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Edição especial: Cantiga de Amor

CANTIGA DE AMOR: edição especial: capítulo 02

Cena 01: Povoado das Hortaliças. Cozinha da casa de Enzo.

Enzo, sua mulher e sua filha se dirigem à cozinha. Ao chegarem lá, Agnella coloca o balde de água em seu lugar e os pães sobre a mesa. Então, seu pai notou algo de estranho na sacola de pães.

Enzo – Agnella, por que trouxestes mais pães do que os que o dinheiro que te dei permitia comprar? Onde arranjaste mais dinheiro, hein? Onde?

Agnella – (Gaguejando) Meu pai, eu… Eu…

Prudência – Fui eu, meu marido. Fui eu que dei mais dinheiro a ela.

Enzo – (Enfurecido) Estás maluca, mulher? Como podes ter feito algo assim sem nem ter me consultado? Sabes que as nossas finanças são rigidamente controladas, e que cada moedinha pode valer muito!

Prudência – Me perdoe, meu marido. Pensei que o dinheiro que deste não seria suficiente. Agora vejo que era.

Enzo – Pensarei se a perdoarei. Mas, até lá, as duas estão de castigo! Ficarão confinadas até o dia em que eu quiser e achar que devem sair!

Prudência – Não culpe a menina! Fui eu que errei. Ela não merece ser castigada!

Enzo – As duas erraram! E eu não quero conversa! Agora, já para os quartos, e não me saiam de lá sem serem chamadas!

Prudência – E a tua comida, meu marido?

Enzo – Não sei. Arranjarei alimento por aí. Mas uma coisa é certa: pelo menos hoje vocês duas passarão o dia inteiro nos quartos pensando nos seus erros! E vão logo!

Elas saem e são trancadas nos quartos.

Enzo – Que coisa! Só me faltava essa!

Ele volta e come. Logo após, pega suas coisas e sai em direção ao trabalho no campo.

Cena 02: Igreja. Sala do padre.

Francisca – E então? Ainda não me explicaste o motivo de tal invasão. Vamos, fale-me.

Gustavo – Perdoe-me. Entrei aqui por engano. Só não entendo por que não posso ficar aqui.

Francisca – Porque não podes. Deus com certeza não se agrada disso. E saia imediatamente daqui. O padre está na nave da igreja e te espera.

Gustavo – Tudo bem. Com licença.

Gustavo sai.

Francisca – Aliás, seminarista, por que desobedeceste deixando-o entrar na sala do padre?

Gregório – Eu não o vi entrando! Porém, assim que percebi sua presença, ordenei a ele que saísse. Nesse exato momento, a irmã chegou.

Francisca – Não estou gostando em nada dessa história. E, agora, gostaria que tusaíste daqui. Preciso fazer algumas tarefas importantes.

Gregório – Mas quando terminarei meu trabalho?

Francisca – Em outro dia, outro momento. (Taxativa) Agora me deixe sozinha.

Gregório também sai.

Cena 03: Nave da igreja.

O padre Santorini estava observando a igreja, quando Gustavo chegou à nave central.

Santorini – Meu filho, que bom que chegou. Onde estava?

Gustavo – Eu estava… Eu estava nos meus aposentos.

Santorini – Mas eles não ficam do outro lado da igreja?

Gustavo – Na verdade… Eu não sabia que era proibido e entrei na sua sala, padre.

Santorini – Que feio, rapaz! Nunca mais repita isso! Mas, antes que eu perca minha paz, eu gostaria de pedir a sua ajuda. Será que poderia ajudar esse velho padre?

Gustavo – Claro, se estiver ao meu alcance.

Santorini – Pois bem. Tive que cancelar a missa no convento, e estou indo agora ao povoado visitar algumas pessoas, e levar algumas caridades para os mais pobres. Só que não posso fazer isso sozinho. Você vem comigo?

Gustavo – Claro, padre. Até porque eu nem cheguei a visitar o povoado… Tive imprevistos no meio do caminho.

Santorini – Então aproveite esta oportunidade que lhe dou. Na sala ao lado da nave da igreja, há alguns alimentos e roupas. Por favor, pegue-os e traga para fora.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone – Como assim, minha filha? O que há de errado com teu marido? Ele não está gostando de ti?

