Black Tears – Capítulo 4
Conflito de Interesses.
Ria o quanto quiser, prove o doce sabor do vinho.
Liberte-se, o seu “eu” nós espera.
Diga tudo o que está em sua mente, não contenha
nem mais uma palavra.
Temos todo o tempo do mundo.
Só lhe faço um único pedido, somente uma única coisa.
Seja somente minha essa noite, dance uma ultima
vez com essa pobre alma atormentada.
** 1 **
A sala estava selvagem não no sentido animal da palavra, mas sim no sentido descontrolado dela. Todos que falavam aumentavam suas vozes tentando competir para ver quem tinha a maior juba. Alguns permaneciam tão quietos que poderia na maior parte do tempo duvidar que realmente estavam ali. O dia anterior havia sido tão cansativo que alguns tinham bolsas negras abaixo dos olhos, o golpe sofrido tinha sido pesado demais para suportar.
– Fiquem todos quietos, não vamos chegar a lugar nenhum assim – Gritou um velho homem na ponta da mesa – Se continuar assim vamos passar outra noite aqui.
Como ele havia dito todos já estavam em uma incessante discussão desde o dia anterior quando o ataque ocorreu, mas apesar disso ninguém conseguiu chegar a lugar nenhum, eles estavam apenas correndo atrás do próprio rabo. Todos simultaneamente ficaram em silencio, talvez estivessem cansados de tanto falar ou simplesmente queriam acabar logo com isso, quem poderia saber o que se passava em suas mentes.
– Muito bem, agora podemos ter uma conversa civilizada – Tossiu – Segundo a informação que temos, um grupo de humanos atacou nossa fronteira matando todos que lá estavam, felizmente alguns sobreviventes conseguiram escapar e…
– Isso é mais do que suficiente – Exclamou um soldado de cabelos vermelhos interrompendo o homem velho – Devemos fazer um ataque preventivo antes que eles invadam.
– Acalme-se comandante Masteghin. Vamos ouvir todos os fatos antes de pularmos para as conclusões – O homem velho olhou para cada um na mesa antes de continuar – Retomando o raciocínio, os soldados que voltaram relataram que o ataque surpresa ocorreu de madrugada um dia antes dos ataques.
– Não há dúvidas General, foram os humanos que ousaram nos atacar. Concordo com o Senhor Masteghin, devemos responder a altura.
– Sim, eles têm que pagar – Gritou outro – por essa catástrofe.
(Batida na mesa)
– Vamos nós acalmar. Se continuar assim vamos retornar a barulheira de antes – Falou olhando direto para mim – Entendo sua dor Senhorita Júlia, mas tudo isso deve ser cuidadosamente esclarecido, se formos negligentes podemos começar uma guerra com o país errado.
Senti um gosto amargo descer pela garganta, o que o general disse tinha sentido, mas o ódio que borbulhava dentro de mim não iria esfriar, não até que eu conseguisse o que era meu por direito. Nesse instante uma batida que apesar de ser fraca ressoou pela pequena sala fazendo todos se calarem, mesmo os que estavam ansiosas para saber onde essa reunião acabaria. A porta se abriu sem que a pessoa se anunciasse, se fosse em outra ocasião a isso seria um crime grave, mas durante os tempos conflitos era permitido a entrada somente de pessoas autorizadas.
– Me desculpem todos – O mensageiro ofegava – Vim relatar que os mensageiros chegaram.
A grande maioria ficou confusa pela súbita notícia, quase ninguém presente havia sido informado que mensageiros tinham sido enviados, os que sabiam desse fato esperavam boas notícias, nem todos queriam presenciar o horror da guerra. Mas a principal razão para a confusão de todos era o porquê de mandar um mensageiro para os mensageiros, isso era totalmente desnecessário.
– É por que eles não vieram?
O general rapidamente aliviou pelo menos uma dúvida que abitava o coração de todos, só para no momento seguinte o mensageiro acabar plantando outras que poderiam ser ditas piores que as anteriores. O rapaz que tinha entrado se ajeitou depois de recuperar o folego, se aproximou só para retirar algumas fotos do bolso as entregando para a pessoa que tinha a maior patente na sala. Sua atitude só deixava todos ainda mais apreensivos, até que o velho homem as pegou, viu algumas fotos ante de deixa-las cair e em seguida vomitar no chão. Tudo tinha acontecido rápido demais, nem todos tiveram tempo de desviar do liquido, o mensageiro que estava em uma certa distância foi imediatamente ajudar.
– General você está bem? – Disse Masteghin dando um ombro de apoio – Se não estava se sentindo bem poderia ter dito.
– Como tiveram a coragem de fazer tal ato horrível – Murmurou baixo o suficiente apenas para três pessoas escutarem – Depois de tantos anos de paz….Vai terminar assim.
– O que tinha nas fotos? – Gritei para o mensageiro -.
– N…a..o s..i – Não sabendo como lidar com a pressão ele começou a gaguejar -.
Sem esperar uma resposta concreta o peguei pelo colarinho sem notar que a atitude só deu mais trabalho para Masteghin que teve que apoiar o peso do general sozinho. Com a demonstração de violência o mensageiro começa a tremer.
