Capítulo 13 – Agridøcє
Agridøcє
Cobri os olhos para a claridade que entrava pela janela, depois me lembrei de Rylan. Da hora. Dos meus pais. Sentei-me na cama alarmada e olhei para a cama de Ally, estava vazia.
Me levantei e fui para o banheiro com uma muda de roupas, me troquei e fiz minha higiene, quando desci, Rylan já estava trocado e conversava animadamente com minha mãe que preparava o café da manhã.
— Então você tem uma irmã? — Mamãe perguntou.
— Sim, inclusive, é colega de quarto da Wen.
— Ah! Então foi assim que se conheceram? — Parei no batente da porta e cruzei os braços.
— Sim. Ela ficava dando em cima de mim, sabe? Aí não resisti! — Rylan gargalhou e me encarou.
— Olha que ela vai acabar acreditando, em?! — Caminhei até minha mãe e dei um beijo em seu rosto, sentei no balcão ao lado de Rylan e dei-lhe um selinho.
— Bom dia, querida! — Mamãe tirou uma panqueca da frigideira e jogou em cima do prato.
— Papai ainda está dormindo? — Procurei o relógio que ficava em cima da bancada e olhei as horas. Faltavam 5 minutos para ás 10:00.
— Sim, ficou até não sei que horas acordado trabalhando naqueles relatórios idiotas.
— Onde ele arrumou tanto trabalho? Não lembro dele trabalhar assim quando ainda estava aqui.
— E não trabalhava. — mamãe tirou outra panqueca da frigideira. — Depois que você e sua irmã foram embora, ele se afundou no trabalho. Acho que essa foi sua forma de demonstrar a falta que vocês fazem.
— Vocês deviam ter um cachorro. — Levantei, peguei dois pratos no armário e botei algumas panquecas.
— Você sabe o que penso sobre isso. — Outra panqueca no prato.
— Ainda estão em tempo de ter outro filho. — Botei os pratos em cima do balcão e peguei cobertura de chocolate e mel na geladeira e me sentei.
— Não somos mais jovens, Wen! Você e sua irmã estão na faculdade. Não temos mais tempo nem dinheiro para cuidar de uma criança. — Mamãe desligou o fogo e encheu um prato com panquecas e se acomodou no balcão ao meu lado.
— Mamãe, vocês são super jovens! Papai se afunda em seu trabalho e você em suas mentiras que só enganam a si mesma. Está na cara que não está tudo bem, vocês se tornaram muito dependentes de mim e da Ally, e isso não é bom. Depois da faculdade, vou arrumar um emprego, talvez aqui na vizinhança, talvez na Geórgia, talvez no Japão! E vocês? Vão se trancar nesse mundinho pelo resto da vida? — Enfiei um pedaço generoso de panqueca na boca.
Mamãe abriu a boca, mas não disse nada, Rylan muito menos, o único barulho que veio a seguir era o do garfo e da faca arranhando no prato de panquecas. Papai apareceu na porta, ainda de pijama e com os cabelos desgrenhados.
— Você tem razão, Wen. — Sussurrou com os olhos cheios d’água. Levantei-me e corri para abraça-lo.
— Eu te amo, papai.
— Também te amo, minha menina! — Ele beijou o auto da minha cabeça e pude sentir lágrimas molhando minha testa. Lembrei-me de Rylan no balcão, que provavelmente estava me encarando e me senti constrangida. Afastei-me um pouco do aperto do papai e o olhei pelo canto dos olhos, ele sorria para mim, retribui o sorriso meio sem jeito.
— Talvez, não seja uma má ideia ter um cachorrinho. — Mamãe comentou, se levantando.
— Ou um bebê. — Papai sorriu.
— Sério? — Levantei minha cabeça para encara-lo.
— É um assunto a se conversar. — ele passou a mão em minha cabeça. — Agora quero comer! Estou morto de fome!
O soltei e caminhei para sala, ouvi passos atrás de mim. Parei no pé das escadas e Rylan me abraçou por trás, encostando sua cabeça no alto da minha.
— Eu te amo. — sussurrou. — Amo o jeito que ama sua família.
— Eu te amo. — Sussurrei e fechei os olhos, sentindo seus braços se apertarem em torno de mim.
Rylan me empurrou um pouco em direção ao degrau, subimos as escadas, abraçados. Depois que passamos pela porta do quarto, Rylan a fechou com o pé e nos jogamos na cama ainda abraçados. Ele me puxou pela cintura me fazendo virar para ele, nos encaramos.
