Capítulo 11 – Recomeçar
https://www.youtube.com/watch?v=mNRA7Ovyvzc
CENA 01. MANSÃO DE LEONOR. QUARTO/BANHEIRO DE LEONOR. INT. NOITE.
Continuação imediata da última cena. Gilda deitada na cama de Leonor, que acaba de entrar no quarto e flagrá-la. Quarto revirado, roupas e sapatos espalhados. Gilda cínica e sarcástica o tempo todo. Leonor não acredita no que vê.
LEONOR: – Você tá maluca?! O que você faz no meu quarto, na minha cama?! Que bagunça é essa?! Que zona é essa?!
GILDA: – Calma, Leozinha. Isso tudo faz parte do espetáculo.
LEONOR: – Você tá embriagada, sua infeliz?! Tá bêbada?! O whisky atrofiou o seu cérebro? Sai da minha cama!
GILDA: – Acho bom você ir se acalmando. Senta aqui, amiga. Vamos ver um filmezinho juntas.
LEONOR: (pegando no chão) – Meus sapatos, meus vestidos… Mas cadê a Zezé que não viu/
GILDA: – Aproveita e cata isso aqui também ó, amada!
Gilda dá play no controle remoto, ligando a TV. Começa a reproduzir o vídeo da transa de Leonor com Abel. CAM pega a reação de Leonor se identificando na gravação. Chocada, deixa as roupas e os sapatos que pegou do chão caírem. Leve tontura.
GILDA: – É, eu também fiquei meio tonta quando vi. E foi em tempo real, o que deu um barato extra. Esse Abel é um espetáculo de homem! De boba você não tem nada, hein fofa?!
LEONOR: – O que significa isso?!
GILDA: – Que foi?! Não se reconhece mais?! Olha, eu nunca imaginei que você tivesse tanto talento pra pornochanchada. Escondendo o jogo esse tempo todo, Leozinha?!
LEONOR: – Onde você conseguiu isso?
GILDA: – Tá na praça. Baratinho. Com R$ 2 você adquire na mão de qualquer pirateiro. Tá vendendo feito água. Tá, brincadeira. Mas pode ser só uma questão de tempo pra isso acontecer. Vai ser um escândalo sem precedentes, já pensou?! O Horácio, o Kadu… como será que eles vão reagir quando souberem que você guarda um segredinho na zona norte e um verdadeiro vulcão debaixo da saia?!
LEONOR: (toma o controle remoto) – Me dá isso aqui! (desliga a TV)
GILDA: – Ah, que droga! Poxa, Leo, justo agora que ia entrar na parte que você dá uns gemidos de loba no cio na montanha fria?! É o clímax do filme! Deixa de ser rabugenta, liga aí. Chama a Zezé, diz a ela pra trazer uma pipoca. Doce, porque sal não vai fazer bem pra sua pressão agora.
LEONOR: (ainda tonta) – Pelo amor de Deus, onde você quer chegar com isso?!
GILDA: – Antes, quero que você mate a minha curiosidade. Perguntinha de comadre pra comadre: o Abel sofre de dupla personalidade, né? No dia a dia é Abel, mas quando cai na cama é o Caim inteirinho. Rústico, bravo, selvagem, dominador, macho alfa… Ui! Olha como eu fico, me arrepio toda.
LEONOR: – É chantagem, não é? Claro que é. É bem a sua cara esse tipo de golpe baixo. Diz, o que você quer?! Fala, antes que eu te cubra de tapas!
GILDA: – Olha a violência! Vamos manter a cordialidade, o senso de humor… Vai, faz comigo, inspira e respira. Encha os pulmões e depois vá soltando devagar. (nota Leonor séria) Aff, melhora essa carranca, Leonor! Isso aqui é apenas uma grande brincadeira. Eu pensei que você fosse se divertir, juro pra você.
Leonor vai até o home teather, tira o pen drive e o despedaça com o salto do sapato.
LEONOR: – A minha paciência com você já esgotou!
GILDA: – Hummm… Essa é a hora da cena que eu falo: “tenho várias cópias disso, sua boba”. Ai, eu sempre quis dizer isso!
LEONOR: – Como você é sórdida, Gilda!
