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Cantiga de Amor

Capítulo 10 – Cantiga de Amor

Cena 01: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.

Prudência – Eu não devia te falar isso, mas julgo ser bom que te prepares desde agora. O teu pai… Está viajando para arranjar o teu casamento.

Agnella – Para… Arranjar… O meu… Casamento?

Agnella fica espantada. Sem saber da existência de Gustavo, o pai estava traçando para ela um caminho que ela não queria. E, nesse caminho, parecia não haver nem sombra do seu amado.

Agnella – Mas… Por que a senhora não me falou sobre isso antes?

Prudência – Minha filha, precisávamos ver se tudo daria certo. E ainda precisamos. Não queremos encher-te de esperança, para depois darmos uma resposta negativa.

Agnella – (Fala baixinho) Ah, meu Deus, e agora?

Prudência – E agora o que, filha?

Agnella – Nada. Nada não. O papai deixou dinheiro para eu comprar o pão?

Prudência – Sim. Graças a Deus ele nos deixou dinheiro para toda a temporada em que ele vai passar longe. Mas tome, filha. Vá buscar a água.

Agnella pega o balde e o dinheiro e segue em direção ao Rio dos Campos.

Agnella – Meu Deus, será mesmo que eu vou ter que me afastar de Gustavo? Eu devia ter falado logo a ele para pedir a minha mão em casamento, mas eu fiquei com receio, com medo…

Cena 02: Rio dos Campos.

Quando Agnella chegou, Gustavo já estava à sua espera. Ela encheu o balde de água e sentou ao seu lado.

Gustavo – Meu amor, bom dia!

Agnella – O dia não começou tão bem, Gustavo.

Gustavo – Por que, Agnella? Aconteceu algo de grave contigo? Algo está te amedrontando? Eu percebo isso desde ontem…

Agnella – Eu preciso te contar uma coisa. No dia em que eu estava de castigo, eu ouvi o final de uma conversa entre meus pais, e eles falaram em me casar. Só que eu me deixei envolver pelo meu amor por ti, e acabei esquecendo essa conversa. Mas ontem eu lembrei, e por isso pedi para tu me abraçares. E isso me deixou mais segura. O problema é que hoje, quando eu acordei, o meu pai estava saindo… E não era para o trabalho. Ele estava viajando!

Gustavo – Não me digas que…

Agnella – Ele foi arranjar o meu casamento com outro homem!

Gustavo, assim como Agnella, também se espanta.

Gustavo – Não acredito, meu amor! Como eu fui burro! Eu devia ter agido logo e pedido a tua mão em casamento para o teu pai…

Agnella – Não te culpes. Eu devia ter te alertado sobre isso, mas eu esqueci!

Gustavo – Agnella, eu acabo de me lembrar de algo que também não é muito bom.

Agnella – O quê? Não vais me dizer que tu tens que ir embora?

Gustavo – Não, meu amor, não é isso. Na verdade, eu estou enfrentando a mesma situação. Há um homem querendo me casar com sua filha, e, por mais que eu não diga onde é a casa dos meus pais, ele teima em visitá-los.

Agnella – Eu não quero perdê-lo, meu amor.

Gustavo – Nem eu quero perdê-la. Sabe de uma coisa: eu enfrentarei tua família, eu enfrentarei minha família, eu enfrentarei o homem que quer me separar de ti. Podes ter certeza de uma coisa: quando o teu pai voltar, eu serei a primeira pessoa a falar com ele, e pedirei a ele para casar contigo.

Agnella – (Fica contente e dá um abraço nele) Prometes que irás fazer mesmo isso?

Gustavo – Prometo. Dou a minha palavra de homem que farei isso.

Agnella – É por isso que eu te amo!

E Agnella o beija.

Cena 03: Igreja del Fiume.

Gustavo estava chegando à igreja. Na nave, estavam Gregório e Francisca.

Francisca – Bem, Gregório, tu sabes que o padre viajou para tratar do assunto do casamento do nosso (fala com desprezo) visitante. Por isso, tu ficarás em seu lugar durante o tempo em que ele estiver fora.

Gregório – Está certo, irmã. A senhora pode confiar em mim. Eu farei o trabalho da melhor maneira possível.

Francisca – Ah, e só uma coisa. Eu devia ficar com ela, mas estou confiando a ti a chave do quarto do padre. Guarde-a muito bem. E não a use. Tu sabes que esta chave não pode parar em mãos de quem não é da Igreja.

Gregório – Com certeza, irmã. A propósito, eu também terei que ir ao convento hoje? O padre celebraria algo lá.

