… Mas diga-me: onde o senhor o encontrou?

Santorini – Ele estava por aí. E, por favor, não me pergunte mais nada. Amanhã você e o pai saberão melhor o que aconteceu.

Ele sai. Izabella fica se perguntando sobre o que ele estava falando.

Cena 05: Convento. Quarto de Valentina. Noite.

Valentina está deitada.

Valentina – Meu Deus, e eu achando que seria livre… E vim parar dentro de um convento! Perdoe-me, Deus, mas eu não nasci para ser freira! Eu preciso sair daqui!

Valentina, então, dorme. Ela tem um sonho. Ela está correndo, sem parar, mas não sabe do quê, e nem sabe onde. Até que olha para as árvores ao redor e percebe que está na floresta. Quase cai ao tropeçar na raiz de uma árvore, mas segue correndo. Cansada, ela encosta em uma árvore, e, nessa hora, vê Gregório sentado ao pé de outra, com a cabeça entre as pernas. Aproxima-se e levanta a cabeça dele. Ele está chorando. Eles se olham, seguram-se pelas mãos, e, vendo a sombra enorme de um rosto e de uma mão, voltam a correr juntos. Ela acorda.

Valentina – (Ofegante) É ele, então! É ele que vai me ajudar a encontrar minha liberdade!

Cena 06: Nave da Igreja del Fiume. Manhã.

O padre está sentado em sua cadeira, até que Gustavo aparece.

Santorini – Eu estava esperando por você, rapaz. Venha comigo.

O padre puxa Gustavo para a sala ao lado.

Gustavo – E então, padre? Não há nenhuma chance de o senhor ter mudado de ideia?

Santorini – Nenhuma, e você sabe disso. Contaremos a seus pais durante a refeição que você irá embora. Mas preste atenção: você está proibido de sair dessa igreja. Somente eles ficarão sabendo disso até a sua partida, e somente eu e você saberemos por que você irá lutar em nome do Senhor nessa viagem, entendeu? Nem mesmo seus pais podem saber a verdadeira razão.

Gustavo – Mas, padre, eu não posso nem mesmo olhar a floresta aqui à frente, ou ir ao rio que passa atrás da igreja?

Santorini – De forma alguma. Você ficará aqui até amanhã. E amanhã partiremos em direção ao litoral. Agora, vamos tomar café.

Eles se dirigem à “sala de jantar” da igreja. Os pais de Gustavo já estão lá.

Edetto – Padre, o senhor disse à minha mulher que hoje nos explicaria melhor o que aconteceu ontem. Pois bem. Onde o meu filho estava?

Santorini – Ele estava aqui mesmo, na igreja. Mas o que eu tenho para avisá-los é algo muito importante.

Izabella – (Ansiosa) E o que é?

Santorini – Eu e seu filho entramos em um acordo ontem, e ele será um dos nossos enviados para a Guerra Santa da Igreja em Jerusalém. Como vocês sabem, os mouros tomaram a Cidade Santa, e… (É interrompido.)

Izabella – (corre para abraçar o filho dela) Gustavo! Por que, meu filho? Por quê?

Gustavo – Mãe, eu…

Santorini – (Enfático) Nós achamos melhor para ele. Ele está disposto a defender essa causa nobre, e, depois do que aconteceu ontem, não é, achamos melhor que ele saísse daqui.

Edetto – Quanto a isso, concordamos com o senhor. Mas não dá para levarmos Gustavo de volta conosco?

Santorini – Não. Já está decidido. Amanhã partiremos em direção ao litoral, de onde ele embarcará. Creio que vocês irão querer nos acompanhar.

Edetto e Izabella – (Acatando a ordem do padre) Claro, com certeza.

Cena 07: Igreja Del Fiume. Manhã.

O padre já havia tomado café, e estava agora em sua sala.

Santorini – Bem, irmã Francisca, conforme o que eu acabei de lhe contar, eu e Gustavo decidimos que seria bom que ele lutasse nessa Guerra Santa.

Francisca – O que eu não entendi, padre, é como, de repente, ele tomou essa decisão. Não há, assim, nenhum motivo específico por trás disso?

Santorini – Irmã Francisca, claro que não. E, mesmo se houvesse…

Nessa hora, Gregório aparece.

Gregório – Com licença, padre. Um dos nossos fiéis do Povoado das Hortaliças – se não me engano ele se chama Pero – está à sua espera.

Santorini – Com licença, irmã Francisca. Irei ver o que Pero deseja.

Ele sai. A irmã Francisca fica na sala dele, com raiva. O padre chega à sala de recepção da igreja.

Pero – Sua bênção, padre.

Santorini – Deus te abençoe, meu filho. Mas, diga-me, o que você quer?

Pero – Padre, o senhor já está informado acerca do que Brás da Mata vem fazendo com a minha, digo, com Inês, a filha de Simone, lá do povoado.

