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Beira Mar

Beira-Mar: Capítulo 1

Beira- Mar.

Capitulo 01.

1994- Praia da Barra da Tijuca.

Izabel: Larga essa arma, Samuel, antes que você faça um besteira maior, larga.

Samuel treme, Carlos chega na hora: O que tá acontecendo aqui?

Izabel: Calma, Carlos, eu já tava resolvendo tudo, foi um mal entendido.

Samuel dispara pro alto, assustando Carlos e Izabel.

Carlos: Larga isso, Samuel.

Samuel está nervoso: Ninguém me compreende, é tudo um caos, minha vida está de cabeça pra baixo! Eu preciso desse dinheiro!

Izabel: Nós vamos te ajudar, juramos, agora larga isso por favor.

Samuel dá passos pra trás com o dinheiro: Se afastem, pra trás, eu não quero machucar ninguém, eu não quero abusar desse poder que eu tenho, se afastem!

Izabel se levanta: Me dá esse dinheiro, Samuel, é melhor pra você.

Samuel está suando frio: SE AFASTA, AGORA!

Algumas horas antes…

Dia quente e ensolarado, Março de 1994, as águas de março estão fechando o verão, como bem diz a musica, Izabel caminha com os dois filhos pela areia quente, está rumo ao trabalho, no quiosque, mas apressada.

Izabel: Vamos, acordem, parecem mortos vivos!

Artur, zonzo: Eu ainda estou com sono, você faz a gente acordar cedo sem a gente estudar de manhã, isso é uma injustiça.

André: É verdade, você podia deixar a gente em casa e vir trabalhar.

Izabel: Pro meu bem e pro dos móveis eu não faço isso. Esqueceram da tv novinha em que derrubaram refrigerante? Eu ainda estou pagando ela.

André: A culpa foi do copo que era de um vidrozinho ordinário.

Izabel: Do vidro? Sei.

Artur: Olha o Carlos já tá te chamando apressado!

André: Dá pra ver a barriga dele daqui!

Izabel: Meu filho, respeita o meu patrão, já pensou ele ouvir você falando isso, que maravilha seria, eu demitida e você tendo que pedir esmola na rua- Ela ri.

André: Eu?

Artur: Ah ele não te demite não, ele já flagrou o André mexendo na caixa de doces e não fez nada, parece até que te ama.

Izabel para: Que ideia é essa? Ele é meu patrão, e é casado, com a Marta que vocês conhecem bem.

André: A bruxa.

Izabel: Acho que eu vou ter que cortar essa sua língua venenosa, olha os dois podem se jogar no mar, brincar com a Sofia, que eu vou trabalhar.

Lá em cima, no quiosque estão Carlos, Samuel e Marta Maria.

Marta: Esse quadro tá tortissimo!

Carlos: É verdade, mais pra esquerda, Samuel.

Samuel: Ah gente, eu quero descer desse banquinho, to há meia-hora aqui e vocês não se decidem, a escravidão já acabou faz séculos.

Marta: Cale a boca, você ganha pra isso.

Carlos: Marta! Deixa que dos meus empregados cuido eu.

Izabel chega: Bom dia!

Carlos: Graças a Deus, você mulher ainda é mais habilidosa que o Sam.

Izabel: Qual o problema?

Carlos: Acontece que eu ganhei um quadro de um deputado por “ Melhor Atendimento de Quiosque”.

Izabel: Chique!

Samuel: É, mas acontece que quem atende os clientes somos nós, eu e a Izabel, não você, logo o prêmio é nosso.

Carlos: E de quem é o quiosque?

Samuel: Ah…É seu.

Carlos: Viu, eu sempre tenho razão. Bel dá pra ajeitar esse quadro? Ótimo, Samuel você vem comigo, nós vamos até o lugar onde o caminhão do lixo passa jogar essas caixas fora.

Samuel: Ai, tudo eu, tudo eu.

Carlos: Para de reclamar, você tem plena disposição, fez 20 anos anteontem.

Samuel: Então, eu ainda estou na minha licença de aniversário.

Carlos: Para de falar bobagem e vem me ajudar.

Carlos e Samuel saem com as caixas.

Perto dali, na água, brincam Artur, André e a irmã de Samuel, Sofia.

Artur: Sofia, aproveitando que o André foi nadar pra lá eu queria te perguntar uma coisa.

Sofia: Pode perguntar.

Artur: Você…Você gosta de mim?

Sofia: Que bobagem, gosto, gosto sim.

Artur: Mas de uma…uma maneira especial?