Francisco – Claro! Agora à tarde, logo após o horário do almoço, nós oficializaremos a entrada da nova noviça. Creio que tu sabes o que fazer.

Gregório – Sim, eu sei.

Francisca – Pois bem. Boa sorte, meu filho. Espero que tu não nos sejas motivo de decepção.

Com isso, a irmã Francisca sai, passando por Gustavo e lançando-lhe um olhar reprovador. Depois, Gustavo entra na igreja.

Gustavo – Quer dizer que o padre viajou?

Gregório – Isso mesmo. Tu não quiseste lhe contar onde fica a tua casa, e então ele terá que descobrir sozinho, através da igreja de lá.

Gustavo – Mas… Ele deve demorar para chegar lá.

Gregório – Nem tanto. Ele e o teu futuro sogro conseguiram ótimos cavalos. Demorarão menos tempo do que o normal.

Gustavo – Isso… Talvez até seja melhor para mim.

Gregório – Meu amigo, não tentes fugir disso. É o nosso costume. (Fala com voz profunda, um pouco reflexiva) Por mais que inicialmente tu tiveste outros planos, a vontade de teus pais deve prevalecer. É o melhor para ti.

Gustavo – Gregório, meu caro, gostaria de te fazer uma pergunta. Tu és mesmo feliz com a carreira que resolveste seguir?

Gregório – (Exagera um pouco na voz) Claro que sim! Tenho plena e absoluta certeza de que fiz o melhor para mim! Mas deixemos de conversa. Tenho coisas mais urgentes para fazer.

Gustavo – Sei… Sei…

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone está fazendo o almoço dela e de Adelmo, quando alguém bate na porta. Ela abre.

Simone – Brás? O que fazes aqui?

Brás entra sem pedir licença.

Brás – Minha querida sogrinha. Estou aqui porque preciso resolver algo muito importante. Diz respeito à minha vida com minha Inês.

Simone – (Um pouco assustada) Aconteceu alguma coisa com minha filha?

Brás – Não. Nada que ela não mereça. O que eu vim aqui saber, querida sogra, é se, por acaso, a senhora andou visitando minha esposa ontem.

Simone – Eu? Não! Nem cheguei perto de tua casa. Por que perguntas mesmo? Haveria algum problema se eu tivesse visto Inês ontem?

Brás – Isso não vem ao caso agora. Eu quero saber se foi a senhora quem foi lá e levou comida para ela.

Simone – Já disse que não. Portanto, meu amado genro, retire-se da minha casa.

Brás – (Indignado) Está certo. E se a senhora souber quem teve a audácia de fazer isso, eu exijo saber. Entendido?

Simone – Entendido.

E fecha a porta.

Simone – Ah, faça-me o favor. Mesmo se eu soubesse quem fez isso, não contava nunca a esse crápula!

Do lado de fora, Brás volta para casa.

Brás – Bem, se não foi ela, quem foi? (Então, tem um lampejo) Claro! O camponesinho apaixonado! Ah, mas ele vai sofrer em minhas mãos! E eu acho que sei o que fazer. É só uma questão de tempo…

Cena 05: Convento. Tarde.

Após ter terminado a cerimônia de oficialização da nova noviça, Gregório resolveu parabenizá-la pessoalmente.

Gregório – Irmã Valentina! Que bom é poder ver uma mulher entrando para o trabalho do Senhor… Tu deves estar muito feliz.

Valentina – (Dá um sorriso amarelo; fala sem empolgação) Sim, muito feliz mesmo. Tornar-me freira é o meu maior sonho!

Gregório – Percebo que estás convicta de tua decisão. Glória a Deus por isso. Serão anos muito bem aproveitados aqui nesse convento.

Valentina – Anos! Anos… muito bons.

Nesse momento, Valentina titubeia, seu corpo balança um pouco e ela desmaia nos braços de Gregório.

Gregório – Ai, meu Deus! Irmã Francisca, a irmã Valentina desmaiou agora!

Francisca – Irmã Gertrudes, leve-a para o seu quarto. Pelo visto, essa noviça insiste em nos dar trabalho. (E sorri.)

Cena 06: Convento. Quarto de Valentina. Meia hora depois.

Valentina acabou de despertar do desmaio. Ao seu lado, estavam Gregório e Francisca.

Gregório – Irmã, estás melhor?

Valentina – (Tenta falar direito, mas cansa) Eu… Acho… Que estou.

