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Batalha Espiritual

Batalha Espiritual – Capítulo 2

Gênese

Por ter ido contra as leis da sociedade, Lucian deveria morrer. Mas não era o momento certo… Micael sabia que se o destruísse no exato momento em que a subversão fora semeada na sociedade celestial, a ideia de que era um tirano tornar-se-ia uma suspeita entre os anjos que não se rebelaram… “Será que Lucian tinha mesmo razão?” seria o pensamento deles. E serviriam a seu senhor mais por medo do que por amor.

Pouco antes da queda do regente, Micael havia feito um projeto: Criar um novo reino, com criaturas feitas à sua imagem e semelhança. Assim o fez. Com apenas o som de sua voz, luzeiros acenderam, montanhas moveram, mares separaram, plantas e animais nasceram. Tudo era muito lindo. O próprio senhor desceu até sua obra e, utilizando suas próprias mãos, criou duas donzelas, para governar sobre este o reino: Serena e Francine. Eram irmãs, mas com personalidades muito divergentes. Micael as amava incondicionalmente, assim como amava todo ser que dera início.

Elas moravam num só castelo, situado em um amplo jardim. A deidade estava sempre à disposição delas… Afinal, era o dono do tempo.

Desde o começo, fácil era de se notar o contraste das duas damas. Serena mostrava grande interesse nas obras de Micael. Já Francine, nem tanto assim, apesar de permanecer fiel ao que lhe era dito.

No dia em que Lucian fora derrubado com seus anjos, caiu fatalmente neste novo reino criado. De todas as artes que a potestade havia dado existência, o querubim caiu justamente naquela…

Um dia feliz e comum nas tais terras… Micael acabara de presentear as belas moças com dois cordões com uma joia. Um para cada. Declarou explicitamente:

– Isto não vos pertence. É meu. Contudo, usem-nas, para que esteja claro que pertencem a mim. Isso é… Se for da vontade de vós pertencerdes a mim. Não como propriedade… Mas como minhas filhas amadas. O que digo é: Não tirem e tampouco entreguem estes adornos a ninguém. Do contrário… Vocês sofrerão. Conhecem as leis universais… – o rosto geralmente ameno, tornou-se num semblante de seriedade.

Ele as apreciava igualmente, porém, parecia ter mais afinidade com Serena, que foi a que imediatamente respondeu já colocando o colar em seu pescoço:

– Sim! Farei como me disseste!

Francine recuou um pouco… Mas logo cedeu à entusiasmada iniciativa de sua irmã. Ela sabia que era uma ótima proposta de Micael, entretanto, não tinha a mesma perspectiva de Serena, que via cada detalhe da realidade com a grandeza devida, pois para ela, o pequeno comparado ao nada é extraordinário.

Após o ocorrido, Francine quis sair um pouco do imenso castelo. Caminhou sozinha pelas trilhas do jardim. Seguiu a uma grande pedra, atraída pela fumaça que exalava.

Acabou por se encontrar numa anormal e espaçosa caverna escura. A grama e as árvores próximas do local estavam queimadas e o ar espiritual era pesado. Notou que havia um tumulto lá dentro. Achou tudo muito incomum. Afinal, nunca soubera que existia uma população por ali. O máximo que acontecia eram anjos visitando-a e à sua irmã também. Ouviu louvores desconhecidos e muitos “homens” de costas para ela. Aparentava ser um motim. Quando se aproximou para enxergar melhor a situação, todos ali se curvaram perante a algo/alguém que ela não sabia o que/quem.

No susto, Francine sentiu-se intimidada e imitou os presentes. Com o rosto em terra, olhou para cima e viu um belo ser, enormemente alado, com uma espada na mão e um capuz cobrindo parte de seu rosto, porém, era de se notar sua beleza. Parecia ter poder suficiente para fazer com que toda e qualquer nação existente se prostrasse e o adorasse. Ficou impressionada com tal formosura. Os “homens”, na verdade, eram os anjos caídos. Eles escondiam suas asas, unindo-as às costas, como se não fossem dignos o suficiente para exibi-las, assim como fazia o arcanjo em seu meio… Lucian, seu líder. Usavam roupas de couraças de animais que haviam sacrificado ao regente, estavam armados e também seguravam grandes tochas.

