Capítulo 05 – Cantiga de Amor
Cena 01: Igreja del Fiume. Final da tarde.
Enzo e o padre Santorini falam sobre Gustavo.
Enzo – Sabe, padre, esse rapaz me impressionou grandemente com sua força e com sua coragem. Ele parece ser um bom moço. Pensando bem, tudo foi uma grande coincidência, porque eu estava conversando sobre isso com minha mulher hoje… Mas, enfim, respondendo à sua pergunta: eu o procurei para falar sobre ele porque eu estou interessado em casá-lo com a minha filha.
Santorini – (Mais surpreso ainda) Casá-lo? Isso é ainda mais surpreendente, meu filho! (Pausa, como se procurasse palavras) Então, você veio aqui para saber sobre a família dele?
Enzo – Justamente, padre. Como eu não o conheço, e ele estava com o senhor, pensei ser a pessoa mais indicada para me falar sobre seus pais. De quem ele é filho?
Santorini – Na verdade, ele chegou aqui na igreja hoje. Mas pelo que eu entendi, ele é filho de senhores feudais.
Enzo – (Surpreso, e ao mesmo tempo um pouco decepcionado) Senhores feudais?! Isso é ao mesmo tempo bom e ruim… Bom porque ele vem de uma família de classe, mas ruim porque pode ser mais difícil arranjar esse casamento.
Santorini – Paciência, filho. É certo que nós devemos estar cientes da condição em que Deus nos colocou. Algumas poucas vezes, porém, podemos tentar algo de diferente. Você é um trabalhador do campo, mas não é exatamente pobre. Eu acho que você conseguiria casá-lo com sua filha. Além disso, esse rapaz parece ser bem decidido. Se ele se interessar por esse casamento, tenho certeza de que conseguirá convencer sua família.
Enzo – (Aliviado) Que bom, padre. Mas o senhor não sabe nem quem são os pais dele?
Santorini – Não, ele não me disse. Procurarei saber dele, e, depois, o informo.
Enzo – Muito obrigado, padre. O senhor estará me fazendo um grande favor. E agora, tenho que ir, está escurecendo.
Santorini – De nada, meu filho. E que Deus te guarde nessa viagem.
Enzo sai. O padre segue para o lado dos aposentos dos hóspedes.
Cena 02: Igreja del Fiume. Ala dos hóspedes. Quarto de Gustavo.
Gustavo está deitado em sua cama, aéreo, como se estivesse pensando em algo importante. Nesse instante, o padre chega e o chama, sem obter resposta. O chama novamente, e dessa vez ele atende.
Santorini – Meu filho, você está estranho hoje. Mais uma vez o pego distante, sem prestar atenção aos meus chamados… São seus pensamentos?
Gustavo – (Fala confuso, atrapalhado) Desculpe-me, padre. Apenas pensava na minha casa, nos meus pais, em como eles estão longe…
Santorini – Interessante, meu rapaz, porque é sobre isso que gostaria de falar com você. Você chegou aqui, pediu-me abrigo, eu concedi… Depois você foi várias vezes ao povoado e voltou… Mas não me disse exatamente de onde veio, nem quem são seus pais; apenas que eles são senhores feudais.
Gustavo – Ah, padre, desculpe-me não ter te informado isso. Meu pai é um senhor feudal da região da Campania, próximo a esta parte da península. Nós não somos tão abastados como outros senhores vizinhos, mas temos o suficiente para viver bem. E, quanto a mim, tenho umas economias guardadas dadas por meu pai para eu viajar, já que a vida no campo não me interessa tanto.
Santorini – E o nome dos seus pais? Quem são eles? Talvez eu conheça.
Gustavo – Nós somos os Schiartoni. Sou filho de Edetto e Izabella Schiartoni. Mas sabe, padre, essa coisa de dar valor a sobrenome não me agrada. Afinal, todos somos seres humanos, não?
Santorini – Sim, claro que somos. Mas é importante lembrar que a vontade de Deus é soberana. Se Ele nos dá o direito de termos um sobrenome importante, devemos agradecer, respeitar e obedecer a isso. Se não, fazer o que, temos que acatar essa decisão divina.
