Capítulo 54 – Cantiga de Amor (Último Capítulo) – Parte II
Cena 09: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Final da tarde.
Inês – Como é? Queres dizer que desde a minha chegada ao navio tu sabias quem era Brás, que ele estava perto de mim, e não me disseste nada? Além do fato de fingir ser minha amiga, algo que eu já sei que era mentira.
Marlete – É isso mesmo, Inês. Eu menti, eu te enganei, eu fingi ser tua amiga, tudo para que Brás permanecesse escondido, e para que nós tivéssemos mais chances de encontrarmos o tesouro.
Inês – Para então ajudares Brás a tentar me sequestrar? Tu tens certeza de que queres meu perdão? Não achas que é muita audácia vir aqui para me pedir isso?
Marlete – Sim, eu acho. Eu acho que é um ato de coragem. E eu gostaria, por favor, de que tu o reconhecesses. Por favor, Inês, eu te imploro… Perdoa-me…
Inês leva Marlete e Pero até o quarto onde ela dormia com Brás. Ele está deitado no chão, imóvel e inconsciente. Inês já havia limpado superficialmente os ferimentos maiores. Ainda assim, seu aspecto era deplorável.
Inês – Percebes o que a loucura e a ambição de Brás causaram? E é culpa tua grande parte do que aconteceu a ele, e a mim, que estou condenada a ser sua esposa viúva, até que ele parta de verdade! Tu és culpada por tê-lo deixado embarcar nesses sonhos altos, e assim estragar a minha vida e a dele!
Marlete se ajoelha perante Inês, e seus olhos parecem encher de lágrimas.
Marlete – Por favor, Inês, eu estou ajoelhada perante ti. Eu estou arrependida de verdade. Confia em mim. E me perdoa…
Inês olha para Pero.
Pero – Essa decisão é tua, Inês. Porém, se precisares mesmo de minha opinião, eu acho que é nosso dever cristão ter misericórdia…
Inês – (Para Marlete) Tudo bem. Tu me convenceste. Eu te perdoo.
Marlete se levanta e vai se aproximando de Inês para abraçá-la, mas Inês coloca a mão em sua frente.
Inês – No entanto isso não significa que eu volto a ser tua amiga. Eu te perdoo apenas para tirar qualquer peso dos meus ombros.
Marlete – De qualquer forma, eu te agradeço muito, Inês. Tu não tens ideia de como ele é importante para esse meu recomeço.
Marlete sai do quarto.
Inês – E tu, Pero, realmente acreditas nela? Por acaso tu irás… Aceitá-la em tua casa? Ou eu entendi errado?
Pero – Não sei se eu acredito nela. Mas eu acredito que posso dar um mínimo voto de confiança a ela, inclusive dando-lhe abrigo. Eu sei que as pessoas irão falar… Contudo, se der tudo certo, e ela realmente mudar de comportamento, quem sabe até não atrai a atenção e a confiança de algum dos homens desse povoado? Afinal, todos merecemos uma segunda chance.
Inês – Bem, de qualquer forma, é melhor ficares atento. Quanto a mim, não há segunda chance certa. A segunda chance que eu tive foi de ser infeliz, e ela está deitada sobre esse chão, moribunda, mas sem dizer quando nem se irá acabar um dia.
Pero – Não digas dessa maneira. Quem sabe isso não se torna uma experiência de aprendizado? Eu acredito que tu poderás tirar desses momentos turbulentos – ou seriam melancólicos? – lições deveras importantes. Inês, eu preciso ir, agora. Daqui a pouco tempo escurecerá. Tenho que voltar para casa. Até logo, Inês.
Inês – Até logo, Pero. Vá com Deus.
Inês conduz Pero e Marlete até a porta da casa. Depois, fecha a porta e volta para o quarto. Ajoelha-se ao lado do corpo de Brás.
Inês – É, Brás… Aí estás tu… Não era isso o que querias, não é? Em teus sonhos, tu devias sonhar grande, sonhar alto… Mas teus sonhos não eram sonhos que valessem a pena. Agora, tua condição é apenas deplorável.
Ela se levanta, e vai saindo do quarto. Depois, volta e cospe no rosto de Brás.
Inês – Isso é por teres tornado a minha vida um inferno, até mesmo quando não tens consciência disso!
Ela sai. Alguém bate na porta. Ela abre.
Homem – Boa tarde. Desculpa-me ter vindo aqui a essa hora, mas é que eu me senti na obrigação de fazê-lo.
Inês – Tu és o homem que liderou o grupo que apedrejou meu marido, não é? Por que tiveste o atrevimento de vir até aqui?
