Capítulo 06 – Cantiga de Amor
Cena 01: Povoado de Hortaliças. Casa de Inês.
Nesse momento, Inês abre a porta do quarto de Valentina. Toma um susto.
Inês – (Raivosa; gritando) O que está acontecendo aqui? Brás, podes me explicar o que é isso?
Em sua frente, uma cena pela qual ela não esperava. Seu marido estava vestido,tentando abusar de Valentina, tendo ele já desamarrado ela, mas ainda a prendendo com os braços. Brás, então, se separa de Valentina, que fica atordoada e mais desesperada do que já estava. Inês respira fundo e, depois, corre na direção dela, agarrando em seus cabelos.
Inês – Larga do meu marido, sua desfrutada! Sua despudorada, safada!
Inês começa a estapear Valentina, ao passo que esta tenta se livrar da loucura da mulher de Brás. Enquanto isso, ele só assiste. Depois de apanhar um bocado, Valentina consegue se soltar e corre em direção à porta, mas é interrompida por Brás.
Brás – Nem penses nisso, mocinha. Daqui tu não passas!
Ele tenta agarrá-la, mas ela se esquiva.
Valentina – Quero ver se tu vais me impedir.
Valentina dá um chute nas partes íntimas de Brás, consegue sair do quarto, e depois da casa. Mesmo assim, Inês a segue. Após sair da casa, procura o seu cavalo. Sem achá-lo na frente, dá a volta até a parte de trás, e o encontra amarrado a um toco. Além disso, encontra também as roupas com as quais veio vestida. Veste-as rapidamente e tenta montar no cavalo, mas não consegue devido ao espaço ser muito apertado. Assim, sai carregando o cavalo até a frente. Inês, que não sabia bem para onde a “rival” havia ido, a vê, sem que ela também a veja, e sai em sua direção.
Inês – (Falando baixinho, para si mesma) Pensas que vais fugir? Ah, mas não vais mesmo!
E corre atrás dela, conseguindo agarrá-la. Nesse momento, um amontoado de pessoas, liderado por Nieta, dobra a esquina.
Nieta – (Gritando) Mas olha lá se não é aquela mulher quem levou minhas roupas! E ela ainda está vestida nelas! Vamos atrás dela, pessoal!
Assim, a multidão corre em disparada na direção de Valentina. Brás aparece na porta e, ao ver a situação, sorri. Inês percebe que todos estão atrás da mesma pessoa.
Inês – (Gritando) Essa mulher estava levando meu marido à perdição! Quero que ela seja punida por isso!
A multidão fica ainda mais agitada, gritando coisas como “Filha de Satanás” e “Demônio”. Valentina fica desesperada.
Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.
Todos terminaram de tomar café na casa de Agnella. Seu pai já está saindo de casa em direção ao trabalho.
Enzo – Antes de sair, gostaria de avisar uma coisa. Hoje, Agnella, tu levarás o meu almoço às terras.
Agnella – (Surpreendida com a notícia) Eu, meu pai?
Prudência – Isso não é perigoso para uma moça solteira como ela, meu marido?
Enzo – Não. Estou decidido. E… (É interrompido por um intenso barulho) O que é isso que está acontecendo nessa rua?
Enzo abre a porta de sua casa e vê a confusão. Prudência e Agnella também se agrupam na porta.
Prudência – É a Nieta, marido! Eu não te disse que ela juntou muita gente para ir atrás de uma ladra de roupas!
Agnella – E quem é aquela mulher agarrada a Inês?
Prudência – Deve ser a que roubou as vestes de Nieta enquanto ela tomava banho! Veja, Nieta está correndo em sua direção! E pelo visto conseguirão puni-la pelo que fez, graças a Deus!
Agnella – Eu, hein? Quem seria maluco de fazer isso? Roubar as roupas dos outros? Ai, ai.
Enzo – Mas chega de curiosidade, vamos entrar.
Prudência – Ah, não, marido, quero ver o que vão fazer com ela.
Enzo – Nada disso. Entremos. Depois que passar essa confusão, eu vou trabalhar.
E fecha a porta. Lá fora, a confusão continua. A multidão se aproxima mais e mais de Valentina, que, no calor do momento, consegue dar uma cotovelada em Inês e montar no cavalo. Inês tenta, mas sem sucesso, pará-lo. Valentina, então, segue na direção da floresta, mas não muito rápido, já que ela estava sem muita força. Inês se junta a Nieta e seu “exército” e eles correm atrás de Valentina. Ela, então, consegue seguir até a entrada do povoado, e entra no caminho que leva à Igreja. Ainda assim, a multidão a persegue. Por isso, embrenha-se na floresta, fazendo a maior parte das pessoas desistirem de segui-la, incluindo Nieta e Inês. Com isso, sem sua “liderança”, aqueles que ainda estavam dispostos a correr atrás dela param no meio do caminho e voltam ao povoado.