Santorini – Claro, meu filho, claro. Não concordo com o que ele faz, mas eu estou de mãos atadas, afinal, ele é o seu esposo, não é?

Pero – Sim. Mas, padre, acho que tenho uma solução. Eu estive na missa em que o senhor nos informou sobre os mouros em Jerusalém e sobre a Guerra Santa. E, a menos que o senhor já tenha homens suficientes para cumprir essa missão…

Santorini – Brás pode preencher uma das vagas, certo?

Pero – (Sorrindo) Exatamente.

Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone. Manhã.

Simone acordou, e, procurando, não viu o filho.

Simone – Meu Deus! Desde ontem que não vejo Adelmo em casa… Será que ele chegou sem que eu percebesse, e hoje de manhã partiu sem me avisar? Ele não faria algo assim comigo! (Ela senta) Bem, mas, se foi isso, devo ficar tranquila.

Ela toma café, e vai até a casa de Leonor. Ao chegar na rua dela, vê um movimento anormal. Ao avistar a amiga, ela grita.

Simone – Leonor! Leonor! (Leonor chega perto dela) O que está acontecendo aqui?

Leonor – Minha amiga! Creio que a notícia não é das melhores! Venha comigo!

Ela puxa Simone em direção ao final da rua, que dá na floresta. Quando passam pelo povo, todos ficam fazendo burburinhos. Então, elas chegam ao local de destino. Alguns homens e crianças estão lá. Elas entram na floresta.

Simone – Mas, afinal de contas, o que houve?

Leonor – Seja forte, amiga.

Então, Simone vê, a alguns metros de distância, Adelmo, caído no chão, ensanguentado. Se desespera e corre em sua direção, agachando-se ao seu lado.

Simone – (Gritando) Adelmo!! Meu filho!! (Ele não responde. Ela começa a chorar, e olha para as pessoas ao redor) Ele… Ele está morto!

11 comentários sobre “Capítulo 14 – Cantiga de Amor

    • Que bom que você tem gostado! Eu estou te aguardando, então, torcendo por você!
      Mas eu também to bastante atrasado com as outras webs do Portal. Mal to tendo tempo de acompanhar a minha! To na mesma correria que você, te entendo!
      Mas obrigado por comentar, e continue participando! Sua opinião é importante! 😀

  • #RIPAdelmo nossa mas esse acidente foi fatal mesmo, coitada da Simone!
    Brás indo pra guerra? Coitado de quem o cercará. Detesto esse personagem. Gustavo é outro que vai partir pra guerra…Creio que a web ganhará novos ares depois disso! Ares mais pesados, eu diria.
    Ótimo capítulo, parabéns, eu amo o ritmo dessa web!

    • Mas você já tá dando adeus pra Adelmo? Será mesmo que ele morreu?
      Quanto a esses ares pesados, talvez eles venham, talvez não. A vida às vezes nos prega peças. Nunca se sabe 😉
      Obrigado! Continue acompanhando! 😀

  • Então Adelmo sofreu um acidente, também depois do que a Agnella fez kkkk, cena ilária ela jogando água nele. Mas parece que agora a Simone está em desespero.
    E o Gustavo vai realmente para a guerra, quero só ver quando a Agnella vai fazer quando saber que seu amado foi pra guerra, irás sofrer bastante!!! 🙁

    • Mais do que jogar água, ela quebrou a jarra na cabeça dele! rsrsrs E Simone vai ficar desesperada, com certeza. Não tem como não ser assim.
      Já Agnella… Bem, depois dessa separação, ela não quer outra coisa a não ser encontrar Gustavo. Mas quando ela souber disso… Será que ela conseguirá? Terá coragem de encontrar o amado? O jeito é continuar acompanhando!
      Obrigado pelo comentário, e siga participando! 🙂

  • Gente este Padre Santorini me passa uma energia muito negativa quanto a sua personalidade meio gótica me faz lembrar o “Dom Gerônimo” interpretado por Tarcísio Meira em A Muralha de (2000), de Maria Adelaide Amaral era um comerciante, baseado Santorini em suas atitudes severas me passa esta sensação negativa, ou posso estar errado que escrita maravilhosa, tão maravilhosa que parece que estou voltando no século XV Era Medieval estou amando sua novela quanta riqueza nesta escrita….

    • Que bom que você está gostando, e que eu tenho conseguido provocar essa sensação! 😀 Quanto a Santorini, acho que o momento o “desfavoreceu”, mas ele não tinha outra escolha. Ou ele ,mandava Gustavo pra guerra, pra pagar por esse pecado, ou ele mandava pra julgamento. Afinal, o padre Santorini, mesmo fazendo concessões, busca ser correto. Pior seria para Gustavo se ele tivesse sido descoberto por Francisca. Aí seria pior.

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