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Batalha Espiritual

Batalha Espiritual – Capítulo 8

Enigma

– Ora, ora, ora, se não é a minha indigente, asquerosa e altiva vadia… – Draco surpreendeu-se em encontrar Serena após tempos.

– De todos os insultos, o pior é o “minha”. – nem aquela situação permitia que a jovem pedisse misericórdia àquele que considerava um trapaceiro.

– Vejo que não perdeste teu senso de humor! – uma dama, arrumada e com o rosto pintado adentrou o espaço.

– Francine! Minha irmã! – Serena foi até ela.

– Não tenho irmã, não toque em mim, plebeia eivada! – foi para trás enojada e chamou anjos caídos para “proteger-se”.

– Como podes dizer uma coisa dessas?! Era do teu conhecimento que eu estava confinada, tu não foste visitar-me e és tu quem sente nojo?!

– Ela estava atarefada com assuntos reais, não teve culpa. – Lucian intrometeu-se na discussão de família. – Enfim, por que a trouxeram aqui? – perguntou aos guardas como se já não soubesse.

– Ela está sendo acusada de tentativa de assassinato, de latrocínio e é uma foragida da justiça. – um deles respondeu.

– E por que está aqui? Deveria estar sendo executada.

– Bem…

– Não me venha com desculpas, ande, castigue-a e execute-a da forma mais cruel!

– Nós não temos leis com pena de morte, minha majestade…

– E daí? Ela não é do meu reino, é do reino de Micael. Deve seguir as regras do seu lugar de origem, já que não é submissa a mim.

– Correto… De início, traremos os carrascos para açoitarem-na… – pegou a jovem pelo braço e retirou-a do palácio.

– Sim. Seja delicado, para que ela morra apenas depois.

– Farei como me disseste.

A execução seria pública. Todos veriam a flagelações as quais ela seria submetida. Despiram-na, deixando-a seminua com poucos panos encardidos, cobrindo somente seus seios e suas partes baixas, para ser humilhada perante o povo. A primeira tortura fora como dito: o açoite, que possuía múltiplas fitas de couro com pequenas bolas de chumbo e pedaços de ossos, para fazer com que agonizasse ainda mais.

Começou. Nos primeiros golpes, a pele de suas costas foi cortada. Nos segundos, cortou-se mais profundamente o tecido subcutâneo, produzindo gotejamento de sangue. Nos terceiros, finalmente jorros de sangue das veias dos músculos… E o ato repetiu-se inúmeras vezes… O corpo frágil da dama fora bruscamente ferido. Estava ensanguentada.

Havia um rapaz tentando entrar na circunferência de pessoas ali. Alguns tentavam impedi-lo, mas ele persistiu:

– Soltem-me! – ele utilizou força para alcançar seu objetivo. Conseguiu, estava no meio, bem perto da condenada que ainda era fustigada. – Parem! – disse aos carrascos, com toda a autoridade e foi obedecido… O tal rapaz, obviamente, era Micael. Ele desabou ao lado de sua amada, e tentava desamarrá-la. – Por favor, permita que eu fique em seu lugar, Serena!

– Não, senhor… Não posso aceitar uma coisa dessas… Já fez demais… – explicou já solta.

– Não existe “demais” para mim! Eu te amo tanto, eu te amo tanto… Permita que eu te mostre meu amor! – colocou o anel novamente no dedo da garota.

–Não sou benemerente…

– É por isso que chamarei a isto de graça. Vamos, Serena… Aceite… Não farei somente por ti, mas também pelo teu povo…

– Minha majestade… – parecia que iria morrer naquele instante.

– Serena! És minha noiva, estou apaixonado, não podes lutar contra isso!

– É loucura, meu senhor… Isso não é justo…

– O amor e a graça geralmente não são justos!… Querida… Queres que eu te salve? – Micael não se importava de manchar seu corpo com o sangue dela, tocava-a sem hesitar.

– Eu não devo aceitar…

– Queres ou não?! – mirava diretamente seu rosto e sua voz ficou pouco mais rígida que o normal.

– Sim… Por favor… Eu sei que não suportarei… Mas sei que tu podes me tirar daqui…

– Tanto posso que é exatamente o que farei. – a potestade deu-lhe um beijo lento na boca.

Quanto mais ele movimentava os lábios, mais próximo da moça ficava. Era um beijo intenso… Uma demonstração de paixão e afeto vista por todos que ali estavam. O beijo fez com que Serena se esquecesse desde a situação até os ferimentos em sua carne. O rosto de Micael, assim como o dela, estava corado. Não por vergonha, mas por felicidade. Com os olhos fechados, foi a melhor sensação que ambos tiveram.

