Capítulo 13 – A Santa e o Bruxo
JESUÍNO – Diga agora: o que a senhora tem de combinação com esse bandido aí?
CELSON – Tú cala essa boca, moleque, senão eu arranco ela na peixeira…
Jesuíno
sacou sua arma para Celson Canaveira, e com os olhos arregalados, e as
mãos trêmulas, ele se aproximou ainda mais do cangaceiro.
CELSON
– A não ser que tu esteja mesmo quereno atirar, é mió baixar essa arma,
num sabe? Não se aponta uma arma pra um homem sem que esteja mermo com a
intenção de matá-lo.
JESUÍNO – Pois eu vou te matar se você não falar agora o que está de conluio com a minha mãe.
AUGUSTA – Jesuíno, abaixe essa arma. Isso não é nada do que você está pesnado…
JESUÍNO
– E o que eu posso estar pensando? Eu entro em minha casa e descubro
que a minha mãe estava tramando contra o meu próprio pai…
AUGUSTA (gritando) – Não me desrespeite!
JESUÍNO – Mãe, diz a senhora. O que está conversando com esse homem?
AUGUSTA – Jesuíno, você tem que confiar em mim. Você tem que confiar em Celson Canavieira…
JESUÍNO (aos gritos) – Esse homem tentou me matar! Como confiar?
CELSON – Eu sei que é difícil acreditar, moleque, mas eu não ia…
JESUÍNO – Pare de me chamar de moleque, desgraçado!
Sem
controle das suas emoções, Jesuíno desferiu um soco na cara de
Canavieira, que, perplexo, olhou-o no fundo dos seus olhos, passando a
mão no lugar da pancada.
CELSON – É melhor eu sair daqui antes que eu o mate mesmo…
Mais que depressa, Celson deixou a casa-grande. Augusta tentou conversar com o filho, mas em vão.
AGUSTA – Jesuíno…
JESUÍNO – Me deixe em paz! Me deixe em paz!
Ele saiu correndo, esbarrando em Celson Canaveira, que ainda tentava se recompor do murro que levara.
CELSON – Moleque atrevido. Deixa eu dar um corretivo nele…
AUGUSTA – Saia da minha casa. Você já causou estragos demais desde que cruzou a minha família.
CELSON – A sua família desgraçou a minha. Isso eu ainda não esqueci.
Saiu, deixando a matrona sozinha.
Com
seu cavalo, Jesuíno atravessava o serrado a galope. Não tinha intenção
nenhuma a não ser cavalgar. Ao longe, Maria o avistou.
MARIA(gritou) – Jesuíno!!!
Ela
conhecia seus hábits, e já sabia que ele gostava de tomar banho no rio
quando ficava nervoso. E realmente lá estava ele, de peito nu,
mergulhando nas águas meio barrentas meio claras do rio das Velhas.
Mergulhava de forma tão graciosa, que ela se forçava a não interromper.
Ver seu corpo daquela forma, era um deleite. Mas Maria se aproximou
assim mesmo.
MARIA – Jesuíno…
JESUÍNO – Maria.
MARIA – Você está bem?
JESUÍNO
– Mal cheguei à Barra e já encontrei uma teia de mentiras. Minha noiva
morta juntamente com um homem que nunca vi na vida. A memória do meu pai
suja por causa de uma história esquisita de que ele viveu na Europa na
juventude, minha mãe tramando alguma coisa com cangaceiros…
MARIA – Não fala mais nada.
Maria
abraçou o corpo molhado de Jesuíno, de forma que a água escorria pelo
seu próprio corpo, molhando seu vestido, e expondo a cor da sua pele. E o
beijou de forma profunda, como nunca tinha beijado ninguém. E alí mesmo
eles esqueceram que estavam no meio da natureza, e Jesuíno passou a
explorar o corpo de Maria de forma até mesmo selvagem, tirando-lhe as
roupas e as jogando para o lado. E se deu que seus sexos se encontraram,
e Maria até então Virgem, experimentou pela primeira vez um homem,
caída na grama, da forma mais primitiva que o ser humano poderia
experimentar. Ela não segurou seus gemidos e seus seus gritos de prazer,
pedindo mais, mais, mais…
Corta para os dois abraçados debaixo de uma árvore, já vestidos.
JESUÍNO – Você é maluca!
MARIA – Sou sim. Maluca por você.
JESUÍNO – Você sempre me desejou, mesmo sabendo que a sua irmã ia se casar comigo?
MARIA – Você sabe que sim.
JESUÍNO – Mas você é a mais velha. Por que nunca teve um pretendente?
MARIA – Porque eu sempre quis você. Eu nunca ia ser feliz com outra pessoa.
Jesuíno olhou profundamente para Maria e se afastou um pouco. Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo.
JESUÍNO – Sabe que isso a colocaria na lista dos suspeitos?
MARIA – Como é?
JESUÍNO – Se souberem que você sempre invejou a sua irmã, isso faz de você uma suspeita.