Inês – Creio que ele até esteja, mamãe. Porém, eu não estou gostando muito dele. Principalmente depois que eu descobri algo.

Simone – O que, minha filha?

Inês – Eu descobri que a história de que ele tem muito dinheiro é mentira, mamãe. Ele é pobre!

Simone – (Boquiaberta) Não acredito, minha filha! Como descobriste isso?

Inês – Eu ouvi uma conversa dele com um amigo seu. Eles comemoravam por terem me enganado!

Simone – Ah, mas eles não enganaram apenas a ti, como a mim também. E a Leonor! Ah, mas ele vai se ver conosco!

Inês – O que pensas em fazer, mamãe?

Simone – Não sei exatamente, minha filha. Conversarei com Leonor, e então veremos o que será feito.

Inês – Nesse caso, tenho que voltar para casa.

Simone – (Segurando a filha pelo braço) Fique mais um pouco com sua mãe! Vamos conversar sobre outras coisas.

Inês – Tudo bem. Mas só mais um pouquinho.

Cena 05: Povoado das Hortaliças.

Valentina chega ao povoado e pensa em procurar uma estalagem. Porém, como não possui dinheiro, desiste da ideia. Anda um pouco, e acaba chegando ao meio do povoado, tendo suscitado curiosidades nas pessoas. Para em frente a uma casa. Bate na porta. Depois de um tempo, ela é aberta.

Valentina – Será que eu poderia me abrigar em sua casa?

Brás – (Assustado) Quem é você, menina? Não a conheço.

Valentina – Não importa quem eu sou. Apenas gostaria de saber se posso me abrigar em sua casa.

Brás – Não sou um maluco. Já que não sei quem és, e a senhorita não me diz, não posso abrigá-la.

Brás bate a porta na cara dela. Ela sai, e vai se dirigindo ao outro lado da rua, quando a porta atrás de si é aberta.

Brás – Pensando bem, acho que vou abrigá-la aqui.

Valentina sorri. Brás a conduz e ela entra na casa dele. Ao entrar, ele a pega em seu braço e a arrasta em direção a um quarto.

Valentina – O senhor está doido? O que está fazendo?

Brás – Cala a boca, garota! (Ele a joga no quarto) Agora fica aí nesse quarto! Você queria abrigo, não é? (Sorrindo sarcasticamente) Pois então: vai dormir aí.

Valentina – Eu não quero mais ficar aqui! Vou sair, agora! Com licença.

Brás – (Negando com a cabeça) Nem pense nisso.

Ele sai e tranca a porta do quarto.

Brás – Até porque você ainda vai ter que me pagar essa estada.

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Parte oeste.

No caminho para as terras coletivas, lá vai Enzo com sua carroça. Ele está ainda enfurecido por causa de sua filha e de sua mulher. Devido à sua distração, o cavalo acaba se atrapalhando em uma ladeira, provocando uma capotagem da carroça, e fazendo com que Enzo acabe ficando preso e não consiga sair.

Cena 07: Povoado das Hortaliças. Parte oeste.

Gustavo e o padre Santorini chegaram ao povoado, e estavam visitando algumas casas na parte oeste, próximo às terras coletivas. Ao entrarem em uma rua, eles acabam se deparando com Enzo, preso sob a carroça, e se debatendo para tentar sair. Gustavo, então, corre para ajudá-lo.

Enzo – Socorro, padre! Estou preso! Ajude-me aqui!

Santorini – Meu filho, o que aconteceu? Como você foi parar aí embaixo?

Enzo – Meu cavalo, padre, se atrapalhou. Mas eu preciso sair debaixo dessa carroça!

Gustavo – Não precisa se preocupar, senhor. Já estou tirando-a.

Gustavo, depois de um tremendo esforço digno de um herói romântico, consegue levantar a carroça e tirar Enzo. Este, por sua vez, fica admirado.

Enzo – Gostei de ver a sua força, meu rapaz. Pelo visto tem muita coragem.

Gustavo – Obrigado. Na verdade, sempre precisei de muita força e de muita coragem.

Enzo começa a acalmar o cavalo.

