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O Anjo abre suas Asas

O Anjo Abre Suas Asas – Capítulo 02

Capítulo 02

Cena 01 – Sala de aula.
A professora de Biologia acaba de terminar a chamada. Ela então pega o lápis e escreve em letras graúdas no quadro:

“Trabalho Para A 1ª Nota do Bimestre”
“Grupos de 3”
“Entregar Semana que Vem”

Professora: Muito bem, formem os grupos que eu vou distribuir o tema de cada um.
Aluno: Professora, pode ser grupo de 4?
Professora: Não, apenas de 3.
Dito e feito. Só se ouve o barulho do arrastar de mesas e carteiras pela turma com os trios se formando e cada um discutindo como será o trabalho.
Mesmo sendo irmãos, Maria e Felipe preferem não fazer o trabalho no mesmo grupo. Os dois tentam entrar em grupos com seus amigos, mas todos já estão cheios.
Felipe: Professora, eu e a Maria ficamos sobrando.
A professora olha para todos os grupos da turma vendo se consegue encontrar um 3º aluno solitário ou então um grupo com 4 integrantes. Ela encontra alguém.
Professora, apontando: Vão com ele.
Coincidentemente, por ironia do destino, é Gabriel quem está sem grupo.
Felipe: Professora, precisa ser com ele mesmo?
Professora: Você está vendo mais alguém?
Maria: Por mim tudo bem ir com ele. E por você Gabriel?
Gabriel: Tanto faz!
E assim os três juntam suas carteiras. A professora passa de trio em trio distribuindo temas para cada um. O grupo de Gabriel, Felipe e Maria fica com o tema “esqueleto de aves”.
Felipe: Olha, para podermos fazer direito esse trabalho eu acho que talvez seja melhor que a gente se reúna na casa de um de nós pra discutir.
Maria: Pode ser na sua, Gabriel.
Gabriel: Eu não sei se meu pai ia deixar.
Felipe: Fala com ele, eu e a Maria podemos ir lá hoje a tarde mesmo de bicicleta depois do almoço.
Gabriel: Eu não sei se ele vai deixar, mas não custa tentar.

Cena 02 – Depois.
Horas mais tarde. O sinal toca, acabou o dia. A maioria dos alunos mora longe da escola então tem que esperar que chegue o ônibus escolar.
Gabriel costuma caminhar só, ele também tem que esperar o ônibus, mas prefere esperar sozinho. Às vezes ele vai até a parte de trás da escola onde ninguém gosta de ir por causa das plantas altas e espinhosas. Ele fica lá e quando ouve o som do ônibus chegando ele volta, sem dúvida isso pra ele é mais divertido do que ficar sozinho entre seus muitos colegas.
Gabriel se escora na parede e olha para um ninho de pássaro no galho de uma planta. O pássaro sai do ninho e voa em disparada para o céu.
Gabriel, olhando pra cima: Será que um dia eu também vou poder voar assim?
Ele ouve passos. Ao se virar, Gabriel se depara com três garotos de pé bem ao seu lado.
Garoto 1: Olha só gente, se não é o dromedário.
Garoto 2: É ele mesmo, a montanha dele nas costas não deixa enganar.
Aquele tipo de piadinhas sem graça não eram novidade na vida de Gabriel. Ele tenta ir embora, mas um dos garotos o segura pelo ombro.
Garoto 1, segurando Gabriel pelo ombro: Espera aí garoto, aonde você tá indo? Vai nos deixar no vácuo mesmo?
Garoto 3: Sabe o que eu acho, que ele só porque é filho de um fazendeiro, pensa que é bonito demais pra se juntar com a gente.
Garoto 2: Então é isso?
Garoto 1: Mas quanta prepotência, na minha opinião isso merece uma lição. E sabe qual lição é essa? Meninos, segurem ele que agora eu vou arrancar essa pilha de roupa de cima dele cara e ver o que ele tem por baixo dessa corcova.
Gabriel: Não, por favor.
Antes que Gabriel possa reagir, os dois garotos já o estão segurando. Quando o 3º se prepara para avançar sobre ele, uma pedra vem voando do nada e acerta em cheio a cabeça do garoto.
Garoto 1, com a mão na cabeça, está sangrando: Ai, o que é isso?
Foi Felipe quem jogou a pedra. Ele se aproxima.
Felipe: Soltem ele agora!
Garoto 1: Ora, ora, Felipe. Vai defender o garoto montanha?
Felipe: Mandei soltar ele, três contra um é covardia!
Garoto 2, soltando Gabriel: Vamos acabar com esse otário depois a gente parte pro outro.
O primeiro garoto parte pra cima de Felipe que logo lhe acerta um chute bem forte na barriga e o derruba. O segundo garoto vem, mas quando vai dar um soco no rosto de Felipe, o menino o pega pelo punho e o empurra derrubando o outro garoto que já estava se levantando. O terceiro ainda tenta, mas Felipe dá-lhe uma rasteira e ele cai sobre os outros dois colegas.
Garoto 1 se levanta: Vamos vazar daqui!
Os três saem correndo.
Felipe: Vão, seus covardes! Você tá bem Gabriel?
Gabriel: Estou sim, mas e você?
Felipe: Antes de me mudar pra cá eu fazia aula de artes-marciais, essa luta foi fichinha.
Gabriel: Por que você fez isso? A gente mal se conhece direito.
Felipe: Realmente nós podemos não ser amigos, mas eu não acho legal isso deles ficarem te tratando assim só por causa dessa corcova nas suas costas, é um defeito físico que você não tem culpa de ter.
Gabriel: Fico feliz por você pensar assim. Como eu posso agradecer?
Felipe: Me deixa olhar suas costas?
Gabriel, nervoso: Desculpa, mas eu não gosto que ninguém as veja.
Felipe: Brincadeira, só diga ao seu pai que quem te salvou foi o filho de Antônio Oliveira, um dos empregados dele.