Sofia: Oi? Eu não to entendendo, especial como?

André atrapalha a conversa e joga água nos dois: Vão ficar jogando papo furado? Vamos nadar, eu achei mais uma daquelas conchinhas especiais.

Sofia: Ah eu sei, eu fiz uma colar com essas conchinhas!

Artur: Eu também, tá na bolsa da mamãe, fiz um pra mim e um pro André, ele se atrapalhou na hora de fazer o dele.

André: Foi um acidente com a cola!

No quiosque, Marta fica observando Izabel, se aproxima de onde ela está, o quiosque ainda está fechado pois é cedo.

Marta: Acha que eu não percebo?

Izabel: Falou comigo, dona Marta?

Marta: Não se faz de tonta, você fica jogando charme pro meu marido!

Izabel: Como é que é?

Um pouco longe dali.

Samuel: Ai, que caixas pesadas!

Carlos: Você reclama demais, tem que aprender a ficar quieto.

Samuel: Bom, eu bem queria ficar quieto mas eu tenho mesmo é que falar com você, Carlos.

Carlos: Fale.

Samuel: Eu preciso de 500 reais emprestado.

Carlos para e encara o funcionário: Com que é que você tá metido?

Samuel: Eu não estou metido com nada, é que…a Sofia, você sabe, cheia de sonhos e ilusões, resolveu fazer um…um curso de balé e eu preciso pagar a taxa de entrada, é isso, tudo pra ver minha irmãzinha feliz.

Carlos: Você realmente não sabe mentir, fale a verdade, quem sabe eu te empresto!

Samuel: Essa é a verdade, eu não tenho porque mentir- Ele abaixa a cabeça.

Carlos: Acontece que essa não é a primeira vez que você me pede dinheiro, Samuel, olha se for algo urgente eu posso te emprestar, mas só se você me disser o porque.

Samuel: Quer saber, eu não estaria pedindo dinheiro se você me pagasse um salário digno!

Carlos larga as caixas: Eu não estou acreditando nisso, você tá reclamando do salário que eu te dou? Seu ambicioso! O salário é mais do que o suficiente para sustentar você e sua irmã! Você realmente não dá valor ao que ganha!

Samuel: Você nunca esteve no meu lugar, por isso não sabe o que eu estou passando, falar é facil mas viver não!

Carlos: Se engana você, eu já estive em várias condições, você não sabe de nada, não me deu fundamentos pra te dar um empréstimo!

Samuel: Você é um muquirana isso sim.

Carlos dá uma bofetada em Samuel, que cai com as caixas na rua.

Carlos: Ingrato, esse é seu sobrenome! Eu poderia te demitir se eu quisesse, mas eu tenho pena, pena da Sofia que é uma boa menina e não merece o irmão que tem!

Samuel se levanta: Eu não preciso de ninguém com pena de mim e da minha irmã, eu vou conseguir um emprego melhor e com um salário digno!

Ele sai correndo de volta para a praia, Carlos pega as caixas e continua seu trajeto, zangado.

Samuel é abordado na rua.

Raul: E aí, Samuel, sabe que dia é hoje? Dia de você me pagar o que me deve, e aí, cadê a grana?

Samuel: Olha eu sei que é difícil entender, você é um homem rígido mas…eu não tenho o dinheiro pra te pagar hoje, no máximo até semana que vem eu pago tudo, juro- Ele vai saindo.

Raul segura no braço de Samuel: Ninguém brinca comigo, tá ouvindo? Eu quero esse dinheiro hoje, já era pra você ter pago semana passada, eu não aceito atrazos, se você não pagar o que me deve hoje as consequências vão ser ruins, eu pego a sua irmã e você.

Samuel: Por favor não faz nada com a minha irmã, eu não tenho como te pagar mas assim que eu conseguir eu…

Raul: Não vem com esse papo não ,eu quero hoje ou eu acabo com os dois, eu sei muito bem que você trabalha naquele quiosque famoso, arruma um jeito! Essa é a minha palavra final! E você sabe como eu não brinco com as coisas….

Samuel: Mas…

Raul: Daqui a meia hora eu venho buscar esse dinheiro, antes do quiosque abrir- Ele saca uma arma do bolso- Isso é pra se você precisar tomar alguma medida extrema, sorte sua que eu ainda não te matei, eu estou sendo legal demais com você, Samuel.

Samuel pega a arma, está desesperado pois não tem como pagar o agiota, mas tem que dar um jeito ou vai ser pior, ele olha fixamente para aquele instrumento que pode mudar sua vida…

Fim do capitulo 1.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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