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Filho Amado

Capítulo 10 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 10.

 


 

Anna, com a arma: SOLTA O ÉSSIOOOOO.

 

Ouve-se então outro barulho de tiro.

 

Todos se abaixam.

 

Bento é o primeiro que se arrisca a abrir os ólhos, ele vê que o tiro atingiu o braço de Noronha, mas de raspão.

 

Bento: Graças a Deus que não aconteceu nada sério, vamos embora imediatamente daqui!

 

Anna continua com a arma: Sua hora vai chegar, Noronha, sua hora vai chegar e eu ainda vou te dizer isso novamente quando sua vida estiver em ruínas!

 

Noronha, ferido: Você já percebeu que você nunca me desejou o bem?

 

Bento: Parem os dois por favor!

 

Anna: Você não merece o bem, Noronha!

 

Bento: PAREM!

 

Noronha: Eu te odeio!

 

Bento: Pelo amor de Deus…

 

Anna: EU te odeio mais, Noronha, e nunca vou conseguir te amar!

 

Bento: CHEGA!- De repente ele cai no chão.

 

Bravejo: BENTO! SOCORRO, ACUDAM!

 

Todos se ajoelham perto de Bento.

 

Noronha, chorando: Pai…Pai…Me responde!

 

Éssio: PAI!

 

Anna, assombrada: Você conseguiu Noronha, você matou seu pai!

 

Noronha finge não escutar: CHAMEM A AMBULÂNCIA! PAI, FALA COMIGO!

 

Lá fora…

 

Bruno vende outro bolinho: Aqui está o seu bolinho, senhora, obrigado- Ele conta o dinheiro- Caramba, mais de mil reais…Eu ainda não entendi porque o povo todo saiu do estádio e veio aqui pra fora, parece até que ouviram tiro! Hahaha!

 

Betânia chega: Bruno, o pai do Noronha morreu!

 

Bruno, sem reação: O quê?

 

Betânia sai correndo, pra espalhar a noticia.

 

Bruno começa a suar: Não pode ser, deve ser mentira dela…Mas porque ela mentiria? Eu preciso ir ver como o Noronha está! Mas não posso abandonar a barraca…- De repente ele vê uma aranha perto da cesta de bolinhos, o problema é que Bruno tinha aracnofobia- SOCORROOO- Ele sai gritando e abandona a barraca.

 

Lá dentro…

 

Noronha chora sobre o corpo do pai, quando os enfermeiros chegam e colocam Bento em uma maca, todos os seguem até a ambulância, deixando o estádio completamente vazio.

 

Anna interrompe o passo de Noronha: Se o seu pai morrer… Eu acabo com você.

 

Enfermeiro: Só pode ir uma pessoa com ele pro hospital, quem vai ser?

 

Anna se prontifica: Eu- Ela sobe na ambulância, que parte.

 

Bruno, sem folego: Noronha, ainda bem que eu te achei…

 

Noronha nota: Bruno, quem é que tá na barraca? Você abandonou ela?

 

Bruno explica: Apareceu uma aranha enorme lá, eu não pudia ficar lá com aquela coisa nojenta e perigosa…

 

Noronha: Não me diga que você esqueceu o dinheiro lá!!

 

Bruno tira o dinheiro do bolso: Não. Aqui estão seus lucros amigo. Só ficaram alguns bolinhos lá, uns sete.

 

Noronha conta o dinheiro: Era o que eu precisava, agora me desculpe, tenho que ir, depois te dou sua comissão, meu pai está no hospital e tenho que ficar do lado dele.

 

Bruno, triste: Meus pêsames.

 

Noronha: Pêsames? Ele não morreu Bruno, deve ter tido uma infarte ou alguma coisa do tipo.

 

Bruno nota o braço do amigo: Nossa! E o que foi isso? Parece que você até levou um tiro, amigo!

 

Noronha repara no braço: Eu levei um tiro Bruno, da minha própria mãe.

 

Bravejo, que está com Éssio, se aproxima: Mas levou porque mereceu, Noronha- Ele fica cara a cara com Noronha- Se alguma coisa acontecer com o pobre do Bento você não ache que vou hesitar em chamar a policia, vamos Éssio- Os dois saem.

 

Bruno, assustado: Parece que a coisa foi feia mesmo!

 

Noronha começa a chorar de ódio: A culpa não foi minha- Fala pra si mesmo- Foi o Éssio, ele é o culpado de tudo- Ele sente uma tontura- É aquilo, Bruno, aquele ódio que faz minha pressão subir, eu não sei o que sou capaz de fazer…

 

Bruno leva Noronha até uma cadeira: Calma Noronha, eu vou pegar uma coisa pra beber, você não pode deixar esse ódio tomar conta da sua mente.

