Capítulo 8 – A Santa e o Bruxo
Capítulo 8
JESUÍNO – Seja o que for que o senhor tenha sonhado, está relacionado aos cavaleiros Templários.
OTTONE – Hã?! Quem?
JESUÍNO – Dois homens montados em um cavalo era o símbolo dos Templários. Um sinal que representa a pobreza…
OTTONE – A pobreza? Está certo. Então quer dizer que a Ordem mais rica e corrupta da Idade Média tinha como símbolo, algo que representava pobreza? Por que será que isso me soa familiar.
JESUÍNO – Tio, quanto tempo falta para terminar esse seu tratamento?
OTTONE – Não sei, meu filho. Depende do que o Pajé irá dizer. Ele é quem conduz o tratamento, e somente ele pode me dizer. Mas o que isso tem a ver com o meu problema? Pelo que sei, um sonho é só um sonho. Não pode representar nada de real.
JESUÍNO – Não é bem assim, tio. Eu tive acesso a ocultistas na Europa. Eles me ensinaram muitas coisas sobre o desconhecido, a magia.
OTTONE – Eu tenho receio dessas coisas…
JESUÍNO – Mas olhe ao redor. O que você está fazendo aqui se não for magia? Esses índios fazem o mesmo que os magos da Europa fazem, só que lá eles possuem certo requinte e uma aura de mistério que os índios não conhecem nem fazem questão. Mas é pura magia. E o fato de aquele bruxo espanhol ter vindo para cá reforça a minha teoria.
OTTONE – E qual teoria é essa?
JESUÍNO – De que há alguma coisa muito importante aqui que os Templários querem.
OTTONE – Mas os Templários não foram suprimidos?
A pergunta transportou Jesuíno mais uma vez para a Europa, seis meses antes.
FLASHBACK
JESUÍNO – Mas os Templários não foram suprimidos?
FRANÇOISE VIGNOIS – Eles foram suprimidos sim em 1307, mas muitos deles fugiram levando uma relíquia muito perigosa para a Igreja Católica e para as Monarquias.
Françoise Vignois era um francês intelectual, amigo de Jesuíno. Eles se conheceram em Ingolstadt, mas Françoise desistiu do curso de Direito porque acreditava-se superior aos seus professores. Estava sempre de peruca, à moda aristocrática, e tinha modos bem refinados. Foi com ele que Jesuíno aprendeu os modos de um europeu. Eles tomavam chá em uma requintada taverna, onde somente nobres frequentavam. Eram os primeiros tempos do iluminismo na França, e estavam cheios de iluministas por lá.
UMA VOZ – Lendas! Lendas e mais lendas!
Todos se voltaram para uma mesa pouco iluminada no fundo, e Jesuíno mal pode acreditar no que via. Era um homem alto, com uma grande peruca loura e com um sorriso irônico. François Marie Arouet
JESUÍNO – Perdão, você é Voltaire?
VOLTAIRE – Em pessoa. Um seu criado.
Ele se levantou e deu a sua mão em cumprimento.
VOLTAIRE – Creio que o cavalheiro utiliza-se de paixões para contar as histórias fabulosas dos cavaleiros Templários. Para mim, assim como a Igreja Católica, não passaram de ladrões, e tiveram o fim merecido.
FRANÇOISE – O senhor já não se encontra sob a s vistas do rei por causa da sua opinião pouco ortodoxa sobre tais questões?
VOLTAIRE – Pouco ortodoxa é bondade do Cavalheiro. Infelizmente, vivemos numa sociedade onde falar a verdade é motivo de desvantagem. Mas por favor, não se prendam por mim, o senhores falavam sobre os Templários.
FRANÇOISE – Sim, claro. Eu dizia que ao ser suprimida, a Ordem permaneceu na clandestinidade, com Templários vivendo em no Sul da França, na Holanda, Suíça e em Portugal. A relíquia Sagrada que os tornaram poderosos foi roubada por eles mesmos, e escondida. E dizem, é um segredo tão explosivo que pode afundar de vez com a fé católica.
VOLTAIRE – Com a fé cristã, eu diria. Hoje em dia não existem somente católicos, não é mesmo. Existem muitos protestantes por aí.
FRANÇOISE – Eu tenho a impressão que o cavalheiro esteja mesmo querendo chamar a atenção da polícia real.
VOLTAIRE – De forma alguma. Eu não sou do tipo que chama a atenção.
FIM DO FLASHBACK
OTTONE – E você acredita nisso? Quer dizer, você acredita que os Templários sobreviveram à supressão?
JESUÍNO – É uma boa pergunta. Mas eu acredito que tenham sobrevivido alguns. E caso isso tenha acontecido, não seria de espantar que eles tivessem mesmo roubado a tal relíquia que os deixaram tão poderosos.
OTTONE – E você acha que tem a ver com o baú?
JESUÍNO – Tio, por que não me diz o que tem naquele baú?
OTTONE – O importante agora é recuperá-lo. Jesuíno, você precisa voltar. Você tem que encontrar esse baú de qualquer jeito.
