Notas de Um Destino – Capítulo 19 (Início da 2ª Fase)
Rosa Maria: Baluarte! Baluarte! Ai, meu Deus! Que ideia é essa que cabecear as pedras?
Baluarte: Bu!
Rosa Maria: Ah! Que susto! O que deu em você?
Baluarte: Nada! Eu transformei as pedras em bolinhas de papel…
Rosa Maria: Meu Jesus… Você é incrível!
Baluarte: Sabe… Eu gostei de você!
Rosa Maria: Eu também…
(Os dois se beijam, mas logo param)
Baluarte: Desculpa, eu não devia ter feito isso.
Rosa Maria: Mas eu deixei… E, falando a verdade, eu gostei! Bem, sócios?
Baluarte: Amigos!
Rosa Maria: Onde você dorme?
Baluarte: Onde dá.
Rosa Maria: Eu vou com você.
Baluarte: Tá.
(Os dois começam a caminhar sem rumo. Enquanto caminham, os dois se divertem muito. Baluarte colhe uma flor e entrega a Rosa Maria. Ele faz a flor mudar de cor várias vezes. Anoitece. Os dois estão deitados em papelões em uma esquina.)
Rosa Maria: Baluarte! Se você consegue fazer tanta mágica, porque vive na rua, pedindo esmolas? Porque não transforma folhas secas em dinheiro?
Baluarte: Essa mesma pergunta o Diabo fez a Cristo. Se você recebe um dom tem que saber usar. Não pode usar de maneira errada. Você não pode usar a magia pra prejudicar as pessoas ou enricar fácil. Pra conseguir dinheiro, tem que suar, tem que ralar.
Rosa Maria: Desculpa pela pergunta.
Baluarte: Tudo bem, você não sabia.
(Espoleto e Aguardente, dois moleques de rua, inimigos de Baluarte aparecem de súbito:)
Espoleto: E aí, Balucas? Quem é a garota?
Baluarte: Deixa ela em paz! É minha amiga!
Aguardente: Mas uma razão pra mexer com ela!
Baluarte: Sai daqui! Dá o fora!
Espoleto: Ela é tão bonita, tá perdendo um tempo contigo.
Rosa Maria: Me deixa em paz.
Espoleto: É o que? A dondoca falou alguma coisa?
Rosa Maria: É… eu falei. Se é que tu não escuta. Eu disse: ME DEIXA EM PAZ!
Espoleto: Sabe com quem tu tá falando, garota?
Rosa Maria: E nem me interessa! Por que vocês não dão o fora? Agora, Já!
Espoleto: Mulher nenhuma fala assim comigo.
Rosa Maria: É porque eu sou a primeira. Vaza! Se não você vai ver só!
Espoleto: O que é que eu vou ver…
Rosa Maria: Estrelas…
(Rosa Maria acerta uma joelhada entre as pernas de Espoleto, que cai de dor)
Rosa Maria: E agora, mané? Vai me deixar em paz ou eu vou ter que apelar?
Espoleto: Tu ganhou dessa vez, mas isso não vai ficar assim!
(Ele e Aguardente vão embora)
Baluarte: Não devia ter feito isso…
Rosa Maria: E o que você queria? Fala sério, Baluarte!
Baluarte: Não, na boa, mas é que agora sim é que eles vão ficar de marcação contigo… é melhor não marcar bobeira.
Rosa Maria: Acontece que eu não tenho medo daqueles dois zé manés!
Baluarte: Olha lá! Abre o olho! Vê no que se mete, garota. Essa trupe né mole não!
(Amanhece, Baluarte e Rosa Maria vão à porta da Igreja pedir esmolas. Ela toca músicas na gaita e ele faz malabarismos e mágica. Em pouco tempo, muitas pessoas estão olhando o “espetáculo dos dois” e eles arrecadam um bom dinheiro. De longe, são observados por Aguardente e Espoleto)
Espoleto: Tá vendo, Aguardente? Roubaram o nosso território… A gente tem que acabar com isso já!
(Com o dinheiro arrecadado, Rosa Maria e Baluarte compram pão)
Baluarte: Sabe, Rosa… Tava pensando: acho que tu devia seguir a carreira artística, tá se perdendo nas ruas. Já parou pra pensar?
Rosa Maria: Já! E é pela mesma razão que um mago como você não está num circo ou teatro que eu também não sou famosa… Não nasci pra isso…
Baluarte: Desculpa, não quis ofender.
Rosa Maria: Então, para de querer dar palpite na minha vida.