 

Noronha, ficando louco: Não tenho como controlar, Bruno, primeiro eu vejo a Aurora com o Éssio, depois minha mãe tenta me matar, meu pai teve um troço… EU NÃO CONSIGO MAIS ME CONTROLAR- Ele põe as mãos até a cabeça.

 

Bruno tenta conte-lo: Fique calmo, esse estresse todo não vai adiantar de nada, foram horríveis incidentes, eu sei, mas nessas horas temos que agir com calma, vou pegar uma água pra você- Ele sai e passa voando entre a multidão de gente que ainda estava no estádio.

 

Noronha resolve dar uma volta para esfriar a cabeça, ele anda até que chega no banheiro do estádio, resolve lavar o rosto e o ferimento.

 

Chico Branco o cutuca: Com licença, você sabe me dizer o que aconteceu na festa? É que eu vim olhar as barracas aqui pra ver se tinha alguma coisa boa pra comer e quando voltei tinha uma multidão espalhada aqui fora…O que aconteceu no estádio?

 

Noronha se olha no espelho: Por favor, meu amigo, não fale comigo, peça explicações a qualquer outro…Mas me deixe em paz- Ele continua lavando o rosto.

 

Chico Branco insiste: Eu só queria uma informação mesmo- Ele repara no braço de Noronha- O que aconteceu aqui com o seu braço? Eu posso te ajudar?

 

Noronha explode: NÃO FALA COMIGO, POR FAVOR- Ele empurra o politico, que cai no chão, assustado com a agressividade do rapaz.

 

Lá fora…

 

Bruno volta com a água: Aqui está a sua água, Noronha. Noronha?- Ele procura o amigo- Mas por onde ele se meteu, do jeito que a mente do coitado está não é bom ele ficar sozinho por aí.

 

Betânia chega: Bruno, você viu o que aconteceu hoje? Foi barraco atrás de barraco, tiro, morte e discussão, depois dizem que o Coronel Bravejo não sabe fazer festa! Inclusive, ele tá ali no palanque se desculpando com todo mundo, falaram também que o José do Gado ia fazer um discurso mas depois do que aconteceu ele cancelou!

 

Bruno olha para todos os cantos.

 

Betânia: Você tá me ouvindo, Bruno? Tá procurando quem?

 

Bruno: O Noronha, ele não tá muito bem depois do que aconteceu, e eu estou com medo que ele faça alguma coisa…

 

Betânia: Será que ele já foi embora? Normalmente essas festas duram até a madrugada…

 

Bruno expressa preocupação: Ai Noronha, onde você se meteu?

 

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Horas depois…

 

Hospital…

 

Anna conversa com Alminha.

 

Anna, tomando café: Ele já está melhor Alminha, não se preocupe, o médico falou que foi um infarto…

 

Alminha também toma café: Também, depois de tudo o que aconteceu ficou dificil pro coração generoso do Bento aguentar aquelas palavras feias que você e o Noronha trocaram ontem, foi emoção demais pra uma noite só.

 

Anna, rancorosa: O Noronha provocou aquela confusão toda, você percebeu, quando eu digo que um dia aquele menino vai matar alguém, ninguém acredita…

 

Alminha se levanta: Só te digo uma coisa: Eu avisei que alguma coisa ruim ia acontecer ontem, você devia acreditar mais nas minhas previsões, como a que o Noronha vai ficar rico- Ela abraça a cunhada- Tenho que ir, força pra você e diga pro Bento que mandei um beijo pra ele.

 

Anna: Logo logo ele sai da UTI.

 

Alminha: Ótimo, qualquer dia desses faço uma visita pro meu irmão- Ela sai, apressada.

 

Anna continua tomando seu café, duas enfermeiras passam comentando alguma coisa.

 

Enfermeira 1:…Morreu!

 

Enfermeira 2:…Mas ainda não sabem o porque, né?

 

Elas se sentam em uma mesa ao lado da que Anna está.

 

Enfermeira 1:…Foi na festa de ontem!

 

Anna se vira para elas: Com licença, desculpe o intrometimento mas…Quem morreu?

 

Enfermeira 2: O Chico Branco, aquele que foi prefeito da cidade por mais de 20 anos!

 

Enfermeira 1: Aquele sim era um prefeito bom.

 

Anna fica impressionada: O Chico Branco? Mas ele morreu como?

 

Enfermeira 2: Ninguém sabe ainda, acharam ele morto na festa ontem.

 

Anna fica refletindo.

 

Prefeitura/ Sala do Coronel Bravejo/ Um pouco depois…

 

Bravejo e Leopoldo conversam.