Homem – Eu vim porque eu queria pedir perdão diretamente a ti. Com sinceridade. E para me colocar à tua disposição, para qualquer coisa de que precisares.
Inês – Bem… Eu sei que não devia, tu fizeste uma insanidade hoje, mas… Hoje parece que eu fui atacada por um espírito de bondade. Eu te perdoo, sim. Como é mesmo o teu nome, que eu me esqueci?
Homem – Nonato, muito prazer, senhora.
Inês – O prazer é todo meu.
Nonato – Bem, dessa forma, acho que eu já posso me retirar, não é? Acabo de voltar das terras. Tenho que cuidar de meu pai, que está doente em casa.
Inês – Vai em paz, então. Fica com Deus. Ah… (Fala baixo) E volta amanhã, se quiseres. Pode ser por esse horário mesmo, ou então bem cedo. Já que queres me ajudar, eu acho que iria gostar de tua companhia.
O homem sai. Inês entra, fecha a porta, e encosta-se a ela. E sorri, maliciosamente, satisfeita.
Cena 10: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone. Quarto de Simone.
Simone está se preparando para deitar no chão frio de seu quarto, até que Adelmo entra.
Simone – Meu filho… Vieste me desejar boa noite?
Adelmo – Também, mãe. Mas eu também queria dar isso aqui à senhora.
Adelmo lhe entrega o lençol em que dormira na noite anterior.
Adelmo – Eu prefiro que a senhora durma com ele. A senhora sabe por quê…
Simone – Oh, Adelmo, dê-me um abraço.
Ele abraça a mãe.
Simone – Olha só, eu até posso aceitar ficar com isso, desde que tu me garantas que irás ficar bem.
Adelmo – Sim, mãe. Eu irei ficar. Esse é só o primeiro passo para eu deixar para trás todas as lembranças e esperanças do que foi, ou poderia ter sido, meu casamento com Agnella.
Simone – Eu só não quero que tu sofras tanto…
Adelmo – Eu irei superar. A senhora verá. Todos os dias, minha mãe, eu trabalharei. Recuperarei nossas terras, plantarei novas hortaliças… Todos os dias eu trabalharei para continuar a dar a mim, à senhora e a minha irmã uma vida digna. E virá o dia em que eu amarei novamente, por que não? Eu posso e vou esquecer essa paixão cega que só me fez sofrer.
Simone – E eu estarei aqui, para te ajudar, para cuidar de ti. E, se precisares, posso até chamar minha amiga Leonor. Quem sabe ela não arranja para ti uma ótima pessoa?
Adelmo – Quem sabe… Mas agora é hora de dormirmos, dona Simone. Boa noite.
Simone – Boa noite, Adelmo. E não te esqueças: (sussurra) tua mãe te ama.
Eles se abraçam e se beijam.
Cena 11: Igreja del Fiume. Exterior. Dia seguinte. Manhã.
Edetto, Izabella, Gustavo, Ricardo, Giancarlo, Cecília, Gregório e Valentina estão preparados para viagem; Santorini e Ottavio não.
Gregório – Padre, o senhor não nos contou… Ainda planeja se tornar bispo?
Santorini – Não sei, meu filho. Isso depende das determinações de meus superiores, não é? Porém a minha vontade de servir a Deus permanece intacta. Ou melhor, cresce a cada dia.
Ricardo – Eu levarei suas palavras comigo, padre. Com relação ao teu pedido, Gustavo, eu o atenderei. Já conversei com o padre, e consideramos que podemos ser as únicas testemunhas do caso de Francisca.
Gustavo – Eu fico deveras agradecido, senhor.
Ricardo – Mas chegou a hora, não é? Todos temos obrigações a cumprir, e precisamos nos dedicar a elas.
Giancarlo – Muito bem, Gregório, Valentina, a partir de agora os seus destinos se dirigirão a Termes. Eu estou muito feliz por vocês.
Gregório – Eu também estou feliz, senhor. (Vira-se para Ottavio) Mas eu sentirei tantas saudades de ti, meu pai…
Valentina – E eu queria tanto conhecê-lo melhor, senhor Ottavio…
Ottavio – Não fiquem preocupados com esse velho aqui. Eu ficarei bem. Mas eu só anseio que tu sejas feliz, meu filho, e que sigas teu destino. Mas eu quero que venhas visitar teu pai, ao menos uma vez…
Gregório – Nós viremos. O senhor pode confiar em nós. Nós nos casaremos em Termes, teremos filhos, e eles conhecerão seu avô…
Ottavio – Eu ficarei esperando todos os dias por isso.
