Capítulo 9 – Agridøcє
Agridøcє
Um mês. Um longo mês havia se passado desde que eu e Nick havíamos saído pela primeira vez. Não achei que duraria tanto tempo nessa Universidade, ainda mais com um menino. Nós não intitulamos o que estávamos tendo, como um namoro ou algo do tipo, nós só ficávamos juntos e saíamos juntos. E Nick havia perdido um companheiro de casa por causa disso, mas já conseguira outro, um tal de Alex de sua aula de Filosofia.
Eu e Ally estávamos cada vez mais distantes, agora, ela e Lucy não se desgrudavam mais, Joy havia me contado que tinha visto Ally em algumas festas nos finais de semana, sempre com uma garrafa de bebida alcoólica na mão. Quando tentei tocar no assunto, Ally gritou. Eu chorei. Ela chorou. Não toquei mais no assunto, ela também não.
Alguns professores já haviam começado a passar um ou outro trabalho, nada que exigisse muito de mim ou de Nick, mas fazia três dias que só nos víamos no horário do almoço e quando ele ia me buscar ou me levar na porta do dormitório.
Estava sentada na minha escrivaninha fazia quase três horas, tentando concluir um trabalho da aula de Antropologia Teológica, com Rylan deitado na minha cama, esperando a irmã chegar.
— Poxa, Wendy! Podia parar um pouco isso aí e me dar uma atenção.
— Cadê sua irmã? To ocupada agora.
— Joy saiu com um tal de Rex. Só Deus sabe a hora que ela vai chegar.
— Caramba, Joy anda saindo com cachorros agora? — Me virei para encará-lo.
— Né? — ele gargalhou. — Eu disse isso para ela!
— E o que você está fazendo aqui em uma quarta à noite? Cadê seus amigos?
— Não tenho muitos amigos. — Ele me encarou com seus olhos redondos e verdes.
— Duvido muito. Mas, então, por que está esperando a Joy?
— Ela disse que ia me ajudar com um trabalho de Agroecologia.
— Você e sua irmã fazem cursos completamente diferentes e ela ainda te ajuda?
— Irmã é pra essas coisas. — ele sorriu. — Colega de quarto da irmã também.
— Vai sonhando! — virei para o meu notebook novamente — Ainda não consegui terminar nem o meu, por que você não cala a boca.
Ouvi a cama dar um leve rangido, achei que ele ia embora, mas ele pôs a cadeira da escrivaninha de Joy do meu lado e apoiou a cabeça no meu ombro.
— Vou ficar aqui, quieto, até você terminar. — Pegou uma mexa do meu cabelo e começou a brincar. Tentei terminar o trabalho, mas o contato tão próximo de Rylan não me deixava se concentrar. Depois de uns 20 minutos, acabei desistindo.
— Ok, ok, ok! — bufei. — Se eu te ajudar com o seu trabalho, você promete sumir até que eu termine o meu?
— Prometo! — Ele esticou o dedo mindinho, pegou o meu e encaixou no dele, cruzando os dois.
— Então, do que precisa? — Ele se levantou e foi até a mochila, tirou dois livros de lá.
— Basicamente, tu vê um livro e eu outro, e tudo que tiver Agroecologia no meio tu marca com um marca texto. Depois eu pego as partes importantes, dou uma revisada, passo tudo pro computador, boto na ordem e entrego. — Ele me entregou um livro e se jogou novamente na minha cama.
Coloquei o livro em cima do notebook fechado e o abri. Passava um pouco das 22:00 quando terminamos, Rylan estava sentado na escrivaninha de Joy com meu notebook, terminando de organizar algumas coisas, depois mandou para o seu e-mail e me entregou o notebook. Eu me sentei em minha cama enquanto ele arrumava os livros dentro da mochila.
— Obrigado, Wendy! — ele sorriu, esfregando os olhos, cansado.
— Rylan? — ele que já estava com a porta aberta, se virou e me encarou. — Joy não vai vir pro quarto hoje, né?
— Não. — ele mordeu o lábio inferior.
— Então, por que você veio?
— Porque eu sabia que você ia me ajudar. — ele sorriu e fechou a porta.
Me joguei para trás, afundando minha cabeça no travesseiro, tinha o cheiro do Rylan, ele era tão cheiroso! Suspirei, queria ficar ali. Mas tinha um trabalho para terminar. Levantei-me e voltei para escrivaninha, abri meu notebook e continuei meu trabalho. Era 23:00 em ponto quando cliquei em enviar o e-mail com o trabalho para o professor.
Fui até minha cômoda e peguei meu pijama, toalhas e minha bolsinha com meus itens de higiene. Abri a porta e parei.
— O que você tá fazendo aqui? — Encarei a figura de Rylan sentado do outro lado do corredor de frente para a porta, comendo bolinhas de chocolate e tomando suco.
— Você disse pra eu sumir até você terminar seu trabalho, tô esperando. — Ele sorriu.
— Você é inacreditável! — Não pude deixar de sorrir.
— Então, já terminou? Tô ficando quadrado aqui!