Nieta – Fim da linha.
Inês – (Revoltada) Ai, que coisa!
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Brás está sentado na sala, satisfeito com o que acabara de ocorrer (exceto pelo fato de Valentina ter fugido). Então, para sua surpresa, Inês aparece.
Inês – Mas que raiva! Quase conseguimos pegar aquela mulher filha do Diabo! (Seu olhar, então, vira, fulminante, para Brás) E tu, marido, porque te rendeste a ela? Porque fizeste aquilo comigo?
Brás se chega a ela sorrindo, deixando-a sem entender o que ocorria. Porém, quando parecia que ele ia abraçá-la, Brás segura o seu braço fortemente e a joga no chão.
Brás – Eu fiz isso para tu entenderes que eu sou teu marido, e que tu não podes pensar que és melhor do que eu!
Inês – (Surpresa com a atitude do marido) Como assim, meu amor? (Se arrasta para trás, para se afastar dele) Cadê aquele marido compreensivo, diferente dos outros, que ainda ontem estava aqui comigo?
Brás – Te enganaste, meu amor. No início do nosso casamento eu ainda fui tolo, mas depois descobri que tu tentavas ser mais esperta que o teu marido!
Inês – Continuo sem entender-te! Eu… Eu… Eu nunca quis isso, querido! E não faças essa cara, por favor, que tu me assustas!
Brás – Ah, é? Então te prepares!
Brás levanta Inês do chão e a arrasta, pelo braço, até o quarto do casal. Joga ela na cama, tranca as janelas.
Brás – Tu achas que estou mentindo, ficando louco? Isso porque pensas que eu não sei que me ouviste conversar com meu criado sobre meu dinheiro, não é? Pois tu terás muito, mas muito tempo, para refletir acerca das tuas atitudes!
Brás sai e tranca a porta. Inês, desesperada, começa a chorar.
Cena 04: Igreja del Fiume.
Após ter chegado, Gustavo decide matar certa curiosidade sua. Assim, dirige-se até a sala do padre, a qual havia visitado no dia anterior. Ao chegar lá, entretanto, percebe que há alguém, e, por isso, se esconde na sombra de um móvel localizado do lado de fora. Depois de um tempo, a pessoa sai, e ele vê que era o padre quem estava lá. O padre tranca a porta da sua sala. Gustavo, então, resolve segui-lo, fazendo o possível para não ser notado. Depois de percorrer um caminho ainda desconhecido por Gustavo, o padre chega a um recinto que ele julga ser seu quarto, e, após entrar, fecha a porta. A única alternativa para Gustavo é observar por uma fresta entre a porta e a grossa parede. Gustavo passa um tempo sem conseguir ver o que Santorini está fazendo, até que o padre aparece no seu campo de visão, com uma chave na mão. Ele abre a porta de algo parecido com um guarda-roupa, mexe lá dentro, e fecha a porta sem carregar nada consigo.
Gustavo – (Pensando) Então é aí que o padre esconde a chave de sua sala! Ah, mas eu ainda vou descobrir o que existe de tão sério lá dentro!
Então, para não correr mais risco de ser descoberto, Gustavo sai dali e caminha, com sucesso, até o seu quarto. Fica lá por algumas horas, até que o padre chega.
Santorini – Meu filho, você está aí, claro! Vamos, é hora de almoçarmos.
Cena 05: Arredores do Povoado das Hortaliças. Próximo à floresta.
Depois de muito vagar na floresta, e andando em círculos, Valentina, já certificada de que não a estavam perseguindo, encontra uma casa. Ela prende seu cavalo no galho de uma árvore. A porta da casa estava aberta; por isso, resolve entrar.
Valentina – Olá? Alguém por aqui?
Sem obter resposta, Valentina se dirige à porta de saída. Nesse momento, Pero surge. Os dois, então, se assustam.
Pero – (Desconfiado com uma estranha em casa) Quem és tu? O que fazes aqui?
Valentina – Ai! Perdão por essa invasão!! Essa casa é tua?
Pero – Sim, minha. Por quê?
Valentina – (Atordoada, com fome, sede e desespero) Por favor, me ajude! Estou precisando de um local para ficar, estou precisando de comida, de bebida!
Pero – Epa! Antes de tudo, tu vais responder a minha pergunta. Quem és tu?
