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Edição especial: Cantiga de Amor

CANTIGA DE AMOR – edição especial: capítulo 05

Cena 01: Igreja del Fiume. Sala do padre.

Gustavo – (Surpreso) Um porão? O que será que há aí embaixo?

E desceu as escadas. Ao chegar embaixo, viu uma sala com várias estantes. Preenchendo as prateleiras das estantes, havia livros. Vários livros, grossos e finos. Gustavo chegou mais perto para analisar que livros estavam ali. Puxou um.

Gustavo – Platão? Quem é Platão? (Puxou outro da prateleira de baixo.) Sêneca? Também não conheço.

Gustavo começa a puxar os livros das prateleiras, encontrando autores sobres os quais nunca ouvira falar: Anaximandro, Tales, Zenão, Virgílio, Homero, entre outros. Então, puxa um livro.

Gustavo – Aristóteles. Ética a Nicômano. (Abre o livro em uma página, e lê uma palavra.) Felicidade? Interessante…

Gustavo, então, sentou-se no chão, e começou a ler.

Gustavo – O que diz aqui? “Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda que nada resultasse delas), escolhemo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes.”

Interessado pela leitura, Gustavo não parou mais. Até que, sem perceber que o tempo passara, viu tímidas luzes surgirem do outro lado da sala. O dia nascia, e uma porta se abrira. Com medo de ser visto, colocou rapidamente o livro de volta na estante, subiu novamente as escadas em direção à sala do padre. Fechou o acesso e saiu, trancando a porta. Foi ao quarto do padre. A porta estava trancada, mas havia uma fresta entre a porta e o chão. Sem alternativa, Gustavo jogou a chave por baixo e saiu correndo. Lá dentro, estava o padre, que se assustou com o barulho da chave sendo jogada.

Santorini – A chave da minha sala? Ela não estava em meu guarda-roupa? Estranho…

Cena 02: Rio dos Campos.

Gustavo chega ao rio e senta à sombra da mesma árvore de antes. Pouco tempo depois, Agnella aparece. Enche seu balde de água e se aproxima de Gustavo.

Gustavo – Bom dia, bela donzela. Está um dia lindo, não?

Agnella – Bom dia, cavalheiro. Realmente, o dia está lindo, e essa visão que nós estamos tendo agora é magnífica. Na verdade, o Rio dos Campos sempre foi belo…

Gustavo – Tu és bela, minha amada. As outras coisas perdem a beleza perante ti.

Agnella – Eu gosto quando me chamas de “minha amada” ou de “bela donzela”. Mas acho melhor que me chames pelo meu nome. Não achas, Gustavo?

Gustavo – Claro que sim, meu amor. E Agnella é um nome muito lindo, por sinal. (Coloca a mão no rosto dela, e a abraça) Meu amor, eu não quero te deixar nunca, tudo bem? Nunca! E eu não quero que você me deixe também. Nunca!

Agnella – Mas por que tu estás falando isso, meu amor? Aconteceu algo contigo?

Gustavo – (Soltando Agnella) Não… Foi só um medo que me deu, de que nós tivéssemos que nos separar. Mas agora passou. Nada, mas nada mesmo, vai nos separar.

Agnella – Por favor, Gustavo. Eu não gosto nem de pensar nisso. Aliás, me abraça, me abraça para eu me sentir amparada.

Gustavo – Claro, meu amor. Você também está com medo de alguma coisa, por acaso?

Agnella – N-não. Eu só queria mesmo esse abraço.

Gustavo e Agnella se abraçam por um bom tempo, experimentando essa sensação que só agora estavam experimentando.

Agnella – Já chega. Tenho que ir.

Gustavo – Mas, amanhã, eu voltarei, meu amor. Eu voltarei para nos vermos.

Agnella e Gustavo dão um rápido beijo. Então, ela vai embora.

Cena 03: Igreja del Fiume.

Gustavo chega à igreja com muita de fome, mas, como havia dito ao padre que estava em jejum, o que era uma maneira de sair sem tomar café, não podia comer. O padre já estava à sua espera.

Santorini – Meu filho, eu preciso que você me diga uma coisa.