MARIA – Não seja ridículo! E quanto ao Bruxo? O que eu teria contra ele?
JESUÍNO – O que a cidade toda teria. Pelo que dizem, ele é um servo do próprio Diabo.
MARIA – Me admira um iluminista falar uma coisa dessas.
JESUÍNO
– Sabe que não estou falando de mim. Estou falando desses matutos aqui
da vila. Aliás, você poderia me falar sobre algum envolvimento que os
dois tiveram?
MARIA – Minha irmã era muito recatada. Não se envolveria com um homem com o senhor Héctor.
JESUÍNO
– Mas isso não faz sentido! Quem teria dois motivos diferentes para
matar duas pessoas diferentes no mesmo dia e usando os mesmos métodos?
Maria o fez calar, e o beijou.
MARIA – Jesuíno, tente se livrar do passado. Deixe os mortos descansarem…
JESUÍNO – Eles não vão descansar enquanto eu não descobrir a verdade.
MARIA – E se você não descobrir?
JESUÍNO – Eu vou descobrir. Você precisa me ajudar.
Mais uma vez ela o abraçou, e enquanto falava, ia beijando o seu rosto.
MARIA – Eu lhe ajudo no que precisar. Me diga o que fazer, e eu faço.
JESUÍN – Me fale mais. Me fale tudo. Como a Mariana se encontrava com o Samalla? Por que?
MARIA – Me desculpe, meu amor. Mas está na cara que eles eram amantes…
JESUÍNO (gritando) – Não a Mariana! Ela era doce. Ela nunca… nunca…
MARIA
– Eu sei o que se passa em sua cabeça, Jesuíno. Mas e você, sabe o que
se passava no coração da sua amada. O coração é um cofre que só o dono
conhece. Jesuíno. Você não poderá nunca saber o que se passa no coração
das outras pessoas.
JESUÍNO – Vai me ajudar ou não?
MARIA – Não sei muito o que fazer, mas tem uma pessoa que sabe: Edonézia:
JESUÍNO – Quem?
MARIA – Edonézia. Era a mucama que cuidava de Maria.
JESUÍNO – E onde eu a encontro?
Corta para a Fazenda da Serra, de propriedade da Família Malheiros.
EDONÉZIA
– Foi sim, sinhô. Eu e a Sinha Santinha nois ia passeá todo dia lá pras
banda da prainha. Ela gostava de pegá a fresca da tarde, e dona Conceça
me mandava ir com ela.
JESUÍNO – E o que acontecia nesses passeios? É muito importante, Edonézia.
EDONÉZIA – Era passeio comum, Nhonhô…
JESUÍNO – Não era não, Edonézia. O fato de eu vir aqui procurar por sua ajuda, é porque eu já sei de algumas coisas.
A escrava arregalou os olhos grandes e acastanhados
EDONÉZIA – “Mai” sabe de que, Nhonhô?
JESUÍNO
– Que a minha noiva se encontrava com o Bruxo. Eles não teriam sido
mortos juntos se isso não estivesse aocntecendo. E se tem alguém que
pode me falar disso, esse alguém é você, Edonézia. Portanto, pode ir
falando.
Edonézia ficou de costas para Jesuíno, para evitar que ele visse seus olhos assustados.
EDONÉZIA – Sei de nada não Nhonhô…
JESUÍNO – Eu não estou lhe forçando a nada, Edonézia. Estou pedindo um favor. Pode me fazer um favor? É muito importante.
Amedrontada, a escrava saiu correndo, ams Jesuíno a alcançou, jogando-a no chão.
JESUÍNO – Eu já estou sem paciência. Tem, alguma coisa muito misteriosa acontecendo, e você vai me dizer agora o que é…
Edonézia começou a chorar.
EDONÉZIA
(aos prantos) – pelo amor de Deus, patrãozinho, num me obriga a falar
porque o Bruxo me fez jurar guardar segredo, e eu tenho medo de ele vim
me buscá…
JESUÍNO – Segredo de que? O que acontecia para que ele lhe fizesse um pedido desses? Vamos, diga!
EDONÉZIA – O Bruxo falou que vosso pai já matou muita gente, e que por isso ele endoidou.
JESUÍNO – Mas como você teve contato com o Bruxo, e por que ele lhe falou do meu pai.
FLASHBACK – Oito meses antes.
MARIANA MALHEIROS – Eu adoro vir aqui nessas tardes de inverno. É tão fresco, apesar desse cenário brutal que é essa região.
Maria
falava para a escrava que lhe acompanhada silenciosa. De repente, ambas
vêem uma silhueta negra se aproximar. Uma figura alta, vestindo uma
capa com capuz. Elas iam correr, mas o homem disse com uma voz grave,
porém doce:
BRUXO – Não precisam correr. Sou eu.
Ele tirou o capuz.
MARIA MALHEIROS – É só o senhor Samalla.
BRUXO
– Senhoria, preciso lhe alertar para algo muito grave que está para
acontecer. Vai acontecer um massacre na Barra. Todos vão morrer.
Fim do capítulo 13.