— Claro, claro. Vou só tomar um banho. Pode entrar. — Deixei a porta aberta e segui para o final do corredor para o banheiro. Quando terminei de tomar banho, sequei os cabelos o máximo que pude na toalha, penteei e os joguei para trás.
Rylan me esperava jogado em minha cama, como sempre.
— Sua irmã também tem uma cama muito confortável. E olha que surpresa, fica a apenas dois passos da minha! — zombei.
— Eu sei. Mas a sua é mais cheirosa. — Senti minhas bochechas corarem. Botei minhas coisas de volta na cômoda e as toalhas molhadas na cadeira. Sentei na ponta da minha cama.
— Se você pretende ficar aqui no quarto até a Joy voltar, vá para a cama dela, por que eu quero dormir!
— Vem cá. — Ele se encostou mais na parede abrindo espaço para que eu deitasse. Como eu não me mexi, ele se apoiou no cotovelo e me puxou pela mão. — Vem. — sussurrou.
Ficamos nos encarando por um tempo, eu não me mexi, ele não soltou minha mão.
— Vem. — Pediu de novo, puxando um pouco minha mão. Escorreguei um pouco para o lado e deitei minha cabeça no travesseiro, ainda com as pernas para fora da cama, pronta pra pular da cama caso ele tentasse algo. Ele passou o braço por baixo do meu pescoço e me puxou para perto, me fazendo virar. Nos encaramos. Abaixei os olhos, para sua camiseta listrada, depois para sua calça jeans, depois para seus tênis e então fechei os olhos.
Pude sentir ele se mexendo do meu lado, então minha coberta caiu por cima de nós, ele passou a mão pela minha cintura e me puxou, me fazendo deitar a cabeça em seu peito. Logo eu dormi.
Quando acordei, meu pescoço doía um pouco, Rylan continuava imóvel embaixo de mim, me afastei um pouco para olhar para seu rosto e encontrei um par de olhos verdes me encarando.
— Bom dia! — Ele sussurrou, afundando a cabeça em meus cabelos e me dando um beijo.
— Acordado faz tempo?
— O suficiente para ver como você fica linda dormindo. — Me afastei um pouco mais, virei para o lado e sentei na cama.
— Hm. — murmurei sem saber ao certo o que eu devia responder. — Preciso me arrumar para a aula.
— Sabe que horas é? — Ele apoiou a cabeça no cotovelo e me encarou.
— Não. — Sussurrei procurando meu celular ou meu relógio que não sabia ao certo onde estava.
— Sete. — ele sussurrou. — Até onde eu sei nas quintas sua primeira aula é só as dez.
Sentei-me novamente na cama, depois levantei, peguei uma muda de roupa, minha bolsinha e fui para o banheiro, eu e Rylan havíamos combinado de ir tomar café juntos. Quando voltei para o dormitório, ele ainda não tinha voltado, encostei em minha cama e abracei o travesseiro até Rylan bater na porta.
Abri a porta e encarei aquele par de olhos amendoados, Rylan havia prendido os cabelos em um rabo de cavalo, usava uma blusa verde que fazia seus olhos ficarem ainda mais verdes, usava bermuda e tênis. Me senti desarrumada, mesmo sabendo que só iria descer para o café da manhã. Rylan sorriu, quando viu que eu o analisava, depois jogou a cabeça para o lado, apontando para o corredor. Fechei a porta, tranquei e o segui.
Quando chegamos ao refeitório, ele estava quase vazio, caminhamos até a pequena fila, Rylan comprou uma garrafa de suco e dois lanches naturais, eu peguei uma garrafa de água e uma maçã. Nos sentamos em uma mesa no canto do refeitório, encostada na parede. Rylan encostou a cabeça na parede enquanto abria o saquinho do seu lanche, enquanto mastigava me encarava e eu encarava minha maçã, procurando imperfeições na superfície lisa e avermelhada.
— A maçã é mais interessante que eu?
— Hm. — Mordi a maçã para não precisar responder. Depois que terminei de comer a maçã, abri minha garrafinha de água e beberiquei um pouco, sem o encarar ainda.
— Você é linda. — Ele sussurrou.
— Não estou acostumada com isso. — Olhei para ele pela primeira vez.
— A ser linda?
— Fui chamada de linda mais vezes nesse mês aqui na Universidade do que em toda a minha vida.
— Duvido. — Ele arqueou uma sobrancelha.
— No colegial Ally sempre era a bonita, apesar de tecnicamente sermos iguais. Acho que a personalidade dela a faz ser mais bonita. — Dei de ombros.
— Sabe qual é? É que os carinhas do colegial só buscam por um rosto bonito, eu já fui um desses, sei como é. Mas na Universidade a coisa é diferente, um rosto bonito é apenas um rosto bonito, se não tem um complemento, tipo uma mente bonita, ele não é muito útil. Um rosto bonito só agrada nos primeiros 5 minutos, depois você tem que ter algo a mais para oferecer. E você, definitivamente tem algo a mais para oferecer.
Eu apenas sorri e coloquei o cabelo atrás da orelha, sem saber ao certo como lidar com aquele elogio.
— Você é linda. — Ele repetiu.
- Capítulo 10 – 17/01
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