Capítulo 09 – Cantiga de Amor
Cena 01: Igreja del Fiume. Sala do padre.
Gustavo – (Surpreso) Um porão? O que será que há aí embaixo?
E desceu as escadas. Ao chegar embaixo, viu uma sala com várias estantes. Preenchendo as prateleiras das estantes, havia livros. Vários livros, grossos e finos. Gustavo chegou mais perto para analisar que livros estavam ali. Puxou um.
Gustavo – Platão? Quem é Platão? (Puxou outro da prateleira de baixo.) Sêneca? Também não conheço.
Gustavo começa a puxar os livros das prateleiras, encontrando autores sobres os quais nunca ouvira falar: Anaximandro, Tales, Zenão, Virgílio, Homero, entre outros. Então, puxa um livro.
Gustavo – Aristóteles. Ética a Nicômano. (Abre o livro em uma página, e lê uma palavra.) Felicidade? Interessante…
Gustavo, então, sentou-se no chão, e começou a ler.
Gustavo – O que diz aqui? “Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda que nada resultasse delas), escolhemo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes.”
Interessado pela leitura, Gustavo não parou mais. Até que, sem perceber que o tempo passara, viu tímidas luzes surgirem do outro lado da sala. O dia nascia, e uma porta se abrira. Com medo de ser visto, colocou rapidamente o livro de volta na estante, subiu novamente as escadas em direção à sala do padre. Fechou o acesso e saiu, trancando a porta. Foi ao quarto do padre. A porta estava trancada, mas havia uma fresta entre a porta e o chão. Sem alternativa, Gustavo jogou a chave por baixo e saiu correndo. Lá dentro, estava o padre, que se assustou com o barulho da chave sendo jogada.
Santorini – A chave da minha sala? Ela não estava em meu guarda-roupa? Estranho…
Cena 02: Rio dos Campos.
Gustavo chega ao rio e senta à sombra da mesma árvore de antes. Pouco tempo depois, Agnella aparece. Enche seu balde de água e se aproxima de Gustavo.
Gustavo – Bom dia, bela donzela. Está um dia lindo, não?
Agnella – Bom dia, cavalheiro. Realmente, o dia está lindo, e essa visão que nós estamos tendo agora é magnífica. Na verdade, o Rio dos Campos sempre foi belo…
Gustavo – Tu és bela, minha amada. As outras coisas perdem a beleza perante ti.
Agnella – Eu gosto quando me chamas de “minha amada” ou de “bela donzela”. Mas acho melhor que me chames pelo meu nome. Não achas, Gustavo?
Gustavo – Claro que sim, meu amor. E Agnella é um nome muito lindo, por sinal. (Coloca a mão no rosto dela, e a abraça) Meu amor, eu não quero te deixar nunca, tudo bem? Nunca! E eu não quero que você me deixe também. Nunca!
Agnella – Mas por que tu estás falando isso, meu amor? Aconteceu algo contigo?
Gustavo – (Soltando Agnella) Não… Foi só um medo que me deu, de que nós tivéssemos que nos separar. Mas agora passou. Nada, mas nada mesmo, vai nos separar.
Agnella – Por favor, Gustavo. Eu não gosto nem de pensar nisso. Aliás, me abraça, me abraça para eu me sentir amparada.
Gustavo – Claro, meu amor. Você também está com medo de alguma coisa, por acaso?
Agnella – N-não. Eu só queria mesmo esse abraço.
Gustavo e Agnella se abraçam por um bom tempo, experimentando essa sensação que só agora estavam experimentando.
Agnella – Já chega. Tenho que ir.
Gustavo – Mas, amanhã, eu voltarei, meu amor. Eu voltarei para nos vermos.
Agnella e Gustavo dão um rápido beijo. Então, ela vai embora.
Cena 03: Igreja del Fiume.
Gustavo chega à igreja com muita de fome, mas, como havia dito ao padre que estava em jejum, o que era uma maneira de sair sem tomar café, não podia comer. O padre já estava à sua espera.
Santorini – Meu filho, eu preciso que você me diga uma coisa.
Gustavo – Padre, caso se trate daquele assunto de onde minha família mora, eu prefiro não falar nada. Eu não estou interessado em casamento algum.
Santorini – Meu filho, você já devia entender que os casamentos hoje não dependem da vontade dos noivos. Aliás, eu muito me impressiono, porque Enzo me disse que você não mencionou nenhuma noiva na conversa, o que seria comum, já que nossos casamentos são arranjados. E ele me disse também que você se recusou a contar onde fica o seu lar. E para isso eu estou aqui: para obter de você essa tão importante informação.
Gustavo – Desculpe-me, padre, mas eu não vou dar uma informação sequer. Com licença.
Gustavo vai saindo. O padre segura em seu braço.
Santorini – Meu filho, eu descubro isso de um jeito ou de outro.
Gustavo – Pode descobrir sozinho. Eu não quero participar disso.
Nesse momento, a irmã Francisca entra.
Francisca – Eu não falei, padre? Esse rapaz só veio nos trazer problemas.
Santorini – Irmã Francisca, não se intrometa. Isso é apenas birra de jovem. Mas depois que eu descobrir onde os pais dele moram, e depois de eu e Enzo conversarmos com seus pais, pode ter certeza: ele vai aceitar.
Francisca – Bem, se o padre insiste nessa loucura de unir dois mundos totalmente opostos… O que eu posso fazer? Apenas esperarei para ver se isso realmente dará certo.
Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Já era o terceiro dia em que Inês estava trancada em seu quarto. Comia muito pouco, bebia água de vez em quando. Sem nada para fazer, Inês estava maquinando a raiva que sentia por Brás, enquanto andava em círculos pelo quarto. Então, ela ouve uma batida na janela.
Inês – Quem é?
Então, ela abre.
Pero – Minha Inês!
Inês – Ai, camponês! Estás mais uma vez no meu encalço! O que queres dessa vez?
Pero – Não fales assim comigo, minha querida! Eu vim aqui para o teu bem. Para te ajudar.
Inês – Acho difícil. Do jeito que és bobo e incompetente…
Pero – Eu não vim aqui para receber esse tipo de elogios, minha amada. Olha o que eu trouxe para ti…
E Pero mostra o que trouxe: comida. Inês abre um sorriso, pega a comida e se vira.
Inês – Agora que tu já trouxeste isso, podes ir.
Pero – Não vais me agradecer?
Inês – Está certo. Obrigada.
E fecha a janela. Pero, porém, insiste em bater. Inês abre novamente.
Inês – Por que ainda não foste embora?
Pero – Só queria te perguntar uma coisinha… Se tu abriste essa janela para mim, por que não fazes isso outras vezes e foge? Minha casa tem espaço para nós dois.
Inês – Não mesmo! Deus me livre de ficar contigo! Além disso, não saio porque Brás sempre está por perto.
Pero – Eu o enfrento, meu amor! Por ti…
Inês – Tchau, camponês.
E bate mais uma vez a janela na cara dele. Meia hora depois, a porta do quarto se abre.
Brás – Meu amor, como tu estás?
Inês – (Irônica) Melhor impossível.
Brás – É possível sim. (Tira Inês no quarto) Há algo melhor para uma mulher do que fazer a comida para seu maridinho?
Inês – Então, tu estás me livrando desse castigo?
Brás – E por acaso eu te castigo? Claro que não. Apenas faço o que tu mereces.
Então, ele aponta para a porta e as janelas da casa.
Brás – A porta, meu amor, eu tranquei com um novo cadeado. E a chave está comigo. E eu coloquei prego em todas as janelas. Só não preguei a do nosso quarto porque tu dormias, mas agora eu farei isso.
Inês – Não! Por favor, não!
Brás – Por quê? Estás com medo de que, hein? Por acaso pensas em fugir por ali?
Inês – Não, Brás, não. Nunca cheguei nem a cogitar isso.
Brás – Pois bem. Agora vá fazer o meu almoço.
Inês segue à cozinha. Brás vai ao quarto deles, e se dirige à janela para pregá-la. Então, vê farelos no chão.
Brás – Estranho… Eu não dei comida a Inês hoje. Ah, mas se alguém andou visitando minha Inês, esse alguém vai sofrer as consequências!
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.
Já é outro dia. Agnella se levanta da cama, se arruma e segue para a sala com toda a disposição para buscar água no rio. Ao chegar à sala, se depara com o pai, acompanhado de uma trouxa de roupas.
Agnella – Pai, aonde o senhor vai?
Enzo – Eu estou viajando hoje, minha filha. E tu podes ficar contente, porque quando eu voltar, irás pular de alegria! Agora, tenho que ir. Tchau, mulher. Tchau, filha.
Enzo dá um beijo na cabeça da mulher e da filha. Então, sai.
Agnella – (Receosa, com certo medo) Mãe, não mintas para mim, por favor. Para onde o meu pai viajou?
Prudência – Eu não devia te falar isso, mas julgo ser bom que te prepares desde agora. O teu pai… Está viajando para arranjar o teu casamento.
Agnella – Para… Arranjar… O meu… Casamento?
Agnella fica espantada. Sem saber da existência de Gustavo, o pai estava traçando para ela um caminho que ela não queria. E, nesse caminho, parecia não haver nem sombra do seu amado.
Capítulo bacana e as emoções não param! Sempre que possível volto aqui pra acompanhar, espero me atualizar a tempo ahahah
Obrigado! Os personagens viverão diversas coisas daqui para a frente. E eu fico no aguardo por sua participação mais frequente! 😉
Interessante esses livros que o Gustavo achou no porão da igreja. Falando nele, parece que não gosta muito de falar sobre os pais, seriam brigados? Mas creio que o padre logo irá descobrir mais sobre eles, Agnella mal sabe que o casamento arranjado é com o homem que tanto ama. E a Inês devia parar de maltratar Pero, afinal, ele só quer ajudá-la!
Gustavo e os pais não são exatamente brigados… Eles apenas têm uma divergência quanto aos planos de Gustavo para sua vida, uma vez que Gustavo não tem lá muito interesse em virar um senhor de terras.
Agnella ainda vai ter os momentos de felicidade plena… E Inês vai aprender a valorizar Pero. Como você disse, ele só quer ajudá-la.
E pode continuar lendo e comentando!! 😉
A sua web está fluindo de uma forma muito boa. Agradável de ler. Parabéns!!
Obrigado!! Continue lendo e comentando, espero que você goste!
Está aí mais um capítulo de Cantiga. Espero que gostem. Agnella e Gustavo nem desconfiam de que podem se casar – eles acham que casarão com outras pessoas. É por isso que, no capítulo de amanhã, eles tomam uma decisão importante. Além disso, Gustavo será surpreendido, em um dos dias em que ele visitará o galpão. O que será? Conto com vocês!!