Capítulo 11 – Em nome do Filho
Capítulo 011
Cena 01. Rua Deserta/ Exterior/ Noite.
Continuação imediata do capítulo anterior.
Eneida e Dama andam em direção ao carro, toda hora olhando assustadas para trás.
Eneida – Tô com a impressão de estar sendo seguida.
Dama – Não me deixa mais desesperada.
Eneida e Dama param em frente ao carro. Eneida abre a porta do carro e as duas entram nos bancos dianteiros.
Eneida dá partida no carro e sente algo em sua nuca.
Close em Antero apontando uma arma na nuca de Eneida.
Antero – Pode desligar esse carro. Eu vou dizer pra onde iremos passear.
Dama e Eneida ficam muito assustadas.
Dama (assustada) – Por favor, Antero, não faça nada conosco.
Antero – Mas eu não farei nada mesmo.
Eneida – Então porque está aqui com essa arma apontada pra gente?
Antero – Liga essa droga de carro e toca pro cemitério abandonado. Lá vocês terão uma conversinha particular.
Eneida respira fundo e dá partida com o carro.
Corta para:
Cena 02. Casa de Fernanda/ Exterior/ Rua/ Noite.
Eva e Miguel estão terminando de se beijarem.
Eva – Mas tem um, porém.
Miguel – Mas que tipo de, porém?
Eva – Eu só aceito noivar com você, em um jantar reunindo a sua família e a minha família. Quero conhecer sua mãe, seus irmãos, tios, primos e tudo mais.
Miguel fica tenso e Eva percebe.
Eva – Por que tá assim? O que tem a esconder de mim Miguel?
Miguel – Nada meu amor. Você sempre duvidando de mim, sempre duvidando dos meus interesses e sentimentos por você.
Eva – Você mentiu uma vez. Mesmo que tenha sido pra poder aliviar a situação, mas mentiu.
Miguel – E que nunca mentiu Eva? Quem nunca omitiu um fato, para tornar a situação mais dócil? Eu espero apenas que você seja mais clara e que confie verdadeiramente em mim, aliás, um relacionamento não se sustenta só no amor, ou só na cama. Ele se sustenta na confiança diária e imedida que um deposita no outro.
Eva – Tem razão, eu tô ficando neurótica com essas coisas de confiança, de mentiras e tudo mais. Chega meu amor. Na boa da verdade, eu preciso dormir, preciso esfriar a cabeça, tomar um banho bem gostoso e pular na cama. Amanhã é dia de trabalho pesado. Daqui poucos dias, será a abertura do meu novo projeto na livraria e preciso correr.
Miguel – Então vem dar um cheiro no seu namorado, vem.
Eva e Miguel se agarram e se beijam.
Eva (saindo) – Preciso entrar. Boa noite.
Miguel – Beijos gata. Almoçamos juntos amanhã?
Eva – Claro!
Miguel dá uma piscada de olho pra Eva, entra em seu carro e sai.
Corta para:
Cena 03. Carro de Eneida/ Interior/ Noite.
Eneida está dirigindo, com semblante de medo, enquanto Antero continua com a arma apontada para a cabeça dela.
Dama – É mais um susto que a Vitória quer nos fazer passar, não é? Pode falar, eu sei que é.
Antero – Cala a sua boca. Lá a gente acerta tudo.
Eneida (assustada) – Tira essa arma da minha cabeça. Se me matar, vai provocar um acidente e pode até morrer.
Antero – Eu não tenho medo da morte. Aliás, a vida é muito mais perigosa, feia e inimiga, do que a morte.
Dama – Se alguma coisa me acontecer, aquele dossiê com a vida da Vitória, vai parar nas mãos da polícia, da imprensa e se bobear, até nas mãos do FBI.
Antero ri muito alto.
Antero – Acho que você tem assistido demais a séries americanas. Isso daqui é Brasil, interior do país. Aqui nada acontece minha filha. Quem tem dinheiro, poder e um peixe na política, tá feito.
Dama começa a se assustar.
Corta para:
Cena 04. Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Noite.
A rua e o bar já estão com pouco movimento. O show já acabou, e os músicos estão guardando seus instrumentos.
Regininha está conversando com Álvaro.
Regininha – Então você é advogado?
Álvaro – Sou sim, advogado na empresa La Salud.
Regininha – Que bacana.
Álvaro – E você, é o que?
Regininha – Sou assistente na livraria Dom Casmurro.