Gregório – Graças a Deus. Eu fiquei aqui desde o momento em que desmaiaste para ver se a irmã ficaria bem. Já que tu estás melhor, eu terei que voltar à igreja.

Francisca – Fazes bem, Gregório. Tens uma igreja que está sob teus cuidados.

Gregório – Com licença. E, irmã Valentina, podes ter certeza de que Deus irá te ajudar, e tu ficarás bem.

Valentina – O-obrigada.

E Gregório sai. A irmã Francisca abre um sorriso enigmático.

Francisca – Muito bem, irmã Valentina. Pelo visto tu esqueceste de que eu não queria outro acontecimento como esse, mas tu não fizeste nada para evitar. Por isso, irmã Valentina, terei que puni-la.

Valentina – Punir-me? O que farás?

Francisca – Não é nada de tão ruim assim. Só… Ficarás encarregada da limpeza de todo o convento e, duas vezes por semana, de toda a igreja, por tempo indeterminado.

Valentina – O quê? A irmã deve ter se enganado… É muita coisa.

Francisca – Não. Eu não me enganei. E, a propósito, a irmã começará amanhã mesmo.

Francisca sai.

Valentina – Ai, isso está virando um pesadelo…

15 dias depois…

Cena 07: Igreja Del Fiume. Sala do padre. Noite.

Foi fácil para Gustavo seguir Gregório até seu quarto e conseguir a chave do quarto de Santorini. Depois, também foi fácil ir até lá e pegar a chave da sala do padre. Com isso, praticamente todas as noites Gustavo se aventurava pela leitura de filósofos gregos ou de dramaturgos clássicos. Esta noite, Gustavo tinha em mãos o livro “O Banquete”, de Platão.

Gustavo – (Lendo) “É essa então, ó Sócrates, a natureza desse gênio; quanto ao que pensaste ser o Amor, não é nada de espantar o que tiveste. Pois pensaste, ao que me parece a tirar pelo que dizes, que Amor era o amado e não o amante; eis por que, segundo penso, parecia-te todo belo o Amor. E, de fato, o que é amável é que é realmente belo, delicado, perfeito e bem-aventurado; o amante, porém, é outro o seu caráter.”

Nesse momento, sua leitura é interrompida por passos, vindos do outro lado da biblioteca subterrânea. Alguém entrara, deixando Gustavo atento. Os passos se aproximavam cada vez mais, mas não era possível ver quem chegara. Até que pararam por um instante, na estante ao lado de onde Gustavo tirara o livro de Platão. Depois, a pessoa voltou a se movimentar, e andou na mesma direção de onde veio. Gustavo, imediatamente, resolveu conferir o que a pessoa misteriosa pegou. Chegou à estante em questão.

Gustavo – (Surpreso; pensando) Minha Nossa Senhora! Quer dizer que foi isso que essa pessoa levou para ler?

6 comentários sobre “Capítulo 10 – Cantiga de Amor

  • Esse segredo da igreja me aguça cada vez mais!
    A Valentina anda muito frágil…Será que está grávida? Se for isso, pobre dela. E ainda recebe uma punição desse tamanho!
    E Pero que se cuide, pois Brás não é um homem muito amigável…
    Ótimo capítulo, como todos os outros.

    • Será que ela está grávida? Ou será que há outra coisa aí? Ou foi só mal-estar mesmo? Há várias respostas… rsrsrs
      É, Pero tem que prestar bastante atenção… Mas ele pode contar com ajuda de alguém nessa história.
      E quanto à igreja e seus segredos… Basta continuar lendo. Quem sabe a resposta não aparece?
      Obrigado!! 😀

  • Ola João Pedro Ramalho sou Wilson Bernardo autor de Salamandra e estou a passar esta mensagem e dizer que sua história me chamou a atenção, adorei a abertura, nestes dias li o titulo e desde então isso tem me tirado a concentração, no entanto ao ler um pedacinho do texto, pude mergulhar em minhas vagas lembranças do tempo em que eu morava na roça, linda sua história amei e mesmo atarefado e me dedicando agora em Salamandra que acaba este mês quero dizer que vou acompanhar sua história…

    • Obrigado! Eu fico feliz em você ter gostado de Cantiga de Amor, da novela em si e da abertura; fico feliz também por você estar disposto a acompanhá-la, mesmo com uma rotina atarefada; mas eu fico mais feliz ainda por ter despertado essas lembranças em você – é a história tendo resultados que eu não esperava, realmente surpreendentes. Mais uma vez, eu agradeço por seu comentário e sua audiência, e torço para que você continue gostando!

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