GILDA: – Hein? Você chamando alguém de sórdida?! Espera só um minutinho. (enfia a mão na bolsa e tira um espelho) Toma! Espelho, Leonor; Leonor, espelho.
LEONOR: – O que você quer?
GILDA: – Quero que você repita comigo: “eu vou produzir o seu filme com toda a pompa que você merece, amiga”. Vamos, repita!
LEONOR: – Você é ridícula!
GILDA: – Repita! A escolha é sua: ou o meu filme vai pra telona ou o seu que vai viralizar na internet. No caso da segunda opção, eu posso te garantir que não será uma exposição nada positiva pra você. Será um escândalo tão grande que até mesmo os seus ancestrais ficarão envergonhados. Mortos de vergonha. (gargalha) Entendeu a piadinha?
LEONOR: (baixo) – Tá bem.
GILDA: – Hã? Não ouvi.
LEONOR: – Eu vou produzir o filme.
GILDA: (alegre) – Com toda a pompa que eu mereço?
LEONOR: – Com pompa, com aparatos, com o diabo!
GILDA: (vibra) – Yes!!! Agora você falou a minha língua, Leozinha do meu coração!
LEONOR: – Eu quero todas as cópias que você tem desse vídeo.
GILDA: – Você terá, não se preocupe. Mas calma aí, porque ainda me faltam dois pedidos, geniazinha. Primeiro: vou ficar com esse bracelete e esses dois anéis da sua coleção. Dei uma olhada nas suas roupas, mas não gostei de nada, você não tem o meu estilo singular. Então vou ficar só com essas joinhas mesmo. Tudo bem?
LEONOR: (arqueja) – Tá bem, pode ficar com o bracelete e os anéis.
GILDA: – Maravilha! O terceiro e último pedido também não vai lhe custar tão caro. Quero que o Abel seja roteirista do filme.
LEONOR: – O quê?!
GILDA: – Não tem negociação.
LEONOR: – Isso não depende de mim. O Abel não vai aceitar isso.
GILDA: – Tenho certeza que você tem lábia suficiente para convencê-lo.
LEONOR: – Como é que você sabe que o Abel é roteirista, trabalha pra produtora…? Como é que você sabe disso tudo?
GILDA: – Ah, Leonor, é uma looooonga história. Depois, ele mesmo te conta. Bom, deixa eu recolher meus brinquedos, porque a brincadeira já acabou. Vou indo. Segunda ou terça-feira, apareço lá na produtora pra gente acertar os detalhes do contrato, cláusulas, orçamento, essas burocracias….
LEONOR: – Não acredito que caí nessa armadilha ridícula.
GILDA: (abraçando Leonor pelas costas) – Parece que o jogo virou, não é mesmo? (vai sair) É muito bom poder contar com você, Leo. Tenho certeza que essa nossa parceria será fabulosamente próspera. Olívia Watterson vai bombar outra vez! (T) Até loguinho!
Gilda sai. Leonor fica vertendo ódio. Vai pro banheiro. Depara-se com algo escrito a batom no espelho: “o saboroso dia da caçadora”. Na ira de Leonor, corta para:
CENA 02. APART. DE GILDA. COZINHA. INT. NOITE.
Na mesa, Filipe trabalha num freela. Desenha no papel. Laptop ligado na mesa. Celular do lado. De repente, lhe vem um pensamento. Entra insert da cena 02 do capítulo 10:
DAVI: Tá na hora de você começar a lidar com o fracasso, com as decepções, com as diferenças, com os demônios debaixo da sua cama… Tá na hora de você aprender que o mundo não é uma dessas ilustrações que você faz no papel, perfeitinhas, coloridas, cheias de ilusões de ótica, do jeito que bem quer… Acorda, cara! Te orienta!
Entra música: “Hello” – Adele. Volta pra Filipe no tempo real. Pensativo. Pega o celular e busca o contato de Davi. Faz uma ligação. Corta para:
CENA 03. APART. DE DAVI. SALA. INT. NOITE.
Segue a música. Davi também trabalha, escrevendo no laptop. Celular toca. Ele olha no display: Filipe. Ignora. Deixa tocando até cair na caixa de mensagem. Corta para:
CENA 04. APART. DE GILDA. COZINHA. INT. NOITE.
