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Edição especial: Cantiga de Amor

CANTIGA DE AMOR – edição especial: capítulo 03

Cena 01: Igreja del Fiume. Final da tarde.

Enzo e o padre Santorini falam sobre Gustavo.

Enzo – Sabe, padre, esse rapaz me impressionou grandemente com sua força e com sua coragem. Ele parece ser um bom moço. Pensando bem, tudo foi uma grande coincidência, porque eu estava conversando sobre isso com minha mulher hoje… Mas, enfim, respondendo à sua pergunta: eu o procurei para falar sobre ele porque eu estou interessado em casá-lo com a minha filha.

Santorini – (Mais surpreso ainda) Casá-lo? Isso é ainda mais surpreendente, meu filho! (Pausa, como se procurasse palavras) Então, você veio aqui para saber sobre a família dele?

Enzo – Justamente, padre. Como eu não o conheço, e ele estava com o senhor, pensei ser a pessoa mais indicada para me falar sobre seus pais. De quem ele é filho?

Santorini – Na verdade, ele chegou aqui na igreja hoje. Mas pelo que eu entendi, ele é filho de senhores feudais.

Enzo – (Surpreso, e ao mesmo tempo um pouco decepcionado) Senhores feudais?! Isso é ao mesmo tempo bom e ruim… Bom porque ele vem de uma família de classe, mas ruim porque pode ser mais difícil arranjar esse casamento.

Santorini – Paciência, filho. É certo que nós devemos estar cientes da condição em que Deus nos colocou. Algumas poucas vezes, porém, podemos tentar algo de diferente. Você é um trabalhador do campo, mas não é exatamente pobre. Eu acho que você conseguiria casá-lo com sua filha. Além disso, esse rapaz parece ser bem decidido. Se ele se interessar por esse casamento, tenho certeza de que conseguirá convencer sua família.

Enzo – (Aliviado) Que bom, padre. Mas o senhor não sabe nem quem são os pais dele?

Santorini – Não, ele não me disse. Procurarei saber dele, e, depois, o informo.

Enzo – Muito obrigado, padre. O senhor estará me fazendo um grande favor. E agora, tenho que ir, está escurecendo.

Santorini – De nada, meu filho. E que Deus te guarde nessa viagem.

Enzo sai. O padre segue para o lado dos aposentos dos hóspedes.

Cena 02: Igreja del Fiume. Ala dos hóspedes. Quarto de Gustavo.

Gustavo está deitado em sua cama, aéreo, como se estivesse pensando em algo importante. Nesse instante, o padre chega e o chama, sem obter resposta. O chama novamente, e dessa vez ele atende.

Santorini – Meu filho, você está estranho hoje. Mais uma vez o pego distante, sem prestar atenção aos meus chamados… São seus pensamentos?

Gustavo – (Fala confuso, atrapalhado) Desculpe-me, padre. Apenas pensava na minha casa, nos meus pais, em como eles estão longe…

Santorini – Interessante, meu rapaz, porque é sobre isso que gostaria de falar com você. Você chegou aqui, pediu-me abrigo, eu concedi… Depois você foi várias vezes ao povoado e voltou… Mas não me disse exatamente de onde veio, nem quem são seus pais; apenas que eles são senhores feudais.

Gustavo – Ah, padre, desculpe-me não ter te informado isso. Meu pai é um senhor feudal da região da Campania, próximo a esta parte da península. Nós não somos tão abastados como outros senhores vizinhos, mas temos o suficiente para viver bem. E, quanto a mim, tenho umas economias guardadas dadas por meu pai para eu viajar, já que a vida no campo não me interessa tanto.

Santorini – E o nome dos seus pais? Quem são eles? Talvez eu conheça.

Gustavo – Nós somos os Schiartoni. Sou filho de Edetto e Izabella Schiartoni. Mas sabe, padre, essa coisa de dar valor a sobrenome não me agrada. Afinal, todos somos seres humanos, não?

