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Batalha Espiritual

Batalha Espiritual – Capítulo 18

Propósito

Todos pareciam estar se divertindo no acampamento… Exceto Serena, que, com o livro nas mãos, foi para dentro da tenda, com o intuito de conversar com Micael, após essa sugestão ser dada por Ophir, percebendo a aflição de sua amiga.

Ela olhava para baixo. Havia vários anjos ao seu redor, mas a princesa não era capaz de vê-los. A jovem sentia-se solitária. Apesar do sol estampado nos céus, ela sentia densas trevas a cobrirem, acompanhadas de um enorme vazio. Ela queria orar, mas as frases não saíam. Ela cambaleava sob o peso da dificuldade que era dirigir a palavra ao seu amado… Sentia vergonha, mas arriscou, por saber que era o momento em que mais necessitava dele.

– Não sei por onde começar… Bem… Acho que isso já é um começo. Eu não sei o que estou fazendo e não sei mais o que deveria fazer. Eu sinto que o senhor está me ouvindo. Sei que não sou a melhor noiva do mundo… Mas eu quero ser. Porque é o que você merece. Todavia… Nem isso eu consigo sozinha. Tu nunca te cansas de ouvir meus arrependimentos… Obrigada por isso. Dói em mim saber que te faço sofrer… Porém… De que valem as minhas lutas se eu não te servir? Tu sempre batalhou por mim. Eu não sei como vencer. A minha existência é como um milímetro de um segundo. Até hoje eu não sei o que vistes de bom em mim! Não há nada. Eu guerreei tanto para te ter ao meu lado. O que deu em mim para fraquejar logo agora? Eu sei que o mundo está acabando. Mas o que eu faço em relação a isso? Eu me envolvo com esse local impuro, que está prestes a ser destruído, ao invés de te buscar e ter esperança! Prendo-me às distrações do inimigo, mesmo que saiba que isso não vai me levar a lugar nenhum. Tenho ciência de que não devo acumular tesouros sobre essa terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões podem roubá-los. É óbvio que há um tesouro muito maior no término da jornada dessa vida… E ele é do meu viver. Você é esse tesouro. É o motivo pelo qual eu vivo. E, como tu disseste… Onde está o meu tesouro, está o meu coração. Por isso… Eu me sinto segura em saber disso agora. O meu maior desejo é que sejas meu, e eu seja tua. Para sempre. Eu peço que te levantes e faça comigo uma nova aliança… Que julgue minha causa, porque careço do teu favor. Porque… Não importa o que seja preciso transpor para chegar até ti… Rios, vales ou montes… Contigo, eles serão apenas pó… Por favor, me dê ouvidos… Em teu nome, amém.

Ainda ajoelhada, em posição de submissão, ela finalmente abriu os olhos e notou que um papel acabara de sair da obra que segurava… Não era uma folha solta, mas um bilhete que descia da lombada do livro.

” Estando em mim, estás segura. Ninguém a toca. Se fores aonde eu indicar, nunca estará perdido. Todas as respostas que necessárias estão escritas aqui, basta procurar. Leia sempre. Apesar das citações serem as mesmas, eternamente poderás aprender algo novo. Este não é um livro qualquer. E, Serena, precisas assimilar: Eu te criei para te dar amor. Tu nasceste para me adorar. Não seremos felizes com a ausência um do outro. Mas saiba que sempre estamos juntos, por mais que às vezes você não sinta. Se achares que está sozinha e se aparecerem espinhos no caminho, eu te levarei em meus braços. Eu te amo intensamente. Releia isso sempre que precisar, porque meus sentimentos por ti não mudam nunca. E nenhuma dessas informações deixam de ser verdade.

Do ser que certamente mais te ama em todo o Universo, Micael.”

– O que fazer, além de sorrir? – abraçou a carta. – Eu também te amo. – ela sussurrou.

Serena sentia que não havia mais tempo. Sabia que o futuro seria difícil, mas agora ela tinha em quem se apoiar. Passou o resto do dia lendo e orando. Aquela tarde foi extremamente vital para o fortalecimento da sua fé e para a coragem de tomar a seguinte iniciativa perante os acampantes:

– Eu faço a seguinte proposta a cada um aqui presente: À meia-noite, estaremos acordados, falando com Micael, rogando pela chuva serôdia.

– Chuva? – um homem questionou.

– É no sentido figurado. A chuva temporã seria aquela que cai no tempo da semeadora. Ela é crucial para que a semente possa germinar. Já a serôdia, amadurece o grão e o prepara para ceifa. Não é novidade alguma dizer que estamos chegando perto do conflito final e das tribulações… Então eu proponho que, hoje, todos nós, no nosso íntimo, reunamo-nos ao redor da fogueira para pedir forças para terminar essa missão. O crescimento da congregação tem sido lento, comparando ao que podemos fazer quando temos um rei como o nosso. E, apenas para lembrar: O comparecimento nunca é obrigatório… Venha quem quiser.

