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Aguenta Coração

Aguenta Coração – Capítulo 5

Aeroporto  – Manhã.

Max: Felipe, dá pra andar logo?

Felipe: Vamos?

[Max e Felipe vão na frente. Kelly pega as chaves do banheiro e joga no lixo. Antes de entrar no avião ela coloca o óculos de sol e conversa sozinha]

Kelly: Nova vida, tudo novo, esse dinheiro que me aguarde. Bye, bye, Bellinha…

[Ela entra no avião]

 

Sanitário – Manhã- Aeroporto.

[Bella continua a gritar por socorro, e a água do chuveiro já começa a tomar conta do banheiro inteiro]

Bella: Socorro! Alguém me ajude! [Ela tenta abrir a porta chutando e empurrando] Como aquela desgraçada de Kelly não sentiu minha falta? Só pode ter dedo dela nessa história.

[Ela continua a chutar a porta e a empurrar, até que consegue quebra-la. Ela desliga todos os chuveiros e encontra sua mala.]

Bella: Minha mala? Não é que aquela vigarista pensou em tudo? Então ela acha que eu perdendo o voo desistirei da viajem e vou ficar aqui? Coitada… É o que veremos Kelly, é o que veremos.

 

Mansão Mastur – Noite – Sala.

[Fátima está na cozinha organizando quando Divina chega apavorada.]

Divina: Ai meu Bom Jesus da Biscretinha!

Fátima: O que houve Divina?

Divina: Lembra da lenda, Fátima?

Fátima: Que lenda?

Divina: Do cachorro, a do cachorro.

Fátima: Eu já te disse que não é lenda, já peguei duas vezes ele rondando a casa.

Divina: Eu acabei de ver…

[Fátima se assusta]

Fátima: Tem certeza?

Divina: Juro por todos os cordeirinhos do meu São Cristinho. Eu fui pegar o regador no porão e quando virei de costas eu vi ele Fátima, do jeitinho que você descreveu.

Fátima: Com aquela cara de cachorro viadinho que tomba-lata e com os dentes pra fora não é?

Divina: Igualzinho.

Fátima: Arrepiei todinha!

Divina: Lembra da lenda? Dizem que o cachorro vinha todas as noites uivar na porta da mansão querendo namorar com a cadelinha da dona Oneide.

Fátima: E o senhor Virgulino de raiva mandou os seguranças pegarem o cachorro e ele mesmo jogou o coitadinho vivo dentro da cisterna do casebre.

Divina: E três dias depois a coitadinha da cadelinha também morreu. A dona Oneide chegou por várias vezes a ver o tal cachorro assombrando a casa, até cheiro de urina os moveis tinham.

[Elas escutam o uivo de um cachorro]

Divina/Fátima: Aaaaaaaaaaah!

[Elas correm para a porta da mansão e se acalmam ao ver o delegado – Atos.]

Divina: Doutor Atos?

Atos: Aonde pensam que vão?

Fátima: É que escutamos um barulho estranho e como já estava na hora de ir embora mesmo.

Atos: De jeito nenhum! O voo dos filhos do Seu Virgulino e da dona Oneide atrasou, tiveram que fazer um pouso de emergência em uma cidade vizinha e vão atrasar um pouco, mas tem uma filha da dona Oneide que resolveu vir em um outro voo que por sinal não atrasou e já deve estar chegando. Vocês devem ficar para recepciona-los.

Divina: Pode deixar, doutor.

 

Casa de Eurípedes – Noite – Quarto.

[Euripedes – vice-prefeito de Virgulino –  e sua esposa –Marisa – estão dormindo quando escutam barulhos no telhado e nas janelas.]

Marisa: Eurípedes, acorda. Acorda!

Eurípedes: Que corda?!

Marisa: Eu disse pra você acordar.

Eurípedes: O que foi?

Marisa: Está ouvindo?

Eurípedes: Ligue o abajur.

Marisa: Parecem pedradas no telhado e na janela.

Eurípedes: Deixe-me ver.

[Ele levanta e vai até a janela. Há varias pessoas do lado de fora arremessando pedras, ovos e papel-higiênico contra a casa dele.]

Eurípedes: Meu Deus!

Marisa: O que houve?

Eurípedes: Estão fazendo um protesto.

Marisa: Contra o que?

Eurípedes: Vou descobrir agora.

[Ele vai até o lado de fora da casa, no jardim]

Eurípedes: Que zona é essa na porta da minha casa?

– Zona? Zona é o que você fez com o povo da cidade.

– Elegemos Virgulino Mastur para prefeito e não o Virgílio.

– Queremos alguém da coligação do Virgulino. Fora Virgílio!