Gustavo – Padre, caso se trate daquele assunto de onde minha família mora, eu prefiro não falar nada. Eu não estou interessado em casamento algum.

Santorini – Meu filho, você já devia entender que os casamentos hoje não dependem da vontade dos noivos. Aliás, eu muito me impressiono, porque Enzo me disse que você não mencionou nenhuma noiva na conversa, o que seria comum, já que nossos casamentos são arranjados. E ele me disse também que você se recusou a contar onde fica o seu lar. E para isso eu estou aqui: para obter de você essa tão importante informação.

Gustavo – Desculpe-me, padre, mas eu não vou dar uma informação sequer. Com licença.

Gustavo vai saindo. O padre segura em seu braço.

Santorini – Meu filho, eu descubro isso de um jeito ou de outro.

Gustavo – Pode descobrir sozinho. Eu não quero participar disso.

Nesse momento, a irmã Francisca entra.

Francisca – Eu não falei, padre? Esse rapaz só veio nos trazer problemas.

Santorini – Irmã Francisca, não se intrometa. Isso é apenas birra de jovem. Mas depois que eu descobrir onde os pais dele moram, e depois de eu e Enzo conversarmos com seus pais, pode ter certeza: ele vai aceitar.

Francisca – Bem, se o padre insiste nessa loucura de unir dois mundos totalmente opostos… O que eu posso fazer? Apenas esperarei para ver se isso realmente dará certo.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.

Já era o terceiro dia em que Inês estava trancada em seu quarto. Comia muito pouco, bebia água de vez em quando. Sem nada para fazer, Inês estava maquinando a raiva que sentia por Brás, enquanto andava em círculos pelo quarto. Então, ela ouve uma batida na janela.

Inês – Quem é?

Então, ela abre.

Pero – Minha Inês!

Inês – Ai, camponês! Estás mais uma vez no meu encalço! O que queres dessa vez?

Pero – Não fales assim comigo, minha querida! Eu vim aqui para o teu bem. Para te ajudar.

Inês – Acho difícil. Do jeito que és bobo e incompetente…

Pero – Eu não vim aqui para receber esse tipo de elogios, minha amada. Olha o que eu trouxe para ti…

E Pero mostra o que trouxe: comida. Inês abre um sorriso, pega a comida e se vira.

Inês – Agora que tu já trouxeste isso, podes ir.

Pero – Não vais me agradecer?

Inês – Está certo. Obrigada.

E fecha a janela. Pero, porém, insiste em bater. Inês abre novamente.

Inês – Por que ainda não foste embora?

Pero – Só queria te perguntar uma coisinha… Se tu abriste essa janela para mim, por que não fazes isso outras vezes e foge? Minha casa tem espaço para nós dois.

Inês – Não mesmo! Deus me livre de ficar contigo! Além disso, não saio porque Brás sempre está por perto.

Pero – Eu o enfrento, meu amor! Por ti…

Inês – Tchau, camponês.

E bate mais uma vez a janela na cara dele. Meia hora depois, a porta do quarto se abre.

Brás – Meu amor, como tu estás?

Inês – (Irônica) Melhor impossível.

Brás – É possível sim. (Tira Inês no quarto) Há algo melhor para uma mulher do que fazer a comida para seu maridinho?

Inês – Então, tu estás me livrando desse castigo?

Brás – E por acaso eu te castigo? Claro que não. Apenas faço o que tu mereces.

Então, ele aponta para a porta e as janelas da casa.

Brás – A porta, meu amor, eu tranquei com um novo cadeado. E a chave está comigo. E eu coloquei prego em todas as janelas. Só não preguei a do nosso quarto porque tu dormias, mas agora eu farei isso.

Inês – Não! Por favor, não!

Brás – Por quê? Estás com medo de que, hein? Por acaso pensas em fugir por ali?

Inês – Não, Brás, não. Nunca cheguei nem a cogitar isso.

Brás – Pois bem. Agora vá fazer o meu almoço.

Inês segue à cozinha. Brás vai ao quarto deles, e se dirige à janela para pregá-la. Então, vê farelos no chão.

Brás – Estranho… Eu não dei comida a Inês hoje. Ah, mas se alguém andou visitando minha Inês, esse alguém vai sofrer as consequências!