Gustavo – E eu nem preciso repetir o quanto eu estou feliz por ti, meu amigo.
Edetto – Então, ficaremos assim? Cada um volta para sua casa, aproveitando as carroças que o senhor Ottavio gentilmente nos arranjou, e vai em busca de reconstrução…
Izabella – Senhor Giancarlo, nós só gostaríamos de dizer que sentimos muito. Por qualquer constrangimento que possa ter sido causado por nós, por nosso filho… Nós desejamos, de verdade, que o senhor nos perdoe pelos últimos acontecimentos… E que a nossa ajuda para o senhor retornar a casa seja bem vinda.
Giancarlo – Não, não há mais o que lamentar. Eu também importunei vocês um pouco, não foi, com toda a história do tesouro? Quer dizer, no final as coisas mudaram um pouco. Porém eu volto agradecido por, ainda assim, vocês estarem nos ajudando.
Edetto – Podemos apertar nossas mãos, para enterrar de vez esses dias difíceis?
Edetto estende sua mão. Giancarlo aperta. Em seguida, se abraçam.
Edetto – Agora é hora de irmos.
Eles se aproximam. Edetto, Izabella e Gustavo sobem em uma carroça; Giancarlo, Cecília, Gregório e Valentina sobe em outra.
Gustavo – Cecília…
Cecília olha para ele.
Gustavo – Eu só gostaria de te fazer um pedido, por tudo o que eu senti e ainda sinto por ti. Seja feliz! Por ti, e por mim. Seja feliz!
Cecília – (Sorri) Eu serei, Gustavo. E eu desejo o mesmo para ti.
As carroças, então, partem, seguindo caminhos opostos.
Cinco dias depois…
Cena 12: Nave da Igreja del Fiume. Final da tarde.
Santorini está no altar. A igreja está cheia, e as pessoas estão em pé. Alguns, no entanto, estão sentados.
Santorini – Por isso, meus irmãos, eu os conclamo, a rezar pela alma e pela vida desse nobre homem. Que, embora tenha sido um dos alvos da ambição que tomou conta de vocês, decidiu compartilhar conosco os seus bens. Porém, eu lhes peço: não se preocupem. Não se atordoem, e mantenham a calma. Eu pretendo ajudá-los com a reconstrução de suas vidas. Mas, para isso, é preciso que vocês não se deixem levar pela loucura, não invadindo novamente a igreja. Porque senão essa crucial ajuda não será mais possível.
Uma mulher saiu da multidão, e se dirigiu à sala de recepções. Um homem percebeu sua movimentação e decidiu segui-la.
Marlete – A próxima sala deve ser a do padre. Com certeza foi lá que ele guardou o tesouro.
Pero – Marlete! O que pensas em fazer? Tu irias tentar, mais uma vez, roubar o que não te pertence?
Marlete fica lívida. Pero puxa-a pelo braço, e eles voltam à nave da igreja.
Pero – Então esse desejo de regeneração era mesmo falso! Bem que Inês me avisou! Tu não mereces a confiança de ninguém!
Marlete – Eu posso explicar…
Pero – Não precisas explicar nada! Eu já entendi que querias roubar o tesouro de novo!
Uma pessoa se vira para eles.
Homem – Como? Ela queria roubar nosso tesouro? O tesouro que irá recuperar nossas casas e nossas plantações?
Todos ouvem o que ele fala, e se juntam ao redor de Marlete e Pero.
Marlete – Não, não! Vocês entenderam errado…
Homem – Eu entendi certo! Tu querias nos roubar!
As pessoas começam a assumir expressões enfurecidas. Percebendo isso, Marlete se solta de Pero e sai correndo da igreja. Os outros correm atrás dela.
Santorini – Meus irmãos! Voltem para cá! A missa ainda não acabou!
Eles não dão ouvidos. Pero e Santorini seguem a multidão. Lá fora, Marlete corre para trás da igreja e entra na floresta. Dessa vez, as pessoas não desistem e entram na floresta também. Marlete permanece correndo. Ela vai ficando ofegante. Em determinado momento, ela para, se apoia em uma árvore. Olha para trás. A multidão está próxima, e grita. Marlete volta a correr, dessa vez mais devagar. Chega ao rio. Olha para trás. Ela tenta seguir pela margem do rio, mas a multidão a alcança.
Marlete – O que é que eu posso fazer?
Ela olha para o rio. Volta a olhar para a multidão. Então, ela entra no rio.
Mulher – Peguem-na! Não a deixem fugir!
Alguns homens entram no rio.