– Fale direito homem – Dei um tapa no rosto dele – O que tinha nas fotos?
– Não sei – sentindo que se não respondesse direito sua vida estaria em grave perigo ele forçou as palavras pela garganta – Me disseram que era para dar isso para o general sem olhar o conteúdo.
– Quem deu essa ordem – Outro tapa estava sendo preparado quando o homem velho segurou minha mão – General?
Apesar de ter um semblante horrível e as mãos tremerem um pouco seus sentidos ainda estavam afiados.
– Não o culpe – Ele fez uma pausa – Dei ordens especificas para o pessoal do portão de que quando os mensageiros chegassem eles deveriam vir direto para mim, não importando a situação ou o local.
Não pedi desculpas ao mensageiro, apenas me limitei a solta-lo e ir em direção as fotos que foram abandonadas em cima da mesa. Rapidamente verifiquei as fotos uma atrás da outra, e em cada uma delas a cor abandonava meu rosto, como poderia existir alguém tão cruel assim. Sem conseguir permanecer em pé cai na cadeira mais próxima pesadamente, minha visão tinha ficado turva.
– Fale logo, o que tem nas fotos – Perguntou Masteghin com uma voz ansiosa -.
– Veja por si mesmo – Não consegui falar mais alto -.
Como se tivesse perdido a força as fotos caírem em cima da mesa ao mesmo tempo em que cobri os olhos com a mão enquanto estava usando o braço da cadeira como apoio. A única coisa que consegui escutar foi o grito de surpresa de todos, como poderiam permanecer normais depois de verem as fotos, fleches de homens diferentes em posições diferentes com as peles queimadas juntamente com alguns legumes em volta como se fossem frangos prontos para serem servidos no jantar surgiam em minha mente. As cartas cuidadosamente feitas estavam costuradas em suas bocas, os olhos tinham sido arrancados e postos em uma garrafa transparente logo ao lado. Não consegui ver suas expressões, mas tenho certeza que nunca mais comeriam frango na vida sem vomitar.
– General esses são os… – Masteghin se virou tentando encontrar resposta, mas foi interrompido -.
– Sim – Falou com um sorriso fraco – São os mensageiros que enviei para os reinos humanos – Ele estava tão fraco que suas palavras eram baixas – Nunca pensei que eles fariam algo tão cruel assim. Você estava certo o tempo todo Luke.
Ninguém na sala quis contesta-lo, mesmo os líderes que não apoiavam a guerra tiveram que admitir sua derrota, um ato desses nos marcaria na história como covardes, não poderíamos permitir uma desonra dessa magnitude.
– Mesmo estando certo ainda sinto um gosto ruim na boca – Comentou Luke Masteghin enquanto ajudava o general a se sentar – Não achei que eles poderiam chegar a tanto.
– Isso é o que todos nos sentimos agora meu caro rapaz. Fui uma das pessoas que compareceram no dia em que foi assinado o tratado de paz, em pensar que estávamos fazendo um Demônio como aliado, me sinto enojado de mim mesmo por não ter percebido – Sua voz era cheia de autodesprezo – Mas não vou cometer o mesmo erro duas vezes – Escutando uma batida retiro as mãos dos olhos só para ver o general encarando Luke Masteghin com uma vontade forte nos olhos – Eu Charles Walter 2, 1 General do exército declaro guerra aos países humanos. Quem não concordar com a minha decisão por favor se manifeste agora.
Ninguém levantou qualquer objeção, ninguém teria coragem depois de testemunhar tal ataque, depois de ver tantas mortes e contemplar aquelas fotos tenebrosas. As correntes da guerra haviam se rompido, já não havia como retornar, o único meio de sobreviver agora era matar ou ser morto.
** 2 **
Desde pequena fui ensinada que deveríamos sempre esperar pela paz ao invés da guerra. Nesse instante isso era tão verdadeiro quando os deuses que muitos adoravam.
– Oficial Frieden – Fui acordada de meu devaneio – Preciso de pessoas para fazer uma estratégia de ataque, poderia me ajudar?
Demorei alguns segundos para responder, fui hipnotizada por aqueles cabelos tão vermelhos quanto sangue e olhos tão negros quanto um céu noturno sem estrelas.
– Claro Tenente-comandante Masteghin.
– Me chame de Luke, vamos ser parceiros agora então sem formalidades – Disse estendendo a mão -.
– Só se você me chamar de Julia – Apertei sua mão -.
Ele sorriu ironicamente antes de se afastar indo em direção a outros oficiais, soltei um grande suspiro antes de segui-lo. Deixamos a sala de reuniões onde ficaram somente as pessoas encarregadas da defesa, seguimos o Tenente Luke até uma pequena sala somente com cadeiras de uma única mesa no centro repleta de peças, cada uma com uma cor diferente indicando aliados e inimigos no mapa.