Continuação da cena 02, com a mesma música. Reação de Filipe, que não teve sua ligação atendida. Não insiste. Cai mensagem de texto de um amigo: “Vai rolar festinha na casa da Cleo. Vai?”. Filipe responde: “Tô no clima não”. Filipe pensativo e voltando pra sua ilustração. Corta para:
CENA 05. TERRAÇO DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. NOITE.
CAM abre no envelope passando da mão de Kadu para Júlia. Os dois frente a frente, em pé:
KADU: – Nem abri.
JÚLIA: – Por que você tá me entregando isso?
KADU: – Pertence a você. É o seu passado, é a sua vida, sua história… Ninguém tem o direito de julgá-la por isso. A minha mãe é uma pessoa extremamente materialista, ambiciosa, sempre deu mais valor ao dinheiro do que a qualquer outra coisa. Mas dessa vez ela foi longe demais, foi invasiva, foi amoral/
JÚLIA: (corta) – Esquece isso. Eu entendo o lado dela, é natural que mãe sempre se preocupe e queira o melhor pro filho, então/
KADU: (corta) – O melhor pra mim é você, Júlia. Simples assim. Nada vai tirar você de mim, nem a minha mãe, nem o seu passado… nada nem ninguém!
JÚLIA: – Eu te amo, Kadu!
KADU: – Meu amor!
Kadu beija Júlia com vontade, na certeza de que ela é a mulher de sua vida. Sobe “Kiss Me” – Ed Sheeran, que já estava tocando ao fundo na penúltima fala de Kadu. Corta para:
CENA 06. APART. DE ABEL. QUARTO. INT. NOITE.
Abre na micro câmera na mão de Leonor, que a mostra para Abel.
ABEL: – Isso é uma câmera? Mas como pode, como essa câmera veio parar aqui?
LEONOR: – Alguém entrou aqui e a instalou. Simples. Você não faz ideia de quem seja?
ABEL: – Não. Ninguém entrou aqui.
LEONOR: – Abel, eu estou sendo chantageada por causa dessa câmera. Nos filmaram juntos! Você tá entendendo o que estou dizendo? Uma fulana, uma desqualificada… (continua fora de áudio)
A ficha de Abel finalmente cai. Ele lembra do dia que Gilda apareceu dizendo ter sido assaltada, da desculpa que deu pra entrar em seu quarto e da última visita, onde ela disse que esperava que ele a perdoasse por sua atitude. Entram inserts disso tudo. Voltar pro tempo real. Leonor continua falando:
LEONOR: – … ela está me fazendo mil imposições, exigindo que eu produza um filme idiota/
ABEL: (corta) – Eu lembrei. É claro! Só pode ter sido a Eleonora.
LEONOR: – Quem? Eleonora?
ABEL: – Sim. Eu a conheci há algumas semanas. Foi numa das últimas noites que você esteve aqui. Assim que você saiu, ela apareceu na rua, aqui em frente, desesperada, dizendo que havia sido assaltada. Eu fui socorrê-la, trouxe aqui, ofereci um chá…
LEONOR: (com ódio) – Maldita! Essa infeliz me seguiu até aqui naquela noite e ainda deu um jeito de entrar nesse apartamento e armar essa pra mim. Maldita! Maldita!
ABEL: – Não posso acreditar que isso seja verdade. A Eleonora/
LEONOR: (corta) – Eleonora uma pinoia! O nome dessa bisca é Gilda. Como é que você se deixou enganar desse jeito, Abel?
ABEL: – Gilda? Gilda? Você disse que ela quer que você produza um filme?
LEONOR: – É, é… é uma atriz de meia pataca, insignificante… ou ex-atriz, sei lá… Gilda Lazarotto é o nome que ela usa… Fez alguns filmes há muitos anos e por isso se acha a rainha da cocada preta. É uma frustrada, é isso que ela é!
ABEL: – Eu sabia, eu fiquei com a impressão de já tê-la visto em algum lugar…
LEONOR: – E agora, por causa do seu bom-mocismo e senso de heroísmo, eu estou nas mãos dessa lacraia. Muito obrigada, Abel. Muito obrigada.
Leonor senta na cama, irritada. Abel fica digerindo a história. Corta para:
CENA 07. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.
Música: “Chega de Saudade” – Roberta Sá. Stock-shots rápidos do domingo amanhecendo no Rio. Corta para:
CENA 08. APART. DE GILDA. COZINHA. INT. DIA.