Santorini – Sim, claro que somos. Mas é importante lembrar que a vontade de Deus é soberana. Se Ele nos dá o direito de termos um sobrenome importante, devemos agradecer, respeitar e obedecer a isso. Se não, fazer o que, temos que acatar essa decisão divina.

Gustavo – (Suspira, meio impaciente) Só isso, padre?

Santorini – Só, meu filho. Por enquanto só. Depois conversaremos mais.

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Começo da noite.

Enzo chega e vai diretamente ao quarto de Prudência. Ao abrir, Prudência, que estava deitada na cama e meio cabisbaixa, levanta a cabeça e sorri timidamente.

Enzo – Mulher, tenho uma ótima notícia. Deus atendeu aos nossos desejos. Acho que encontrei o homem certo para casarmos nossa filha.

Prudência – Já, marido? Como foi isto?

Enzo conta a ela desde o acidente na estrada até a visita ao padre.

Enzo – Então, o padre irá descobrir mais sobre sua família e nos contar. Há uma grande chance de arranjarmos um ótimo casamento para nossa filha.

Prudência – (Em voz alta, de êxtase) Ai que bom, nossa filha vai casar!!

A “altura” da voz de Prudência nessa última frase foi suficiente para que Agnella a ouvisse do seu quarto.

Agnella – (Surpresa e amedrontada) Casar?! Quem será?

Cena 04: Dia seguinte. Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo. Cedo da manhã.

Gustavo está deitado em sua cama. Não conseguiu dormir direito, com seus pensamentos a mil.

Gustavo – (Falando para si mesmo) Se bem que, isso deve ser um hábito dela… Acho que sei como encontrá-la novamente.

Nesse momento, o padre entra.

Santorini – Bom dia, meu filho. É hora de tomarmos o café da manhã. Você pode estranhar um pouco, mas aqui, na igreja, nós tomamos café um pouco mais cedo do que nas outras casas. Costume nosso.

Gustavo se levanta, troca de roupa e sai para tomar café.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Sala.

Enzo – Filha!! Já é hora de estar de pé! Podes sair do teu quarto hoje!

Agnella, que já estava acordada, vai à presença de seu pai.

Agnella – Sim, papai.

Enzo – Já devias saber que tens de pegar a água no riacho e comprar os pães. Toma as moedas. (Vira-se para a mulher) E tu, Prudência, não cometas novamente o erro de dar mais dinheiro a tua filha.

Prudência – Sim, meu senhor. Não errarei dessa vez.

Enzo – (Rígido) Pois então, Agnella, vá! E vê se não demora dessa vez! Senão ficarás em um castigo bem maior!

Agnella – (Cabisbaixa, com medo) Sim, senhor, meu pai.

E Agnella sai. Enzo e Prudência continuam conversando.

Prudência – Sabe, marido, estive no meu quarto ontem devido ao teu castigo, mas pude ouvir uma conversa dessas pessoas do povoado, que falam pelos cotovelos… Sabe a Nieta, lá da parte sul? Então, ela estava tomando seu banho semanal ontem no rio, e uma mulher roubou as suas roupas…

Enzo – Sério? Por quê?

Prudência – Pelo que eu ouvi, ela não sabe. Mas ela viu o rosto dessa mulher e acha que ela não deve ter ido longe e está aqui pelo povoado. Ah, e eu também ouvi que ela já juntou um punhado de pessoas pra ir atrás dela. Se encontrarem a tal ladra, parece que vão puni-la de alguma forma por essa atitude.

Enzo – Que loucura, não? Mas chega de meter-nos na vida dos outros. Vamos falar de nossos problemas.

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.

Valentina tivera uma noite difícil. Sem comida, sem água, sem saber o que fora feito do seu cavalo, não conseguiu dormir. Mas estava decidida a fugir dali. Então, a porta se abre.

Brás – (Imponente) Cheguei! Gostaste das tuas instalações?

Valentina – (Raivosa, mas fraca) Monstro, maluco! Por que me prendeste aqui neste quarto, sem nem me de comer ou de beber? O que pretendes?