– Vou dispensar as formalidades então me desculpem por isso. Segundo meus vigias a fortaleza aqui – Ele tocou uma parte do mapa que ficava perto de uma floresta – É a mais difícil de invadir devido a sua cerca natural composta por montanhas, então a única entrada fica aqui onde a mata e mais densa, claro que somente para um pequeno pelotão seria possível. Alguma pergunta ou sugestão por agora?
– Que unidade terá o dever de invadir pela floresta?
– Não se preocupe, um dos nossos aliados acabou de me mandar uma mensagem dizendo que cuidaria dessa região, só quis informa-los sobre. Bom, agora vamos passar para as outras regiões…
– Posso perguntar qual reino ira nos ajudar Senhor Luke? – Perguntei levantando a mão – Não recebemos nenhum comunicado a respeito de reforços.
– Ao contrário de muitos senhorita Julia eu espero o pior nas pessoas – Ele olhou no fundo dos meus olhos – Mesmo que esse pior tenha passado um pouco dos limites. Pedi ajuda a um amigo meu, ele é conhecido como “Jack” e tenho certeza que vai conseguir cumprir a missão.
– Não sabia que o Reino das “Cinzas” estaria envolvido nisso – Falou um dos convidados enquanto passava a mão na barba – O que mais me surpreendente é eles deixarem seu melhor jogador participar de uma guerra que nem sequer tem a ver com eles.
– Não é exatamente ele que irá se mover meu caro Jones – Respondeu cruzando os braços – Ele vai enviar alguém confiável em seu lugar. Quem especificamente ele não me disse.
– Entendo – Jones não fez mais perguntas sobre – Onde vamos focar então.
Sem hesitar Luke apontou para um local próximo ao anterior, a única diferença era uma floresta enorme separando ambas.
– Se os atacarmos no exato momento em que os reforços saírem a cidade estará desprotegida – Olhou para todos -.
– Mas assim não afetaria o outro lado?
– Não se eles tiverem que dar a volta na Floresta do Fim, mas se por algum motivo resolverem ir direto irão acabar perdendo muitos homens e mesmo se conseguirem chegar lá vão encontrar muros fortes o suficiente para prolongar a batalha nos dando tempo para enviar reforços.
– Esse plano depende da fidelidade dos aliados e da eficiência dos nossos, um passo errado e os soldados do “Jack” vão ser aniquilados. Você tem certeza que não devemos fazer contramedidas – Perguntei me apoiando na borda da mesa -.
– Esse plano inteiro foi traçado pensando na eficiência deles, caso eles falhem pelo menos vamos ter tempo de conquistar a cidade, quando perceberem a armadilha e quiserem voltar vão estar muito cansados e então os pegamos aqui, aqui ou aqui – Ele apontou para a entrada da floresta e nas laterais – De qualquer forma ganhamos, claro supondo que conquistemos a cidade. Tudo depende do timing.
– Entendi o plano Tenente, mas e o império santo – Perguntou Sara colocando uma peça vermelha em cima de um lugar um pouco longe das regiões em que íamos atuar – Eles não iram gostar nada de “Demônios” invadindo o ninho humano. Podem aproveitar a chance e nos invadir.
– Isso já é o problema do departamento de defesa, mas se você me perguntar – Sua mão foi até seu queixo – Para chegarem em nós eles teriam que passar por outros reinos, isso pelo menos deve atrasar sua chegada.
– Não é isso que estou preocupada. Estou preocupada com a “Santa” deles, dizem que ela é forte o suficiente para cruzar espadas com o seu “Jack”. Se isso for verdade devemos pedir ajudar definitivamente para o Reino das Cinzas não vamos conseguir entrar em guerra com 3 países diferentes em 3 frentes diferentes.
As expressões de calma antes de contorceram em uma careca escutando o nome “santa”, ela era forte o suficiente para rivalizar com o “Jack” de um dos países mais fortes de continente Ártico, isso era uma reputação admirável. O império tinha o seu “Ás”, mas usando dois cavaleiros de renome iria acabar atraindo o reino que mais adora guerras, sem contar que não podemos diminuir muito nosso poder bélico se não os outros reinos irão nos esfaquear por trás. A situação estava ficando cada vez mais caótica.
– Tudo tem o seu tempo Sara – Sua voz era calma – Vamos nos concentrar na nossa parte, tenho certeza que o departamento de defesa está bolando algo nesse instante. Agora vamos decidir as posições de cada um, Jones você me acompanha quando formos atacar a cidade, Sara vai cuidar das emboscadas, Júlia vai cuidar de impedir qualquer mensagem vindo do lado direito ou mesmo do nosso lado, não vamos querer outras cidades interferindo e Filipe se encarrega dos reforços caso qualquer um aqui precise. Alguém tem alguma objeção, posso refazer as posições se for necessário.
– Não será necessário – Todos -.
– Certo. Sara no seu caso você tem total autonomia para ajudar na captura da base caso eles não caiam na armadilha.
– Sim Tenente!
– Uma vez que estivermos lá iremos decidir o próximo passo a ser dado. No seu caso Júlia mande mensageiros constantemente para as linhas de frente tentando se informar onde estamos para caso for necessário um alerta de retirada você não fique encurralada.