Enzo – Hum… Interessante. Quero conhecer melhor a sua história depois. Muito obrigado por ter me salvado. Agora, padre, desculpe-me, mas tenho que seguir para as terras. Com licença.

Enzo ajeita a carroça rapidamente e parte.

Santorini – Que estranho… Ele parecia preocupado demais. Aliás, rapaz, de onde tirou tanta força?

Gustavo – Como disse, padre: sempre precisei de força e de coragem nas minhas andanças. Dessa vez, eu pude ajudar alguém com ela.

Santorini – E isso foi uma boa atitude. Pode ter certeza de que Deus está se agradando muito de você hoje.

Gustavo – Que bom. Que bom…

Santorini – Agora, vamos continuar as nossas visitas.

Cena 08: Povoado das Hortaliças. Parte central.

Após algumas horas de visitas e conversas, Gustavo e o padre Santorini entram na rua em que Enzo e sua família moram. Depois de visitarem algumas casas, o padre se dirige à casa de Agnella. Bate na porta.

Santorini – Prudência!! Você poderia vir abrir a porta para mim?

Nenhuma resposta.

Santorini – Prudência? Agnella? (Se dirige para Gustavo) Onde será que elas estão? Mãe e filha, ao mesmo tempo fora de casa… Que estranho, não acha?

Gustavo não responde. Parece estar pensando em outra coisa.

Santorini – Não acha, rapaz? (Percebe a desatenção dele) Vou chamá-las novamente.

O padre Santorini chama-as várias vezes, porém ninguém o atende. Então, desiste.

Santorini – Ah, elas parecem não estar em casa. Vamos, rapaz. Vamos!

Gustavo não responde. Em seu pensamento, apenas um nome surge. O mesmo nome que ele ouvira mais cedo na floresta, dito por Adelmo, e que agora o padre repetira: Agnella.

O padre Santorini bate no braço de Gustavo, que volta a si.

Gustavo – Perdoe-me, padre. O que houve?

Santorini – Eu, hein? Parece que você estava com os pensamentos longe… Mas o que interessa é que ninguém responde nesta casa, e agora é tempo de seguirmos viagem. Já está na hora de almoçarmos.

Gustavo – (Simulando estar impressionado) Sério, padre? Nem percebi o tempo passar…

Santorini – Mas ele passou, meu filho. E devemos interromper nossas visitas por enquanto. Quem sabe amanhã continuaremos.

Gustavo – Sabe… Acho que eu vou ficar mais um pouquinho. Gostei de ter visto todas essas pessoas, mas tenho vontade de ver mais.

Santorini –(Sutilmente impositivo) Meu filho, eu acho que você devia voltar comigo. Temos que comer, e quem sabe depois, em um outro dia, você volta ao povoado.

Gustavo – (Entendendo a situação) Está certo, padre. Irei com o senhor. Mas… Acabo de lembrar que eu perdi meu lenço no caminho… Será que poderia voltar para procurá-lo?

Santorini – Isso é verdade, meu filho?

Gustavo – Claro, padre! Não mentiria para o senhor.

Santorini – Então está certo, meu filho. Entretanto, volte assim que encontrá-lo. Eu seguirei caminho.

Gustavo – (Se curva) Obrigado, meu senhor. Prometo voltar logo.

O padre segue em direção à igreja, enquanto Gustavo caminha para o lado oposto.

Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.

Ela está deitada em sua cama.

Agnella – Meu Deus, nada aconteceu de tão grave assim para que eu fosse castigada… Somente porque aceitei moedas de Adelmo? Se foi, me perdoa…

Agnella olha para a janela do quarto, que fica virada para o lado oposto à entrada do povoado.

Agnella – Perdoe-me por isso também, meu Deus, mas eu não suportarei ficar sufocada nesse escuro, com porta e janela fechadas…

Então, ela abre a janela.

Agnella – Como eu queria poder não estar só…

Nesse momento, visualiza Gustavo indo na direção oposta à que o padre seguiu, e lembra de um momento.

– Flashback –

Agnella – Por favor, cavaleiro insistente, já te pedi para que não me sigas. As pessoas do povoado falam demais e, se me virem conversando contigo, contarão mentiras a meu pai, mesmo que eu nem te conheça. Permita que eu siga para a minha casa.

