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Aguenta Coração

Aguenta Coração – Capítulo 6

Mansão Mastur – Noite – Sala.

Max: Pois fique sabendo que se não fosse meu pai, sua mãe não tinha nem onde cair morta.

Kelly: Pelo menos não tem mais ninguém pra dividir a herança.

[Bella desce as escadas devagarinho]

Bella: É ainda que você se engana, querida. Estou mais viva do que nunca e pelo visto… Seu banheirinho não funcionou muita coisa.

[Kelly se assusta]

Kelly: Bella? Mas… Como?

Bella: Ficou surpresa, maninha?

Kelly: Bella? Não pode ser verdade!

Bella: Nem todo mundo é burro como você, e pelo visto, ainda trouxe companhia.

Kelly: Não vieram comigo…

Max: Tem razão, nós somos os verdadeiros donos dessa espelunca aqui. Circulando pessoal, circulando!

Felipe: É isso mesmo, portanto a porta da rua é a serventia da casa. Sintam-se a vontade para ir embora… Desde que não demorem.

Kelly: Meu filho, se você estiver achando que vou embora sem falar com um delegado ou advogado pode ir tirando o cavalinho da chuva por que o buraco é mais embaixo.

Max: Então cadê esse bendito fruto que ainda não apareceu?

Divina: O doutor Atos já deve estar pra chegar, disse que não demoraria.

Max: Valha-me Maria da Penca!

Kelly: E não vai oferecer nada não? Ô servicinho que tá precisando mudar, hein?!

Fátima: Nos desculpe é que já estávamos de saída quando o doutor…

[Bella interrompe]

Bella: Não tem que desculpar nada não. Esse povo tá exigindo demais, quando os pais eram vivos ninguém aqui veio vê-los e agora ficam exigindo o necessário e desnecessário.

[O delegado chega]

Atos: Desculpem a demora, trânsito estava horrível.

Kelly: Numa furrunbica de cidade dessa você vem me dizer de transito horrível? Querido, aqui dá pra andar pelada se quiser.

Atos: Sinta-se a vontade, a rua é pública e o corpo é seu. [Ela se intimida]

Max: Podia ter dormido sem essa.

Atos: Bom, é claro que não vieram aqui a passeio e muito menos para velar os pais de vocês, mas já vou avisando, não será nada fácil mamar nas tetas dos pais de vocês não.

Felipe: Mamar nas tetas?

Atos: Sugar o dinheiro.

Bela: Ei, calma aí! Nem todos aqui pensam assim.

Atos: Ah, não? E você saiu de Portugal pra vir aqui conhecer sua mãe depois de morta?

[Ela se cala]

Max: Ao invés de ficar nos esculachando, você poderia ir direto ao assunto.

Atos: O pai de vocês deixou um testamento.

Bella/Kelly/Max/Felipe: Deixou?

Atos: Sim. Os dois se reuniram e deixaram uma carta, escrita, onde falam sobre a herança e o herdeiro.

Kelly: Fala logo pra quem ele deixou?

Atos: Ainda não. Amanhã de manhã eu trarei o advogado dos pais de vocês e estarão cientes do testamento.

Kelly: Você só pode estar de sacanagem. Cara, tem noção de quantas horas eu viajei?

Atos: E eu com isso? Você não veio ate aqui só pra me ver, tem um motivo, e terá de aguardar para descobrir. E sinceramente? Dos quatro, você é a que tem menos chance de ser a herdeira.

Kelly: Ah! Não acredito que disse isso. Se toca meu filho!

Atos: Não sou touch screen pra ficar me tocando, e além do mais, eu sou o delegado dessa cidade… Não está afim de visitar a cadeia não?

Kelly: Patético! Ô gordinha, me ajuda aqui com as malas.

[Divina a ajuda a levar as malas para o quarto]

Max: Ô tiazinha, pode nos ajudar com as malas?

Fátima: Fátima, por favor.

Max: Fátima, por gentileza, pode nos ajudar?

Fátima: Melhorou…

[Ela sobre para os quartos com Max e Felipe]

[Bella conversa sozinha]

Bella: Bando de desocupados, vamos ver quem vai por as mãos nessa grana gorda agora.

Mansão Mastur – Noite – Cozinha.

[As empregadas e Max, Felipe, Bella e Kelly estão na cozinha]

Divina: Eu sei que já está muito tarde, mas como vocês não comeram nada eu fiz uma jantinha pra vocês.