Gustavo – (Suspira, meio impaciente) Só isso, padre?
Santorini – Só, meu filho. Por enquanto só. Depois conversaremos mais.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Começo da noite.
Enzo chega e vai diretamente ao quarto de Prudência. Ao abrir, Prudência, que estava deitada na cama e meio cabisbaixa, levanta a cabeça e sorri timidamente.
Enzo – Mulher, tenho uma ótima notícia. Deus atendeu aos nossos desejos. Acho que encontrei o homem certo para casarmos nossa filha.
Prudência – Já, marido? Como foi isto?
Enzo conta a ela desde o acidente na estrada até a visita ao padre.
Enzo – Então, o padre irá descobrir mais sobre sua família e nos contar. Há uma grande chance de arranjarmos um ótimo casamento para nossa filha.
Prudência – (Em voz alta, de êxtase) Ai que bom, nossa filha vai casar!!
A “altura” da voz de Prudência nessa última frase foi suficiente para que Agnella a ouvisse do seu quarto.
Agnella – (Surpresa e amedrontada) Casar?! Quem será?
Cena 04: Dia seguinte. Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo. Cedo da manhã.
Gustavo está deitado em sua cama. Não conseguiu dormir direito, com seus pensamentos a mil.
Gustavo – (Falando para si mesmo) Se bem que, isso deve ser um hábito dela… Acho que sei como encontrá-la novamente.
Nesse momento, o padre entra.
Santorini – Bom dia, meu filho. É hora de tomarmos o café da manhã. Você pode estranhar um pouco, mas aqui, na igreja, nós tomamos café um pouco mais cedo do que nas outras casas. Costume nosso.
Gustavo se levanta, troca de roupa e sai para tomar café.
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Sala.
Enzo – Filha!! Já é hora de estar de pé! Podes sair do teu quarto hoje!
Agnella, que já estava acordada, vai à presença de seu pai.
Agnella – Sim, papai.
Enzo – Já devias saber que tens de pegar a água no riacho e comprar os pães. Toma as moedas. (Vira-se para a mulher) E tu, Prudência, não cometas novamente o erro de dar mais dinheiro a tua filha.
Prudência – Sim, meu senhor. Não errarei dessa vez.
Enzo – (Rígido) Pois então, Agnella, vá! E vê se não demora dessa vez! Senão ficarás em um castigo bem maior!
Agnella – (Cabisbaixa, com medo) Sim, senhor, meu pai.
E Agnella sai. Enzo e Prudência continuam conversando.
Prudência – Sabe, marido, estive no meu quarto ontem devido ao teu castigo, mas pude ouvir uma conversa dessas pessoas do povoado, que falam pelos cotovelos… Sabe a Nieta, lá da parte sul? Então, ela estava tomando seu banho semanal ontem no rio, e uma mulher roubou as suas roupas…
Enzo – Sério? Por quê?
Prudência – Pelo que eu ouvi, ela não sabe. Mas ela viu o rosto dessa mulher e acha que ela não deve ter ido longe e está aqui pelo povoado. Ah, e eu também ouvi que ela já juntou um punhado de pessoas pra ir atrás dela. Se encontrarem a tal ladra, parece que vão puni-la de alguma forma por essa atitude.
Enzo – Que loucura, não? Mas chega de meter-nos na vida dos outros. Vamos falar de nossos problemas.
Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Valentina tivera uma noite difícil. Sem comida, sem água, sem saber o que fora feito do seu cavalo, não conseguiu dormir. Mas estava decidida a fugir dali. Então, a porta se abre.
Brás – (Imponente) Cheguei! Gostaste das tuas instalações?
Valentina – (Raivosa, mas fraca) Monstro, maluco! Por que me prendeste aqui neste quarto, sem nem me de comer ou de beber? O que pretendes?
Brás – (Chegando perto dela, alisa seus cabelos) Tu devias me agradecer por ter te oferecido abrigo. Estavas sozinha nesse povoado, e eu te abri as portas. Mas não te preocupes, porque tu vais me pagar por essa noite que dormiste aqui.