– Entendido Tenente!
– Vocês podem ir discutir planos com seus subordinados, no final de tudo vamos nos encontrar aqui para verificar os últimos preparativos, estão dispensados.
Com uma resposta forte todos bateram continência antes de sair deixando alguns murmúrios para trás. Andei pelo corredor sem rumo até encontrar uma saída, já era quase meio dia desde que havíamos começado, o sol brilha no céu espalhando seu calor por toda a parte me fazendo querer alongar o corpo duro de tanto ficar sentada em uma cadeira. Respirei o ar puro antes de olhar para destruição da cidade, casas com partes negras e prédios caindo aos pedaços, um buraco enorme no chão ainda soldando uma fumaça negra, flores por todo o lugar com fotos dos prováveis falecidos. Isso era apenas na frente do prédio administrativo do exército, deveriam ter muito mais ao decorrer da cidade que antes poderia se considerar uma cidade muito alegre, agora só se via rostos sombrios. Afastei esses pensamentos de mim antes de ir em direção quartel fazer os preparativos, logo estaríamos na linha de frente enfrentando aqueles monstros, logo a vingança estaria perto o suficiente para ser apreciada, mas por enquanto continuava sendo um mero sonho distante.
Não demorou muito para chegar ao quartel, menos ainda para chegar a minha divisão. Andei pela rua muito bem pavimentada até ver no horizonte um prédio com um grande 10 pintado no centro, alguns gritos poderiam ser ouvidos na parte de trás, eles deveriam estar no final do treinamento matinal. Bocejei antes de entrar no prédio só para ser recebida pela minha vice comandante Laura correndo de um lado para o outro segurando papeis, seu estado era lamentável.
– Comandante! – Exclamou derramando lagrimas – Ainda bem que você chegou.
– Calma – Segurei ela pelos ombros – Diga com calma o que está acontecendo.
– Acabamos de ser notificados. O general declarou estado de guerra, finalmente descobriram quem foi o responsável.
No instante em que ela disse isso todos que passavam pararem tudo o que iam fazer para escutar, senti um peso no ombro por tantos olhares de expectativa direcionados para mim.
– Foram os humanos – As expressões foram divididas em espanto e certeza. Laura me encarava com a boca aberta – E nós fomos escalados para o time de ataque então organize uma reunião o mais rápido possível.
Todos imediatamente começaram a se mover, menos a única pessoa que ainda me encarava com a boca aberta. Bati de vagar em seu ombro tentando faze-la voltar a si.
– Mas não éramos aliados – sua expressão tinha ficado pálida – Como…
– Não é hora para isso. Temos ordens a cumprir vice comandante, depois que tudo estiver acabado vamos sair e ficar bêbadas.
A deixei com seus pensamentos enquanto ia em direção a minha sala, passei por inúmeras pessoas cerrando os punhos, provavelmente já sabiam quem havia feito aquele ataque. Pela primeira vez a base estava em um completo silencio, mesmo os gritos de treino haviam parado, olhei para o lado de fora só para contemplar prédios que não existiam mais e pássaros que tinham sumido. Senti um leve enjoou antes de pegar a maçaneta e entrar na sala que a muito tempo não tinha sido aberta, uma leve linha dourada foi se formando conforme a porta se mexia revelando uma sala que deveria ser grande, mas devido a quantidade de coisas bagunçadas ela tinha diminuído consideravelmente.
Abri a janela permitindo que o vento fresco limpasse o pó que havia acumulado dentro da sala, o chão estava lotado de tralhas velhas e papeis, não era um lugar muito bom para uma reunião, mas não tínhamos tempo de arrumar tudo. Tentei arrumar o máximo que pude antes de uma batida viesse da porta.
– Entrem. Não notem a bagunça.
– Com licença.
Quatro pessoas entraram ainda em suas roupas de treino, seus corpos brilhavam devido ao suor. Eles deviam ter recebido a notícia, pelas caras queriam muito fazer uma estratégia, queriam ter uma chance de se vingar. Acenei com a mão para as cadeiras que anteriormente estavam lotadas de “coisas” inúteis.
– Voc…
– É verdade comandante – Perguntou Shiro ainda de pé, seus olhos negros me encaravam intensamente, aparentemente ela não era a única que queria saber sobre isso – Foi comprovado.
– Vamos discutir sobre isso, mas primeiro se acalmem – Respondo apontando novamente para as cadeiras.
Sem questionar eles se sentam rapidamente na cadeira sem desviar suas expectativas de mim em momento algum. O motivo para querer confirmar o que Laura ou as pessoas do saguão provavelmente comentaram deveria ser muito bom.
– Visto que a vice comandante irá demorar vou adiantar para vocês – Retirei do bolso fotos que por um bom motivo ninguém as queria em suas casas e cuidadosamente coloquei cima da mesa – Só vejam isso se realmente tiverem estomago. Posso não vir aqui com tanta frequência mais não quero nada sujo – um rápido vislumbre da bagunça que ainda permanecia surgiu na parte de trás – Pelo menos não mais do que já está.
