Séries de Web
Cantiga de Amor

Capítulo 11 – Cantiga de Amor

Cena 01: Igreja del Fiume. Galpão subterrâneo embaixo da sala do padre. Noite.

A leitura de Gustavo é interrompida por passos, vindos do outro lado da biblioteca subterrânea. Alguém entrara, deixando Gustavo atento. Os passos se aproximavam cada vez mais, mas não era possível ver quem chegara. Até que pararam por um instante, na estante ao lado de onde Gustavo tirara o livro de Platão. Depois, a pessoa voltou a se movimentar, e andou na mesma direção de onde veio. Gustavo, imediatamente, resolveu conferir o que a pessoa misteriosa pegou. Chegou à estante em questão.

Gustavo – (Surpreso; pensando) Minha Nossa Senhora! Quer dizer que foi isso que essa pessoa levou para ler? Não acredito!

Então, impulsivamente, Gustavo decide descobrir de quem se tratava. Seguindo o som dos passos, ele corre na direção da pessoa misteriosa. Em certos momentos, ele consegue ver sombras das estantes se movendo, mas não vê quem segura a lamparina. Até que, no momento em que essa pessoa chega à porta, Gustavo visualiza sua sombra. Entretanto, quando ele tenta se aproximar, a porta é fechada.

Gustavo – Mas eu tenho a impressão de que eu conheço essa sombra… Mas, quem ela me lembra?

Cena 02: Rio dos Campos. Manhã.

Adelmo chega ao rio, mais atrasado do que o costume, já que teve que fazer um favor para a mãe. Então, se depara com uma cena. Gustavo e Agnella estão sentados embaixo de uma árvore.

Agnella – Meu amor, estou um pouco aflita. Meu pai enviou um recado por um conhecido, e parece que ele chega hoje de viagem.

Gustavo – Mas tu não precisas ficar aflita. Não te prometi que falaria com ele? E assim será: podes ter certeza de que tu serás a minha esposa.

Agnella – (Radiante, dá um abraço caloroso em Gustavo) Como é bom saber que eu posso confiar em ti! Tenho passado todos esses dias na expectativa do teu pedido, do nosso casamento…

Gustavo – Eu também, meu amor. Tenho certeza de que conseguirei convencer teu pai. (Fica pensativo um pouco) Agnella, eu preciso compartilhar um pensamento meu contigo.

Agnella – O que, Gustavo? É algo sério?

Gustavo – Não… Na verdade, é sobre o fato de haver muitas regras hoje em dia. Sabe, meu amor, existem certas coisas que não deveriam ser proibidas.

Agnella – (Se assusta) Como assim, querido? As proibições fazem parte da educação de uma pessoa.

Gustavo – O que eu falo, Agnella, é do fato de a Igreja nos proibir de ler algumas coisas. Eu, por exemplo, fiquei no seminário até o ponto de aprender a ler, e, esses dias, descobri aqui mesmo, na Igreja, textos maravilhosos que deviam ser mostrados às pessoas. Mas parece que o padre se nega a fazer isso.

Agnella – Se ele não quer, deve ter algum motivo. E, aliás, não achas perigoso ficar lendo esses textos? Se o padre não mostra a nós, também não concordaria em mostrá-los a ti.

Gustavo – Ele não sabe que eu faço isso. E eu vou lhe provar como esses textos são bons. Existe um que fala sobre o amor. Chama-se “O Banquete”. Ele diz que às vezes amamos aquilo que não podemos ter, o que não é meu caso, porque eu tenho a ti e te amo. Mas ele também diz que o amor verdadeiro é o amor do belo, e tu és bela. És linda. Eu te amo muito. De verdade.

Agnella – (Volta a abraçá-lo calorosamente) Eu também te amo. Muito.

Agnella e Gustavo, no calor do momento, não resistem aos impulsos. Começam a se beijar, e, aos poucos, se rendem, “amando-se” ali mesmo, embaixo da frondosa árvore e à beira do rio.

Adelmo – (Espantado) Meu Deus! Isso é um pecado gravíssimo! Ah, mas isso não vai ficar assim! Esse homem ainda vai pagar por ter desvirtuado minha Agnella!

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Manhã.

Inês e Brás continuam na mesma situação. Ela ainda é maltratada por ele, e vive presa em casa. Nesse momento, após ter tomado café e Brás ter saído, Inês teve que começar a preparar o almoço do marido. Então, ao andar da sala para a cozinha, viu um balde.

Inês – O que será que tem nesse balde? (Então, ela abriu) Plantas? É alguma espécie de erva isso que está plantado no balde? Será que elas servem para o almoço? Vou ver.