Lucian notou que havia conseguido atrair a atenção de uma das criações divinas que moravam ali… Como astutamente planejara. Deslocou-se até ela, e segurando-lhe o rosto, perguntou:

– Quem és tu e por que interrompes o culto em minha exaltação?

– Francine… Não o fiz com estas intenções, eu apenas trilhava por aqui… Não o sabia, meu senhor… Avistei a fumaça de longe… Caso fosse um incêndio, eu recorreria ao meu amo… – ela disse, temendo o que viesse a se passar.

– És tu uma das servas de Micael?

– Sim.

Ao ouvir a resposta, o anjo riu-se, como ar superior:

– Poupá-la-ei, pois não sabes mesmo o que fazes na vida!

– Como?…

– Serves a um usurpador.

– Tu és quem não sabe o que fazes! Micael é um bom mestre, não nos castiga e não nos proíbe de nada. O sirvo porque tenho prazer nisso.

– Até onde sei, tu também estás sujeita às leis absolutistas e truculentas que ele impõe. Estou certo ou errado?

– Não são truculentas…

– Então por que ele te proibiria de algo que quer fazer?

Não houve resposta de Francine.

– Ele não quer que saibas, – prosseguiu o arcanjo. – mas tu não passas de uma escrava em suas mãos! Eu libertei um terço do meu povo do governo intransigente dele. Agora eles são gratos a mim, por eu ter-lhes aberto os olhos! – os aderentes comemoraram quando proferiu estas palavras.

Fazendo apenas um gesto com a mão, o regente fez com que todos se calassem, para que a conversa seguisse.

– Quem és tu?… – a dama questionou.

– Apenas um revolucionário. No momento, chamo-me Draco. Não desejo ser lembrado pelo nome de prisioneiro.

– O que Micael fez convosco?

– Ele obrigava-nos a cumprir leis sem podermos sequer queixar-nos. Fui EU quem buscou abrir a mente de todos para que aprendessem a não ficar calados em meio a injúrias! Micael nos expulsou por não pensarmos da mesma forma que os dominados por ele. Viemos parar aqui. E tu tens sorte, senhorita. Este lugar servirá de habitação para nosso império inovador!

– Tu… Pensas que ele faz o mesmo comigo? Pensas que Micael me manipula?

– Não o penso, Francine. Tenho plena certeza. Não vê como meus companheiros agradaram-se dos resultados de nossa sedição?

– Podes… Podes libertar a mim e a minha irmã?

– Tudo o que preciso é desta joia para confirmação de nosso pacto. – Lucian apontou para o pescoço da moça com a espada, mostrando-lhe o colar.

“Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.”

Gênesis 3:4-5

2 comentários sobre “Batalha Espiritual – Capítulo 2

  • Gostei bastante, ou melhor. Estou gostando! a história é muito boa, e você escreve super bem.
    Só uma coisa que notei: “– Ele não quer que saibas, – prosseguiu o arcanjo”. Lucian era um querubim, certo? Ao cair ele se tornou Arcanjo? Talvez tenha sido só um erro, ou talvez seja algo que eu irei descobrir no decorrer da historia.
    De qualquer forma, esta de parabéns!

    • Verdade, foi um equívoco! Micael é que teria a forma de arcanjo. Muito obrigada por sinalizar, Alex <3 "Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó QUERUBIM cobridor, do meio das pedras afogueadas." Ezequiel 28:16
      Você está certíssimo. Muito obrigada mesmo por deixar seu comentário aqui, eu não esperava recebê-lo! Fico muito feliz mesmo que esteja gostando, até porque você é alguém cujo trabalho eu admiro!

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