— Eu te amo. — Repetiu. Afundei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos, deixando que as imagens da noite passada inundasse minha mente.
As mãos quentes e macias de Rylan acariciando meu corpo, seus beijos quentes e molhados, seu corpo quente em cima do meu e quando ele se preparou para tirar a camisa, eu o fiz ir dormir na cama de Ally. Tremi com a lembrança. Por que eu era tão tola? Não achei uma resposta.
Eu e Rylan passamos o dia no quarto, sem fazer ou conversar nada em especial, só descemos para almoçar e jantar. Papai e mamãe haviam decidido ir ao cinema e eu me sentia orgulhosa, por que isso se devia ao meu pequeno discurso do café da manhã.
— Você fica linda sem óculos. — Rylan havia tirado meus óculos e me encarava enquanto acariciava meu rosto. Passava um pouco da meia-noite e havia escutado o barulho da porta alguns minutos antes, então papai e mamãe já estavam em casa.
— Obrigada. — Beijei a ponta de seu queixo.
— O que você acha de conhecer meus pais final de semana que vem? — seus olhos verdes me encaravam, procurando algum sinal de medo, seu sorriso reconfortante e seu beijo, demonstraram que ele havia encontrado. — Talvez, ainda não seja o momento.
— Talvez. — Murmurei, encostando a cabeça em seu peito para evitar seu olhar. Então, meu celular tocou me livrando de um momento constrangedor. Me contorci um pouco por cima de Rylan, para pegar meu celular em cima da mesinha. Era Ally. Sentei na cama e atendi a ligação.
— Ally?
— Hm… — alguém murmurou do outro lado da linha e pude perceber que não era Ally. — Wendy? Aqui é a Lucy.
— Algum problema Lucy?
— A Ally e eu… E a gente, o Ralph também… — Lucy gaguejava, parecia confusa e bêbada.
— O que tem vocês? — Olhei para Rylan. Rylan compreendeu meu olhar e se levantou da cama, indo até a cama de Ally onde estava sua mochila e pegando seus tênis.
— A gente estava em uma festa, e todo mundo estava bebendo e o Ralph e a Ally saírem e depois ela voltou e estava toda machucada e foi tudo tão confuso, eu a trouxe para o hospital, mas eu ainda estou tão bêbada! — Pulei da cama enfiando minha sapatilha no pé, enquanto procurava meus óculos na cama, tentava equilibrar o celular entre o ombro e o ouvido.
— E como ela está? O que aconteceu? Eles brigaram? Ela sofreu um acidente? — Atropelava as palavras, tentando achar meus óculos. Onde estava a porcaria dos óculos?
— Eu… Eu… — Ela começou a chorar.
Rylan estendeu a mão para mim com meus óculos, eu os coloquei, corria de um lado para o outro do quarto, procurando uma camiseta descente. Sem tirar o celular do ouvido, esperava Lucy se acalmar para terminar de me explicar o que havia acontecido.
— Se acalme, Lucy! Preciso que me diga onde vocês estão. Me diga como Ally está! — Achei uma camiseta e vesti por cima da regata, tentando não tirar o celular do ouvido. Depois peguei uma jaqueta e joguei por cima. Rylan me esperava pronto, com a porta já aberta.
— Estamos no hospital da Universidade. Eu não sei como Ally está, não querem me deixar vê-la.
— Ok, estou indo. — Desliguei o celular e passei pela porta descendo as escadas de dois em dois, com Rylan na minha cola. Vacilei um pouco quando dei de cara com meus pais abraçados no sofá vendo televisão.
— Querida, vão sair? — Mamãe e papai desviaram os olhos da TV e me encararam. Corri até minha bolsa jogada em cima do sofá. Rylan pegou os capacetes que estavam no chão do lado da porta.
— Ally sofreu um acidente, ou sofreu alguma coisa, a colega de quarto dela não soube me explicar. — Taquei a bomba na cara deles, não tinha tempo para achar um jeito mais gentil de dizer aquilo. — Não sei como ela está, não sei direito como aconteceu. Estamos indo para lá.
Papai e mamãe se olharam e se levantaram ao mesmo tempo, cada um correu para um lado, procurando as chaves do carro, a carteira, os sapatos, os casacos.
— Veja seu celular, estou mandando o endereço por mensagem! — Gritei saindo para a noite escura e fria, Rylan já me esperava em cima da moto, pulei em cima da moto, enquanto tentava digitar o endereço no celular, tive que apagar duas vezes antes de conseguir escrever direito. Botei o capacete e Rylan deu a partida.
- Capítulo 14 – 26/01