O aviso parece ter tido efeito, Shiro que estava tensa a alguns segundos agora parecia bastante tímida enquanto pegava uma das fotos, cruzei os braços enquanto olhava para o teto, já tinha visto mais do que o suficiente delas. O rangido das cadeiras se espalhou pela sala, pude escutar uma delas caindo.
– Que droga é essa – Exclamou Thomas.
-…..-.
– Que coisa horrível. Que tipo de coisa poderia fazer algo assim – Perguntou Thiago para ninguém em particular, ou era um questionamento para os deuses. Mas para quem seria não faria diferença alguma, os dois resultariam no mesmo resultado.
– Comandante! Esses são os…
– O que você acha, Shiro – Perguntei voltando a encara-los que pareciam um pouco pálidos se comparado ao momento em que entraram.
– Mas como sabem que foram realmente eles, alguém muito bem poderia tê-los matado em sua viajem e forjado tudo isso.
– Essa realmente era uma das dúvidas que eu tinha na hora, mas o próprio general recebeu os sobreviventes da base na fronteira que juraram ter visto humanos os atacando com um pequeno esquadrão – Retirei de uma pilha ao lado um mapa do Império – Sem contar que a vários dias investigamos o desaparecimento de indivíduos como prostitutas e mendigos nessa localização – Apontei para um círculo vermelho – Esses desaparecimentos eram mais recentes perto das fronteiras, sei o que devem estar pensando “São apenas mendigos e algumas prostituas”, porém me digam uma coisa. Quem mais seria perfeito para ser usado como “bomba” se não indesejados.
Eles não perguntaram mais nada, uma sombra pairava em seus rostos pálidos. Peguei todas as fotos as rasgando logo em seguida só para botar fogo no lixo, os mortos não precisavam mais ser humilhados por aquela horrível exibição.
– Fomos designados para o time de apoio – Descontentamento era evidente no rosto de cada um – Sei como vocês se sentem mais foram ordens do Tenente comandante responsável pela invasão. Nosso dever é impedir qualquer comunicação vindo de fora e de dentro, caso necessário segurar qualquer tipo de reforço. Pode falar King.
– Me desculpe comandante, mas eu não consigo entender o que levaria alguém a literalmente se explodir – Olhei diretamente em seus olhos castanhos que eram repletos de dúvidas, sua mão pousava em seu queixo – Ouro não seria aproveitado se estivessem mortos, um último prazer final talvez ou alguns deles tinham parentes como reféns.
– Se as mesmas pessoas que armaram as “bombas” forem as que tiraram as fotos não duvido nada que os reféns já estejam mortos a muito tempo, infelizmente não de um modo rápido – Ombros levemente erguidos se curvaram para baixo pela resposta – Mas me diga King. Se você tivesse a escolha de morrer rapidamente em uma explosão ou sofrer uma dor agonizante só para depois posar para uma sessão de fotos, qual você escolheria?
-….-
– Alguém tem mais alguma ideia, sou toda ouvidos – Apoiei os braços – Pode falar Thomas.
– Temos que verificar o terreno para uma estratégia eficiente. Podemos instalar um receptor de sinais, seria fácil defender se estivermos em um terreno elevado.
– Se for assim devemos atacar sua base de comunicações – Sugeriu Thiago – Ela deve ficar na parte de trás da montanha, o sinal seria perfeito de lá.
– Não, devemos apenas ocupar o lugar. Se o bloquearmos alguém vai ser mandado para conferir o porquê disso.
– É um plano bom, mas tem algumas falhas. Não saberemos os códigos e mesmo se soubermos – Fiz uma pequena pausa para observa-los melhor – um deles pode ser uma armadilha.
– Como assim Comandante? – Perguntou Shiro cruzando as pernas.
– Pode ser paranoia minha, mas eu colocaria alguma senha especifica que ao ser perguntada toda vez que algum soldado entrar em contato com o quartel general deve ser dita errada, caso esteja certa é um claro sinal de ataque.
– Mas Comandante – Sua expressão indicava que eles não haviam entendido nada – Não consegui entender o sentido de tudo isso, os próprios invasores poderiam falar uma senha aleatória que ainda valeria.
– A única pessoa que saberia o verdadeiro número seria o responsável pelo esquadrão, ele daria um número errado alegando que a senha era mudada constantemente, porém caso fossem invadidos ele informaria a “verdadeira senha” para alguns subordinados que revelariam para não serem mortos pelo inimigo. Esse plano tem base na lealdade da pessoa em comando e da inutilidade dos oficiais sobre ele.
Por alguns segundos eles ficaram em silencio, de vez em quando um ou dois deles abriam a boca, mas a voz não saia até que eles a fechavam novamente. Retirei o mapa de cima da mesa, peguei outro que era da região perto das fronteiras.
– Vamos nos concentrar nessa parte aqui – Circulei em vermelho um lugar perto do rio – Esse aqui é o caminho mais curto que o reforço poderia tomar, claro que vamos preencher os outros caminhos também. Vou ficar aqui – Pousei a ponta do marcador perto da montanha – onde consigo ver tudo na parte de baixo e orientar vocês. Não é nada decidido ainda, no final vamos apresentar ao Tenente comandante para fazer alguns últimos ajustes.