Abre numa omelete que Gilda está preparando no fogão. Serve dois pratos. Café da manhã caprichado na mesa. Gilda cantarola alguma coisa, muito feliz. Filipe vem chegando, acaba de acordar. Surpreso com o que vê:
FILIPE: – Uau! A que santo eu devo agradecer por esse milagre?
GILDA: – A santa Gilda Lazarotto, também conhecida como sua adorável mãe. Eu não peço milagre, meu amor, eu mesma vou, corro atrás e os faço acontecer. Sou dessas.
FILIPE: – Eita! Mas pra você estar acordada antes das 10h, nesse pique todo, preparando café da manhã, alguma coisa muito boa deve ter acontecido. Namorado novo, dona Gilda?
GILDA: – E homem me deixa assim? (percebe o olhar intimidador de Filipe) Tá, tá, dependendo do homem, eu realmente dou uma leve pirada, me empolgo e tal. Mas não é o caso. Dessa vez, eu tô animada é por causa de uma mulher.
FILIPE: (engasga com café) – Que?
GILDA: – Uma mulher única, exuberante, deliciosa…
FILIPE: – Mãe?! Desconhecia esse seu lado.
GILDA: – Olívia Watterson, bobo. O filme vai sair!!! Não é maravilhoso?
FILIPE: – Jura?
GILDA: (mostrando o anel) – Juro, por essa nova e cintilante pedra.
FILIPE: (sacando) – Ah, não acredito! Você foi chantagear a Leonor… Mãe?!
GILDA: – Aff, Filipe, que palavra feia! Não gosto de colocar as coisas nesses termos. Digamos que eu dei uma forçadinha a mais. Você sabe que eu tenho um poder de persuasão poderoso, né?
FILIPE: – Tão poderoso que a Leonor jamais embarcou nas suas ideias… Se topou agora, é porque você atirou aquele vídeo feito uma granada na cara da infeliz.
GILDA: – Disse muito bem: infeliz! A Leonor é uma infeliz que se acha acima do bem e do mal. Ela pensava que eu ia deixar barato todos aqueles desaforos que ela despejou em cima de mim? Agora eu virei o jogo e vou mostrar pr’aquela pecaminosa dos Jardins do Éden que Gilda Lazarotto não é bagunça!
FILIPE: – Por falar em bagunça, tá bagunçado aqui ó, mãe. (colocando a mão no coração, triste)
GILDA: (faz carinho) – Ownt! Quem foi o desalmado que bagunçou o coração do meu filhote?
FILIPE: – Pior que fui eu mesmo. Acho que fiz uma besteira, uma besteira colossal.
GILDA: – Que tipo de besteira?
FILIPE: – Tava conhecendo um cara legal, gente boa… Rolou química, sabe? Química no beijo, na cama… Ideias e ideais parecidos também…
GILDA: – E onde tá o problema nisso que ainda não encontrei?
FILIPE: – O problema é que eu cortei o barato. Quando vi que ele estava se apegando, pulei fora.
GILDA: – Será mesmo que era só ele que estava se apegando? Ou você, ao notar que estava gostando do rapaz e da situação além da conta, é que ficou com medo de se amarrar e rompeu o laço?
FILIPE: – Não sei, talvez. Eu vinha pensando muito nisso. Aí nos encontramos anteontem por acaso e ele me disse umas verdades que me atingiram feito uma bala. Desde então, eu comecei a refletir ainda mais sobre essa questão de saber lidar com relações fracassadas, passos mal dados…
GILDA: – Como é o nome desse rapaz?
FILIPE: – Davi.
GILDA: – Posso falar? Você tá marcando bobeira com o Davi. Se eu fosse você, o procuraria e falaria francamente com ele. De peito aberto mesmo. Ele deve estar chateado, o que é natural, mas duvido que se negue a te ouvir.
FILIPE: – Será?
GILDA: – Claro! Siga o meu conselho. Olha, se há duas coisas que a sua mãe conhece muito bem, são as letras das músicas da Cher e psicologia masculina. Eu sou PhD nesses dois assuntos. Procura o Davi e seja sincero com ele e honesto com seus sentimentos.
FILIPE: (decidido) – É isso mesmo que vou fazer!
