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Filho Amado

Capítulo 13 – Filho Amado

Filho Amado.
Capítulo 13.

Bento chega: FOGE NORONHA, FOGE!
Noronha solta Éssio: Do que você tá falando, pai? Fugir de quê?
Bento puxa o filho: Da policia, filho, eles estão te acusando do assassinato do Chico Branco, e parece que tem provas,um bolinho envenenado!
Noronha se desespera: Bolinho envenenado? Mas eu…
Bento, trêmulo: Me diga que você não cometeu esse crime, Noronha, me diga!
Noronha, agitado: Eu não cometi crime nenhum pai, não matei ninguém, e nem sei como esse bolinho pode ter parado no…
Bento sobe as escadas: VOCÊ TEM QUE FUGIR, EU VOU PEGAR UMAS COISAS PRA VOCÊ LEVAR!
Noronha o puxa: Pai, eu não tô entendendo o que tá acontecendo! Como assim você quer que eu fuja! Eu tenho que me casar!
Bento, surtando: A POLICIA FOI NA IGREJA TE PRENDER FILHO, MAS COMO VOCÊ NÃO ESTAVA LÁ ELES ESTÃO VINDO PRA CÁ!- Ele sobe as escadas.
Noronha põe as mãos sobre a cabeça: Meu Deus…Não é possível, só pode ser um pesadelo…
Éssio se aproxima: Eu disse, avisei que você não ia se casar, eu sabia que você um dia perderia a cabeça e cometeria um crime!
Noronha, sem saber o que fazer: Você não percebe que eu não cometi crime nenhum? Porque eu iria querer matar aquele homem, Éssio?
Éssio, rindo: Se acharam um bolinho envenenado no terno do Chico Branco só pode ter sido você, e ainda com o veneno da dedetizadora onde você trabalhava! Assuma, Noronha, você é um criminoso!
Noronha percebe: Espera aí…O papai não falou que o bolinho estava no terno, e nem que tinha sido envenenado com veneno da dedetizadora- Ele cria uma hipótese- Éssio, você tem alguma coisa haver com isso? FOI VOCÊ QUE MATOU AQUELE HOMEM?
Éssio nega: Claro que não, pra quê EU iria querer matar ele?
Noronha aponta o dedo na cara do irmão: Pra me incriminar, agora faz todo sentido, Éssio! Você pegou meus venenos que estavam na dispensa e envenenou um bolinho, é isso, foi você. VOCÊ!
Éssio: Não é assim que você vai se livrar da culpa, todos os indícios apontam pra você! VOCÊ Noronha matou aquele homem, e eu não tenho nada com isso…Sou inocente, enquanto você assassinava aquele politico eu estava chorando pelo meu papai, que estava no hospital!
Noronha lhe dá um murro, que o faz cair e arranca um dente de sua boca: FALSO, FINGIDO, CÍNICO! VOCÊ AINDA VAI ME PAGAR MUITO CARO POR ISSO, VOCÊ CONSEGUIU ESTRAGAR TUDO DE NOVO!
Éssio, sangrando: Tem gente que merece certas coisas, e duas vezes!
Noronha começa a chorar, um choro de ódio: Por quê você me odeia, Éssio? Por quê você faz questão de estragar a minha vida? O QUE EU TE FIZ?
Bento chega com uma pequena mala: Vamos, Noronha, vamos…
Noronha: Pai eu não posso ir, não cometi crime nenhum, eu juro, a Aurora está me esperando, não posso abandonar ela!
Bento suplica: Você deve ir, Noronha, não vai adiantar nada você jurar que é “ inocente”, a policia não está nem aí…Eu acredito em você, eu sei que não foi você, mas a policia só acredita nas PROVAS, e as provas apontam pra você!
Noronha olha para Éssio caído: Alguém está tentando me incriminar pai…
Bento o empurra para o carro: Isso não importa agora, Noronha, o que importa é VOCÊ, aqui nessa malinha tem o necessário pra alguns dias, e tem o seu dinheiro também- Ele faz uma pausa- Eu não quero que você volte, filho, pro seu bem.