– Entendido comandante – Todos -.
Soltei um grande suspiro depois que todos haviam saído, levantei uma moldura revelando dois adultos e uma criança que sorriam felizes. Tentei segurar o máximo possível as lagrimas, mas elas caíram ignorando totalmente meus esforços. Cobri os olhos com a palma das mãos enquanto liberava toda a dor que tinha sido acumulada nesses últimos dois dias. Agora mais do que nunca tive que me controlar, todos já estavam tão instáveis.
(Batida na porta)
– Quem é? – Perguntei enquanto enxugava as lagrimas.
– Laura.
– Pode entrar.
Guardei a moldura enquanto secava os olhos com a mão livre, a porta sem se preocupar com os meus problemas se abriu revelando Laura que tremia, por um instante quase fechei as janelas, mas o motivo deveria ser outro já que a mesma me encarava com olhos determinados. Indiquei a cadeira para ela que não se moveu.
– Me desculpe por não ter comparecido – As palavras saíram tão baixas que tive dificuldade em escutar.
– Não foi algo tão grave assim, vamos ter outra reunião. Se for só isso…
– Espere comandante – Exclamou fechando a porta – Preciso falar com você, por favor.
Sua expressão era bastante grave, será que algo tinha acontecido nesse tempo em que eu estive fora. Indiquei novamente a cadeira para ela que dessa vez se sentou, suas mãos estavam cruzadas em seu colo.
– Se for algum problema urgente posso tentar ajudar.
Ela respirou fundo parecendo reunir forças para dizer algo muito difícil, me inclinei para frente colocando o queixo nas mãos. Como uma amiga era minha obrigação saber se ela estava bem ou não, se tinha algum problema ou não.
– Posso fazer um pedido para você? – Perguntou de um jeito totalmente apreensivo.
– Claro!
– Você poderia me escutar como uma amiga ao invés de uma superior – Não entendi o motivo, mas assenti para que ela continuasse – É que…
** 3 **
– Senhor “Luke” você poderia me informar o motivo de ter escolhido aquelas pessoas – perguntei enquanto servia chã – Não é como se eles tivessem qualquer mérito ou conquista, então por quê?
Sem responder ele tomou o chã com um rosto satisfeito, todos o achavam tão perfeito que por vezes esqueciam que ele era apenas um ser vivo, poderia errar como qualquer outro. O vapor liberado pelo chã passeava pelo seu rosto, ele tinha o costume de segurar a xicara com ambas as mãos.
– Sabe Cristina, não os chamei devido aos méritos ou a falta deles – Colocou a xicara na pequena mesa antes de cruzar as pernas e apoiar o rosto na mão – Os chamei devido a vontade deles de cumprir a missão e colher as recompensas.
Tentei adivinhar qual era o sentido daquelas palavras, mas alguém como eu que sempre havia sido somente uma única coisa na vida não conseguiria, tendo visto através de mim o seu rosto se abriu em um sorriso. Tentei o máximo possível para que o embaraço não surgisse em meu rosto devido a minha incapacidade de pensar que nem ele.
– Não se esforce tanto Cristina – senti o gosto amargo dentro da boca – logo você vai entender. Quando escolhi você de tantos para vir comigo era devido a sua eficiência, então não se preocupe tanto com os detalhes. O que você precisa saber por agora é que os dados do destino foram lançados, se vamos aproveitar o espetáculo depende somente do ódio de ambos os lados e de quão longe eles estão dispostos a ir.
Sua risada se misturou ao barulho do telefone que ele por sua vez atendeu. Não fazia tanto tempo que estávamos aqui, mas a cada dia tive que controlar minha aversão, hostilidade e desprezo por todos. Quando as explosões aconteceram foi um momento de grande alegria para mim, se não fosse pelo senhor “Luke” uma risada incontrolável teria saído fazendo todos entenderam mal. Acariciei o anel dourado em meu polegar antes de sair do meu devaneio.
– Entendo. Pode deixar comigo – Desligou o celular – Boas notícias Cristina, poderemos ir para casa mais cedo do que o planejado.
– Isso é uma ótima notícia Senhor “Luke” – Respondi usando um tom indiferente como sempre – Mas como vai ficar a invasão?
– Vou passar essa “bomba” para alguém confiável – O sorriso só havia aumentado –.
– Você não parece tão feliz assim – Murmurei para mim mesma, mas infelizmente ou felizmente ele conseguiu escutar.
– Mas é claro que não estou – Sua sobrancelha direita se ergueu – Fiz uma atuação espetacular todos esses anos só para no final a coisa ser resolvido mais rápido do que deveria, maldita seja a eficiência daquela vadia.
A imagem da pessoa em questão surgiu como um terrível pensamento antes de desaparecer, ela poderia ser extremamente insana, mas quando a “Rainha” dava uma ordem a mesma iria cumprir perfeitamente.
