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Cantiga de Amor

Capítulo 12 – Cantiga de Amor

Cena 01: Igreja del Fiume. Quarto de Gregório. Noite.

Santorini – A irmã Francisca me falou que você ficou com a chave do meu quarto. Eu vou precisar dela agora, obviamente, para dormir. Onde ela está?

Gregório está mexendo em seu guarda-roupa.

Gregório – Eu a coloquei aqui padre, no fundo falso que existe em nossos guarda-roupas. (Então, ele abre o fundo falso e toma um susto.) Mas… Cadê a chave?

Santorini – Não é possível. Você tem certeza que…

Gregório – Ela sumiu, padre! A chave do quarto do senhor sumiu!

Santorini – Como isso é possível, Gregório? Você tem certeza de que não mexeu nela, não a tirou do lugar ou até mesmo a usou para entrar no meu quarto?

Gregório – De forma alguma! Eu fiz o que era certo: a escondi no guarda-roupa e a deixei lá até a sua volta. Mas agora… Ela sumiu!

Santorini – Eu vou averiguar isso melhor. Pode ter certeza de que quem fez isso vai responder pelos seus atos.

Cena 02: Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo. Noite.

Gustavo está deitado em sua cama. Não consegue dormir direito. Seus pensamentos estão a todo vapor.

Gustavo – Ai, meu Deus… Se tudo ocorreu como Agnella disse, o pai dela chegou hoje à tarde. E o padre também. Parece que deu tudo certo com ele e esse casamento que estão tentando arranjar pra mim… (Tem um estalo) Mas, espera aí! Se eu estou certo, o pai de Agnella e o padre Santorini viajaram no mesmo dia, e voltaram no mesmo dia! Meu Deus, é claro! Como fomos estúpidos em não perceber essas coincidências! Não podia ser melhor: Agnella, a mulher que eu amo, a mulher dos meus sonhos, é a tal moça com quem pretendem me casar!

Com a cabeça a mil, porém mais tranquilo, Gustavo continua exaltado com essa conclusão que fez. Em pouco tempo, acaba dormindo.

Cena 03: Igreja del Fiume. Nave principal. Manhã.

O padre está se dirigindo ao quarto de Gustavo para acordá-lo, mas se surpreende ao vê-lo já de pé.

Santorini – Muito bem, meu filho! Vejo que já está acordado, e que não precisei levantá-lo da cama! Por acaso… Vai sair?

Gustavo – Eu… Acho que vou dar uma voltinha. Aqui mesmo, pelo rio.

Santorini – Sinto lhe informar, meu rapaz, mas isso não vai ser possível agora. Temos que tomar o nosso café da manhã, e hoje temos visitas especiais.

Gustavo – Visitas especiais? Quem?

Nesse momento, um casal aparece, vindo do lado de fora.

Edetto – Nós, meu filho. Nós somos a visita especial.

Cena 04: Rio dos Campos. Manhã.

Agnella chegou ao rio, mas Gustavo não estava.

Agnella – Estranho… Por que ele ainda não chegou?

Nesse momento, uma sombra se projeta, vinda de alguém atrás dela. Agnella se vira, sorridente.

Agnella – Meu amor?

Adelmo – Não. Sou eu, Agnella.

Agnella – (Perdendo o sorriso) Adelmo? O que tu queres?

Adelmo – Vejo que já chamas aquele homem, que chegou faz pouquíssimo tempo, de “meu amor”. Que coisa feia, hein, Agnella. Tu estás namorando escondida dos teus pais! E ainda mais agora, que estás prometida em casamento!

Agnella – Essa é apenas uma ideia de meu pai. O homem que eu amo vai falar com ele, e vai me pedir em casamento. E ele há de aceitar.

Adelmo – Como és inocente, Agnella! Eu sempre te amei, teus pais sabem disso, todo o Povoado das Hortaliças sabe disso. Eu merecia estar casado contigo. Por outro lado, quem é esse tal? Um desconhecido! Garanto que nem tu o conheces! Já dizes que o ama, mas não deve saber nem quem é sua família!

Agnella – Claro que eu sei! Ele é um filho de senhores feudais, uma posição bem melhor que a tua, Adelmo. Mas, queres saber? Isso não importa! O que importa é que nós amamos!

