Capítulo 04 – Cantiga de Amor
Cena 01: Povoado das Hortaliças. Parte central. Em frente à casa de Enzo.
Gustavo não responde. Em seu pensamento, apenas um nome surge. O mesmo nome que ele ouvira mais cedo na floresta, dito por Adelmo, e que agora o padre repetira: Agnella.
O padre Santorini bate no braço de Gustavo, que volta a si.
Gustavo – Perdoe-me, padre. O que houve?
Santorini – Eu, hein? Parece que você estava com os pensamentos longe… Mas o que interessa é que ninguém responde nesta casa, e agora é tempo de seguirmos viagem. Já está na hora de almoçarmos.
Gustavo – (Simulando estar impressionado) Sério, padre? Nem percebi o tempo passar…
Santorini – Mas ele passou, meu filho. E devemos interromper nossas visitas por enquanto. Quem sabe amanhã continuaremos.
Gustavo – Sabe… Acho que eu vou ficar mais um pouquinho. Gostei de ter visto todas essas pessoas, mas tenho vontade de ver mais.
Santorini –(Sutilmente impositivo) Meu filho, eu acho que você devia voltar comigo. Temos que comer, e quem sabe depois, em um outro dia, você volta ao povoado.
Gustavo – (Entendendo a situação) Está certo, padre. Irei com o senhor. Mas… Acabo de lembrar que eu perdi meu lenço no caminho… Será que poderia voltar para procurá-lo?
Santorini – Isso é verdade, meu filho?
Gustavo – Claro, padre! Não mentiria para o senhor.
Santorini – Então está certo, meu filho. Entretanto, volte assim que encontrá-lo. Eu seguirei caminho.
Gustavo – (Se curva) Obrigado, meu senhor. Prometo voltar logo.
O padre segue em direção à igreja, enquanto Gustavo caminha para o lado oposto.
Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.
Ela está deitada em sua cama.
Agnella – Meu Deus, nada aconteceu de tão grave assim para que eu fosse castigada… Somente porque aceitei moedas de Adelmo? Se foi, me perdoa…
Agnella olha para a janela do quarto, que fica virada para o lado oposto à entrada do povoado.
Agnella – Perdoe-me por isso também, meu Deus, mas eu não suportarei ficar sufocada nesse escuro, com porta e janela fechadas…
Então, ela abre a janela.
Agnella – Como eu queria poder não estar só…
Nesse momento, visualiza Gustavo indo na direção oposta à que o padre seguiu, e lembra de um momento.
– Flashback –
Agnella – Por favor, cavaleiro insistente, já te pedi para que não me sigas. As pessoas do povoado falam demais e, se me virem conversando contigo, contarão mentiras a meu pai, mesmo que eu nem te conheça. Permita que eu siga para a minha casa.
Gustavo – (Desapontado) Tudo bem. Já que me pedes, não insistirei em te ajudar. Mas, se algum dia nos encontrarmos novamente e tu precisares de mim, com certeza eu estarei disposto a fazer isso.
– Fim do flashback –
Agnella, então, dá um grito cheio de esperança.
Agnella – Cavalheiro! Por favor, me ajude!
Gustavo se vira na direção do grito dela e sorri.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.
A igreja, ao longe, dá mais uma badalada. É meio-dia, e já faz muito tempo que Inês conversa com sua mãe.
Inês – (Percebendo as horas) Meu Deus, mãe!! Já faz tanto tempo que estamos conversando aqui, e nem notamos o andar das horas…
Simone – É verdade, minha filha! E tu nem fizeste o almoço de teu marido!
Inês – Por mim esse aí morria de fome… Minha vontade é de mandá-lo comer com o rei. Ele não se orgulha de ter sido um “escudeiro”? Hoje não serve mais nem pra proteger galinha de raposa. (Respira fundo) Mas, já que não fiz almoço, levarei um pouco do teu para nós. Aliás, fico pensando em meu irmão. Coitado, teve problemas com a água, que derramou, e foi obrigado a ir correndo para as terras… Ele vem almoçar, não vem?
Simone – Não. Hoje eu terei que levar seu almoço.