(Batida na porta)
Ajeitei minha postura e fui em direção a porta a abrindo só para encontrar no lado de fora uma mulher de cabelos curtos trajando uniforme militar me encarando, tive que usar todo o meu treinamento para não ser rude.
– O Tenente comandante Luke está disponível – Perguntou em um tom forte -.
– Espero um instante, vou verificar – Mostrei meu melhor sorriso antes de fechar a porta e olhar para trás e ver ele balançando a mão. Abri novamente ainda com um sorriso no rosto – Ele pode recebê-la agora, por favor entre.
– Com licença.
Deixei ela ir em direção ao dono da sala enquanto ia preparar outra xicara de chã, pela sua atitude parecia ser algo de extrema urgência ao ponto de precisar falar com o seu superior em seu momento de lazer.
– A que devo essa visita comandante?
– Me desculpe mas vou direto ao assunto, minha vice não poderá participar da operação então vou precisar pedir um dos seus para isso. Não tem ninguém tão adequado quando ela na minha divisão.
– Que hora oportuna – Falou pegando o chã que eu tinha servido para ela e tomando um pouco – Estive procurando alguém para me substituir na invasão a cidade. Devido a algumas complicações devo ficar na retaguarda. Então lhe faço essa proposta Comandante Júlia, você gostaria de ser a minha substituta?
– Tenente comandante creio que deva existir pessoas mais qualificadas que eu para essa missão, o comandante Vergo por exemplo.
Fiquei longe o suficiente para não me notarem, mas perto o suficiente para escutar a conversa claramente e pela expressão que ele fez era evidente que a sugestão do Senhor Vergo era horrível.
– Oh! Céus não – balançou sua mão – Acho que Jones serviria melhor como um subordinado do que alguém no comando, não acho que suas habilidades são escassas, mas ele não tem paciência para ser um líder. Por favor não comente o que vou dizer isso com os outros, mas acho que você seria adequado para o cargo.
– Você me valoriza demais Senhor Luke – ela passou a mão na cabeça – Não sou tão boa assim.
– Aí que você se engana – Sua expressão que sorria mudou rapidamente para um rosto sério – Não coloque palavras na minha boca senhorita, eu disse que acho você aceitável para o cargo.
Ele piscou para mim que imediatamente me dirigi para uma porta escondida atrás de uma cortina. Dentro um homem com as mãos amarradas e a boca amordaçada se deitava impotente, a pequena sala era aprova de som então não importa o quanto ele gritasse nunca alcançaria o lado de fora. O peguei pelos cabelos e o arrastei até a mesa onde ambos conversavam, ele se mexia desesperadamente tentando se soltar. A nossa querida visitante tinha uma expressão de dúvida misturada com espanto, o joguei perto dela só para me afastar logo em seguida.
– O que significa isso Tenente Comandante Luke – Sua voz era neutra – Atacar cidadãos do Império e contra a lei.
– Do Império sim – Com um rápido movimento ele acerta o chifre que se projetava da testa do homem o quebrando, logo em seguida o mesmo muda de figura completamente – Mas a boa notícia é que não temos nenhum hoje. Apenas um humano infiltrado.
– Um espião – O amargor de suas palavras era evidente – Como você conseguiu encontra-lo?
– Tenho alguns bons amigos que adoram perseguir ratos – Seus lábios se encontraram com a xicara mais uma vez -.
– Entendo. O que você vai fazer com ele?
– Não é o que eu vou fazer com ele – outra piscadela venho em minha direção, peguei uma caixa e a coloquei em cima da mesa antes de me retirar – Mas sim o que você irá fazer. Mate-o Comandante.
– Ele deve ser devidamente interrogado, não posso fazer algo assim a sangue frio, ele precisar ser julgado. Vai saber que tipo de informação ele deve ter passado ao inimigo.
– Será que não – “Luke” se levantou e se sentou perto dela – Vamos lá Júlia, deixe que esse seu lado hipócrita saia pela porta, ele não precisa nos acompanhar – Seu braço direito passou pelo pescoço dela – O que vai acontecer aqui só vai ficar entre nós, Cristina ali é de total confiança minha – Ele se aproximou do ouvido esquerdo – Sabe, também perdi meus pais para humanos, compartilho desse sofrimento que você tem segurado nesses dias, a dor de ser impotente me assombra até hoje. Por isso eu peço a você que deixe o ódio te consumir, deixe ele tomar o controle, ninguém vai sentir falta desse lixo. Já você minha querida simpatizante vai sentir a falta da sua família até o fim dos seus dias.
Não consegui entender o motivo para tanta hesitação, ela simplesmente tinha que pegar a faca e corta sua garganta ou enfiar ela em seu coração, nada muito difícil. Suas mãos tremulas abriram a caixa só para retirar dela uma faca negra tão polida que daria para ser usado como espelho. Vendo o ato o homem começa a chorar desesperadamente o que só me fez ter vontade de rir, tive que me conter.