Noronha, atordoado: Pra onde eu vou? Como vou ficar? Pai, essa fuga é impossível, fora que a Aurora…
Bento: O que eu acabei de repetir? O que importa agora é VOCÊ e não os outros, o seu destino será construido por você mesmo, Noronha, agora vai…Eu vou ficar bem, e espero que você também, quanto ao carro…Fique com ele, e não volte Noronha- Ele começa a se afastar- Pro seu bem, não volte tão cedo.
Noronha entra no carro, desesperado, ele vê Éssio o fitando na janela, e liga o veículo: Pai…- Ele não consegue dizer- Eu…Te amo!
Bento, chorando compulsivamente: Eu também, filho, e sempre vou acreditar em você…Sempre.
Noronha liga o carro, e parte em alta velocidade.
Éssio, rancoroso: Adeus, Noronha, até nunca mais eu espero…
Bento se ajoelha na grama: Meu Deus…Proteja meu filho, ele não cometeu crime nenhum, eu sinto na voz dele…Não deixe nada de ruim acontecer com ele, o Noronha não merece, eu te peço: Faça meu filho feliz longe daqui, mas que um dia eu possa rever ele, e em uma situação melhor.
O carro da policia estaciona de pressa, dele saem os policiais, Leopoldo e também Anna Maria, eles passam reto por Bento e invadem a casa.
Anna fica parada, olhando para o marido: Pelo visto seu filho criminoso conseguiu fugir- Ela se ajoelha, perto dele- Mas saiba que a policia vai acionar os policiais das outras cidades também, e o Noronhinha não vai conseguir fugir por muito tempo…Quer você queira ou não, Bento, ele vai ser preso, e condenado, porque ele é um assassino, ele matou o Chico Branco, você tem noção do que é isso? Precisa ser frio pra cometer um crime desses, e o Noronha foi capaz de envenenar um bolinho com veneno pra rato e MATAR UMA PESSOA!
Bento não para de chorar.
Anna continua: E você Bento é cúmplice desse crime, ajudou ele a se livrar do que merece, encobriu os erros do seu filho, mas, pra sua tristeza, ainda vão pegar o Noronha, eu creio nisso!
Bento a observa: Você gostaria que o Noronha fosse preso mesmo, não é? Anna Maria, você é a pessoa mais fria, cruel e desumana que eu conheço…Desejar isso pra um filho? É necessário muita insensibilidade da sua parte- Ele se levanta- Se Deus quiser, o Noronha, que NÃO É um criminoso, vai conseguir fazer uma nova vida, e ter tudo o que merece.
Os policiais saem para o jardim novamente.
Godofredo, bravo: Nenhum sinal dele por aqui, fugiu, mas nós vamos ligar para nossos companheiros de outras cidades e falar pra eles ficarem alertas, nós também vamos continuar procurando o Noronha.
Anna informa: Ele fugiu com o carro daqui de casa…Qual o nome do nosso carro mesmo, bento?
Bento entra pra casa, sem responder.
Leopoldo: E sei qual é o carro, então vamos continuar procurando o Noronha.
Godofredo mostra algo: Ah, e achamos isso daqui, uma aliança, parece que ele levou a outra…
Anna, insensível: Fique pro senhor, se quiser vender fique a vontade também.
No carro, Noronha dirige descontroladamente, ele pega a aliança no bolso, não para de chorar: Não pode ser…- Ele lembra da noite da festa- Eu não fiz nada…- Foca nos ólhos dele-Não sou um criminoso…Foi ele, o Éssio- Ele se recorda do dia da bandeira- O Éssio matou ele!- Noronha acelera ainda mais- Fez isso pra me encriminar, porque ele nunca me deixa fazer nada na vida, NADA- Noronha pensa em Aurora- Me perdoa, Aurora…Eu juro que eu não queria que acabasse desse jeito, eu te amo…
Nesse momento, Aurora e o pai saem do carro.
