Corujas Sem Asas 2×04 – Um novo lar
“Corujas Sem Asas”
uma web-série de Pedro Paulo Gondim
2ª temporada || Episódio 04
“Um novo lar”
Uma carruagem está passando às margens de um lago da região central. Pela beleza do transporte, vemos logo que é da realeza. Seus belos detalhes em ouro sujam junto ao branco com toda aquela poeira. Os lindos cavalos azuis são puxados com cordas, feitas de diamante, e são puxados por um homem de pele albina, alto e peso médio.
Dentro, estão, de um lado, dois meninos albinos, versões de Guikoltra (09 anos) e Pokoh (06 anos) crianças. Do outro lado, Müllino, albino, peso médio-alto, 2.36 de altura, olhos rosados, cabelos ruivos, barba ruiva, com trajes reais e um belo sorriso.
Müllino: O que vocês acham de terem mais um irmãozinho?
Pokoh: [debochando] Já não basta essa peste aqui? [aponta para o irmão].
Guikoltra: [sorrindo] Em primeiro lugar, não sou uma peste igual “certas… pessoas”! [olha vitorioso para o irmão] Em segundo, adoraria ter mais um irmão, desde que seja bondoso e respeitável.
Pokoh: [indignado] Está me ofendendo assim? Na “cara dura”?
Guikoltra: Se a carapuça serviu…
Müllino: Parem de brigar! Estou lhes dizendo isso, porque sua mãe está grávida!
Pokoh: Não seria melhor uma menina?
Müllino: [sorri] Seria uma maravilha! É uma pena que isso não seria possível. Ter uma menina, quebraria todas as “normas reais” de “sangue padrão” que estamos continuando por centenas… Milênios!
Guikoltra: [confuso] Então como o senhor casou com nossa mãe? Você disse que…
Müllino: Sim, “ela” era uma camponesa. Felizmente, as “regras reais hanisinedianas” permitem que qualquer pessoa se case com outro indivíduo, independente de sua raça, credo, crença ou preferência. Me apaixonei perdidamente por sua mãe, quando era apenas uma pobre menininha que dava flores que cultivava em seu quintal à pessoas que ela visse passar de frente à sua humilde casinha de madeira.
Pokoh: (pensando) Que pouca vergonha!
Guikoltra: (pensando) Que linda história!
Müllino: (pensando) Que fome! Mas é uma bela história.
Pokoh: [olha para cima] Quando iremos chegar à casa do nosso tio?
Müllino: Acho que em menos de 3 horas devemos chegar lá.
Guikoltra: Por que o tio mora tão longe?
Müllino: Porque ele é louco! Por essa simples razão!
Casa das Junniut. Cozinha [Tarde].
Naklada: [chegando apressada] Mamãe, você quer ir ao lago comigo?
Emínua: [procurando] Eu gostaria de ir, mas… E sua irmã?
Naklada: Ela está indo para lá, pois esqueceu uma pedrinha colorida que achou lá hoje pela manhã.
Emínua: [“arruma” o cabelo] Está bem. Vamos!
Juréhmia corre apressadamente. A carruagem real ainda está na margem do lago, o qual é grande mesmo! Naklada e sua mãe também se apressam, pois ouvem de repente um grande estrondo achando se tratar de algum animal selvagem.
Porção leste. Caverna “Frozent”. [Tarde]
Em “Frozent”, um homem aparentando ter uns 30 anos, albino de 2.37 de altura, peso médio-alto, ri com sua curta e reluzente barba azul. Seu grande e pesado traje de manto azul combina justamente com seu encaracolado bigode e seus olhos azuis. A vestimenta termina com detalhes curvos e brancos, tendo o mesmo desenho na parte peitoral e costal.
Ele conversa com uma grande nuvem de fumaça rosada com toques azulados e esverdeados, parecendo até uma festa. A tal, está em uma grande bola feita de cristal, diamante e ouro. Está presa no chão da caverna à uma média pilastra dourada que leva até a altura do rosto do homem. Essa nuvem seria o “universo futuro”, que é a fonte da magia em Hanisined. O homem é conhecido como Ybanô.
Ybanô: [curva-se] Devo admitir que foi uma bela piadinha. Mas, eu sou um feiticeiro tão comum. Por que mesmo fui escolhido?