[Todos começam a gritar: Fora Virgílio]

Eurípedes: Vocês precisam entender que eu já cedi o cargo para o Virgílio, não voltarei atrás.

– Cretino!

– Corrupto! Vai queimar no cabaré do inferno!

[Todos jogam ovos e pedras nele. Ele volta correndo para dentro de casa.]

 

Mansão Mastur – Noite – Sala.

[Divina imita o delegado Atos]

Divina: “Vocês devem ficar para recepciona-los.”

Fatima: Dá pra parar de imitar o doutor Atos? Já é a sétima vez que você tenta imita-lo.

Divina: Ele quer que a gente fique aqui por que não é ele que tá com a impressão de ser vigiada por um cachorro satânico. E nem é ele que vai receber mauricinhos.

[Alguém bate na campainha]

Divina: Chegaram, deve ser eles.

Fátima: Arrume o cabelo, tá mais alto que o da Maria Betânia.

[Ela passa a mão no cabelo e abre a porta. É Bella.]

Bella: Boa noite.

Divina: Boa noite senhorinha, vamos entrando.

Bella: É aqui a casa da senhora Oneide Mastur?

Divina: É aqui sim.

Bella: Nossa! Bem grande hein?!

Divina: Completou quarenta anos ano passado.

Bella: Realmente, é muito bonita. Ah, já ia me esquecendo. Meu nome é Bella, prazer.

Divina: Eu sou Divina e aquela é a Fátima, o prazer é todo nosso.

Bella: Minha irmã já chegou?

Divina: Não, não! O doutor Atos disse que o voo atrasou, eles vão atrasar um pouquinho.

Bella: Eles?

Divina: Não me pergunte quem.

Fátima: A senhora pode por as malas no quarto de cima, se quiser.

Bella: Quero sim, você pode leva-las pra mim, por favor?

Fátima: Sim, claro que sim.

Bella: Eu também já vou subir, quando eles chegarem, por favor, não diga que eu estou aqui.

Divina: Pode deixar, madame.

 

Aeroporto Brasileiro – Noite.

[Max, Felipe e Kelly descem do avião]

Kelly: Meninos, foi ótimo conhecer vocês.

Max: Ai amiga, o prazer foi todo nosso.

Felipe: Ela disse que foi ótimo Max, não que foi um prazer.

Kelly: Mas foi sim. Agora, se não importam já está tarde e eu tenho que pegar um taxi, ainda tenho que chegar no condomínio Diamante D’água.

Max: Diamante D’água? Não é o mesmo que a gente vai Felipe?

Felipe: Ih, é mesmo! Não quer dividir o táxi com a gente não?

Kelly: Claro que eu quero. [Um taxi passa e Kelly grita] Táxi! Táxi!

[O carro para. Os três entram]

Felipe/Kelly: Condomínio Diamante D’água. Mansão dos Mastur’s.

[Os três se assustam]

Kelly: Espera aí, que brincadeira de mau gosto é essa?

Max: Eu que pergunto. Vai fazer o que na casa do meu papito?

Kelly: Não, de jeito nenhum! O que “vocês” vão fazer na casa da minha mãe?

[O taxista interfere]

– Vocês não são os filhos do casal Oneide e Virgulino, prefeito e primeira dama?

Felipe/Max/Kelly: Sim!

[Os três se olham com desprezo]

Kelly: Não acredito!

Max: Dividir herança?! Ah, Credo! E meus gogo-boys?

Felipe: Só pode ser uma pegadinha do malandro. Meu pai não casaria com uma mulher que tem filhos.

Kelly: Filhas, meu querido, filhas!

 

Mansão Mastur – Noite – Entrada.

[Kelly, Max e Felipe descem do táxi]

Kelly: Eu não acredito. Estava bom demais pra ser verdade.

Felipe: E pensar que quase transamos no banheiro do avião.

Kelly: Transar com um meio-irmão?

Max: Ei, vamos mudar de assunto? Eu estou aqui, lembram?

[Eles tocam a campainha da mansão. Fátima abre a porta.]

Fátima: Boa noite!

Kelly: Boa noite o escambau minha filha.

Max: Boa só se for pra você.

[Eles já vão entrando.]

Divina: São filhos do doutor Virgulino?

Kelly: Cruzes credo! Eu sou filha de Oneide, poderosa e chiquérrima!

Max: Pois fique sabendo que se não fosse meu pai, sua mãe não tinha nem onde cair morta.

Kelly: Pelo menos não tem mais ninguém pra dividir a herança.

[Bella desce as escadas devagarinho]

Bella: É ainda que você se engana, querida. Estou mais viva do que nunca e pelo visto… Seu banheirinho não funcionou muita coisa.

[Kelly se assusta]

Kelly: Bella? Mas… Como?

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Italo Silva

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