Álvaro – É uma ótima livraria, eu conheço o dono de lá. Muito gente boa.
Regininha olha o relógio.
Regininha – Tenho que ir, já está tarde e amanhã eu pego cedo no serviço.
Álvaro – Também tenho que ir. Tô de carro, quer uma carona?
Regininha – Não, obrigada. Eu moro aqui por perto mesmo. Vou a pé e rapidinho eu chego.
Álvaro – Já que é assim. Prazer em te conhecer Helena.
Regininha – O prazer é todo meu Álvaro.
Regininha estende a mão para se despedir de Álvaro, mas ele a agarra e lhe dá um abraço apertado e um beijo na bochecha.
Álvaro (cochichando no ouvido) – Eu acho que a gente ainda vai se ver muito.
Álvaro solta Regininha e sai andando. Regininha fica parada, perplexa.
Corta para:
Cena 05. Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
Vitória e Meg estão sentadas no sofá conversando. Conversa em andamento.
Meg – Tem que ter muito sangue frio. Eu não conseguiria.
Vitória – Quando é a sua pele que está em jogo, você é capaz de cometer os piores atos. É capaz de ser a mais sórdida das criaturas. Eu ainda aguardo, ansiosamente, o momento em que aquele maldito passado suma da minha frente, da minha vida.
Meg – É passado, passou. Mas, infelizmente, ficará na memória. Na sua memória, na minha e na de pessoas que viveram aquela época.
Vitória – Eu não posso e não quero pensar no passado. O que farei esta noite é apenas o começo da destruição daquela imundice que foi a minha juventude.
Meg (olhando o celular) – Já está na hora marcada.
Vitória respira fundo e se levanta.
Meg – Tem certeza de que quer fazer isso? Tem certeza de que quer mais uma vez tentar enterrar e calar esse passado que grita?
Vitória – Você sabe que eu tentei a todo custo contornar essa situação, mas não dá mais. Acabou! A-CA-BOU!
Nesse instante Mafalda e Téo entram em casa.
Téo percebe o clima tenso no ar.
Téo (intrigado) – O que tá rolando aqui?
Meg – Nada!
Téo – Tem certeza?
Meg – Certeza eu só tenho da morte.
Mafalda – Engraçado como gente ruim só se junta com gente ruim né. Garanto que as duas najas estavam aqui falando mal do maravilhoso evento que foi o show do Péricles.
Vitória – Engano seu querida, nós não perderíamos nosso precioso tempo falando de algo tão insignificante.
Mafalda – Mas aí depende do ponto de vista, porque, insignificante pra mim é tentar a todo custo passar uma imagem distorcida, do que a sua alma realmente representa.
Vitória (rude) – Escuta aqui Mafalda, eu cuido da minha vida e você cuida da sua e do seu michê.
Mafalda – Alto lar pra falar do meu marido.
Vitória – Alto lar você, que tem telhado de vidro e vive tentando atirar pedra no do vizinho. Aprenda uma coisa Mafalda: Eu sou sobrevivente do inferno, e uma sobrevivente do inferno é capaz de qualquer coisa pra ter o que quer.
Téo – Vamos nos deitar Mafalda. Não fica se aborrecendo não.
Mafalda – Tem razão amor. Vamos subir.
Mafalda e Téo sobem as escadas em direção ao quarto.
Meg começa a aplaudir.
Meg – Você calou a Mafalda. Parabéns!
Vitória – A sua irmã dá uma de boa samaritana, dá uma de metidona a besta, mas não passa de quenga. Agora eu vou embora. Tenho que focar no meu plano. Nada pode dar errado hoje.
Vitória e Meg se olham sérias.
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Cena 06. Bar Chegaí/ Interior/ Noite.
Zé Diogo e o cantor Péricles estão sentados em uma mesa conversando e tomando cerveja.
Zé Diogo (dando um gole de cerveja) – Geladinha! Agora sim. Enfim, vou poder relaxar um pouco.
Péricles – Foi muito gostoso fazer show aqui, a receptividade da galera e o alto astral, nossa muito gratificante.
Zé Diogo – Eu que agradeço pelo show maravilhoso que você fez. É mestre em tudo que faz mesmo.
Péricles – Olha, vou recomendar aos meus amigos que venham ao Bar Chegaí. O melhor bar, no melhor lugar.
Zé Diogo – Fico feliz com suas palavras. É uma honra tê-lo aqui no Chegaí.