Futuro: Lembre-se de que seu pai é o melhor feiticeiro de todo o planeta. Infelizmente ele foi mandado a outro planeta para concertar algo que fiz de errado. Para você ver, até o “futuro” erra algumas vezes.
Ybanô: E por acaso tem alguma missão para mim?
Futuro: Talvez. Você será capaz de cumprir?
Ybanô: Claro! Serei o próximo grande feiticeiro e, para isso, o “futuro” deve ser meu amigo, não é? [sorri].
Futuro: Sim, você tem razão. Bem… Para começar, a poucos eu descuidei sem querer de uma menina chamada Juréhmia. Quero que você busque ressuscitá-la imediatamente, pois ela é o caminho que meu pai, o destino, quer seguir. Juréhmia é a “ponte” que nos ligará à próxima “casa da magia”.
Ybanô: Espere. [impressionado] A magia terá um novo lar?
Futuro: E as razões são das mais apropriadas formas. Uma delas, a maior, é que o número de feiticeiros está muito grande. Com isso, ocorre uma enorme chance do universo acabar nas mãos de qualquer um que tenha uma mente má.
Ybanô: E para onde a magia irá? A um novo mundo?
Futuro: Meu pai me avisou que ela estará em outro planeta por vários anos, mas ela “nascerá” aqui!
Ybanô: “Destino” está maluco mesmo. Ah! [lembrando-se] Logo após de “ressuscitar” a garota, o que farei com ela?
Futuro: Assegure-se que ela se apaixone pelo futuro homem mais importante em Hanisined. Meu pai já traçou o caminho por quem ela irá se apaixonar, mas é crucial a “intervenção” de Juréhmia na vida de… Esqueci o nome!
Ybanô: É melhor eu apressar-me. Até mais!
Quando o homem sai apressadamente do local, a nuvem enegrece, soltando um som, algo como uma gargalhada. A vemos saindo pela por um buraquinho na base da grande pilastra e indo até uma parte escura da caverna. Quando algumas tochas acendem-se, vê-se uma nuvem menor, bem colorida, emitindo um “choro”, dentro de uma bola de vidro, cercada de grandes barras de aço, ferro e níquel.
Grande lago da porção central [Tarde].
A carruagem real para e Müllino sai. Perguntando ao homem que dirigia o transporte, Guikoltra e Pokoh saem para verem uma cena terrível ao lado do pai. Naklada e Emínua chegam de uma maneira avassaladora, mas com a mesma intensidade, começam a prantear terrivelmente.
O lago estava calmo, bem diferente do “clima” na superfície. O vento uivava como um lobo à meia-noite e, ao tocar as árvores, chacoalhava-as deixando a tarde um pouco mais relaxante. A carruagem ali, imóvel, às margens do grande lago, de frente estava à Juréhmia, com severos machucados em seu corpo.
Emínua: [apavorada] Filha… Juréhmia… acorde! [sacode-a com intensidade]
Naklada: [atordoada] O que foi “Ju”? Pare de brincar assim comigo.
Guikoltra: [aproximando-se] Será que eu poderia ajudar, moças?
Emínua: [aperta-lhe as mãos; levanta-se] O senhor tem que fazer algo! Por favor!
(ali perto)… Pokoh: Ela não é linda?
Guikoltra: [estranhando] A “garota do chão” ou a mãe dela?
Pokoh: Claro que é aquela ali! [sorri] Parece ser a irmã da menina. A “garota do chão” é muito nova, mas esta…
Guikoltra: [alegre] Até nisso discordamos. Prefiro a que está no… [fica sério] É mesmo! Será que ela está morta? A coitada fica aí imóvel, toda desengonçada.
Pokoh: [debochando] Parece até um bezerro desmamado chorando pela “mamãe querida”! [ri maleficamente].
(voltando)… Naklada: Olha que estranho, mamãe! [pega-a] Essa pedrinha era toda colorida e a rosa era de cor cinza. Agora a pedra está cinza e a rosa colorida!
Juréhmia: [olhando-o atordoada] Não tem nada que possa fazer a minha filha?