– Nada que tu faças permitirá que eu te ame mais e nada que tu faças permitirá que eu te ame menos. Porque o que sinto por ti é o suprassumo… – a deidade afastou-se vagarosamente e sussurrou.

Serena sabia que isso não significava que ela poderia pecar sempre. Aquela frase lhe serviu como um estímulo a não desistir de fazer o que era certo perante seu Deus.

Ao abrir seus olhos, a jovem percebeu que, assim como no cárcere, o contato labial de seu mestre fez com que seus machucados sumissem… Porém, ao olhar para o próprio, percebeu que todas as suas feridas haviam sido transferidas para ele.

– Não! Não era esse o meu querer!

– Sim, era. Nem que o beije mil vezes novamente, poderá tomar o seu lugar, porque ele mesmo não quer que tu o faças. Por isso, nada fará com que tu retornes ao teu lugar de prisioneira. Não tente mais intrometer-se, vadia. Ele é um homem de palavra, nós fizemos um acordo. – Lucian veio andando com toda pompa que poderia mostrar e devolveu o colar que tomara no começo de todo esse conflito. – Carrascos, açoitem-no!

– Não o faça sofrer mais, já cumpri o número de golpes! – a dama não queria aprovar aquela pena.

– Eu já disse para ficar quieta! E na verdade não! Ainda faltam! Até porque, Micael disse que morreria também pelo teu povo. Andem logo, carrascos, mutilem-no! – Draco bradou impiedosamente.

– Senhor, preciso ser delicado com ele para que não morra agora também? – um dos carrascos, questionou.

– Não há necessidade. O Altíssimo é forte… Usem toda a força e batam vez após outra: ombro, costas e pernas. Dilacerem-no como se estivessem dilacerando alguém que a todo tipo de atrocidade cometeu. – o arcanjo foi direcionando-se para ter um bom lugar no espetáculo e puxou Serena consigo.

Assim foi feito. O criador do mundo tentava conter-se a cada nova ferida aberta que surgia além das que já obtivera pelo beijo, mas, algumas vezes, era inevitável que berrasse de aflição. Sua mente girava em uma vertigem de náusea e sentia calafrios lhe correrem ao longo das costas. Se não estivesse preso pelos pulsos, certamente cairia na poça de sangue que ele formara.

Comentários maldosos e chacota sobre o inocente que fora tomado como culpado eram as coisas que mais se ouviam naquele ambiente.

– És rei, portanto fizemos uma coroa especial para ti! – um dos que assistiam zombou e colocou sobre a sua cabeça uma coroa de espinhos após muito ser surrado.

Os espinhos usados para compor a coroa eram agudos, curvos e longos. Quando colocados na cabeça, esses espinhos atingiram ramos de nervos que provocam terríveis dores uma vez que são irritados e também atingiram o couro cabeludo, que, naturalmente, sangrou de jeito excessivo… Colocaram um manto de cor púrpura em suas costas. Ridicularizaram a sua onisciência, dizendo “Profetiza-nos: Quem foi que te bateu?”.

Com uma cruz de uns 50 quilos nas costas, teve que caminhar cerca de 600 metros, descalço, em terreno irregular, cheio de pedregulhos… Soldados (humanos, assim como os carrascos) foram designados para cumprir tal trabalho atroz de puxá-lo com cordas pelo caminho.

Micael, com o resto de vigor humano que lhe sobrara, arrastava um pé após o outro e frequentemente despencava sobre os joelhos. Tinha seus ombros cobertos de chagas… Ao cair por terra, a viga lhe escapa, escorrega e lhe esfola o dorso.

Os determinados soldados, já entediados com as quedas, escolheram um homem qualquer para ajudá-lo a se locomover com a cruz.

– Por que estás chorando? Tu foste quem o matou. É tudo por tua causa, sua homicida! Pare fazer papel de pobrezinha que sofre opressão! – Lucian queixou-se grosseiramente com Serena. – Ainda assim, não creio que ele vá tão longe por alguém como tu… Não existe razão para isso… É simplesmente loucura. – voltou-se para observar o suplício do que uma fez fora o alvo de sua adoração.

A moça entendeu que o amor faz coisas que a obrigação não é e nunca será capaz. E, apesar de todas as recordações defeituosas de seus erros que esmagavam seu coração naquele instante, também compreendeu que a atitude de Micael é a prova mais singela de amor… Mesmo que esteja além de qualquer lucidez.

“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores.”
Romanos 5:8

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