Marinez percebe o tumulto na igreja: Bom, filha, eu vou te anunciar, pelo visto essa igreja tá agitada hoje.
Aurora, animada: Bom pai…Chegou finalmente a hora…
José do Gado, infeliz: Não fala desse jeito que eu fico mais triste ainda- Ele encara a filha- Lembre se de que tudo o que eu falo é para o seu bem, jamais vou querer seu mal.
Aurora lhe  dá um beijo no rosto: Não precisa temer, pai, eu vou ser feliz com esse casamento.
José do Gado se vira para o outro lado: Já vi que você não vai mesmo mudar de ideia…
Marinez entra na igreja, ela percebe que todos estão conversando ao mesmo tempo e se aproxima de Jurema.
Marinez, preocupada: O que tá acontecendo aqui, Jurema? Cadê o Noronha?
Jurema: A essa hora, Marinez, ele deve estar sendo preso!
Marinez, surpresa: PRESO? Mas preso porquê?
Jurema conta: A policia descobriu que ele matou o Chico Branco, e foi prender o sujeito na casa dele, quem imaginaria, eu vi aquele menino crescer, nunca pensei ver ele sendo preso, deve ter se tornado uma pessoa revoltada com tanta humilhação que sofreu da mãe, eu se fosse ele…
Marinez sai sem terminar de ouvir, ela se segura nas paredes para não desmaiar, está profundamente abalada, chega até onde estão José do Gado e a filha.
José, impaciente: Já podemos entrar? Não me aguento de calor, Marinez…
Aurora nota: Por quê tem tanta gente indo embora, mãe? Algum problema?
Marinez não  consegue contar, só começa a chorar.
José do Gado, tenso: O que aconteceu, Marinez? Fala!
Aurora resolve entrar na igreja, mas ela não vê Noronha no altar: Cadê o Noronha?
Marinez fala: Ele…Ele foi preso, filha…
Aurora, espantada: PRESO? Mas que tipo de brincadeira é essa?
Marinez se aproxima da filha: Brincadeira nenhuma, Aurora, ele matou o Chico Branco, foi ele…
José do Gado, chocado: O Noronha? O Noronha? O NORONHA!- Ele joga o chapéu no chão- Eu sabia, aquele homem não era do bem, viu, Aurora? Ele acabou de estragar um dos momentos que deveriam ser mais belos da sua vida!
Aurora deixa o buquê cair: É mentira…Quem inventou isso? O Noronha jamais mataria alguém, eu convivo com ele há anos…
José do Gado pega a filha pelo braço: Acho que não conviveu o suficiente pra saber do carater dele!
Aurora estapeia o pai e começa a correr em direção ao altar: É MENTIRA! O NORONHA QUE EU CONHEÇO JAMAIS FARIA ISSO- As pessoas observam a cena da noiva, tristes- NORONHA! NORONHA!- Ela desmaia no meio do caminho.

Marinez, desesperada: Aurora!- Ela corre na direção da filha- Ela não suportou essa decepção…Ajudem, socorro!- As pessoas carregam Aurora até um carro.
José do Gado fica sentado em um banco: Eu sabia que esse casamento não ia se realizar…
Betânia senta do lado dele: Eu não acredito que Noronha possa ter feito isso, é mais fácil alguém ter feito e colocado a culpa pra cima dele…Pra quê o Noronha faria isso? Pense no que eu te disse- Ela sai.
José do Gado fica encarando o chão, refletindo.
Casa dos Dávila/ Um pouco depois.
Bento está sentado no sofá, o telefone toca, Anna se prontifica a atender.
Anna: Alô? Oi, Leopoldo, e então? Acharam ele?- Leopoldo fala durante uns minutos, Anna faz cara de decepção- Mas vocês não vão parar de procurar ele, certo? Ótimo, até mais então, tchau.
Éssio, com gelo no rosto, por conta do soco: Acharam o Noronha?
Anna, brava: Não, pra felicidade do seu pai ele continua foragido- Ela se senta novamente-Será possível que aquele miserável vai fugir?
