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Cantiga de Amor

Capítulo 48 – Cantiga de Amor (Reta Final) – Mais uma descoberta!

Cena 01: Igreja del Fiume. Sala de recepções.

Gustavo – Eu sou o verdadeiro herdeiro desse tesouro! Toda essa história só faz sentido se tiver sido o meu avô quem o descobriu, junto com o avô de Marconi!

Giancarlo – Isso é um absurdo! Um disparate!

Edetto – Pelo contrário… Faz muito sentido… Meu pai repetia, todas as vezes que falava sobre esse baú, que ele possuía algo que seria importante para mim e para meu filho!

Giancarlo – E por que, então, ele nunca falou sobre tudo isso para vocês? Por que Gustavo somente entrou em contato com essa história quando estava em um navio, em direção a Termes?

Edetto – Realmente… Eu confesso que não sei o motivo… Talvez seja por causa da loucura que o consumiu… Talvez ele tenha achado que viveria mais tempo para nos dizer tudo…

Izabella – Na verdade, ele não ficou em silêncio. Ele contou essa história a outra pessoa.

Edetto – (Surpreso) A quem, mulher? Como tu podes saber disso?

Izabella – Porque ele contou a mim. Na época, já estava louco… Ele não queria exaltá-los com essa conversa, nem fazê-los desejar sua morte antes do tempo. Mas ele tinha um certo apreço por mim, ele também me considerava uma filha. Além disso, ele havia ficado louco, achou que estava sendo vigiado, ameaçado, perseguido…

Gustavo – Então ele não confiava em nós? E… Por que a senhora nunca tocou no assunto?

Izabella – Claro que ele confiava! Só que daquela maneira maluca e ressabiada dele… Ele não tinha confiança era em testamentos. Talvez seja por isso que o que ele nos quis dizer foi guardado em um baú, para que apenas nós tivéssemos acesso a seu legado. E eu nunca comentei sobre isso porque ele não me falou sobre tesouros e viagens. Ele talvez quisesse que nós mesmos descobríssemos. O que ele me disse foi que havia deixado uma herança para Gustavo, e que, quando ele morresse, deveríamos procurar por um amigo seu, que também estaria envolvido na história. Ele também disse que deveria levar o baú.

Edetto – Eu me lembro… Sim, tu me convenceste a viajar para o norte, após a morte de meu pai. Na época, tu disseste que era para que eu mesmo conhecesse o lugar em que ele viveu por um tempo… Fazia sentido. Mas por que nunca me disseste nada sobre a tua real intenção?

Marlete – Está óbvio que essa mulher sabe onde está o tesouro, é está escondendo a verdade.

Izabella – Não! Eu jamais faria isso! Jamais privaria meu filho de algo que era seu! Acontece que, quando nós chegamos à região onde um dia o meu sogro viveu, eu descobri que o tal amigo dele estava morto. De sua família, só sobrara o neto, mesmo, porque até o filho já tinha partido. Mas eu garanto que eu nunca soube que o neto desse seu amigo também era herdeiro. Bem, eu também fiquei bastante intrigada com o baú, devido a tudo o que ele sempre falara, mas como não havia entendido o que havia nele de tão importante, e o tal amigo dele não era mais vivo, então acabei esquecendo toda essa história.

Gustavo – Até agora. (Vira-se para Giancarlo) O senhor está convencido, senhor Giancarlo, de que o seu pai mentiu para o senhor por toda a vida? De que foi ele quem tentou roubar o tesouro?

Giancarlo – Eu… Eu não sei o que dizer… Desde que sou criança, então, eu ouço mentiras. Filha, eu, eu peço perdão… Talvez eu a tenha criado do modo errado. Agora que acreditamos que esse tesouro não deve ser mais teu, eu te peço perdão… O tesouro que sempre achaste que pertencia a ti, não é mais teu…

Cecília – Pai, o senhor não precisa me pedir desculpas. Fomos todos vítimas dos enganos de meu avô… É só uma pena descobrir, assim, de modo abrupto, que um homem que sempre lhe serviu de exemplo era, na realidade, um mentiroso…

Uma lágrima cai de seu rosto. Gustavo se aproxima e enxuga sua lágrima.                             