Valentina – Como, seu maluco? Se eu não tenho dinheiro! E prefiro ir embora daqui a continuar sendo tratada dessa forma!
Brás a abraça e ela tenta se soltar, mas ele a segura forte. Depois, tira suas roupas de cima, joga-as pela janela, e amarra sua boca, seus braços e seus pés de uma maneira difícil de soltar.
Brás – E vê se fica calada!
Então, sai da casa.
Cena 07: Entrada do Povoado das Hortaliças. Meia hora depois.
Agnella está voltando do rio com o balde cheio de água, mas dessa vez atenta, para que não derrame novamente. Parado, no mesmo lugar de antes, ela vê Gustavo. Então, ela para e desce do cavalo.
Agnella – O que fazes aqui? Estás me perseguindo, por acaso?
Gustavo – Não, minha cara donzela. Eu não disse que nos veríamos novamente? Então, estou aqui porque achei que, na mesma faixa de tempo de ontem, te encontraria com um balde de água, voltando do rio.
Agnella – Por favor, esse não é o melhor momento para tu me veres. Serei eternamente grata a ti pelo que me fizeste ontem, acho até que te devo um favor, mas não posso me arriscar a ser falada no povoado. Tenho impressão de que nos viram ontem, e não duvido nada de que alguém esteja me vendo agora. Vão inventar mentiras sobre mim, e eu não quero isso. Será que tu podias ir embora agora?
Gustavo – Está bem, está bem. Mas será que eu não poderia falar contigo longe da vista dessas pessoas? Não há nenhum lugar em que eu possa te ver sem que tu corras o risco de ser falada? Faça isso por mim… Tome isso como o favor que me deves…
Agnella – (Um pouco relutante) Não sei se posso… (Depois, sua atenção se vira para o olhar carente de Gustavo e sorri timidamente) Então está certo. Há o rio. Vês aquele começo de estrada por onde eu vim agora? Me espera lá depois do almoço. Em algum momento, conseguirei sair de casa e virei vê-lo. Mas eu não quero problemas. Espero que tuas intenções para essa conversa sejam boas e inocentes.
Gustavo – (Feliz e sorridente) São ótimas! Quer dizer, não te preocupes, porque nada vai acontecer.
Agnella – Agora, tenho que ir, senão arranjarei mais problemas com meu pai. Até mais, cavalheiro.
Gustavo – Até mais, bela moça.
Agnella e Gustavo seguem em direções opostas. De longe, Adelmo, que, por ser apaixonado por Agnella, vive atrás dela, está mais uma vez observando-a.
Adelmo – Isso está ficando sério… Eu preciso tomar uma atitude logo. Uma atitude que já devia ter sido tomada há bastante tempo.
Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Quarto do casal.
Inês acabou de acordar e está se vestindo. Então, ouve gritos, e um barulho estranho vindo de alguma parte da casa. Por isso, sai do seu quarto à procura do lugar de onde vem o som.
Inês – Meu amor, tu estás aí? Brás, onde estás?
Nesse momento, abre a porta do quarto de Valentina. Toma um susto.
Inês – (Raivosa; gritando) O que está acontecendo aqui? Brás, podes me explicar o que é isso?
Ótimo capítulo! Cada vez mais apaixonado pela bela história entre Agnella e Gustavo. Cada vez mais odiando o Brás e ainda fiquei intrigado com Gustavo falando dos pais, será que eles são brigados? Resta aguardar…
Mais uma vez obrigado! A história de Agnella e Gustavo começa assim, calma, mas a cada momento mais forte. Só que ainda rolarão algumas águas nessa história… Pode ficar livre para odiar Brás; ele ainda fará coisas, digamos, ruins. Ah, e quanto à relação entre Gustavo e os pais, não há exatamente briga. Eles apenas têm vidas um pouco diferentes, principalmente por insistência de Gustavo em permanecer um peregrino. No mais, a relação entre eles é normal.
Continue lendo e comentando. Mais emoções virão!
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