Brás – (Chegando perto dela, alisa seus cabelos) Tu devias me agradecer por ter te oferecido abrigo. Estavas sozinha nesse povoado, e eu te abri as portas. Mas não te preocupes, porque tu vais me pagar por essa noite que dormiste aqui.

Valentina – Como, seu maluco? Se eu não tenho dinheiro! E prefiro ir embora daqui a continuar sendo tratada dessa forma!

Brás a abraça e ela tenta se soltar, mas ele a segura forte. Depois, tira suas roupas de cima, joga-as pela janela, e amarra sua boca, seus braços e seus pés de uma maneira difícil de soltar.

Brás – E vê se fica calada!

Então, sai da casa.

Cena 07: Entrada do Povoado das Hortaliças. Meia hora depois.

Agnella está voltando do rio com o balde cheio de água, mas dessa vez atenta, para que não derrame novamente. Parado, no mesmo lugar de antes, ela vê Gustavo. Então, ela para e desce do cavalo.

Agnella – O que fazes aqui? Estás me perseguindo, por acaso?

Gustavo – Não, minha cara donzela. Eu não disse que nos veríamos novamente? Então, estou aqui porque achei que, na mesma faixa de tempo de ontem, te encontraria com um balde de água, voltando do rio.

Agnella – Por favor, esse não é o melhor momento para tu me veres. Serei eternamente grata a ti pelo que me fizeste ontem, acho até que te devo um favor, mas não posso me arriscar a ser falada no povoado. Tenho impressão de que nos viram ontem, e não duvido nada de que alguém esteja me vendo agora. Vão inventar mentiras sobre mim, e eu não quero isso. Será que tu podias ir embora agora?

Gustavo – Está bem, está bem. Mas será que eu não poderia falar contigo longe da vista dessas pessoas? Não há nenhum lugar em que eu possa te ver sem que tu corras o risco de ser falada? Faça isso por mim… Tome isso como o favor que me deves…

Agnella – (Um pouco relutante) Não sei se posso… (Depois, sua atenção se vira para o olhar carente de Gustavo e sorri timidamente) Então está certo. Há o rio. Vês aquele começo de estrada por onde eu vim agora? Me espera lá depois do almoço. Em algum momento, conseguirei sair de casa e virei vê-lo. Mas eu não quero problemas. Espero que tuas intenções para essa conversa sejam boas e inocentes.

Gustavo – (Feliz e sorridente) São ótimas! Quer dizer, não te preocupes, porque nada vai acontecer.

Agnella – Agora, tenho que ir, senão arranjarei mais problemas com meu pai. Até mais, cavalheiro.

Gustavo – Até mais, bela moça.

Agnella e Gustavo seguem em direções opostas. De longe, Adelmo, que, por ser apaixonado por Agnella, vive atrás dela, está mais uma vez observando-a.

Adelmo – Isso está ficando sério… Eu preciso tomar uma atitude logo. Uma atitude que já devia ter sido tomada há bastante tempo.

Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Quarto do casal.

Inês acabou de acordar e está se vestindo. Então, ouve gritos, e um barulho estranho vindo de alguma parte da casa. Por isso, sai do seu quarto à procura do lugar de onde vem o som.

Inês – Meu amor, tu estás aí? Brás, onde estás?

Nesse momento, abre a porta do quarto de Valentina. Toma um susto.

Inês – (Raivosa; gritando) O que está acontecendo aqui? Brás, podes me explicar o que é isso?

Em sua frente, uma cena pela qual ela não esperava. Seu marido estava vestido,tentando abusar de Valentina, tendo ele já desamarrado ela, mas ainda a prendendo com os braços. Brás, então, se separa de Valentina, que fica atordoada e mais desesperada do que já estava. Inês respira fundo e, depois, corre na direção dela, agarrando em seus cabelos.

Inês – Larga do meu marido, sua desfrutada! Sua despudorada, safada!

