Batalha Espiritual – Capítulo 14
Sardes
Naquele tempo, os verdadeiros adeptos reuniram-se e construíram um templo no topo de uma montanha. Isso também fazia com que se sentissem seguros, porque após um mês, nossa princesa conseguira passar por cima de toda aquela situação caótica. Depois de muitas discussões com os falsos líderes religiosos e tempos de trevas morais, ela conseguiu iluminar a mente de parte da população. O mundo tinha a oportunidade de conhecer as verdades registradas no livro por inteiro e a perseguição fora cessada. Mas o lado bom da história foi curto. Todos estavam mais preocupados com a luta pelo poder político do que com qualquer outra coisa. O relacionamento íntimo que o criador gostava não estava sendo investido. Eles estavam no começo de uma adoração ao seu rei, que mais parecia feita por máquinas, quando uma aparição extremamente peculiar ocorreu:
– Micael?! – um dos que cantava exclamou. O toque dos instrumentos foi interrompido. A potestade foi andando lentamente em direção à sua noiva, que estava à frente, e os presentes, calados, observavam.
– Queres que saiamos? – uma mulher perguntou, supondo que o casal quisesse privacidade.
– Ah… Sim, por favor. – ele não parava de encarar sua amada sem fazer expressão alguma. Estava intensamente sério.
– Logo o local ficou vazio. E a moça, apressadamente, quis saber: – O que fazes aqui, sendo que há semanas não apareces?…
– Sabes mui bem que só por não me ver, não significa que não esteja do teu lado.
– Sim… Todavia, por que aparecer agora?
– Não queres minha presença física?
– Na verdade, quero… Mas já havia me acostumado com a distância…
– Não há distância! Não tens fé em mim?… ele olha a garota, que estava muito apática. Percebes, Serena?
– O que? – As coisas entre nós não são mais as mesmas. Teus sentimentos… Não são. Mudaste novamente. Tu não sentes mais aquele antigo calor no coração… Estás se perdendo.
– Não entendo o que procuras me dizer. Ainda te amo! – Sim, sei que ama. Porém, tens confundido alguns conceitos… – chegou perto de seu ouvido e sussurrou: – Temer-me, não é o mesmo que ter medo de mim. – as pernas da garota tremiam. Fazia tempo que ela venerava a seu noivo de maneira fria e formal. Pareciam até negócios. Recebendo salvação em troca de adoração… Mas não é assim que funciona. Aquela antiga paixão parecia ter sido apagada.
– Orgulho-me de toda reforma que executara… Porém, atualmente, dizem por aí que suas obras são grandes, mas sei que estás morta por dentro… Se cantares sem amor, será um desperdício de respiração. Trarás um barulho qualquer, não uma mensagem. Se convenceres uma multidão sem ter amor, cada palavra dita sairá da tua boca com sabor amargo. Se doas ao necessitado sem ser por amor, quem é o pobre? – aquele olhar sem brilho de Serena era como um punhal cravado em seu peito.
A dama, ao ouvir as palavras da deidade, notou que estava fazendo tudo errado. Servi-lo tornara-se uma coisa tão corriqueira… Já não era como deveria. Aquele convívio estava abatido.
– Senhor… Eu quero mudar… Dê-me capacidade! Desculpe… Novamente… Cansei de das tantas vezes que disse essa mesma enfadonha palavra! Não permita que eu me envergonhe… Viver sem ti sequer vale a pena… Deixe minha vida ser a prova do seu amor… Deixe meu amor parecer contigo! Eu sei que tens amor por mim, também tenho por ti! E te garanto que é grande!
– O de quem é maior? – ele tocou a ponta do nariz dela com o indicador e tendo um pequeno sorriso.
– Certamente te capacitarei. Obrigado por me ouvir.
– Sou quem deve agradecer… Obrigada por me dar outra chance… Eu não aguentaria perder a oportunidade de casarmos…
– Eu não desfaria meu noivado contigo! Realmente pensaste nessa possibilidade?
– Com licença! – Ophir abriu a porta nada discretamente. – Ih… Perdão. Eu não sabia que estáveis namorando aí… – Micael riu do comentário. – Posso sair quando desejardes.
– Não há necessidade! Creio que sempre serás bem vindo à casa de meu amado… – Serena recebeu-o e seu governante pareceu muito satisfeito com a atitude.
– Venha, filho! Quero abençoar a vós antes de ir.
– Já?! – surpreendeu-se Serena.
– Disseste-me que voltarás a me amar como antes… Confio em ti. Não há mais necessidade de me ver.
– Mas eu desejo que fiques…
– Eu também desejo ficar.
– Eu também desejo que fiques! – Ophir intrometeu-se, exterminando com qualquer clima de romantismo que houvesse ali.
– Eu irei voltar. – Micael abraçou-os.
– Avisem seus amigos e esperem-me, está bem? – ambos seguidores assentiram.
Distante dali, Lucian caminhava em direção a seu castelo, acompanhado de um humano, sozinho, num local ermo. Ali via-se apenas terra. O homem tinha cabelos curtos e vermelhos, olhos num tom de azul profundo e pele extremamente alva.
– Tenho a impressão de que serás mais útil para mim do que aquele néscio de branco. – Draco comentou. – A tática de misturar as informações na mente dos crentes já não está tão eficaz… Pensei que isso iria durar! Mas tenho notado os pontos fracos de Serena… Está em pleno marasmo em relação ao fascínio de Micael por ela. Alegro-me com isto… Nunca entenderei o motivo do criador do Universo se interessar por aquela porca… Nunca, nunca! É a maior insensatez existente! Era melhor ter destruído tudo e aceitado que venci…
– De fato, é um mistério. Tenho certeza que meus resultados serão bem satisfatórios para ti… Mas… Dizem por aí que o senhor perdeu no dia da morte de Micael…
– Não quero saber o que dizem! Eu sou seu superior! Proíbo-te de repassar esse tipo de boato! – o enganador praticamente teve um surto.
– Está bem, não se preocupe com isto… Só farei meu trabalho, do jeito que quer. Sem mais embromações.
– Acho bom mesmo!
Durante a estrada, Lucian contou-lhe todos os seus novos esquemas para iludir a congregação. E, enquanto isso, no palácio, um dos demônios aproximava-se de Pontifex silenciosamente.
– O que queres?! Não vês que estou lustrando minha cruz de ouro enquanto rezo em favor dos pobres? virou-se e questionou rudemente.
– Em primeiro lugar, nada disso aqui é teu. Em segundo lugar, caia fora daqui. Meu mestre não precisa mais da tua serventia.
– Como não? Sou a arma secreta dele!
– Era. Dê o fora antes que a situação piore, colega.
– Não vou a lugar nenhum, “colega”. Eu sou o superior aqui! Quero ver quem será o audacioso que tentará tocar em mim! – já sem paciência, o anjo fez uma ferida mortal na cabeça da besta.
Arrastou-o para uma masmorra e lá o abandonou. Não lhes seria mais aproveitável, desejavam novidades, porque, sempre Micael conseguia alertar e abrir os olhos de seus fiéis.
“Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.
Mas também tens em Sardes algumas poucas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.”
Apocalipse 3:2-5