Adelmo – Ora, ora! Ainda mais essa! Um filho de senhores feudais! Pois saibas, Agnella, que essa união é impossível de acontecer. São dois mundos totalmente diferentes, o teu e o dele! Esse namoro entre vocês não irá para a frente! E não pense que seu pai não vai ficar sabendo, porque ele vai. E não vai ser só do teu namoro.

Agnella – Como assim, Adelmo? Do que estás falando?

Adelmo – Eu vi, Agnella! (E começa a querer chorar) Eu vi vocês dois deitados, pecando juntos, ontem, aqui mesmo na beira desse rio! Tu não sabes como isso foi doloroso para mim!

Agnella – Então é isso que queres contar a meu pai? Por favor, não fales nada! Eu te imploro!

Adelmo – Só abro mão de falar isso se tu largares aquele homem e ficares comigo.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.

Enzo está na sala. Prudência está saindo do quarto.

Enzo – Prudência, não achas que Agnella está demorando?

Prudência – Marido, não sejas tão exigente. A menina acabou de sair. Mas, falando nela: e os detalhes do casamento da nossa filha?

Enzo – Falamos com a família dele. Eles não são senhores feudais de muita importância, parece que estão enfrentando certas dificuldades, ao passo que nós estamos melhorando a cada estação e a cada colheita. E, no final, eles aceitaram. Devem chegar hoje à igreja.

Prudência – Então, quer dizer que…

Enzo – Podes arrumar a nossa casa e a nossa filha. É hoje que vamos oficializar o noivado dela!

Cena 06: Igreja del Fiume. Manhã.

Gustavo está surpreso e feliz ao mesmo tempo. Corre para abraçar os pais.

Gustavo – Pai, mãe, quantas saudades! A benção!

Edetto – Deus te abençoe.

Izabella – Deus te abençoe! Bem, meu filho, tu já deves saber o motivo da nossa visita, não é?

Gustavo – Sim, mãe. Creio que sim.

Edetto – Pois bem. Antes de tudo, Gustavo, o padre havia me falado que você estava oferecendo resistência. (Eleva o tom da voz) Mas eu acho que tu não esqueceste que somos teus pais, e, como teus pais, nós temos todo o direito de escolher com quem tu irás casar. Portanto, saiba que se tentares fugir desse compromisso, não conseguirás. Já está tudo decidido, eu e sua mãe… (É interrompido)

Gustavo – Chega de falar, pai. Eu pensei, e decidi que aceito esse casamento que vocês arranjaram.

Todos ficam surpresos.

Izabella – Graças a Deus, meu filho! Tu recobraste o juízo!

Santorini – Bem, meus caros, eu acho que deveríamos fazer a nossa refeição agora. A propósito… Os seus aposentos já estão preparados.

Gustavo – Então quer dizer que…

Izabella – Vamos dormir aqui. É hoje, meu filho, que você vai noivar!

Cena 07: Rio dos Campos. Manhã.

Agnella – Estás maluco! Não farei isso de modo algum!

Adelmo – (Segurando-a pelo braço) Tens certeza, Agnella?

Agnella – Claro que sim! Eu o amo, e não a ti! E me solta! (Consegue se desvencilhar)

Adelmo – Já que queres assim, é com muito pesar que farei isto. O teu pai vai saber do caminho errado que resolveste trilhar com aquele cavalheiro ousado.

Agnella – Podes fazer o que quiseres, mas nada vai impedir o nosso amor e o nosso relacionamento. Pensando bem, podes ir em frente. Se contares isso, aí é que meu pai obrigará Gustavo a cumprir com suas responsabilidades. Eu vou me casar com ele!

Adelmo – Eu duvido muito que isso aconteça, depois que ele souber que o homem que dizes amar é um senhor feudal. Tu verás, Agnella, eu convencerei teu pai a dar-te a mim como esposa.

Adelmo parte com seu balde cheio de água. Agnella enche o seu balde e sai, tensa e nervosa.

Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.

Enzo, Agnella e Prudência terminaram de tomar café. Eles estão na sala agora.

Enzo – Filha, eu hoje voltarei mais cedo para casa. Esse é um dia muito especial para você!

Agnella – O que o senhor quer dizer com isso?

Prudência – Minha filha, hoje tu irás conhecer o teu noivo!

Agnella – O quê? Não acredito nisso!

Agnella corre para o quarto e fecha a porta.