Inês começa a estapear Valentina, ao passo que esta tenta se livrar da loucura da mulher de Brás. Enquanto isso, ele só assiste. Depois de apanhar um bocado, Valentina consegue se soltar e corre em direção à porta, mas é interrompida por Brás.

Brás – Nem penses nisso, mocinha. Daqui tu não passas!

Ele tenta agarrá-la, mas ela se esquiva.

Valentina – Quero ver se tu vais me impedir.

Valentina dá um chute nas partes íntimas de Brás, consegue sair do quarto, e depois da casa. Mesmo assim, Inês a segue. Após sair da casa, procura o seu cavalo. Sem achá-lo na frente, dá a volta até a parte de trás, e o encontra amarrado a um toco. Além disso, encontra também as roupas com as quais veio vestida. Veste-as rapidamente e tenta montar no cavalo, mas não consegue devido ao espaço ser muito apertado. Assim, sai carregando o cavalo até a frente. Inês, que não sabia bem para onde a “rival” havia ido, a vê, sem que ela também a veja, e sai em sua direção.

Inês – (Falando baixinho, para si mesma) Pensas que vais fugir? Ah, mas não vais mesmo!

E corre atrás dela, conseguindo agarrá-la. Nesse momento, um amontoado de pessoas, liderado por Nieta, dobra a esquina.

Nieta – (Gritando) Mas olha lá se não é aquela mulher quem levou minhas roupas! E ela ainda está vestida nelas! Vamos atrás dela, pessoal!

Assim, a multidão corre em disparada na direção de Valentina. Brás aparece na porta e, ao ver a situação, sorri. Inês percebe que todos estão atrás da mesma pessoa.

Inês – (Gritando) Essa mulher estava levando meu marido à perdição! Quero que ela seja punida por isso!

A multidão fica ainda mais agitada, gritando coisas como “Filha de Satanás” e “Demônio”. Valentina fica desesperada.

Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Todos terminaram de tomar café na casa de Agnella. Seu pai já está saindo de casa em direção ao trabalho.

Enzo – Antes de sair, gostaria de avisar uma coisa. Hoje, Agnella, tu levarás o meu almoço às terras.

Agnella – (Surpreendida com a notícia) Eu, meu pai?

Prudência – Isso não é perigoso para uma moça solteira como ela, meu marido?

Enzo – Não. Estou decidido. E… (É interrompido por um intenso barulho) O que é isso que está acontecendo nessa rua?

Enzo abre a porta de sua casa e vê a confusão. Prudência e Agnella também se agrupam na porta.

Prudência – É a Nieta, marido! Eu não te disse que ela juntou muita gente para ir atrás de uma ladra de roupas!

Agnella – E quem é aquela mulher agarrada a Inês?

Prudência – Deve ser a que roubou as vestes de Nieta enquanto ela tomava banho!  Veja, Nieta está correndo em sua direção! E pelo visto conseguirão puni-la pelo que fez, graças a Deus!

Agnella – Eu, hein? Quem seria maluco de fazer isso? Roubar as roupas dos outros? Ai, ai.

Enzo – Mas chega de curiosidade, vamos entrar.

Prudência – Ah, não, marido, quero ver o que vão fazer com ela.

Enzo – Nada disso. Entremos. Depois que passar essa confusão, eu vou trabalhar.

E fecha a porta. Lá fora, a confusão continua. A multidão se aproxima mais e mais de Valentina, que, no calor do momento, consegue dar uma cotovelada em Inês e montar no cavalo. Inês tenta, mas sem sucesso, pará-lo. Valentina, então, segue na direção da floresta, mas não muito rápido, já que ela estava sem muita força. Inês se junta a Nieta e seu “exército” e eles correm atrás de Valentina. Ela, então, consegue seguir até a entrada do povoado, e entra no caminho que leva à Igreja. Ainda assim, a multidão a persegue. Por isso, embrenha-se na floresta, fazendo a maior parte das pessoas desistirem de segui-la, incluindo Nieta e Inês. Com isso, sem sua “liderança”, aqueles que ainda estavam dispostos a correr atrás dela param no meio do caminho e voltam ao povoado.