Inês prepara a comida que levará para sua casa.
Inês – Então está certo. Agora, tenho que correr para casa. Até logo, mãe.
Simone – Até logo, filha.
Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.
Gustavo se aproxima da janela do quarto de Agnella e desce do cavalo.
Gustavo – (Sorridente) Mas olha só! És a dama atrapalhada que me molhou hoje mais cedo! Pois não, o que a senhorita deseja?
Agnella – (Desconcertada) Perdoe-me por esse incômodo, mas gostaria tanto de tua ajuda… Depois do ocorrido, eu acabei me complicando com meu pai e ele me pôs de castigo…
Gustavo – E tu estás desobedecendo a teu pai, conversando comigo?
Agnella – Na verdade, eu estava tão triste aqui na solidão do meu quarto, e queria tanto uma companhia… Quando abri esta janela e te vi, lembrei-me de que, mesmo eu te destratando naquele momento, tinhas prometido me ajudar, e resolvi chamar-te para me fazer companhia.
Gustavo – Mas olha só… Então queres que eu fique aqui conversando contigo? Mas tu mesma não me disseste que as pessoas deste povoado gostam de ver coisas onde não há? Isso não é perigoso?
Agnella – Pensando melhor, tu tens razão, cavalheiro… (Se vira, anda um pouco como se estivesse pensando, e volta pra janela) Sabe, tive uma ideia agora. Sei que não devia te pedir isso, que devia obedecer a meu pai, mas estou com muita fome e não poderei almoçar por estar de castigo. Será que tu poderias me arranjar comida?
Gustavo – Estás com fome? (Sorridente) Não posso ver uma moça bela e atrapalhada como tu faminta, e não ajudar. Claro que te arranjarei comida, mas terás que esperar um pouco de tempo. Te importas?
Agnella – Não… Se vais me arranjar comida, não.
Gustavo – Então, minha cara senhorita, me espere. Ainda virei antes do pôr-do-sol para saciar tua fome.
Agnella – Ficarei eternamente grata por isso.
Gustavo sobe no cavalo e vai em direção à Igreja del Fiume. Agnella, com o braço apoiado na janela e a mão no queixo, suspira, olhando pro horizonte.
Cena 05: Igreja.
Gustavo chega à Igreja e encontra o padre.
Santorini – Ora, ora, meu rapaz. Enfim você voltou! Estávamos o esperando para almoçar! Venha comigo.
Gustavo – Mas, padre, não era preciso.
Santorini – Meu rapaz, aqui nós fazemos as nossas refeições juntos. Geralmente sou só eu e o seminarista Gregório, já que a irmã Francisca faz suas refeições com as noviças do convento. Mas hoje você está aqui e não queríamos quebrar o protocolo.
Gustavo – Então está certo, padre. Vamos almoçar.
Santorini – Aqui, nós valorizamos a comunhão. Venha comigo.
Eles entram em uma sala que parece ser a “sala de jantar” da igreja. Após terminarem de almoçar, os três se levantam da mesa.
Gustavo – Não precisam se incomodar. Eu levo os nossos pratos à copa.
Santorini – Na verdade, a copa fica no convento. As refeições são preparadas lá, e uma das irmãs nos traz a comida. Então, é melhor que você deixe aí.
Gustavo – (Desapontado) Então, está certo.
Gregório e Santorini vão saindo. Gustavo fica parado, pensando. Então, o seminarista comenta algo com o padre.
Gregório – Interessante como sobrou comida hoje. Mesmo com um hóspede, ainda há comida suficiente para mais uma refeição.
Santorini – Ainda bem que eu a guardei lá na sala ao lado da nave. Mais tarde poderemos comer novamente.
E, como eles se afastam, o som diminui. Gustavo, porém, fica animado com o que acaba de ouvir e segue para a sala ao lado da nave da igreja. Lá, encontra um balde com comida, coloca um pouco em uma vasilha que trazia consigo e sai da igreja rumo ao povoado.
Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.
Gustavo chega à casa de Enzo e a rodeia até a janela de Agnella. Bate na janela, e ela é aberta.
Gustavo – Aqui está a comida que me pediste, minha cara donzela.