– Muito bem! – Pude ver pelo reflexo na parede dois chifres que apesar de projetados para frente tinham uma curvatura para cima, devo estar vendo ilusões – Falta pouco para que o seu velho “eu” morra – Como se tivesse assinado um pacto com o demônio ele segura as mãos dela não a permitindo tremer mais – Pense nos gritos de tristeza das famílias, das fotos dos falecidos. O que você está fazendo não é cruel, mas a pura justiça que é por direito de todos – A faca começou a se aproximar do homem que parecia uma minhoca se contorcendo, o “Diabo” sussurrou mais uma vez – Não tenha medo Comandante, estou aqui com você. Não precisa mais aguentar esse fardo sozinha, compartilhe comigo suas boas memorias, compartilhe com ele o seu sofrimento.
– Mas…
– Por que hesita tanto – A faca estava cada vez mais perto – Se livre de uma vez por todas desse monstro que te atormenta. Esse é o seu maior teste minha querida “espada”, depois disso você só irá receber o apoio do povo, já posso escutar os gritos de alegria “Ela foi a heroína que ganhou a batalha”, “Muito obrigada por vingar o meu amado filho (a), meu amado marido”, você vai trazer tanta alegria as pessoas como nos que estão perdidas e sem rumo. A única coisa que você precisa fazer é eliminar esse homem e toda a gloria poderá ser sua – Ele largou as mãos dela só para segurar o homem pelas costas enquanto apoiava o rosto no ombro dele, seu corpo tremia violentamente, suas calças se molharam – Acabe com sua existência patética, de a ele o que todos dessa cidade não tiveram, o que as pessoas nas fotos nem sonharam em conseguir, uma doce morte rápida.
A mulher chamada Júlia não tremia mais, entendi naquele momento que toda aquela conversa era simplesmente para não deixar o peso do remorso em seus ombros, o peso de tirar uma vida sem arriscar a própria era no pior dos casos o pior dos crimes, porém para uma vítima esse era a maior das recompensas. O homem não conseguia se mover devido ao aperto forte atrás das costas, a faca já tinha passado mais da metade do caminho, o senhor “Luke” sorria de orelha a orelha. Um pouco antes de atingir a área do coração ela parou, mas ao contrário de antes ela não tremia e nem dava sinal de recuar.
– Eu sempre fui ensinada pelos meus pais que deveríamos viver em paz com os humanos – Depois de escutar isso os olhos do homem se alegraram, só para no momento seguinte ficarem vazios – Isso foi antes de velos agonizar de dor, foi antes de me sentir impotente por não poder fazer nada por eles. Agora me diga como posso viver pela filosofia que a vida todo me acompanhou sabendo que é totalmente inútil – Cada palavra, cada silaba continha toneladas de dor que escorriam pelo seu rosto – Mas não vou ser fraca que nem eles, não mais.
A faca belamente fez seu caminho através das roupas do homem indo até o seu cabo, ele por sua vez gorgolejou enquanto uma fina gota escorria pelos cantos da sua boca. Pela primeira vez ela fez algo que gostei, torceu a faca fazendo o homem dar sua última uivada de dor antes de parar de se mexer.
– Parabéns – Falou jogando o homem no chão como um boneco – Cristina traga um pouco de vinho para comemoramos a promoção da Comandante geral da missão Júlia. Você não vai se arrepender disso, tudo o que fazemos é pelo bem do Império, para que todos vivam felizes sabendo que podemos defende-los.
– Claro – A resposta foi muito fraca -.
– Não fique assim – Disse novamente se sentando perto dela, seus braços a envolveram em um abraço – Sabe quantos órfãos te agradeceram no futuro sabendo que você eliminou aqueles demônios, vou arrumar para que você receba todos os créditos devidamente, não se preocupe com nada.
Coloquei duas taças na frente de ambos e lentamente as preenche com o liquido rubro, com movimentos elegantes ele a largou e foi direto em uma das taças a pegando só para logo em seguida a cheirar – Château Mouton-Rothschild 1982, bela escolha Cristina -, nossa visitante demorou um pouco para pegar a taça. Foi uma grande pena desperdiçar tamanha qualidade em alguém como ela, mas na vida temos que fazer sacrifícios.
– Ein Prosit (Um brinde) “nova” Comandante – Ambos beberam em um só gole, aquilo me entristeceu muito, um vinho daquela iguaria deveria ser tomado devagar – Espero grandes feitos seus.
Depois de se acalmar e beber mais algumas taças ela se despede, já não parecendo tão pálida quanto antes e sem um pingo de remorso por ter matado alguém. As pessoas mudavam muito quando se falava em justiça, isso era extremamente hilário. Devido as palmas fui retirada de um agradável devaneio só para olhar “Luke” sentado de pernas cruzadas rindo enquanto mexia a taça de vinho.
– Isso foi surpreendente – Comentei enquanto me aproximava para pegar o copo sobressalente.
– Recuperei minha felicidade, pelo menos posso ir sabendo que a missão está em boas mãos. Que dia maravilhoso você não acha Tina?
– Não me chame desse jeito – Respondi pegando sua taça – Mas sim acho que o dia foi produtivo.
– Hoje foi mais que produtivo minha querida Tina – Suas mãos se levantaram – Preparei o palco e finalmente é hora de ouvir os aplausos do publico.