Enzo – Daqui a pouco tu vais lá, conversar com ela. E eu, tenho que ir. Tchau, mulher.

Prudência – Tchau, marido. E muito cuidado!

Enzo sai de casa. Do lado de fora, encontra Brás.

Brás – Bom dia, Enzo. Vejo que voltaste bem de viagem. Aliás… Desde antes de tu viajares, tenho algo muito importante para te dizer. É sobre tua filha.

E Brás conta o que viu no dia em que Agnella estava de castigo e Gustavo buscou comida para ela.

Enzo – (Revoltado) Não acredito em uma coisa dessas! Eu nem sei o que sou capaz de fazer com um rapaz impertinente como esse. Mas, graças a Deus, mais problemas serão evitados. Minha filha noivará hoje.

Brás – Graças a Deus, não? Bem, já cumpri minha parte. Podes seguir viagem.

Enzo continua em direção às terras coletivas. No caminho, se depara com Leonor.

Leonor – Bom dia, Enzo! Será que tu tens um minutinho? O assunto é importante.

Enzo – Claro que sim. Também gostaria de falar com a senhora. É sobre a minha filha.

Leonor – Que coincidência, não? Justamente sobre ela que eu queria falar. Sabe, eu não sou de fazer mexericos, mas outro dia desses eu vi a sua filha conversando com um rapaz que não é daqui do povoado. Na hora, pareceu-me que eles estavam bem íntimos. Aí, quando foi outro dia, algo comprometedor me chamou a atenção, só que eu não consigo me lembrar o que foi! De qualquer forma, achei importantíssimo alertá-lo.

Enzo – Mais uma vez me falam hoje algo desse tipo com relação a Agnella! Mas o meu alívio é que eu vou casá-la. O noivado será hoje, e, como a senhora é experiente em realizar casamentos, gostaria de convidá-la para comparecer à tarde a minha casa. Será de grande valia.

Leonor – Claro que sim. É uma honra receber esse convite. Mas por acaso… Vais esquecer o que eu te falei?

Enzo – De forma alguma. A senhora pode ter certeza de que eu vou investigar e descobrir tudo o que for preciso sobre esse homem que está querendo se aproximar de minha Agnella! E ele vai pagar!

Cena 09: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Leonor entra na casa de Simone.

Simone – Minha querida, como foi o teu dia ontem? A viagem foi cansativa?

Leonor – Que nada! O Povoado della Pace Divina fica aqui ao lado, próximo à igreja! Além disso, o pai da moça que noivou ontem providenciou uma carroça para me levar e trazer.

Simone – Era o mínimo que ele poderia fazer, não é? Tu conseguiste apresentar um ótimo rapaz para aquela família…

Leonor – Isso é verdade. Mas, minha amiga, falando em noivados… O senhor Enzo, pai da moça por quem Adelmo é apaixonado, também irá noivar Agnella hoje. E eu imagino que seu filho não saiba disso.

Simone – (Preocupada) Não… Ele não sabe. Ou pelo menos não me disse nada. Mas, por favor, Leonor, não comentes nada com ele. Eu tenho medo de que ele tente, sei lá, atrapalhar esse noivado.

Leonor – Mas ele sempre pareceu uma pessoa comedida, Simone. Ele faria isso?

Simone – Não sei… A gente acha que conhece os nossos filhos, que a educação que demos a eles é suficiente para que eles sejam boas pessoas e que não nos surpreendam negativamente… Porém muitas vezes nos enganamos.

Leonor – Bem… Vamos mudar de assunto, não é? (Ela sorri.) Minha amiga, ontem, lá nesse outro povoado, eu conheci um homem, um homem bonito, que me pareceu muito respeitoso, muito simpático…

Simone – Ah, não, Leonor! Eu já falei para parares com isso! Não me venhas falar de homens bonitos, e simpáticos, e com boas condições, e tudo o mais, como se eu fosse uma das pessoas para quem tu prestas serviço! Tu és apenas minha amiga, não uma alcoviteira contratada por mim, para mim!

Leonor – Mas é como amiga que eu me preocupo contigo!

Simone – Então deverias saber que eu não posso me casar novamente. Ainda que eu quisesse… Eu não posso. Por isso, eu nem crio mais ilusões. Até porque até hoje eu nunca encontrei alguém que me fizesse tê-las.