Cena 03 – Horas mais tarde. Fazenda Medeiros. Quarto de Gabriel.
Gabriel está lendo um livro. Seu pai o chama.
Paulo, da cozinha: Gabriel, venha almoçar!
Gabriel ainda não falou ao pai da visita dos colegas para o trabalho de biologia. Ele vai até a cozinha, seu pai já está almoçando. Gabriel se senta a mesa.
Gabriel se senta: Pai, eu queria te dizer uma coisa.
Paulo: Pode falar meu filho.
Gabriel: Pai, hoje dois dos meus colegas da escola vem aqui hoje.
Paulo fica com uma expressão surpresa.
Paulo: O que foi que você disse?
Gabriel: É um trabalho em grupo, a gente precisa se reunir.
Paulo: O que foi que eu te disse sobre não se misturar com ninguém?
Gabriel: Não me misturar em nenhum grupo porque podem descobrir a verdade sobre o que há nas minhas costas.
Paulo, nervoso: E você vai e faz exatamente o contrário.
Gabriel: Pelo amor de Deus papai, eu não aguento mais ter que ter medo de todo mundo que eu conheço, o senhor não tem ideia de como é horrível pra mim ter essas asas nas costas e não poder voar.
Paulo: Você sabe muito bem porque isso, sabe por que todos os meses eu as corto.
Gabriel: Se estivesse no meu lugar, se visse como os meus colegas olham pra mim, com cara de nojo e medo.
Paulo: Como acha que iam interagir com você se soubessem o que tem por baixo dessa sua corcova?
Gabriel: Talvez achassem bonito…
Paulo, irritado: Não! Vão te achar uma aberração!
Gabriel: Eu não sou nenhuma aberração!
Paulo: É sim, e quer saber, pra mim chega!
Paulo se levanta e vai até a gaveta. Ele volta com uma tesoura.
Paulo: Tira a camisa agora, eu vou cortar essas penas tão bem cortadas que elas nunca vão crescer de novo!
Gabriel se levanta: Não!
Paulo: Não me provoca, já chega disso!
Gabriel fica tão bravo que joga o prato de comida no chão.
Gabriel: Pra mim já chega!
Paulo, furioso: Para com essa birra Gabriel. Se senta, tira essa camisa e me deixa aparar essas duas coisas nas suas costas agora.
Gabriel, gritando: Nunca, nunca, nunca mais!
Num momento de explosão, Gabriel empurra a mesa e a faz virar quase caindo por cima de Paulo.
Paulo, furioso: Gabriel!
Gabriel sai correndo como uma bala pela porta. Paulo sai correndo atrás dele com a tesoura.

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