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.

Já é outro dia. Agnella se levanta da cama, se arruma e segue para a sala com toda a disposição para buscar água no rio. Ao chegar à sala, se depara com o pai, acompanhado de uma trouxa de roupas.

Agnella – Pai, aonde o senhor vai?

Enzo – Eu estou viajando hoje, minha filha. E tu podes ficar contente, porque quando eu voltar, irás pular de alegria! Agora, tenho que ir. Tchau, mulher. Tchau, filha.

Enzo dá um beijo na cabeça da mulher e da filha. Então, sai.

Agnella – (Receosa, com certo medo) Mãe, não mintas para mim, por favor. Para onde o meu pai viajou?

Prudência – Eu não devia te falar isso, mas julgo ser bom que te prepares desde agora. O teu pai… Está viajando para arranjar o teu casamento.

Agnella – Para… Arranjar… O meu… Casamento?

Agnella fica espantada. Sem saber da existência de Gustavo, o pai estava traçando para ela um caminho que ela não queria. E, nesse caminho, parecia não haver nem sombra do seu amado.

Agnella – Mas… Por que a senhora não me falou sobre isso antes?

Prudência – Minha filha, precisávamos ver se tudo daria certo. E ainda precisamos. Não queremos encher-te de esperança, para depois darmos uma resposta negativa.

Agnella – (Fala baixinho) Ah, meu Deus, e agora?

Prudência – E agora o que, filha?

Agnella – Nada. Nada não. O papai deixou dinheiro para eu comprar o pão?

Prudência – Sim. Graças a Deus ele nos deixou dinheiro para toda a temporada em que ele vai passar longe. Mas tome, filha. Vá buscar a água.

Agnella pega o balde e o dinheiro e segue em direção ao Rio dos Campos.

Agnella – Meu Deus, será mesmo que eu vou ter que me afastar de Gustavo? Eu devia ter falado logo a ele para pedir a minha mão em casamento, mas eu fiquei com receio, com medo…

Cena 02: Rio dos Campos.

Quando Agnella chegou, Gustavo já estava à sua espera. Ela encheu o balde de água e sentou ao seu lado.

Gustavo – Meu amor, bom dia!

Agnella – O dia não começou tão bem, Gustavo.

Gustavo – Por que, Agnella? Aconteceu algo de grave contigo? Algo está te amedrontando? Eu percebo isso desde ontem…

Agnella – Eu preciso te contar uma coisa. No dia em que eu estava de castigo, eu ouvi o final de uma conversa entre meus pais, e eles falaram em me casar. Só que eu me deixei envolver pelo meu amor por ti, e acabei esquecendo essa conversa. Mas ontem eu lembrei, e por isso pedi para tu me abraçares. E isso me deixou mais segura. O problema é que hoje, quando eu acordei, o meu pai estava saindo… E não era para o trabalho. Ele estava viajando!

Gustavo – Não me digas que…

Agnella – Ele foi arranjar o meu casamento com outro homem!

Gustavo, assim como Agnella, também se espanta.

Gustavo – Não acredito, meu amor! Como eu fui burro! Eu devia ter agido logo e pedido a tua mão em casamento para o teu pai…

Agnella – Não te culpes. Eu devia ter te alertado sobre isso, mas eu esqueci!

Gustavo – Agnella, eu acabo de me lembrar de algo que também não é muito bom.

Agnella – O quê? Não vais me dizer que tu tens que ir embora?

Gustavo – Não, meu amor, não é isso. Na verdade, eu estou enfrentando a mesma situação. Há um homem querendo me casar com sua filha, e, por mais que eu não diga onde é a casa dos meus pais, ele teima em visitá-los.

Agnella – Eu não quero perdê-lo, meu amor.

Gustavo – Nem eu quero perdê-la. Sabe de uma coisa: eu enfrentarei tua família, eu enfrentarei minha família, eu enfrentarei o homem que quer me separar de ti. Podes ter certeza de uma coisa: quando o teu pai voltar, eu serei a primeira pessoa a falar com ele, e pedirei a ele para casar contigo.