Müllino: [agacha] Eu poderia levá-la a um curandeiro de meu palácio, mas…
Em um instante, o tempo paralisa todo. Ybanô vem saltitante e sorrindo, como se estivesse acabado de ganhar na loteria. O azul de todo o seu corpo, fazia seu longo cabelo branco parecer uma neve no topo de uma colina. Ao balançar sua varinha, que mais parecia um galho de uma velha árvore desnutrida, cheia de buracos e rachada por todos os cantos, um grande feixe de luz dourado atinge o coração de Juréhmia.
Ybanô ainda pega alguns galhos de uma árvore e um frasco com líquido de coloração azul. Ao colocar tudo em um frasco maior, com um balanço de sua varinha, tudo se mistura em um líquido alaranjado e efervescente, queimando como se fosse composto por fogo. Depois de derramar um pouco do líquido sobre a região peitoral de Juréhmia, Ybanô faz a garotinha engolir a poção.
Ao sair, alguns minutos após, tudo “descongela-se”. Naklada ainda intrigada com a mudança de cor dos objetos, nem percebe sua mãe chorando sobre o corpo de sua irmã. Pokoh olhava Naklada com muita vontade. Guikoltra olha para a pequena e frágil menina ao chão com muita ternura. Müllino, mesmo em pensamentos vagos, estava presente naquela cena de tão triste recepção.
Nos dias hanisinedianos atuais…
Desde o pronunciamento da coruja, três semanas hanisinedianas se passaram. A nave “B.O.L.A” estava em péssimas condições. E seguindo as ordens de Savabian, todos estão caminhando há dias, estando parados no momento na cidade “Pírraka”, no sul do sudeste hanisinedianense.
Sophia (pensando): Eca! Estou totalmente fedida. Esse “pano” que visto não ajuda em nada. A floresta por onde passamos ontem foi terrível. Avistamos uma floresta de árvores negras de galhos retorcidos e esburacados. Um silêncio apavorante, provavelmente pela dizimação da maioria das espécies. O chão, desértico, passava uma plena imagem decadente da situação em Hanisined. Andamos por vários quilômetros e, mesmo assim, sem reclamar quanto ao sol. Estava frio! Só faltava nevar. Fiquei feliz por não usarmos capacetes, mas agora estou arrependida de ter pensado nisso. Minha bolsa de oxigênio estava quase congelada. Agora, depois de um longo descanso às margens de certas trincheiras e ativando o aquecedor temporário, o qual eu pedia e implorava para ser longo. Agora, nesta linda e fervente manhã hanisinedianense, olho para o céu belo, sem nuvens, com meus tubinhos para levar-me oxigênio, finalmente descongelados, estou finalmente à deriva, esperando que milagres aconteçam. A morte de Ana me chocou muito, mas isso não me impede de seguir em frente. Ao voltarmos a andar, vejo o verdadeiro esgotamento dos guardiões.
Arthur: [cansado] Savabian, quando chegaremos enfim à Corujiah?
Savabian: Acho que… dentro de quatro ou cinco dias.
Rodrigo: Isso parece ser tão… tão louco! É até possível acreditar que magia existe, mas precisava de mais provas concretas.
Heitor: [abatido] Savabian… poderia lhe perguntar algo?
Savabian: [preocupa-se] E sobre o que seria, guardião?
Heitor: Onde estão as corujas sem asas? Não às vi por aqui!
Savabian: Na Floresta Ainôzama, elas estavam passando muito mal devido à alta temperatura que a região é pela manhã. Elas felizmente conseguiram achar dolunags, uma espécie raríssima de cogumelo.
Arthur: [confundindo] E esse “negócio” vai salvar a gente?
Savabian: [cabisbaixo] Infelizmente não. Os dolunag são cogumelos mágicos. Mas… Se nós fossemos comê-los, teria que ser um inteiro, além de possuírem apenas alguns míseros frutos.
Sophia: Bem… o jeito é continuarmos a caminhar pelos próximos quatro ou cinco dias … E eu queria saber, Savabian, se você contará sobre o objetivo de tudo isso?
Heitor: Aliás… Para que serviriam os dolunags?
Savabian: A resposta da Sophia, eu não sei, somente meu pai sabe. E os dolunags servem para ir onde você quiser, e… [assustado] Espere! Se as corujas voltaram… Isso quer dizer que estamos desprotegidos totalmente!
Laura: [andando elegantemente] Eu sabia! É nisso que dá ficar encontrando “cogumelos” pelo caminho. Tomara que estejam mortas!