Nieta – Fim da linha.

Inês – (Revoltada) Ai, que coisa!

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.

Brás está sentado na sala, satisfeito com o que acabara de ocorrer (exceto pelo fato de Valentina ter fugido). Então, para sua surpresa, Inês aparece.

Inês – Mas que raiva! Quase conseguimos pegar aquela mulher filha do Diabo! (Seu olhar, então, vira, fulminante, para Brás) E tu, marido, porque te rendeste a ela? Porque fizeste aquilo comigo?

Brás se chega a ela sorrindo, deixando-a sem entender o que ocorria. Porém, quando parecia que ele ia abraçá-la, Brás segura o seu braço fortemente e a joga no chão.

Brás – Eu fiz isso para tu entenderes que eu sou teu marido, e que tu não podes pensar que és melhor do que eu!

Inês – (Surpresa com a atitude do marido) Como assim, meu amor? (Se arrasta para trás, para se afastar dele) Cadê aquele marido compreensivo, diferente dos outros, que ainda ontem estava aqui comigo?

Brás – Te enganaste, meu amor. No início do nosso casamento eu ainda fui tolo, mas depois descobri que tu tentavas ser mais esperta que o teu marido!

Inês – Continuo sem entender-te! Eu… Eu… Eu nunca quis isso, querido! E não faças essa cara, por favor, que tu me assustas!

Brás – Ah, é? Então te prepares!

Brás levanta Inês do chão e a arrasta, pelo braço, até o quarto do casal. Joga ela na cama, tranca as janelas.

Brás – Tu achas que estou mentindo, ficando louco? Isso porque pensas que eu não sei que me ouviste conversar com meu criado sobre meu dinheiro, não é? Pois tu terás muito, mas muito tempo, para refletir acerca das tuas atitudes!

Brás sai e tranca a porta. Inês, desesperada, começa a chorar.

Cena 04: Igreja del Fiume.

Após ter chegado, Gustavo decide matar certa curiosidade sua. Assim, dirige-se até a sala do padre, a qual havia visitado no dia anterior. Ao chegar lá, entretanto, percebe que há alguém, e, por isso, se esconde na sombra de um móvel localizado do lado de fora. Depois de um tempo, a pessoa sai, e ele vê que era o padre quem estava lá. O padre tranca a porta da sua sala. Gustavo, então, resolve segui-lo, fazendo o possível para não ser notado. Depois de percorrer um caminho ainda desconhecido por Gustavo, o padre chega a um recinto que ele julga ser seu quarto, e, após entrar, fecha a porta. A única alternativa para Gustavo é observar por uma fresta entre a porta e a grossa parede. Gustavo passa um tempo sem conseguir ver o que Santorini está fazendo, até que o padre aparece no seu campo de visão, com uma chave na mão. Ele abre a porta de algo parecido com um guarda-roupa, mexe lá dentro, e fecha a porta sem carregar nada consigo.

Gustavo – (Pensando) Então é aí que o padre esconde a chave de sua sala! Ah, mas eu ainda vou descobrir o que existe de tão sério lá dentro!

Então, para não correr mais risco de ser descoberto, Gustavo sai dali e caminha, com sucesso, até o seu quarto. Fica lá por algumas horas, até que o padre chega.

Santorini – Meu filho, você está aí, claro! Vamos, é hora de almoçarmos.

Cena 05: Arredores do Povoado das Hortaliças. Próximo à floresta.

Depois de muito vagar na floresta, e andando em círculos, Valentina, já certificada de que não a estavam perseguindo, encontra uma casa. Ela prende seu cavalo no galho de uma árvore. A porta da casa estava aberta; por isso, resolve entrar.

Valentina – Olá? Alguém por aqui?