Felipe: Eu estou varado de fome.

Divina: Eu fiz um estrogonofe de frango, ou como diria meu filho: um “estraga nóis de frango”.

[Ela ri sozinha e alto]

Divina: Não teve graça, né?

Kelly: Não, nenhuma.

Fátima: Mas então, vocês trabalham de que?

Max: Eu sou professor de dança, mas só fiz um cursinho básico pra aprender.

Kelly: Eu não trabalho, nasci pra ser estrela querida, uma socialite bem poderosa.

Felipe: Eu sou designer gráfico, mas faz tempo que estou desempregado.

Bella: Sou veterinária, mas não consegui arrumar emprego, as coisas no exterior não são fáceis como por aqui.

Fátima: Entendo.

[Divina coloca a comida nos pratos e distribui]

Felipe: Mas e então, o que nossos pais têm?

Divina: O doutor Virgulino e a dona Oneide são donos da boate mais visitada da cidade e que agora está fechada e além dessa mansão eles possuem algumas casas alugadas, carros e uma fazenda.

Kelly: Vou fazer uma proposta, eu fico com a mansão e o dinheiro, dou os carros pra bicha enrustida, a fazendo pro gostosão aí e as casas pra Bella. É pegar ou largar.

Bella: Se enxerga Kelly, isso aqui não é o jardim de infância que você fazia a cabeça das crianças não.

Max: Bicha enrustida é sua mãe, palhaça.

Felipe: Vamos evitar brigar. Pensem pelo lado positivo, isso tudo podia ser pior.

Kelly: Pior? Como?

Felipe: Poderíamos ter que dividir com mais uma pessoa.

[Alguém entra na mansão e entra na sala]

– Queridos, cheguei.

Felipe: Gente, eu conheço essa voz.

Max: Mamãe?

Felipe: Não pode ser.

[Os dois correm para a sala. É Eva, mãe de Max e Felipe]

Felipe: Mãe? O que a senhora está fazendo aqui?

[Max a abraça]

Eva: Vim correndo assim que soube da morte do coroa. Mas e você? Veio pegar sua parte da herança?

Max: Antes fosse, temos que dividir com mais duas.

Eva: Duas não, três!

Max: Três?

Eva: Muito prazer, meu nome é Eva Gina e eu sou a nova concorrente pra assumir a herança dos Mastur.

Felipe: Tá de brincadeira?

[Kelly e Bella chegam]

Eva: E eu sou mulher de brincar? [Ela avista Kelly e Bella] Oi, queridinhas! Vocês devem ser as empregadas, certo? Podem levar as minhas malas para o quarto.

Kelly: Empregadas? Eu não acredito. Se toca coroa, olha pra minha cara de glamour e me diga se eu tenho cara de empregada.

Eva: A sua cara eu estou vendo, o glamour é que ta meio apagado.

Bella: Nós somos Bella e Kelly, filhas de Oneide Mastur.

Eva: Ah, sim. Foi justamente pra sua mãezinha que eu perdi o lerdo do Virgulino.

[Ela ri alto]

Kelly: Está de passagem? Por que me parece que eu ouvi o táxi buzinando.

Eva: Não queridinha, eu vim pra ficar. Infelizmente, mais uma pra dividir a herança com vocês.

Bella: Você era filha do Virgulino?

Eva: Ex-esposa. Ou melhor, ex-gostosa do Virgulino, por que ele me amava e juntos íamos ao delírio.

Kelly: É o que veremos amanhã de manhã quando o testamento for lido.

Eva: Excelente! Se seu nome não estiver no testamento, não se preocupe, eu te dou um emprego de doméstica, pode ser?

[Ela ri alto novamente]

Felipe: Mas mãe, a senhora não tinha conhecido um homem riquíssimo?

Eva: O Jacinto Pinto? Fomos pro Havai, tivemos duas ou três noites de amor e o cachorro me abandonou numa cidadezinha três vezes menor que essa daqui. Eu estava sem dinheiro e morta de fome. Tive que pegar picolés de chuchu pra vender e conseguir comprar um cartão de orelhão pra ligar pra sua tia na Grécia.

[Kelly ri alto]

Kelly: E depois ainda quer ser rica.

Eva: Queridinha, você ainda vai me ver no programa do Faustão cantando os hits mais badalados do verão. “Eva Gina, a princesinha do tecno brega”.

Kelly: Princesinha? Do que? Das celulites e estrias?

Eva: Espere, e verá.

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Italo Silva

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