Então, Inês pega nas ervas que estão no balde. Leva ao nariz.

Inês – Estranho… Não cheira a nada. Mas… Espera aí! Isso daqui, se eu não me engano, é erva daninha para as nossas plantações! Até serve pra comer, mas se colocada perto das hortaliças daqui, causa o maior estrago! O que isso está fazendo aqui? Por que Brás poria uma coisa dessas em nossa casa? (Então, um pensamento lhe vem à mente) Então… Será possível? Ah, mas eu vou dar um jeito de evitar uma tragédia. Não sei se vai ficar muito bom, mas essas ervas vão parar no nosso almoço!

Cena 04: Igreja del Fiume. Manhã.

Conforme o castigo imposto pela irmã Francisca, duas vezes por semana Valentina tinha que ir à igreja para limpá-la. Sempre dando um jeito de evitar um encontro com alguém do povoado, vez ou outra ela esbarrava em Gregório, mas em nenhum momento saía debaixo dos olhos da freira. Nesse momento, ela estava limpando a nave da igreja. Gregório e irmã Francisca também estão lá.

Francisca – Muito bem, irmã Valentina. Parece que você aprendeu direitinho como limpar isso daí. Mas, ora, veja só… (Passa o dedo em um banco da igreja) Isso está imundo! Vê se passa melhor esse pano! Venha aqui e conserte seu erro.

Valentina – Mas, irmã Francisca, ele está brilhando! Eu demorei um bom tempo só nesse banco!

Francisca – Não discuta! Venha aqui e limpe.

Nesse momento, alguém aparece chamando a irmã Francisca.

Francisca – Bem, eu vou sair rapidamente. E, Gregório, me faça um favor: veja se essa menina não faz nada errado, certo?

Gregório – Tudo bem, irmã Francisca.

Ela sai.

Gregório – Irmã Valentina, agora que a irmã Francisca saiu, não é preciso ficar mais limpando esse banco. Podes continuar de onde paraste.

Valentina – Mas… E se ela vir e reclamar?

Gregório – Não fiques preocupada. Todos nós sabemos que a irmã Francisca é complicada mesmo. Às vezes ela é um pouco implicante, mas isso passa.

Valentina sorri. Gregório cora.

Valentina – Vejo que és tímido. Algum problema?

Gregório – (Abaixando a cabeça) Não… Eu só tive um calafrio mesmo. A irmã pode continuar fazendo o serviço. C-com licença. Eu preciso sair um pouco.

Valentina – Está bem. Mas lembre-se: não precisas ficar tímido diante de mim. Sou uma noviça, tu és um seminarista, és quase um padre. Somos irmãos em Cristo.

Gregório – (Ri no canto da boca) Verdade. Mas tenho que ir agora.

Valentina sorri enquanto Gregório sai. Ele acaba encontrando a irmã Francisca voltando para a igreja. Gustavo está chegando do povoado nesse momento.

Gregório – Algum problema, irmã Francisca?

Francisca – Não. Na verdade, uma ótima notícia. O padre e Enzo mandaram uma carta para nós através de um conhecido. Ele está chegando hoje à tarde. Vai poder celebrar a missa de hoje.

Gregório – E quanto ao casamento?

Francisca – Não sei bem, mas parece que deu tudo certo.

Gustavo ouve tudo.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Tarde.

Depois que Brás trancou a janela do quarto e pregou, impedindo de ser aberta, Pero deixou de visitar Inês com comida, mas de vez em quando ia importuná-la, e eles ficavam “conversando”. E esse é um dos dias em que ele resolve visitá-la. Inês está no quarto, quando ouve uma batida na janela.

Inês – (Sorri) Pero!! (Se dirige à janela) Pero, és tu?

Pero – Sou eu sim, minha princesa! Não aguentei de saudade e vim conversar contigo!

Inês – Camponês, não me tome o tempo, porque já não aguento mais tuas ladainhas de amor. Eu tenho uma coisa importante para te dizer.

Pero – O que, minha flor maravilhosa?

Inês – Descobri que Brás planejava sabotar tuas plantações com ervas daninhas!

Pero – (Surpreso) Como é? De que forma descobriste? E o que fizeste?

Inês – Eu encontrei um balde cheio dessas ervas aqui em casa, e deduzi que fosse para ti, já que és a única pessoa daqui com quem eu sei que Brás poderia ter alguma rixa. Então eu peguei essas ervas e as usei no almoço.

Pero – Mas não te fizeram mal? Será que não vão causar problema?

Inês – Não, camponês, claro que não. Eu quero saber é o que tu irás fazer, agora que tu sabes disso.