Nesse instante, Ondina aparece com uma bandeja lotada de salgadinhos.
Ondina – Salgadinhos pro senhor.
Ondina coloca os salgadinhos na mesa e se senta junto a eles.
Ondina – Prova seu Péricles. Vê se tá bom.
Péricles – Vou provar, mas não precisa me chamar de seu Péricles. Só Péricles tá bom.
Péricles prova, faz cara de suspense e em seguida faz sinal de aprovação.
Péricles – Tá uma delícia Ondina. Você é quituteira de mão cheia, adorei essa coxinha.
Ondina – Então se farte, porque te quibe, rissoles, enroladinho, bolinha de queijo, bomba de salsicha.
Péricles – A senhora caprichou no tempero e na quantidade.
Ondina – Como dizem as más línguas: “antes sobrar do que…” Como que é mesmo? Esqueci gente.
Zé Diogo – Antes sobrar do que faltar.
Ondina – Isso mesmo. Quase me esqueci.
Péricles – Mas tá divino esse salgado.
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Cena 07. Cemitério abandonado/ Portão/ Exterior/ Noite.
Vitória para o carro bem em frente ao portão do cemitério, onde se encontram dois homens. Ela desce do carro, abre o porta-malas e retira de lá: um galão cheio de algum líquido, uma corda e dois pneus. Vitória coloca todos esses objetos no chão, próximo ao carro.
Vitória (aos homens) – Podem pegar.
Os dois homens chegam e pegam os objetos e levam para o interior do cemitério. Vitória entra no carro e o estaciona mais a frente, atrás de uma frondosa figueira. Ela sai do carro e caminha em direção ao interior do cemitério.
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Cena 08. Cemitério Abandonado/ Interior/ Noite.
CAM abre em uma lápide, deteriorada pelo tempo e perpassa por covas abandonadas e com muito mato. Enquanto isso se ouve passos que demonstram que a cada vez está mais perto, mais perto.
CAM fixa em Vitória, próxima dos dois homens.
Vitória – O Antero já passou o esquema pra vocês?
Homem 1 – Já, sim senhora.
Vitória – Não quero falhas, não quero nenhuma eventualidade que possa atrapalhar os meus planos.
Homem 2 – Fique tranquila, somos profissionais.
Vitória – Eu espero mesmo. Nem que eu me agarre a alma do capeta, mas hoje eu vou enterrar de vez o meu passado.
Close em Vitória, com o olhar diabólico.
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Cena 09. Cemitério Abandonado/ Portão/ Exterior/ Noite.
O carro de Eneida para bem em frente ao portão. Em seguida o motor é desligado.
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Cena 10. Carro de Eneida/ Interior/ Noite.
Eneida está com a chave do carro nas mãos, enquanto Antero continua apontando a arma para ela. Dama está paralisada e muito assustada.
Antero (a Eneida) – Muito lentamente, você vai me dar as chaves desse carro. Quando eu disser três, vamos lá? Um.. Dois… Três.
Eneida entrega a chave do carro vagarosamente. Antero pega as chaves e num rápido golpe, dá uma coronhada em Dama, o que a faz desmaiar.
Eneida (gritando/ desesperada) – Não. Acorda Dama.
Antero aponta o revólver para Eneida.
Antero – Cala a boca vadia. Fica aqui no carro quietinha, enquanto eu levo sua amiga pra um bate-papo lá dentro.
Eneida (assustada) – Vai me deixar aqui sozinha?
Antero – Não. As almas infelizes, que rodeiam esse lugar vão te fazer companhia. Te garanto!
Antero deixa a arma no banco traseiro onde está. Sai do carro, abre a porta do carona, retira Dama, desacordada, e a carrega para dentro do cemitério.
Eneida – Meu Jesus Cristo, não deixe que nada de mal aconteça com a Dama.
O celular de Eneida toca, ela o pega e visualiza a tela.
Eneida (desapontada) – É só o despertador.
Eneida continua ouvindo um alarme de celular, ela procura pelo carro e encontra o celular de Dama, no visor uma ligação de Regininha. Eneida atende.
Tela se divide em duas: De um lado Eneida no carro e do outro, Regininha, dentro de um táxi, na parte dianteira, banco do carona.
Eneida – Alô?
Regininha estranha a voz e fica calada.
Eneida – Quer falar com a Dama?
Regininha – Quem é?