 

Bravejo, dramático: É o meu fim, aliás, o nosso fim- Ele assoa o nariz em um lencinho- Essa festa era a nossa única oportunidade pra reeleição, mas a sua família estragou tudo com aquelas brigas e conflitos, e aquelas tentativas de morte- Ele faz uma pausa- Pelo menos o Bento não morreu.

 

Leopoldo, triste: Ainda bem que meu irmão não teve nada de grave, mas eu não entendo como toda aquela confusão aconteceu…Queria ter ido na festa mas a Larinha tava doente…

 

Bravejo, mais dramático: Sorte sua, Leopoldo, foi a pior festa que eu já dei, e a culpa de tudo foi do seu sobrinho Noronha, e daquele nojento do José do Gado!

 

Leopoldo fica bravo: Para de chorar Coronel, você nunca desistiu fácil assim e agora fica aí se reclamando como um perdedor! Ainda falta um mês pras eleições ainda dá tempo de reconquistar o povo.

 

Bravejo se lembra: Mas ontem o Chico Branco me disse que tinha uma carta na manga que ia fazer o José do Gado ganhar…É o meu fim, admita.

 

Ruper chega: Prefeito, você não acredita no que aconteceu!

 

Bravejo: Como eu posso acreditar se você não me falou o que foi?

 

Ruper joga o jornal na mesa do prefeito: O Chico Branco foi encontrado morto ontem, no fim da festa!

 

Leopoldo, surpreso: MORTO?

 

Casa dos Dávila/ Cozinha.

 

Noronha está sentado na mesa pensativo, Éssio aparece.

 

Éssio, sério: Eu vou buscar o papai no hospital, a mamãe ligou agora e disse que ele já teve alta, mas eu vou com o tio Leopoldo, porque precisa de alguém pra dirigir…Você quer ir?

 

Noronha: Não.

 

Éssio: Tudo bem então…

 

Assim que Éssio sai, Bruno chega.

 

Bruno, preocupado: Noronha! Eu te procurei ontem a noite toda, falei pra você ficar sentado naquele banco e você sumiu!

 

Noronha mente: Eu voltei pra casa, meu braço estava doendo muito e eu precisava fazer um curativo, depois eu dei uma passada no hospital.

 

Bruno se senta ao lado dele: Então você tá melhor, certo? Ontem você quase explodiu Noronha, aconteceram muitas coisas e eu acho que a sua mente não sabe administrar esses problemas todos- Ele percebe que Noronha não quer falar sobre o assunto- Bom, então vamos falar de coisa boa, quanto você ganhou ontem com os bolinhos mágicos?

 

Noronha não responde nada.

 

Bruno liga o rádio: Vamos Noronha, se anime, seu pai está vivo! Cantar espanta todos os males, vamos ver que música está passando…- Ele passa entre todas as rádios- 
Talvez na rádio de Vila Varzeônica esteja tocando alguma música legal!

 

Locutor: Chico Branco foi achado na porta do banheiro do estádio municipal, já sem vida, mas ainda não se sabem as causas da sua morte…

 

Bruno, chocado: O CHICO BRANCO MORREU!

 

Noronha não parece surpreso.

 

Mansão de José do Gado/ Sala…

 

José do Gado desce as escadas, Marinez está na sala.

 

José: Minha cabeça ainda não se recuperou dos traumas de ontem…

 

Marinez lê o jornal: Quem fica “ traumatizado”, no minimo deve ficar em casa pra se recuperar…

 

José do Gado, intrigado: O que você quer dizer com isso?

 

Marinez: Eu quero dizer que eu vi quando você se levantou da cama pouco depois de a gente chegar, trocou de roupa e saiu…Pra onde você foi Zé?

 

Aurora desce as escadas com uma mala.

 

Marinez: Aurora pra onde você vai?

 

Aurora, revoltada: VOU EMBORA DAQUI!

 

José do Gado, furioso: Vai embora pra onde?

 

O empregado dele chega correndo: Seu José, seu José!

 

José do Gado empurra o empregado: Quieto, Robervan, tenho problemas pra resolver aqui com minha filha e minha esposa.

 

Robervan: É urgente! É sobre o seu Chico Branco!

 

José do Gado fica curioso: Ele está aí na porta? Deve ter ficado bravo comigo, porque era pra eu fazer um discurso ontem e com essa confusão toda da Aurora acabei esquecendo, manda ele entrar…

 

Robervan está tremendo: Não é isso…O rádio…O jornal…

 

José do Gado o sacode: Fala logo, criatura!

 

Robervan dispara: Ele morreu, o seu Chico Branco se foi!

 

José do Gado põe a mão no coração: Morreu?- Ele cai desmaiado no sofá.

 


 

Termina o capítulo 10.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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