Bento a olha por um tempo: Miserável! Imbecil! Idiota!Tosco! Assassino!Criminoso! Você tem ideia de quantos nomes feios já se referiu ao seu filho? Você tem noção, Anna Maria?- Ele se descontrola- Parou pra pensar em como ele se sentia?- Ele pega um vaso da estante e atira na direção da mulher, que se abaixa.
Anna, assustada: O que significa isso, Bento? Endoidou?
Bento joga outro vaso, e depois outro: Ele não merecia um LIXO de mãe como você, se é que pode se chamar de mãe um ser como esse…- Ele continua jogando objetos na direção dela.
Anna, desesperada: PARA BENTO, PARA!
Na estrada, Noronha chega, já sem energias, ele sai do carro por um momento: Ai, eu não aguento mais…- Ele se senta na beira da pista e observa sua aliança- Não consigo mais dirigir…Não tenho mais forças…- Mesmo assim, Noronha entra no carro e o liga novamente- Mas…Eu preciso criar forças- Ele pisa com tudo no acelerador, dirige por um tempo até que vê uma placa.
CUIABÁ.
50 KM.
Noronha, firme: A capital, é pra lá que eu vou…- Passa um filme em sua cabeça, Éssio, Aurora, o pai, a mãe, a tão temida festa, o casamento- Eu vou…Mas um dia eu volto.
22 ANOS DEPOIS.
Ela é linda.
Elegante.
Estilosa.
Ela é Suzane Venenosa.
Suzane entra no palco: Boa tarde plebe que me dá audiência, eu sou Suzane Venenosa e estou aqui pra te infernizar toda manhã, debatendo os mais diversos assuntos, e hoje eu tenho o prazer de falar com um dos homens mais influentes do país, conhecido por criar a lei 55555555551, que é a lei que impede as mães de baterem em seus filhos mais velhos, sem mais delongas ele é Noronha Dávila.
Noronha entra no palco e é aplaudido, ele cumprimenta Suzane e se senta: Bom dia a todos.
Suzane ri: Espero que seja um bom dia mesmo- Ela manda a banda parar de tocar- Bom, Noronha, eu te convidei para o meu programa porque eu sou a mais velha lá de casa, tenho outras duas irmãs, uma delas tá presa e a outra eu mandei prender, enfim…Eu queria saber o porque de você criar a lei contra os maus tratos aos filhos mais velhos.
Noronha ri: Olha Suzane, eu tinha essa ideia desde antes de entrar na camara dos deputados em 2006.
Suzane: Mas porque tu resolveu criar essa lei? É isso que eu quero saber.
Noronha: Suzane, eu nunca contei essa história pra ninguém, mas já que você tá insistindo, eu conto.
Suzane se levanta: PARA TUDO! É isso mesmo que você ouviu, dona de casa, o deputado Noronha Dávila vai contar toda a sua história de vida- Ela se vira para Noronha- Espera só um pouco, Noronha, antes de você contar seu passado eu vou dar um daqueles anúncios chatos  ali e já volto- Ela encara a câmera- E você aí, nem pense em mudar de canal!
Em sua casa, Anna faz o almoço.
Anna, rancorosa: O Noronha teve mesmo muita sorte na vida, até rico o criminoso conseguiu ficar, agora fica indo pra TV inventar histórias sobre o passado dele…- Ela pega o controle remoto- Prefiro ver desenho animado do que as mentiras dele!
Éssio chega: Mentiras de quem mãe?- Ele tira as suas botinas- Você anda falando sozinha ultimamente…
Anna liga o forno do fogão: Não é nada, Éssinho, eu vou pegar a sua toalha pra você tomar banho, querido.
Éssio repara na tv: Ué, agora mamãe deu pra assistir desenho animado? Nem pensar, não perco um dia do programa da Suzane Venenosa- Ele coloca no programa de novo.
Suzane volta para o palco: Bom, agora que eu dei o anuncio chato obrigatório, volto aqui a falar com o deputado federal Noronha Dávila!
Éssio aumenta o volume: O Noronha…
Termina o capítulo 13.

 

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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