Eneida – É você Regininha?
Regininha – Mas quem tá falando?
Eneida – Eu não tenho muito tempo, vou ser breve: A tua tia tá no cemitério abandonado, correndo risco de vida nas mãos do Antero e da Vitória. Corre pra cá, só com você aqui, podemos tentar impedir um desastre.
Regininha fica chocada.
Eneida – Alô? Alô? Taí Regininha?
Regininha – Tô voando até aí.
Eneida desliga o celular. Tela abre toda em Regininha.
Regininha totalmente em estado de choque.
Taxista – Vamos pra onde moça?
Regininha – O cemitério abandonado, na saída da cidade, conhece?
Taxista – Sei onde é.
Regininha – Então toca pra lá o mais rápido possível. (séria) É questão de vida ou morte.
Regininha fica totalmente em estado de choque.
Corta para:
Cena 11. Mansão Trajano/ Entrada Principal/ EXT./ Noite.
O carro de Álvaro para bem em frente a porta de entrada.
Corta para:
Cena 12. Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Ext./ Noite.
A sala está toda escura. Álvaro entra e acende as luzes, se deparando com Meg, sentada no sofá e acariciando Boticário.
Meg – Isso são horas?
Álvaro – Eu estava no Bar Chegaí. No show do Péricles.
Meg – A Mafalda e o Téo já chegaram faz tempo. Tô aqui plantada feito dois de paus a horas.
Álvaro – Vai começar a ladainha? Você tá cada dia mais chata, cada dia mais controladora, daqui a pouco serei obrigado a…
Álvaro interrompe sua própria fala.
Meg (exaltada) – Obrigada a que? Fala Álvaro.
Álvaro – Eu serei obrigado a implantar um chip no meu cérebro, para que você saiba onde estou e melhor, no que estou pensando.
Meg – Sabe que não é má ideia. Eu gostaria mesmo de ser dona dos seus pensamentos. E te punir, caso tenha algum período de libertinagem fantasiosa com essas rameiras que circulam pela empresa. Mas me admira você, um advogado renomado, que há anos trabalha na maior empresa da região, acabou se rendendo ao desfrute de um bairro suburbano e curtiu um show mequetrefe de pagode. É o fim dos tempos.
Álvaro – Eu não vejo problema, muito pelo contrário, vejo solução. Tô cansado desses coquetéis em que as pessoas vão de salto alto e roupa de festa. Que só comem caviar, presunto de Parma. O bar Chegaí é uma alternativa pra quem não aguenta mais essa tolice da classe A, que no fundo se odeia, são porcos fazendo as vezes de gatos.
Meg (desapontada) – Triste esse seu pronunciamento. Tá defecando pela boca. Acho que você bebeu cerveja demais.
Álvaro – Pior que não, mas deveria. Pra não ter que lembrar, que a minha esposa é uma caloteira. É parte podre da política. Deveria ter tomado um porre, pra esquecer que você deixou de ser uma garota mimada e se tornou um ser vil e abjeto. Eu não tenho mais admiração por você.
Meg fica totalmente chocada, assustada e muito triste.
Álvaro – Eu vou me deitar.
Meg – Pegue seu pijama, seu travesseiro e durma no quarto de hóspedes. Não vou dividir meu sono com alguém que não me admira.
Álvaro – Como a senhora quiser, doutora prefeita. São suas escolhas que te tornam desprezíveis.
Álvaro sobe as escadas e Meg começa a chorar.
Corta para:
Cena 13. Cemitério Abandonado/ Int./ Noite.
Dama está amarrada com cordas a uma cruz de madeira, que está de pé em cima de uma cova. Dama permanece desacordada. Vitória e Antero estão conversando, enquanto os dois homens envolvem dois pneus no abdômen de Dama.
Vitória (a Antero) – Digna de filmes de terror. Essa é a morte da nossa amiga. Cruzou a minha vida três vezes, a quarta vai ser no umbral.
Antero – Temos que ser rápidos, pode chegar alguém, ou a Eneida pode ligar pra polícia.
Vitória – Vamos terminar com tudo isso de uma vez.
Vitória pega uma garrafa pet com água e joga na cara de Dama, o que a faz acordar, desnorteada.
Dama (assustada) – Onde eu tô? Que tô fazendo aqui?
Vitória – Bem vida ao seu pior pesadelo. Tá gostando da casa nova? Foi feita especialmente pra você.