JESUÍNO – Mas por que? Por que não acaba com esse mistério e me diz porque o meu pai e o senhor Malheiros brigaram?:
OTTONE – Porque eu mesmo não sei. Eu não sei…
JESUÍNO – Assim que amanhecer, eu vou voltar.
Corta para o dia seguinte.
Jesuíno chegou à vila, com aparência de cansado, e foi recebido por Maria, que andava pela praça. Ela correu para abraçá-lo.
MARIA – Jesuíno! Você está horrível! O que aconteceu? Onde esteve?
JESUÍNO – É uma longa história. Preciso de um bom banho e um pouco de descanso.
MARIA – Sua mãe está louca de preocupação.
JESUÍNO – Eu sofri uma tocaia dos cangaceiros, mas os índios me salvaram.
MARIA – Os índios te salvaram? Me desculpe, mas esse não é o feitio deles. Eles têm raiva porque invadimos suas terras.
JESUÍNO – Essas terras não são deles. Eles vieram do Nordeste. Mas isso não importa. Parece que há uma rixa entre eles e os cangaceiros, e qualquer um que ousar enfrentar Celson Canavieira, vira amigo deles.
MARIA – Eu vou com você até a sua casa. Vamos.
Mas antes que Jesuíno pudesse entrar, Major Cipriano interrompeu seu caminho.
CIPRIANO – Ora ora, se num é um o filho do maluco do Jesuíno Velho. Ocê já foi visto em situação melhor.
JESUÍNO – Tentaram me matar, e eu sei que isso tem dedo seu, Major. Mas eu não tenho medo de você.
CIPRIANO – Pois ocê devia. Ocê devia porque eu sou dono dessa gente e num admito ser desafiado não, e ocê levantou o topete pra mim no meio de muita gente, inclusivemente dos meus escravos.
JESUÍNO – Saia da minha frente, Cipriano…
Major Cipriano desceu do cavalo e colocou a mão na faca que traz sempre consigo, preso ao cinto.
CIPRIANO – Ocê é mais tinhoso do que posso imaginar. E eu num gosto de gente assim não. Se eu fosse ocê, eu fazia logo o que vim fazer aqui, e voltava logo pras Oropa…
JESUÍNO – Mas você não sou eu. E eu vou brigar por essa gente, contra trastes como você.
Cipriano sacou sua faca.
CIPRIANO – Escuta, rapaz. Eu sou Major Cipriano, e eu num admito ser desafiado não.
Maria se postou entre Jesuíno e o major, colocando-se na frente da faca.
MARIA – Jesuíno, pelo amor de Deus, não fala nada. Ele é perigoso…
CIPRIANO – É mió ocê ouvir a mocinha aí, já que ficou escondida atrás dela feito um marica.
MARIA – Vamos embora, Jesuíno.
JESUÍNO – Vamos.
Saiu. Mas antes de entrar pelos muros da sua casa, voltou-se para Cipriano.
JESUÍNO – Isso ainda não acabou. Ainda vamos resolver nossas pendências.
Ao entrar em casa, Jesuíno foi recebido aos beijos pela Mãe, dona Augusta, que já havia pensado o pior, afinal de contas havia um dia o filho estava sumido depois de discutir com o Major Cipriano. Ela odiava Cipriano pelo modo como ele tratava seu marido Jesuíno Velho.
JESUÍNO – Eu acho que Major Cipriano esconde alguma coisa que ele sabia do meu pai.
MARIA – Esquece isso, Jesuíno. Essa história não vai lhe fazer bem. Seu pai morreu, e morreu guardando um segredo que ele preferia manter escondido.
JESUÍNO(gritou) – Eu não consigo deixar para lá! Será que você não vê? Se o meu pai guardou esse segredo, é porque era algo terrível. E pela sua memória, eu vou trazer tudo isso à tona.
MARIA – Você já pensou que pode não gostar do que irá descobrir?
JESUÍNO – Você já pensou que talvez meu pai quisesse dizer algo, e nunca teve coragem?
Houve um momento de silêncio.
MARIA – Você está certo. Não, você está mais do que certo, eu nem sei por que tento dissuadir você…
JESUÍNO – Eu sei.
AUGUSTA – Jesuíno, talvez Maria tenha razão. Talvez seja melhor deixar isso como está…
JESUÍNO – Você sabe de alguma coisa, minha mãe?
Mais silêncio.Augusta ficou olhando Jesuíno nos olhos, col cara de assustada, como se estivesse esocndendo alguma coisa.
JESUÍNO – A senhora está me escondendo alguma coisa, dona Augusta?
Dona Agusta ficou sem saber o que responder, mas enfim, fez valer seus direitos demãe.
AUGUSTA – Você me respeite, menino. Eu sou sua mãe.
Corta para um local misterioso.
Se o leitor pudesse ver, viria somente uma sala mal iluminada. No centro,uma mesa velha e em cima dela, nada menos que o Baú. A pessoa que se aproximou, estava se escondendo dealguma coisa. Somente suas mãos eram visíveis. As mãos se aproximaram do baú e o abriu. Fechou-o novamente, e desmaiou.
FIM DO CAPÍTULO 8