Sem obter resposta, Valentina se dirige à porta de saída. Nesse momento, Pero surge. Os dois, então, se assustam.

Pero – (Desconfiado com uma estranha em casa) Quem és tu? O que fazes aqui?

Valentina – Ai! Perdão por essa invasão!! Essa casa é tua?

Pero – Sim, minha. Por quê?

Valentina – (Atordoada, com fome, sede e desespero) Por favor, me ajude! Estou precisando de um local para ficar, estou precisando de comida, de bebida!

Pero – Epa! Antes de tudo, tu vais responder a minha pergunta. Quem és tu?

Valentina – Eu sou… (Quase fala algo, mas desiste) Isso não importa agora. Mas, por favor, cavalheiro, eu não como faz quase dois dias… Estou precisando muito de ajuda!

Pero – (Começa a ficar comovido) Está bem, está bem. Eu a ajudarei. Mas, mais tarde, tu me dirás quem és, de onde vens, porque estás tão desesperada…

Valentina – (Com a voz tremendo, falhando) Pode ser. Mas, primeiro, me socorre!

Pero conduz Valentina até a cozinha. Lá, ela vê a comida em cima da mesa e sorri.

Cena 06: Entrada do Povoado das Hortaliças.

No início da estrada que conduz ao rio, está Gustavo, aguardando Agnella, como ela havia pedido. Depois de um tempo de espera, ela chega, fazendo Gustavo sorrir.

Gustavo – Chegaste, enfim!

Agnella – Perdoe-me se eu demorei! Tu tiveste sorte, porque hoje meu pai me pediu para levar o seu almoço nas terras. Aí, depois que o entreguei, consegui vir aqui. Mas, por favor, não demoremos, para que minha mãe não ache nada estranho.

Gustavo – Não te preocupes, minha cara donzela. Tu já viste que podes confiar em mim. Agora, por favor, conduza-nos até o rio. Garanto que teremos uma conversa extremamente saudável.

Agnella – (Aliviada e, para sua surpresa, feliz) Então, cavalheiro, vamos.

Cena 07: Arredores do Povoado das Hortaliças. Próximo à floresta. Casa de Pero.

Valentina já terminou de comer. Pero está surpreso com a garra dessa mulher. E ela sente que pode confiar nele.

Pero – Mas, afinal de contas, quem és tu?

Valentina – Perdão, mas não poderei dizer-te bem quem eu sou. A única coisa que posso falar é que acabei de sair de um grande sufoco. Não te assustes comigo, por favor. (Começa a ficar ofegante) Mas a verdade é que há pouco um homem maluco – e casado! – me prendeu em sua casa, e achou que eu era uma libertina! Meu Deus, até agora eu estou assustada com o que ele tentou fazer comigo!

Pero – Não acredito! Mas… Mas… Tu não és uma… Uma daquelas mulheres, como as pessoas falam, pervertida, és?

Valentina – Não! Pelo amor de Deus, não! Era só um homem maluco querendo fazer coisas feias comigo, só porque lhe apareci pedindo abrigo, assim como pedi a ti! Mas o pior de tudo é que, depois de eu ter me livrado dele e da maluca da sua mulher, uma multidão veio atrás de mim e me perseguiu durante um bom tempo!

Pero – (Associando histórias) Então… Então, tu és a mulher que roubou as roubas de Nieta enquanto ela tomava banho no rio?

Valentina, então, percebe onde está. Se levanta, bruscamente, da cadeira.

Valentina – Quer dizer que eu não saí desse maldito lugar! Por Deus, eu preciso urgentemente sair daqui! (Respira fundo; pensa) Cavalheiro, preciso mais uma vez de tua ajuda! Me leve pra qualquer lugar em que eu não seja achada, o mais rápido possível!

Pero – Mas, senhorita, não há nenhum lugar assim por perto. Todos sabem o que acontece em todos os lugares do povoado. (Então, tem uma ideia) A não ser que…

Valentina – O quê? No que pensaste?

Pero – O convento!! Há o convento!!

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