Agnella – (Fica contente e dá um abraço nele) Prometes que irás fazer mesmo isso?

Gustavo – Prometo. Dou a minha palavra de homem que farei isso.

Agnella – É por isso que eu te amo!

E Agnella o beija.

Cena 03: Igreja del Fiume.

Gustavo estava chegando à igreja. Na nave, estavam Gregório e Francisca.

Francisca – Bem, Gregório, tu sabes que o padre viajou para tratar do assunto do casamento do nosso (fala com desprezo) visitante. Por isso, tu ficarás em seu lugar durante o tempo em que ele estiver fora.

Gregório – Está certo, irmã. A senhora pode confiar em mim. Eu farei o trabalho da melhor maneira possível.

Francisca – Ah, e só uma coisa. Eu devia ficar com ela, mas estou confiando a ti a chave do quarto do padre. Guarde-a muito bem. E não a use. Tu sabes que esta chave não pode parar em mãos de quem não é da Igreja.

Gregório – Com certeza, irmã. A propósito, eu também terei que ir ao convento hoje? O padre celebraria algo lá.

Francisco – Claro! Agora à tarde, logo após o horário do almoço, nós oficializaremos a entrada da nova noviça. Creio que tu sabes o que fazer.

Gregório – Sim, eu sei.

Francisca – Pois bem. Boa sorte, meu filho. Espero que tu não nos sejas motivo de decepção.

Com isso, a irmã Francisca sai, passando por Gustavo e lançando-lhe um olhar reprovador. Depois, Gustavo entra na igreja.

Gustavo – Quer dizer que o padre viajou?

Gregório – Isso mesmo. Tu não quiseste lhe contar onde fica a tua casa, e então ele terá que descobrir sozinho, através da igreja de lá.

Gustavo – Mas… Ele deve demorar para chegar lá.

Gregório – Nem tanto. Ele e o teu futuro sogro conseguiram ótimos cavalos. Demorarão menos tempo do que o normal.

Gustavo – Isso… Talvez até seja melhor para mim.

Gregório – Meu amigo, não tentes fugir disso. É o nosso costume. (Fala com voz profunda, um pouco reflexiva) Por mais que inicialmente tu tiveste outros planos, a vontade de teus pais deve prevalecer. É o melhor para ti.

Gustavo – Gregório, meu caro, gostaria de te fazer uma pergunta. Tu és mesmo feliz com a carreira que resolveste seguir?

Gregório – (Exagera um pouco na voz) Claro que sim! Tenho plena e absoluta certeza de que fiz o melhor para mim! Mas deixemos de conversa. Tenho coisas mais urgentes para fazer.

Gustavo – Sei… Sei…

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone está fazendo o almoço dela e de Adelmo, quando alguém bate na porta. Ela abre.

Simone – Brás? O que fazes aqui?

Brás entra sem pedir licença.

Brás – Minha querida sogrinha. Estou aqui porque preciso resolver algo muito importante. Diz respeito à minha vida com minha Inês.

Simone – (Um pouco assustada) Aconteceu alguma coisa com minha filha?

Brás – Não. Nada que ela não mereça. O que eu vim aqui saber, querida sogra, é se, por acaso, a senhora andou visitando minha esposa ontem.

Simone – Eu? Não! Nem cheguei perto de tua casa. Por que perguntas mesmo? Haveria algum problema se eu tivesse visto Inês ontem?

Brás – Isso não vem ao caso agora. Eu quero saber se foi a senhora quem foi lá e levou comida para ela.

Simone – Já disse que não. Portanto, meu amado genro, retire-se da minha casa.

Brás – (Indignado) Está certo. E se a senhora souber quem teve a audácia de fazer isso, eu exijo saber. Entendido?

Simone – Entendido.

E fecha a porta.

Simone – Ah, faça-me o favor. Mesmo se eu soubesse quem fez isso, não contava nunca a esse crápula!

Do lado de fora, Brás volta para casa.

Brás – Bem, se não foi ela, quem foi? (Então, tem um lampejo) Claro! O camponesinho apaixonado! Ah, mas ele vai sofrer em minhas mãos! E eu acho que sei o que fazer. É só uma questão de tempo…

Cena 05: Convento. Tarde.

