Notas de Um Destino – Capítulo 1
(Santa Quitéria-CE, 1983. Na zona rural, afastada da cidade, vive o casal José Antonio e Edvirgens, que vivem da agricultura junto com os três filhos: Getúlio, Maria de Lurdes e a pequena Quitéria de 8 anos. Antonio é alcoólatra e sempre que bebe, chega violento em casa. Uma noite, enquanto todos jantam…)
Getúlio: Mãe, cadê o pai?
Maria de Lurdes: Tu tem fé em Deus, menino? Aquele ali, tão cedo não dá as caras…
Getulio: Que é isso, mãe? Não sou de acordo com isso não! Aí, a gente trabalha, dá duro nessa terra e o pai gasta tudo na cana?
Edvirgens: Parem com isso, vocês dois! Ele é pai de vocês. Ainda que esteja errado, mais é pai, e vocês lhe devem respeito!
Maria de Lurdes: Ah, sim! Quando muito a gente respeita quem se dá o respeito, mas aquele ali…
(Antônio chega em casa embriagado)
Antônio: O que tem eu?
Getulio: Ai, Papai, de fogo de novo?
Antônio: Que tu tem com isso?
Getulio: É que nós estamos cansados, pai de só ter que trabalhar e trabalhar pro senhor e olha como somos tratados!
Antônio: Tu cala essa tua boca… tu e essa tua irmã, a Maria de Lurdes.. eu sou o pai… é eu que mando… mando e desmando… vocês vão fazer o que eu quiser e acabou-se a história.
Edvirgens: Quitéria, querida, entra lá pra dento. Já pro seu quarto, já…
Antonio: Deixe ela aí! É minha filha também… O que eu disser agora, ela tem que ver e escutar. E hoje, como vocês se atreveram a me desafiar, ninguém come.
Getulio: Eu nem faço emprenho dessa sua comida podre a álcool!
Maria de Lurdes: Nem eu!
Edvirgens: Antonio, a Quitéria é uma criança, não pode dormir sem comer…
Antonio: Ela é minha filha igual os outros. E vai ter castigo igual. Você também não coma. Se eu pegar alguém comendo, eu mato de surra. Agora, eu vou sair…
Getúlio: Vai encher a cara o resto da noite?
(Antonio sai e bate a porta. Getulio fica gritando)
Getulio: TRISTE DO PAI QUE AMA MAIS A PINGA DO QUE A FAMÍLIA!
(De madrugada, Quitéria começa a tossir. Edvirgens levanta e vai ver o quer ela tem)
Edvirgens: Ô, minha filha, que que você tem, hein? (coloca a mão na testa da criança) Ai, minha Santa Quitéria essa menina tá com muita febre… Espera, eu pegar comida pra você.
(Edvirgens pega uma fruta e dá para a menina comer.)
Edvirgens: Tá melhor?
Quitéria: Acho que tô.
(Antonio chega)
Antonio: EU TE DISSE QUE TU NÃO DESSE COMIDA PRA SEU NINGUÉM NESSA CASA!
Edvirgens: Espera, eu posso explicar…
Antonio: Explicar o que? A tua desobediência? Que quer passar por cima das minhas ordens, tenha certeza duma coisa, Edvirgens, aqui o homem sou eu.
(Os outros filhos acordam)
Maria de Lurdes: Que foi, mãe? Que gritaria é essa?
Getulio: Que que ele fez com a senhora, mãe?
Antonio: Não fiz nada ainda, mais vou fazer, vou te dar a maior surra da tua vida que tu vai te arrepender de ter nascido.
Edvirgens: Não, por favor…
(Quitéria fica na frente da mãe)
Quitéria: Não! Não bate na minha mãe! Só vai bater nela depois que me matar!
Antonio: Mas é muito da petulante, mesmo… Quem que tu pensa que é pra enfrentar assim teu pai, hein piveta?
Quitéria: E quem você acha que é pra bater na minha mãe?
Antonio: Macho o suficiente!
(Antonio pega a menina nos braços e a joga na cama, avança em direção à esposa para espancá-la, mas é detido por Getúlio que lhe dá um soco na cara. Quitéria assiste a tudo chorando)
Antonio: Você… se atreveu a bater no próprio pai… Um cabra desse num é meu filho… Arruma tuas trouxa e arreda o pé daqui. Até nunca mais, e se algum dia tu me encontrá no meio da rua, não me peça nem a bênção… até isso eu lhe nego. Eu te deserdo e te amaldiçoo.
Getulio: Eu vou… com muito gosto. Até nunca mais, Antonio.
(Getulio vai embora de casa levando apenas a roupa do corpo, tenta abraçar a mãe, mas é detido por Antonio)
Maria de Lurdes: Pai, não acha que tá sendo muito duro com ele?
Antonio: Se tá com pena, vai com ele. A porta tá aberta.
(Maria de Lurdes tenta alcançar o irmão, deixando Antonio sozinho com Quiteria e Edvirgens, que choram abraçadas.)
Antonio: E tu, traidora maldita, por tua culpa meus filhos estão contra mim. Mas agora isso tu vai me pagar com choro e sangue.
Estreia forte e muito emocionante! Ansioso pelos próximos capítulos.
Antonio se mostra muito forte e um carácter nordestino muito bem feito.
Parabéns ao autor pela estreia!