Marlete – E agora? Eu não sei nadar…
Ainda assim, ela continua correndo da maneira que pode e que a correnteza permite. Olhando para trás, ela vai chegando à parte mais funda. De repente, cai num buraco. Começa a se afogar. Uma pessoa a alcança, mas, debatendo, ela se solta. Tenta voltar a correr, dessa vez para o lado, mas olhando sempre para trás. No entanto, acaba encontrando outro buraco. Ela se desequilibra, vai caindo, até que bate a cabeça em um tronco de árvore que estava em sua frente, mas ela não viu. Começa a se afogar, e a perder a consciência. Outro homem a alcança, mas, na hora em que vai pegá-la, a correnteza a livra do tronco de árvore, arrastando-a pelo leito do rio. Nessa hora, Pero e Santorini chegam ao local.
Pero – É uma pena… Ela poderia ter feito tudo do jeito certo.
Santorini – E lá se vai… Mais um exemplo de como a ambição desenfreada pode acabar mal.
Um mês depois…
Cena 13: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone. Tarde.
Simone e Leonor estão na sala. Alguém bate na porta de casa. Simone abre. É Ottavio.
Simone – Ottavio! Já estávamos achando que não irias vir hoje…
Ottavio – Mas como não? Desde que meu filho viajou, um mês atrás, para a tal cidade, as duas senhoras são minha única companhia.
Leonor – E ótima companhia, tu não achas? Vem, senta aqui. Diz-me lá, como foi o teu dia hoje?
Ottavio – Eu estive a pensar em meu filho. Acho que é amanhã que ele, Valentina, Giancarlo e Cecília chegam a Termes. A sua nova morada.
Cena 14: Termes. Praia. Dia seguinte. Manhã.
Cecília, Giancarlo, Gregório e Valentina estão em frente ao portão da cidade.
Gregório – (Para Valentina) Chegamos, Valentina. Chegamos ao local de nossa definitiva casa.
Valentina – (Para Gregório) Depois de tanto tempo fugindo, girando, rodando, tentando, enfim, estamos aqui. Livres. E prestes a começar uma nova vida.
Gregório – E eu sei que, seja o que for que Deus tenha planejado para nós, seja quais forem os seus sonhos, em um lugar como esse, eles serão reais. E eu nunca esquecerei que tu foste o anjo que Ele enviou para me mostrar o caminho certo. Eu não posso dizer-te outra coisa, além de que te amo.
Valentina – Eu também te amo, Gregório. Meu parceiro para toda a minha vida.
Eles se beijam.
Giancarlo – (Para Cecília) De volta à nossa terra…
Cecília – (Para Giancarlo) Para começar tudo de novo. Mas esse recomeço há de ser bom.
Giancarlo – O que importa, minha filha, é que nós temos a nós dois. Somos uma família. Que pode até ficar maior, depois…
Eles riem, contidamente.
Cecília – Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas agora, meu pai, o que eu preciso é viver, dia após dia, manhã após manhã. Não é assim que se constrói o futuro?
Giancarlo – Sim, Cecília.
Cecília – E será assim que eu construirei a nova Cecília.
Os quatro se olham e sorriem. Então, dão-se as mãos, e caminham em direção à cidade.
Cena 15: Igreja del Fiume. Ala dos aposentos.
Carregando cordas, Santorini e Ricardo abrem a porta de um dos quartos. Francisca está deitada no chão.
Ricardo – Chegou o dia do teu julgamento, Francisca. O tribunal da Santa Inquisição já está montado em frente à igreja.
Santorini – Eu já não aguentava mais ouvir gargalhadas todas as noites. Isso deve acabar hoje. Infelizmente para você, irmã, que teve chances de escolher outro caminho.
Francisca se levanta.
Francisca – Eu escolhi o caminho que achei o mais certo. Eu possuía mais conhecimento que os dois juntos! Eu tive uma vida feliz!
Santorini – Esse não é o tipo de felicidade que nos traz boas consequências.
Francisca – Não me importo. A minha missão está cumprida.
Cena 16: Igreja del Fiume. Exterior.
O tribunal está montado, e o julgamento acontecendo. As pessoas dos povoados ao redor da igreja estão presentes. O bispo Ricardo parece ter terminado de depor. Francisca está amarrada a um dos novos bancos da igreja. O presidente do tribunal se levanta, anda ao redor da irmã.
Presidente – Diante dos testemunhos e das provas que me foram apresentados, diante da própria confissão da ré, e debaixo da autoridade que Deus me deu, eu a declaro culpada por praticar bruxaria, e a condeno à morte! Por favor, tragam a estaca!