Após ter terminado a cerimônia de oficialização da nova noviça, Gregório resolveu parabenizá-la pessoalmente.

Gregório – Irmã Valentina! Que bom é poder ver uma mulher entrando para o trabalho do Senhor… Tu deves estar muito feliz.

Valentina – (Dá um sorriso amarelo; fala sem empolgação) Sim, muito feliz mesmo. Tornar-me freira é o meu maior sonho!

Gregório – Percebo que estás convicta de tua decisão. Glória a Deus por isso. Serão anos muito bem aproveitados aqui nesse convento.

Valentina – Anos! Anos… muito bons.

Nesse momento, Valentina titubeia, seu corpo balança um pouco e ela desmaia nos braços de Gregório.

Gregório – Ai, meu Deus! Irmã Francisca, a irmã Valentina desmaiou agora!

Francisca – Irmã Gertrudes, leve-a para o seu quarto. Pelo visto, essa noviça insiste em nos dar trabalho. (E sorri.)

Cena 06: Convento. Quarto de Valentina. Meia hora depois.

Valentina acabou de despertar do desmaio. Ao seu lado, estavam Gregório e Francisca.

Gregório – Irmã, estás melhor?

Valentina – (Tenta falar direito, mas cansa) Eu… Acho… Que estou.

Gregório – Graças a Deus. Eu fiquei aqui desde o momento em que desmaiaste para ver se a irmã ficaria bem. Já que tu estás melhor, eu terei que voltar à igreja.

Francisca – Fazes bem, Gregório. Tens uma igreja que está sob teus cuidados.

Gregório – Com licença. E, irmã Valentina, podes ter certeza de que Deus irá te ajudar, e tu ficarás bem.

Valentina – O-obrigada.

E Gregório sai. A irmã Francisca abre um sorriso enigmático.

Francisca – Muito bem, irmã Valentina. Pelo visto tu esqueceste de que eu não queria outro acontecimento como esse, mas tu não fizeste nada para evitar. Por isso, irmã Valentina, terei que puni-la.

Valentina – Punir-me? O que farás?

Francisca – Não é nada de tão ruim assim. Só… Ficarás encarregada da limpeza de todo o convento e, duas vezes por semana, de toda a igreja, por tempo indeterminado.

Valentina – O quê? A irmã deve ter se enganado… É muita coisa.

Francisca – Não. Eu não me enganei. E, a propósito, a irmã começará amanhã mesmo.

Francisca sai.

Valentina – Ai, isso está virando um pesadelo…

15 dias depois…

Cena 07: Igreja Del Fiume. Sala do padre. Noite.

Foi fácil para Gustavo seguir Gregório até seu quarto e conseguir a chave do quarto de Santorini. Depois, também foi fácil ir até lá e pegar a chave da sala do padre. Com isso, praticamente todas as noites Gustavo se aventurava pela leitura de filósofos gregos ou de dramaturgos clássicos. Esta noite, Gustavo tinha em mãos o livro “O Banquete”, de Platão.

Gustavo – (Lendo) “É essa então, ó Sócrates, a natureza desse gênio; quanto ao que pensaste ser o Amor, não é nada de espantar o que tiveste. Pois pensaste, ao que me parece a tirar pelo que dizes, que Amor era o amado e não o amante; eis por que, segundo penso, parecia-te todo belo o Amor. E, de fato, o que é amável é que é realmente belo, delicado, perfeito e bem-aventurado; o amante, porém, é outro o seu caráter.”

Nesse momento, sua leitura é interrompida por passos, vindos do outro lado da biblioteca subterrânea. Alguém entrara, deixando Gustavo atento. Os passos se aproximavam cada vez mais, mas não era possível ver quem chegara. Até que pararam por um instante, na estante ao lado de onde Gustavo tirara o livro de Platão. Depois, a pessoa voltou a se movimentar, e andou na mesma direção de onde veio. Gustavo, imediatamente, resolveu conferir o que a pessoa misteriosa pegou. Chegou à estante em questão.

Gustavo – (Surpreso; pensando) Minha Nossa Senhora! Quer dizer que foi isso que essa pessoa levou para ler?

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