Gustavo – Se precisares de algo, podes contar comigo.

Giancarlo – Mas principalmente comigo, que sou teu pai. E sei o que realmente importa para ti, Cecília.

Cecília – Obrigada. Aos dois. Todavia essas revelações não são razões suficientes para que eu me abale, não é? Meu avô já se foi… É melhor não ficarmos pensando nem falando de mortos… E, sabe, Gustavo, eu quero te dizer que, diante das circunstâncias, se eu já não estava mais tão interessada em encontrar esse tesouro, agora é que eu me sinto livre dele. É como se um fardo saísse de meus ombros… Porém fosse diretamente para os teus. O que irás fazer, agora que a tua posição perante esse tesouro é de herdeiro legítimo? Sim, porque, por uma obra de Deus, tu te encontraste com o outro herdeiro dele.

Gustavo – É verdade, Cecília. A terceira geração, que deveria se encontrar para assumir a herança… Realmente, só pode ter sido Deus quem fez isso. Marconi me falou que confiava em mim para substitui-lo no compromisso entre as famílias… E pensar que tantos problemas foram causados por não termos conhecimento da verdade. Mas agora será diferente.

Edetto – Mas o que irás fazer agora, filho?

Gustavo – Eu irei pensar, meu pai. Pensar.(Ele pega o papel que estava no baú) E, quanto a todos vocês, eu gostaria de pedir-lhes que esquecessem tudo isso. Nem que fosse por enquanto. É melhor sairmos daqui, porque as pessoas devem estar chegando do cemitério agora, não é? E o ideal é que ninguém saiba do que se passou por aqui.

Cena 02: Igreja del Fiume. Ala dos aposentos.

Valentina – Gregório, nós não podemos confiar em Edetto. Ele com certeza nos prenderá novamente aqui! Além disso, ainda tem a irmã Francisca!

Gregório – Nós não estamos aqui por causa dele. Lembras dos sonhos, meu amor? Lembras que eu te perguntei se voltarias para cá de bom grado ou na barriga de um peixe? Pois bem, foi preciso o grande peixe para que nós estivéssemos aqui, novamente. Pode ser que alguém esteja precisando de nós.

Valentina – Mas quem? O sonho foi muito confuso… E eles voltaram essa noite…

– Flashback –

Gregório e Valentina estão, cada um encostado em uma árvore, à beira de um precipício. Eles olham para a frente, e veem uma igreja, e sobre ela a sombra de uma grande mão. Tentam sair, mas parecem estar presos, ainda que não estejam amarrados. Ao mirarem o fundo do abismo, veem, ao longe, um pequeno brilho. Eles olham um para o outro. Ao tentarem se aproximar, acabam arrancando as árvores da terra. Dão-se as mãos e pulam no precipício. No entanto, dessa vez, o abismo parece ser curto. Ao caírem, ainda conseguem ver a igreja e a sombra da mão. O brilho está mais próximo e mais forte. Um fio de água parece ser o caminho que leva ao lugar de onde vem o brilho. Sem perceberem, e como que forçados a isso, eles começam a seguir o fio de água. Andam um pouco, até que chegam ao local de onde vem o brilho. Estava embaixo da terra.

– Fim do flashback –

Valentina – Eu não entendo como isso pode ser importante para alguém…

Gustavo aparece.

Gustavo – Gregório, eu preciso falar contigo. É um assunto sério. E eu gostaria de poder contar com tua ajuda.

Cena 03: Nave da Igreja del Fiume.

O padre entra na igreja, trazendo consigo a multidão que esteve no enterro das vítimas do ataque dos saqueadores.

Francisca – Ao menos Deus fez justiça, padre. Eu sabia que todos eles seriam consumidos pelo fogo. Deus usou sobre eles o mesmo castigo que eles impuseram sobre esse povo. Ou melhor, que foram levados a impor, pelas consequências do pecado de poucos. Deus só privou a floresta, que não tinha culpa nenhuma, mandando mais chuva.