Dama – Por favor, me tira daqui Vitória.
Vitória – Agora você conhece a palavra, “por favor,”? Que lindo, nada como desespero para mostrar a boa educação. Porque eu tenho certeza que Madame Catalina te deu educação.
Dama – Será que deu a mesma educação que deu a você?
Vitória fica calada, sem esboçar reação.
Dama – Porque, do mesmo inferno horroroso que eu vim, você também veio. Ou acha que me matando, vai limpar esse seu passado imundo. Você, assim como eu, também foi uma meretriz, uma rameira, uma puta. Você foi garota de programa, foi uma das pombinhas da Madame Catalina.
Vitória – Só que eu me dei bem, sai daquele lugar vil. Ganhei dinheiro, me reeduquei, me tornei peça fundamental da elite Florense. E você? Deixou de ser puta pra ser doméstica. Aí viu o meu crescimento, viu o meu deslumbre e deixou de ser doméstica pra ser chantagista.
Dama – Esse circo que você armou aqui, só mostra o quanto você está com medo do seu passado. Mas ele vai vir a tona. Fatalmente virá. Lembra do dossiê?
Vitória – Aquele dossiê não comprova nada.
Dama – Mas ele cria a dúvida na cabeça das pessoas. Principalmente na cabeça do seu amado filhinho Miguel.
Vitória – Já coloquei uma pessoa pra seguir a sua sobrinha. Em menos de 24 horas, esse dossiê estará nas minhas mãos, agora chega de papo. Você já gritou aos quatro cantos que fui prostituta, da mesma forma que um dia você foi gente. Pode ir se despedindo. E olha bem pra mim, porque esse rostinho lindo e sedutor, vai ser a última coisa que você verá na vida.
Dama fica assustada. Um dos homens entrega um galão para Vitória.
Vitória (sacudindo o galão) – Tá vendo isso minha linda? É gasolina pura. Muitos litros de um líquido inflamável e que queima um corpinho sedutor em questão de minutos. Um churrasco de puta velha será que dá certo? Vamos experimentar.
Vitória começa a espalhar gasolina por todo o corpo de Dama.
Corta para:
Cena 14. Cemitério Abandonado/ Portão/ext. Noite.
Eneida está parada de pé do lado de fora do carro, com o revólver de Antero na cintura. Um táxi chega e Regininha desce desesperada.
Regininha – Então foi você que me ligou Eneida?
Eneida – Não há tempo pra perder, vamos lá tentar salvar sua tia.
Regininha – Só se for agora.
Eneida e Regininha entram no cemitério.
Corta para:
Cena 15. Cemitério Abandonado/ Int./ Noite.
Dama está completamente molhada de gasolina e com semblante de muito medo.
Vitória – Depois psicografa pra mim como é o umbral. Ou melhor, baixa um santo num terreiro e toma um champanhe comigo. Beijos e sonhe com o capeta.
CAM LENTA: Vitória risca um fósforo, close na chama e ao fundo Dama desesperada.
Vitória – Queima bebê.
Regininha (chegando) – Se depender de mim não vai queimar Poxa nenhuma.
Vitória olha surpresa. Eneida chega correndo e fica ao lado de Regininha.
Vitória (sarcástica) – Pronto, chegou a cavalaria. Agora sim a festa ficou animada, agora eu gostei. Tava tudo muito sem brilho, sem espectador pro grand finale.
Regininha – Deixa a minha tia em paz, larga ela.
Antero (a Vitória) – Posso mandar os rapazes darem um jeito nelas.
Vitória – Não. Eu quero elas aqui, pra assistirem ao show. Vieram por causa do churrasco? Que ótimo.
Eneida – Para com isso Vitória.
Vitória – Que bonitinho você defendendo a sua amiguinha de bordel. Mas ela bancou tanto a justiceira, que eu quis dar uma morte semelhante ao que ela representava: Jesus Cristo e Joana D’Arca. A Dama vai morrer queimada e crucificada. Não é lindo?
Eneida (sacando a arma) – Basta Vitória, basta.
Eneida aponta a arma para Vitória, porém, mantém suas mãos trêmulas.
Vitória (rindo) – Tá com parkson? Tão novinha e tão doente. (RUDE) –Agora larga essa arma, senão te capo também, aqui e agora, sem dó nem piedade.
Eneida destrava a arma, olha nervosa para Vitória.
Corta para:
FIM