Alguns comentários começaram a ser feitos. Poucos eram positivos. A maior queixa era o horário selecionado pela líder. Você não acha que é um pouco egoísta, depois de tudo que Micael fez, eles recusarem deixar um pouco a zona de conforto para fazer esse pequeno sacrifício, que, vindouramente, seria de uma influência absurda?

Quando estamos apegados ao mundo, rejeitar as coisas do Céu não parece ser tão incomum. Mas, depois de todo o flagelo suportado pelo Altíssimo simplesmente para que você tenha a oportunidade de viver, dizer “Não”, numa situação como aquela, em que os povos estavam destruindo uns aos outros gradativamente, é um pouco irracional, não acha? Serena não teria sugerido isso, se não pensasse que era importante.

A princesa havia escolhido aquele horário para ver quem apareceria, mesmo cansado. Quem estaria disposto a fazer aquele minúscula, porém franca, abnegação.

O momento sugerido chegou. Serena, que fazia um passeio noturno pela floresta, a fim de apreciar a natureza, voltou às pressas para ver quem estava do lado de fora da sua barraca, preparado para passar um tempo implorando… Giana, e mais umas dezesseis pessoas. Damián dormitava no ombro de Cedric dormitavam e Maitane cutucava Arlet, mas os quatro estavam presentes. Para surpresa e alegria deles, Ophir não havia ido embora. Resolvera ficar, por supor que seria bem-vindo.

Serena fez um pequeno esforço para não sentir a decepção tomar seu coração naquele instante. Mas ela tentou ver o lado positivo: Ao menos alguém apareceu. Não era novidade para ela que muitos deixariam de comparecer. Na verdade, vieram mais do que a dama esperava. O número de fiéis parecia reduzido. Ela sabia que alguns não apareceriam por simplesmente não poderem… Porém, a maioria apenas estava cansada.

Seu interior sabia que os seguidores de Micael seriam poucos para suportarem tamanha desgraça da profecia. Mas ela também sabia que os que perseverassem seriam os guerreiros mais fortes e respeitados, sem sequer tocar em armas, porque eles tinham uma defesa imbatível: o rei. Os que ali estavam, segurando suas mãos, oraram por um longo período, todos em silêncio. Mostrando reverência e tendo compaixão dos que não quiseram se apresentar, mesmo depois de avisos.

Três semanas depois do ocorrido, todos os adeptos de volta à cidade. Muitas gentes, no centro, cantando, aplaudindo e louvando o nome de Micael com adufes, harpas e flautas. Eram muitas pessoas. O evangelho do reino estava sendo pregado de uma forma terrivelmente maravilhosa. Em pouco tempo, alcançariam todos os cantos do mundo.

Serena rodopiava alegremente e, vez ou outra, segurava nas mãos de alguém e cantava junto. Era evidente em seus olhos o amor por cada um deles. O sorriso da donzela era largo e belo. Micael olhava tudo aquilo enamoradamente lá de cima e sorria. Para ele, sua amada era realmente a mais linda de todas. Seu desejo de estar junto a ela crescia a cada segundo, era uma dor tremenda. Porém, ele não focava nisso. Apenas prestava atenção na voz melodiosa de sua querida noiva e dos seus honestos fiéis:

“O sozinho e ferido, cansado e faminto que estão no escuro

Em terras longínquas e mares distantes, a luz ressurgirá

Pois Ele é a voz que fala ao coração

Sobre esperança e um futuro além do que se pode ver

E o Reino vem aos que esperam o Desejado das nações

Em Seu nome a terra treme

O reino vem

O exaltado e rico, arrogante e orgulhoso que estão no escuro

Em mansões construídas no abuso do pobre, a luz ressurgirá

Pois Ele é a voz que fala ao coração

Sobre esperança e juízo além do que se pode ver

E o Reino vem aos que não esperam o Desejado das nações

Em Seu nome o inferno treme

O reino vem

Pois Ele é a voz que fala ao coração

Sobre esperança e um futuro além do que se pode ver

E o Reino vem aos que esperam o Desejado das nações

Em Seu nome a terra treme

O reino vem”

Lucian, que ainda vivia, escondido, em seu palácio, sentia uma dor de cabeça horrenda por ouvir aquela canção. A vontade que tinha era ordenar que todos os camponeses fossem jogados no fosso do castelo, mas o Altíssimo não permitiria. Então ele se contorcia de ódio e repulsa. A sua mente não conseguia parar de articular planos malignos contra eles. Era o seu único objetivo. E aquela música o fazia ter cada vez mais rancor dos seres humanos. Ele já não aturava mais. Estava na hora de dar um fim naquilo e naqueles.

“Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”
Apocalipse 3:11

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