Pero – Não sei… Mas eu tenho certeza de que darei um jeito de retribuir isso. Vou à missa hoje, parece que o que padre está de volta. Quem sabe lá não encontro uma solução?

Cena 06: Igreja del Fiume. Nave. Tarde.

Gregório está começando a organizar os paramentos para a missa, no caso de o padre não chegar ou não poder celebrá-la. Nesse momento, ele tem uma surpresa.

Gregório – Padre! Que bom que chegaste!

Santorini – Pois é, meu filho! A viagem foi cansativa, mas eu estou aqui! E pronto pra celebrar quantas missas for preciso!

Gregório – Graças a Deus! Daqui a pouco ela começa. O senhor vai estar à frente, então?

Santorini – Sim, meu filho, pode ter certeza.

Cena 07: Igreja del Fiume. Final da tarde.

A missa começou. O padre está conversando com os fiéis.

Santorini – Meus irmãos, como todos sabem, eu tive que realizar uma viagem para arranjar o casamento de uma das moças daqui do povoado. Para encontrar a residência da família do atual noivo, tive que passar na igreja principal da região da Campania, e lá tive uma notícia importante e que eu trago hoje para vocês. Irmãos, precisamos nos armar. A Igreja e a propagação do Evangelho estão ameaçadas, porque os mouros, ou muçulmanos, tomaram a nossa cidade sagrada de Jerusalém! (A Igreja entra em alvoroço) Por favor, tentem se controlar! Eu sei que é difícil, eu também achei essa uma situação de muita calamidade, mas temos uma boa notícia. O nosso papa já está decidido, e a Igreja vai entrar em guerra contra os nossos inimigos que estão em Jerusalém. Será o começo de uma Guerra Santa, e para isso estou aqui. Tenho a responsabilidade de selecionar pelo menos dois homens de cada povoado ao redor que estejam dispostos a viajar para Jerusalém e combater o mal! Se levantem, irmãos! Precisamos vencer o Inimigo!

Pero está assistindo à missa.

Pero – (Pensando consigo mesmo) Então essa é a solução para todos os nossos problemas!

Cena 08: Igreja del Fiume. Noite.

A missa acabou de terminar. Depois de ser atacado por vários fiéis que estavam alvoroçados com a notícia recente, o padre Santorini conseguiu sair, e agora estava no quarto de Gregório.

Santorini – A irmã Francisca me falou que você ficou com a chave do meu quarto. Eu vou precisar dela agora, obviamente, para dormir. Onde ela está?

Gregório está mexendo em seu guarda-roupa.

Gregório – Eu a coloquei aqui padre, no fundo falso que existe em nossos guarda-roupas. (Então, ele abre o fundo falso e toma um susto.) Mas… Cadê a chave?

Santorini – Não é possível. Você tem certeza que…

Gregório – Ela sumiu, padre! A chave do quarto do senhor sumiu!

7 comentários sobre “Capítulo 11 – Cantiga de Amor

  • Quem está com a chave do padre provavelmente é o tal que pegou o livro. Mas quem será? Bem, tenho um suspeito! Achei bem legal você colocar certos fatos históricos na web, enriquece muito e reforça o período em que a trama se passa. Será que o casamento de Agnella e Gustavo está arranjado mesmo? Se depender do Adelmo, não. Prevejo essa história virando uma tragédia 🙁

    • Hum… Será? O padre chegará a uma conclusão sobre isso em breve. Então você tem um suspeito sobre a “pessoa misteriosa”. Bem, depois você verá se essa suspeita é real ou não. Indícios poderão surgir em outros capítulos… O noivado de Gustavo e Agnella está prestes a acontecer, mas, como você bem pensou, enfrentará dificuldades. Mas tragédia? Será? Bem, talvez… Pra saber, é só acompanhar. E quanto aos fatos históricos, como o da Guerra Santa, eles são mais do que simplesmente um contexto.
      Obrigado, Victor, e continue fiel a Cantiga de Amor!! 😀

    • Obrigado!! Conto com seus comentários em Cantiga de Amor, tanto nos capítulos anteriores, quanto nos próximos. Acontecimentos importantes virão! E sua contribuição é muito importante! 🙂

  • Mais um capítulo de Cantiga de Amor! Gustavo e Agnella “consumaram” sua relação antes do tempo ideal para a época, e Adelmo viu. O que ele fará? E, agora que o padre chegou, tudo se encaminha para um acontecimento: o noivado. Já posso adiantar que os pais de Gustavo chegarão à igreja no próximo capítulo. Mas e aí? Tudo acontecerá como o esperado?
    Deem seus comentários e opiniões! E não percam o capítulo de amanhã!! 😀

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