Valentina – Eu sou… (Quase fala algo, mas desiste) Isso não importa agora. Mas, por favor, cavalheiro, eu não como faz quase dois dias… Estou precisando muito de ajuda!
Pero – (Começa a ficar comovido) Está bem, está bem. Eu a ajudarei. Mas, mais tarde, tu me dirás quem és, de onde vens, porque estás tão desesperada…
Valentina – (Com a voz tremendo, falhando) Pode ser. Mas, primeiro, me socorre!
Pero conduz Valentina até a cozinha. Lá, ela vê a comida em cima da mesa e sorri.
Cena 06: Entrada do Povoado das Hortaliças.
No início da estrada que conduz ao rio, está Gustavo, aguardando Agnella, como ela havia pedido. Depois de um tempo de espera, ela chega, fazendo Gustavo sorrir.
Gustavo – Chegaste, enfim!
Agnella – Perdoe-me se eu demorei! Tu tiveste sorte, porque hoje meu pai me pediu para levar o seu almoço nas terras. Aí, depois que o entreguei, consegui vir aqui. Mas, por favor, não demoremos, para que minha mãe não ache nada estranho.
Gustavo – Não te preocupes, minha cara donzela. Tu já viste que podes confiar em mim. Agora, por favor, conduza-nos até o rio. Garanto que teremos uma conversa extremamente saudável.
Agnella – (Aliviada e, para sua surpresa, feliz) Então, cavalheiro, vamos.
Cena 07: Arredores do Povoado das Hortaliças. Próximo à floresta. Casa de Pero.
Valentina já terminou de comer. Pero está surpreso com a garra dessa mulher. E ela sente que pode confiar nele.
Pero – Mas, afinal de contas, quem és tu?
Valentina – Perdão, mas não poderei dizer-te bem quem eu sou. A única coisa que posso falar é que acabei de sair de um grande sufoco. Não te assustes comigo, por favor. (Começa a ficar ofegante) Mas a verdade é que há pouco um homem maluco – e casado! – me prendeu em sua casa, e achou que eu era uma libertina! Meu Deus, até agora eu estou assustada com o que ele tentou fazer comigo!
Pero – Não acredito! Mas… Mas… Tu não és uma… Uma daquelas mulheres, como as pessoas falam, pervertida, és?
Valentina – Não! Pelo amor de Deus, não! Era só um homem maluco querendo fazer coisas feias comigo, só porque lhe apareci pedindo abrigo, assim como pedi a ti! Mas o pior de tudo é que, depois de eu ter me livrado dele e da maluca da sua mulher, uma multidão veio atrás de mim e me perseguiu durante um bom tempo!
Pero – (Associando histórias) Então… Então, tu és a mulher que roubou as roubas de Nieta enquanto ela tomava banho no rio?
Valentina, então, percebe onde está. Se levanta, bruscamente, da cadeira.
Valentina – Quer dizer que eu não saí desse maldito lugar! Por Deus, eu preciso urgentemente sair daqui! (Respira fundo; pensa) Cavalheiro, preciso mais uma vez de tua ajuda! Me leve pra qualquer lugar em que eu não seja achada, o mais rápido possível!
Pero – Mas, senhorita, não há nenhum lugar assim por perto. Todos sabem o que acontece em todos os lugares do povoado. (Então, tem uma ideia) A não ser que…
Valentina – O quê? No que pensaste?
Pero – O convento!! Há o convento!!
Achei bacana o crescimento da Valentina na história. o perfil da personagem me parece bastante interessante e suponho que ela possa se esbarrar em Gustavo por lá, não? Ainda que aos poucos seguirei acompanhando. Parabéns pelo capítulo!
Obrigado! Valentina é, também, uma das personagens de quem mais gosto. Ela é uma mulher, acima de tudo, decidida. Na verdade, Valentina vai esbarrar em outra pessoa…
Obrigado por comentar, e conto com sua leitura nos próximos capítulos! 😀
Amando a web! A Inês devia ter desconfiado do marido, isso sim, e agora pagou o preço por isso. Cada vez odeio mais o Brás. Já Valentina ganhou minha simpatia, apesar de muito misteriosa. Falando em misterios…O que será que há na sala do padre?
Indo de trás pra frente… Pra desvendar o mistério da sala do padre, basta continuar lendo, porque a resposta está em um capítulo já publicado! Já, já você chega lá! Valentina é uma mulher decidida, forte, e isso está, de certo modo, ligado ao mistério sobre si. Quanto a Inês e Brás… Você torce, então, para que ela se livre dele? Vamos ver o que acontecerá…
E siga acompanhando! Espero que você permaneça gostando! Obrigado!