Filipe pega o celular e faz uma ligação. Gilda contente. Corta para:
CENA 09. MANSÃO DE LEONOR. QUARTO DE KADU. INT. DIA.
Kadu sentado na cadeira da escrivaninha. Filipe em pé, acabou de chegar. Kadu vira-se e levanta para cumprimenta-lo. Depois, os dois vão sentar: Kadu no lugar de antes e Filipe na cama.
KADU: – E aí, Filipe, bom te ver! Tá tudo bem? Fiquei curioso pra saber que assunto sério é esse que você tem pra tratar comigo.
FILIPE: – Pois é, não dava pra falar por telefone. (T) Eu tô precisando de uma força sua. Eu sei que você e o Davi são muitos amigos, então acho que só você mesmo pode quebrar essa pra mim.
KADU: – Claro! O Davi me falou de você, sobre vocês e tal. Mas parece que você não foi muito legal com ele, né?
FILIPE: – É justamente pra consertar isso que eu tô aqui. Eu preciso encontrá-lo, eu preciso que ele me dê uma nova chance… Mas se eu for procurá-lo, se eu for bater lá no apartamento dele, ele não vai querer me ouvir. Então eu pensei em criar uma situação, um ambiente, um clima, sabe?
KADU: – Eu já sei como! Eu já sei como e onde você e o Davi vão se entender!
Filipe esboça um sorriso. Kadu com alguma ideia infalível em mente. Corta para:
CENA 10. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA/NOITE.
Música: “Stand By Me” – Seal. Stock-shots rápidos do fim do dia e início da noite. Corta para:
CENA 11. APART. DE GILDA. SALA. INT. NOITE.
Gilda vê o filme ‘Desilusões de Olívia Watterson’ na TV. Dá pause o tempo todo. Copia falas num caderno. Filipe vem do quarto, vestido para sair.
FILIPE: – E então, mãe, como estou? (dá uma voltinha)
GILDA: – Lindo! Um arraso! Mas também, com essa genética maravilhosa, não precisa de muita produção pra você ficar irresistível. O Davi pode até tentar, mas vai acabar sucumbindo ao charme do meu filhote muso. (faz carinho de mamãe coruja)
FILIPE: – Ah, dona Gilda, para. Eu vou indo. Com esse trânsito, nunca se sabe.
GILDA: – E o beijinho da mamãe, não tem?
Os dois trocam selinhos de despedida. Filipe sai. Gilda volta pro filme. Mas logo a campainha toca e ela vai ver quem é. Antes de abrir:
GILDA: – Que foi, esqueceu a chave?
Gilda abre a porta e dá de cara com Abel. Ele está bem sério. Ela fica contente ao vê-lo. Corta para:
CENA 12. PUB. INT. NOITE.
Um pub com características tipicamente britânicas. Está relativamente cheio. CAM encontra Kadu, Júlia e Davi numa mesa.
DAVI: – Eu tô falando pra vocês: o amor gay é muito mais suscetível ao fracasso que o amor hétero.
KADU: – Não é verdade.
DAVI: – Pois eu digo por experiência própria. Os relacionamentos homossexuais são extremamente fugazes, efêmeros… No caso dos homens, duram até o momento em que apareça um carinha com a barriga mais sarada ou a bunda mais empinadinha. Os gays de hoje em dia vivem num eterno self-service, numa degustação excessivamente liberal. Vivemos num século em que o sexo tem muito mais valor que o amor, que o afeto, que a cumplicidade etc.
JÚLIA: – Eu concordo. Mas acredito também que não seja uma questão só de liberação. É que, geralmente, as relações homossexuais não encontram amparo.
KADU: – Não tem apoio familiar, por exemplo.
JÚLIA: – Pois é. E os héteros já vivem mais ou menos assim também. Já foi o tempo em que duas pessoas dividiam uma vida inteira juntos.
DAVI: – Olha aí, Kadu, o que você diz sobre isso?
KADU: – Eu digo que há controvérsias!
Kadu e Júlia trocam carinhos. Davi os observa, sorridente. Filipe chega.
FILIPE: – Boa noite!
Davi desfaz o sorriso. Filipe com bom semblante. Júlia e Kadu entreolham-se. Na expressão séria de Davi, efeito e corta para:
FINAL DO CAPÍTULO 11