Leonor – Mas será que um dia não irás encontrar? Só Deus sabe…

Simone – Então deixemos que Ele se encarregue disso. Apesar de que não é o próprio Deus que proíbe as viúvas, principalmente as mais velhas como eu, de casar-se novamente? Estou errada?

Leonor – Não, não estás. Eu reconheço. Então… Que tal falarmos sobre a dona Julieta? Tu ficaste sabendo que ela queria mudar de casa?

Simone – Mas como ela irá mudar? Com os oito filhos que tem, nunca arranjará uma casa maior nem melhor que a dela…

E elas continuam conversando.

Cena 10: Igreja del Fiume. Tarde.

Edetto, Izabella e o padre Santorini estão arrumados, na nave da igreja.

Edetto – Cadê esse menino? Ele não pode se atrasar para seu noivado!

Izabella – Calma, meu amor, ele já deve estar pronto.

Nesse momento, Gustavo aparece.

Gustavo – Como estou?

Izabella – Perfeito para o noivado, meu filho.

Santorini – Agora, vamos. Chegou o grande momento.

Francisca entra na igreja.

Francisca – Desculpe-me a pergunta, mas… Que momento?

Edetto – A senhora é…

Francisca – Irmã Francisca, muito prazer. Quer dizer que esse rapaz irá realmente noivar hoje?

Izabella – Sim. Há algum problema nisso?

Francisca – Eu fico admirada e, por que não dizer, surpresa, com o fato de o padre insistir em uma mentira.

Santorini – (Fica em alerta) Do que a senhora está falando, irmã Francisca?

Francisca – O senhor sabe muito bem, padre, que esse noivado que o senhor arranjou não pode ser concretizado. A tal Agnella…

Ao ouvir isso, Gustavo imediatamente esquece o que se passa em sua frente, e é tomado por um pensamento.

Gustavo – (Sorrindo; pensando) Então eu estava certo! É com minha Agnella que eu vou casar!

Então, ele volta ao “mundo real”.

Francisca – Ela é filha de camponeses.

Edetto – Isso… É verdade, padre? Nós estamos noivando nosso filho com uma camponesa?

8 comentários sobre “Capítulo 12 – Cantiga de Amor

  • Gente tá todo mundo disposto a atrapalhar o noivado, é isso? O Adelmo, a Leonor que ” não é de fazer mexericos”, e até o chato do Brás. Desse jeito não vai dar, se bem que ainda estamos no capítulo 12, ainda terão 40 capítulos, e tanta coisa já aconteceu :O
    Edetto e Izabella chegaram na história, e creio que não ficaram muito felizes ao saber da condição de Agnella é a culpa é da: Francisca.
    Viu, todos conspirando contra. Que raiva.

    • kkkkkkkkk Confesso que eu ri um pouquinho com esse comentário… Mas sempre é assim, não é? Sempre há dificuldades pra os protagonistas. No caso desse noivado, elas vêm de motivos diferentes. Brás e Leonor é pela fofoca mesmo. Adelmo ama Agnella, e, mesmo não sendo exatamente um vilão, ele quer ficar com ela. Já Francisca brada aos quatro ventos que preza pela justiça; ela é uma pessoa rígida quanto às regras do mundo – e não se calaria perante uma situação dessas.
      Murphy disse uma vez: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”. Particularmente, eu discordo um pouco dele. Só que muita gente acredita… Enfim, segunda-feira a gente acompanha o desfecho dessa história. Não perca! 🙂

  • Estava indo tudo bem até os pais de Gustavo descobrirem que Ângela é filha de camponeses, e agora gentché, será que acabou o noivado para eles?
    Amei sua forma de escrever, uma linguagem típica daquele tempo 😉 parabéns!!

    • Agora vai haver resistência, sim. Edetto não vai querer casar seu filho com uma camponesa… Mas tudo pode acontecer. Não perca o próximo capítulo, ele guarda muitas emoções!
      Quanto à linguagem, eu procuro não ser tããão informal, mas também não ser tão prolixo. E tem um “segredo”, que é o fato de a maioria dos personagens se tratarem por “tu” – o que faz parecer mais antigo.
      Obrigado pelo comentário! E continue lendo e dando sua opinião! 😀
      P.s: É Agnella o nome da protagonista rsrsrs 😉

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