Gustavo – (Desapontado) Tudo bem. Já que me pedes, não insistirei em te ajudar. Mas, se algum dia nos encontrarmos novamente e tu precisares de mim, com certeza eu estarei disposto a fazer isso.

– Fim do flashback –

Agnella, então, dá um grito cheio de esperança.

Agnella – Cavalheiro! Por favor, me ajude!

Gustavo se vira na direção do grito dela e sorri.

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

A igreja, ao longe, dá mais uma badalada. É meio-dia, e já faz muito tempo que Inês conversa com sua mãe.

Inês – (Percebendo as horas) Meu Deus, mãe!! Já faz tanto tempo que estamos conversando aqui, e nem notamos o andar das horas…

Simone – É verdade, minha filha! E tu nem fizeste o almoço de teu marido!

Inês – Por mim esse aí morria de fome… Minha vontade é de mandá-lo comer com o rei. Ele não se orgulha de ter sido um “escudeiro”? Hoje não serve mais nem pra proteger galinha de raposa. (Respira fundo) Mas, já que não fiz almoço, levarei um pouco do teu para nós. Aliás, fico pensando em meu irmão. Coitado, teve problemas com a água, que derramou, e foi obrigado a ir correndo para as terras… Ele vem almoçar, não vem?

Simone – Não. Hoje eu terei que levar seu almoço.

Inês prepara a comida que levará para sua casa.

Inês – Então está certo. Agora, tenho que correr para casa. Até logo, mãe.

Simone – Até logo, filha.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Gustavo se aproxima da janela do quarto de Agnella e desce do cavalo.

Gustavo – (Sorridente) Mas olha só! És a dama atrapalhada que me molhou hoje mais cedo! Pois não, o que a senhorita deseja?

Agnella – (Desconcertada) Perdoe-me por esse incômodo, mas gostaria tanto de tua ajuda…  Depois do ocorrido, eu acabei me complicando com meu pai e ele me pôs de castigo…

Gustavo – E tu estás desobedecendo a teu pai, conversando comigo?

Agnella – Na verdade, eu estava tão triste aqui na solidão do meu quarto, e queria tanto uma companhia… Quando abri esta janela e te vi, lembrei-me de que, mesmo eu te destratando naquele momento, tinhas prometido me ajudar, e resolvi chamar-te para me fazer companhia.

Gustavo – Mas olha só… Então queres que eu fique aqui conversando contigo? Mas tu mesma não me disseste que as pessoas deste povoado gostam de ver coisas onde não há? Isso não é perigoso?

Agnella – Pensando melhor, tu tens razão, cavalheiro… (Se vira, anda um pouco como se estivesse pensando, e volta pra janela) Sabe, tive uma ideia agora. Sei que não devia te pedir isso, que devia obedecer a meu pai, mas estou com muita fome e não poderei almoçar por estar de castigo. Será que tu poderias me arranjar comida?

Gustavo – Estás com fome? (Sorridente) Não posso ver uma moça bela e atrapalhada como tu faminta, e não ajudar. Claro que te arranjarei comida, mas terás que esperar um pouco de tempo. Te importas?

Agnella – Não… Se vais me arranjar comida, não.

Gustavo – Então, minha cara senhorita, me espere. Ainda virei antes do pôr-do-sol para saciar tua fome.

Agnella – Ficarei eternamente grata por isso.

Gustavo sobe no cavalo e vai em direção à Igreja del Fiume. Agnella, com o braço apoiado na janela e a mão no queixo, suspira, olhando pro horizonte.

Cena 05: Igreja.

Gustavo chega à Igreja e encontra o padre.

Santorini – Ora, ora, meu rapaz. Enfim você voltou! Estávamos o esperando para almoçar! Venha comigo.

Gustavo – Mas, padre, não era preciso.

Santorini – Meu rapaz, aqui nós fazemos as nossas refeições juntos. Geralmente sou só eu e o seminarista Gregório, já que a irmã Francisca faz suas refeições com as noviças do convento. Mas hoje você está aqui e não queríamos quebrar o protocolo.

Gustavo – Então está certo, padre. Vamos almoçar.