Agnella – Como foste gentil comigo, cavalheiro… Acho até que passaria mal se ficasse mais um pouquinho sem comer. É uma pena que minha mãe não esteja podendo contar com uma ajuda como a tua…
Gustavo – Mas ela também não está podendo comer? O que faremos então?
Agnella – Acho que não dá para fazer nada. E eu não te pediria mais favores. Já te arriscaste muito por hoje. Agora, vá, e tome cuidado com as pessoas.
Gustavo – Se queres mesmo que eu vá, irei. Mas ouça-me bem, senhorita, ainda voltarei a vê-la. (Dá um sorriso que encanta Agnella) Até mais.
Agnella – Até quando Deus quiser, cavalheiro. E eu ficarei te devendo algo por essa tua boa ação…
Cena 07: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Alguns minutos antes.
Ela e o marido haviam acabado de comer.
Brás – Inês, tu demoraste na casa de tua mãe, e eu não gostei disso. Ainda bem que trouxeste comida para mim, porque senão…
Inês – (Abraçando o marido; falando com voz doce) Senão o que, meu amor?
Brás – (Se desvencilhando dela) Senão eu teria que te tratar como se deve. Aliás, por que não vais agora para o quarto, para descansar? Irei em seguida.
Inês – Está certo, meu amor. Estou indo.
Inês entra no quarto.
Brás – (Falando para si mesmo) Descanse porque você vai ter uma surpresinha…
Em seguida, vai à janela.
Brás – Mas olha só, veja se não é um cavalheiro o qual eu não conheço que está se dirigindo à janela da filha de Enzo? E ele carrega uma vasilha nas mãos… O que será? Ah, mas o pai dela vai ter que saber dessa misteriosa visita!
Cena 08: Igreja del Fiume. Já no final da tarde.
O padre Santorini está na nave da Igreja, pensando. Então, ouve alguém o chamando.
Enzo – Padre! Gostaria de falar com o senhor.
Santorini – Que bom, meu filho, que você está bem! Aquele acidente não te fez mal?
Enzo – Só umas dorezinhas aqui e ali. Mas isso não é o mais importante. Na verdade, eu estou aqui porque gostaria de falar com o senhor sobre aquele moço que o estava acompanhando mais cedo e que me tirou debaixo daquela carroça.
Santorini – (Surpreso) Ora, ora, que surpresa! Não esperava isso. Pois bem. A princípio de tudo, por que você me procurou para falar sobre ele?
Enzo – Sabe, padre, esse rapaz me impressionou grandemente com sua força e com sua coragem. Ele parece ser um bom moço. Pensando bem, tudo foi uma grande coincidência, porque eu estava conversando sobre isso com minha mulher hoje… Mas, enfim, respondendo à sua pergunta: eu o procurei para falar sobre ele porque eu estou interessado em casá-lo com a minha filha.
Confesso que fiquei surpreso com a ida de Enzo à igreja. Agnella e Gustavo se aproximam de maneira natural e intensa, bacana essa naturalidade. Quanto à Inês nao sei o que esperar ainda.
Essa era a ideia mesmo: causar surpresa, enquanto, como você falou, há naturalidade no encontro entre Agnella e Gustavo. Inês vai se mostrar mais na novela, só que antes vai sofrer um pouquinho… É só continuar acompanhando, agora! 🙂
Nossa e o que faz o destino, não? Agora Enzo quer casar o cavalheiro com sua filha. Mal sabe que ambos já se conhecem, e estão se encantando, lentamente. Só espero que o Brás não estrague tudo, esse homem é muito chato, Inês está certíssima em não gostar dela!
E torço muito pelo casal Agnella e Gustavo!
Ótimo capítulo, a web está indo muito bem, João!
O destino prega mesmo suas peças… Quanto a Brás, ele é chato, mesmo. É mesquinho, e ambicioso também. Mas eu posso dizer que ele acaba criando uma obsessão em se impor perante Inês. Ele ainda fará coisas daqui pra frente da novela que mostrarão esse seu lado.
E que bom que você está gostando da novela e do casal. Mas surpresas ainda virão. Conto com sua audiência! 😀