Savabian: E para a infelicidade de minha parte, eu também tenho que aceitar que o maior medo de minha infância é real!
Laura: [debochando] Além dos Nuilloppahs, quem mais seria nosso inimigo?
Porção Oeste. Região Central. Cidade Pannakah [Manhã].
Perdendo tempo, a família real só não muda para esse estado por questões morais e culturais. Pannakah é o melhor lugar do planeta inteiro para se viver, tendo como o tal, a maior concentração populacional mundial.
O lugar tem casas feitas de vários tipos, desde pedras a aço puro. Não totalmente trabalhadas, por causa da falta de recursos, há no centro da região central da porção oeste a maior fabrica do planeta. Mais de 2 bilhões de pessoas trabalham nela, tendo como principal produto, pílulas diárias que substituem todas as refeições, contendo todos os nutrientes necessários para a vida. As matérias-primas seriam flores cristalizadas, plantadas e colhidas em altíssimos morros de enxofre e diamante enegrecido.
Numa das casas, uma mulher de pele amorenada e de estatura média para a altura hanisinediestre, com marcas de idade avançada, está carregando uma cesta com dois pequeníssimos frascos, contendo sete pílulas cada. Seu capuz de cor roxeada balança em direção ao vento frio que chegava avassaladoramente, sentindo falta de um “amor incondicional” para lhe aquecer. Ao entrar em uma casinha feita de pedras, passa por várias portas, que seriam quartos de outras pessoas com as quais dividem a casa. Ao chegar ao último quarto do 3º andar, larga sua cesta acima de uma mesinha e tira o capuz, nos revelando ser…
Naklada: [abatida] Ainda fico intrigada. Como pode ventar se o ar foi quase dizimado totalmente? Mistérios ainda rondam minha cabeça! [entristecida] O ano novo hanisinediano será amanhã e não terei ninguém para comemorar comigo.
Ao ir à cozinha, ela bebe um copo de água aos prantos sentindo-se sozinha e desamparada. O “apartamento” não tem tantos luxos, tendo apenas uma sala pequena com três poltronas sujas, uma mesinha e um apoiador mais alto. Um espelho em hoizontal, fixado na parede, segue por todo o curto corredor, dando a três portas: a primeira, para a estreitíssima, que contém um frigobar, uma bancada, uma pia, e uma prateleira servindo como armário. A segunda, um banheiro com um vaso sanitário e uma ducha. O terceiro, uma cama e uma cômoda quebrada.
Naklada: Se minha irmã estivesse viva, meus inimigos não teriam destruído o planeta. Pelo menos se eu soubesse como tê-los de volta em minhas mãos…
Ainda em Pannakah. Novo Graclapecha. 10º andar/Sala 12.
Na grande fábrica, esse andar em especial estava agitado. Uma fumaça esquisita de cor verde está tomando conta do lugar. Então, uma coruja sem asas de pelo negro e espesso aparece ao meio de toda aquela fuligem. Com uma cara maléfica, a coruja abre seus olhos avermelhados e berra altamente!
Casa de Pedra. 3º andar/”Apartamento” de Naklada. [Começo da tarde].
Um homem com uma barba reluzente e brilhante, seu cabelo liso o deixava extremamente sexy. Sua pela agora mais bronzeada, faz Naklada arregalar os olhos ao abrir a porta.
Naklada: [impressionada] Parece até conto de fadas!
Comansavá: [sorri] E voltaremos a ser os vilões desse conto de fadas.
NESTA QUINTA…
O MAL ESTÁ APENAS DESCANSANDO.
Naklada: Mesmo eu não sendo sua mãe, sinto um enorme carinho por ti.
E NUMA VOLTA A ANOS ATRÁS…
Pokoh: Eu já disse que você é linda?
Naklada: Acha mesmo? Está sendo modesto!
O FEITICEIRO CONTINUA SEU TRABALHO.
Futuro: Talvez… Não tenho certeza se será fácil.
Num escuro galpão, tudo fica em tonalidades verdes diferentes e em movimentos giratórios em alta velocidade, tudo começa a brilhar e Naklada sorri maleficamente. Enfurecido, Guikoltra esbofeteia Pokoh.
Guikoltra: O doce gosto da vitória!
Naklada: Isso é o que você pensa!
Corujas Sem Asas – 2×05 “Imperdoável” – Quinta – 20h – no SdW!