Santorini – Aqui, nós valorizamos a comunhão. Venha comigo.

Eles entram em uma sala que parece ser a “sala de jantar” da igreja. Após terminarem de almoçar, os três se levantam da mesa.

Gustavo – Não precisam se incomodar. Eu levo os nossos pratos à copa.

Santorini – Na verdade, a copa fica no convento. As refeições são preparadas lá, e uma das irmãs nos traz a comida. Então, é melhor que você deixe aí.

Gustavo – (Desapontado) Então, está certo.

Gregório e Santorini vão saindo. Gustavo fica parado, pensando. Então, o seminarista comenta algo com o padre.

Gregório – Interessante como sobrou comida hoje. Mesmo com um hóspede, ainda há comida suficiente para mais uma refeição.

Santorini – Ainda bem que eu a guardei lá na sala ao lado da nave. Mais tarde poderemos comer novamente.

E, como eles se afastam, o som diminui. Gustavo, porém, fica animado com o que acaba de ouvir e segue para a sala ao lado da nave da igreja. Lá, encontra um balde com comida, coloca um pouco em uma vasilha que trazia consigo e sai da igreja rumo ao povoado.

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Gustavo chega à casa de Enzo e a rodeia até a janela de Agnella. Bate na janela, e ela é aberta.

Gustavo – Aqui está a comida que me pediste, minha cara donzela.

Agnella – Como foste gentil comigo, cavalheiro… Acho até que passaria mal se ficasse mais um pouquinho sem comer. É uma pena que minha mãe não esteja podendo contar com uma ajuda como a tua…

Gustavo – Mas ela também não está podendo comer? O que faremos então?

Agnella – Acho que não dá para fazer nada. E eu não te pediria mais favores. Já te arriscaste muito por hoje. Agora, vá, e tome cuidado com as pessoas.

Gustavo – Se queres mesmo que eu vá, irei. Mas ouça-me bem, senhorita, ainda voltarei a vê-la. (Dá um sorriso que encanta Agnella) Até mais.

Agnella – Até quando Deus quiser, cavalheiro. E eu ficarei te devendo algo por essa tua boa ação…

Cena 07: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Alguns minutos antes.

Ela e o marido haviam acabado de comer.

Brás – Inês, tu demoraste na casa de tua mãe, e eu não gostei disso. Ainda bem que trouxeste comida para mim, porque senão…

Inês – (Abraçando o marido; falando com voz doce) Senão o que, meu amor?

Brás – (Se desvencilhando dela) Senão eu teria que te tratar como se deve. Aliás, por que não vais agora para o quarto, para descansar? Irei em seguida.

Inês – Está certo, meu amor. Estou indo.

Inês entra no quarto.

Brás – (Falando para si mesmo) Descanse porque você vai ter uma surpresinha…

Em seguida, vai à janela.

Brás – Mas olha só, veja se não é um cavalheiro o qual eu não conheço que está se dirigindo à janela da filha de Enzo? E ele carrega uma vasilha nas mãos… O que será? Ah, mas o pai dela vai ter que saber dessa misteriosa visita!

Cena 08: Igreja del Fiume. Já no final da tarde.

O padre Santorini está na nave da Igreja, pensando. Então, ouve alguém o chamando.

Enzo – Padre! Gostaria de falar com o senhor.

Santorini – Que bom, meu filho, que você está bem! Aquele acidente não te fez mal?

Enzo – Só umas dorezinhas aqui e ali. Mas isso não é o mais importante. Na verdade, eu estou aqui porque gostaria de falar com o senhor sobre aquele moço que o estava acompanhando mais cedo e que me tirou debaixo daquela carroça.

Santorini – (Surpreso) Ora, ora, que surpresa! Não esperava isso. Pois bem. A princípio de tudo, por que você me procurou para falar sobre ele?

Enzo – Sabe, padre, esse rapaz me impressionou grandemente com sua força e com sua coragem. Ele parece ser um bom moço. Pensando bem, tudo foi uma grande coincidência, porque eu estava conversando sobre isso com minha mulher hoje… Mas, enfim, respondendo à sua pergunta: eu o procurei para falar sobre ele porque eu estou interessado em casá-lo com a minha filha.

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