A estaca é trazida, e colocada no meio do “tribunal”. A irmã Francisca é amarrada nele. Depois, o carrasco se aproxima e, com uma tocha, “transfere” o fogo para o corpo de Francisca, que começa a rir alto. Um vento passa pelo local, mas não apaga o fogo, que consome, aos poucos, o corpo da ex-freira.
Francisca – Vocês podem até me matar, mas ainda terão muito trabalho! A minha missão foi cumprida, mas muitas outras pessoas nesse mundo vivem e viverão para Hera e para o conhecimento que ela transmite! E ninguém será capaz de detê-las!
Ela solta uma gargalhada forte, que arrepia a todos que, atentos e assustados, assistem à execução. Algumas pessoas começam a sair.
Santorini – Essa cena é muito forte… Alguns não conseguem vê-la.
Ricardo – Mas ela é necessária para que todos aprendam o que é certo e o que não é. E para que temam, que tenham medo, porque Deus não deixa impune o pecado de ninguém!
Cena 17: Campania. Feudo. Final da tarde.
Gustavo está sentado à sombra de uma árvore, próximo ao feudo de sua família. Seus pais se aproximam.
Edetto – Meu filho, vamos voltar para casa… Está ficando escuro.
Gustavo – Pai, por favor, deixe-me aqui. Eu preciso ficar sozinho.
Izabella – Gustavo, ouve teu pai. Não é bom para ti ficar aqui tanto tempo… Irá ficar frio. Além disso, eu te vejo tão acanhado, cabisbaixo…
Edetto – Mas eu tenho certeza de que isso irá passar, meu filho. Logo, logo, assim que nós recuperarmos nosso feudo, eu e tua mãe faremos questão de arranjar um meio de preencher o vazio que tu tens em teu coração no momento.
Gustavo – Eu não quero conversar. Eu já falei. Com licença.
Gustavo sai e se afasta ainda mais, dirigindo-se a outra árvore. Ele olha para a frente, porém seu olhar parece “perdido”. Uma lágrima, sozinha, rola sobre seu rosto. Ele entoa uma cantiga.
Gustavo –
Meu Senhor, que planos teus
São esses que tens p’ra mim?
Se tiveram que ter fim
Todos os amores meus?
Só te rogo me ajudar
A entender, algum dia,
Por que, pela noite fria,
Tivemos nós que passar,
Eu e as duas donzelas
Senhoras de meu amor.
Ah, meu Deus, grande Senhor
Que destino Tu me selas?
A noite desce, com o céu estrelado. Em algum momento, Gustavo retornou para casa, encontrando seus pais, que, em secreto, confabulavam sobre o futuro de seu filho. E assim passaram-se os dias… Gregório e Valentina casaram e, assim como Cecília, se tornaram comerciantes, de primeira e definitiva viagem, ajudados por Giancarlo. Ricardo prometeu a Santorini que ele irá consagrar-se a bispo; mas, enquanto isso, Santorini continua o mesmo padre dedicado. Enzo e Prudência voltaram a ser um casal de cumplicidade, mas, cada um a seu modo, não deixam de pensar no futuro de Agnella; que, todos os dias, quando vai ao rio buscar água, não deixa de olhar e cuidar da planta que nasceu sobre um símbolo de seu amor por Gustavo. Adelmo trabalha com cada dia mais afinco, e cada vez mais convicto de suas decisões sobre a vida. Pero está sozinho, à espera, talvez, de um novo amor. Inês aguarda que Brás decida o caminho que quer seguir – mas ela prefere que ele siga o caminho sem volta. Simone, Leonor e Ottavio continuam vivendo até o limite a que a sociedade lhes permite ir. E o mundo permanece feudal, a Igreja permanece senhora das ações e pensamentos, e o comércio começa a dar sinais de como será seu futuro.
Já é 1097. E a história, depois de tantos capítulos, poderia parar de ser contada aqui. Mas, na vida, nem tudo se resolve tão rápido. E só vive quem tem paciência e sabedoria para amar e se interessar pela vida e por observá-la, mesmo que já se ache cansado. Então, é necessário dizer: a nossa história
continua…
Eu quero pedir perdão e paciência a vocês, porque minha internet ontem e hoje tem estado muito ruim, e aconteceu que de sexta pra sábado eu havia deixado as duas primeiras partes do capítulo salvas como rascunho, mas passei o dia todo de ontem, e estou passando o dia de hoje, só tentando corrigir os erros das duas primeiras partes, e tentando postar o restante do capítulo. Mas eu vou continuar, uma hora sai rsrs