Santorini – Irmã Francisca, a senhora não me explicou ainda o que quis dizer com todas essas palavras.

Francisca – No momento certo o senhor compreenderá a razão de tudo isso. Apesar de que eu acho que, devido a sua posição, a resposta para essa indagação deveria ser bastante evidente. (Suspira) Com licença, padre, o momento é de tristeza, mas eu não posso abandonar o convento que está sob minha responsabilidade.

Francisca sai. Enzo e Adelmo se aproximam.

Adelmo – Padre, nós gostaríamos de conversar com o senhor.

Santorini – Eu até imagino qual seja o assunto, mas eu creio que vocês reconhecem a gravidade da situação. E reconhecem que talvez esse não seja o momento para falarmos sobre esse assunto…

Enzo – Padre, nós entendemos exatamente o contrário. Eu pensei bastante de ontem para cá, e cheguei à conclusão de que esses períodos de crise que têm se seguido são momentos para que nos fortaleçamos. Agora que teremos que recomeçar as nossas vidas, acho que seria melhor se o fizéssemos com o caminho certo já tomado.

Santorini – E com mais responsabilidades nas costas?

Adelmo – Eu estou pronto para assumir todas elas. Já esperei demais para constituir minha própria família.

Enzo – E quanto mais tempo Agnella passar em nossa casa, pior será para ela.

Santorini – Quais são seus planos, então?

Adelmo – Que esse casamento saia logo. Claro,sem a necessidade, muito menos a possibilidade de festa. Até porque nós queremos apenas contornar essa crise e seguir adiante nossas vidas.

Enzo – E, com relação à data, que seja preferencialmente na próxima semana.

Camuflada entre as outras pessoas que estão perto, Agnella sai correndo em direção ao interior da igreja.

Cena 04: Igreja del Fiume. Ala dos aposentos.

Gregório – (Exultante) Então tu és o herdeiro do tesouro, Gustavo? Eu nem consigo acreditar!

Gustavo – Nem eu, meu amigo… Nem eu…

Gregório – E tu vieste me perguntar sobre o que fazer? Mas não uma herança que te pertence? Tu tens todo o direito de buscá-la!

Gustavo – Só que esse tesouro já causou problemas… Foi pivô de uma traição entre amigos, foi pivô de mentiras… Eu não quero passar por percalços assim!

Gregório – Tu podes antecipar-te às más intenções, e fazeres um bom uso dele!

Gustavo – Marconi me disse a mesma coisa, antes de morrer… Nesse caso, eu decido seguir em frente. Só me resta saber onde, nessa enorme península, está esse tesouro. Eu posso passar anos o procurando! Eu posso até partir sem tê-lo achado!

Gregório – Não, não. Deve haver um jeito de encontrares esse esconderijo.

Valentina – Espera aí… Tu falaste que nesse baú de teu avô havia vários desenhos de cruzes, e que em uma das paredes desse baú, havia uma cruz talhada na madeira, e, sob ela, um traço sinuoso?

Gustavo – Sim. Eu só não entendi ainda qual a verdadeira importância de todos esses desenhos de cruz… Dessa linha curva, então…

Valentina – A cruz, a cruz é importante… Gustavo, parece que teu avô quis chamar bastante atenção para ela. Gregório, eu creio que tu podes me entender…

Gustavo – Eu terei que procurar todas as cruzes que houver nessa península?

Gregório – Não, Gustavo! A cruz é um símbolo! Um símbolo que representa a Igreja!

Valentina – (Muda de expressão de repente) Gregório, tu tinhas razão… Os sonhos… A linha sinuosa… O fio de água… O brilho enterrado que nos puxava até ele… E a igreja… A Igreja del Fiume… A igreja do rio!

Gregório – Sim, sim! A igreja do sonho era realmente a Igreja del Fiume, que é uma referência para os viajantes que passam na região. O fio de água e a linha sinuosa pode ser uma simbologia para o rio, que é importante por dar o nome à igreja… E facilita sua identificação, pois qualquer outra igreja poderia ser representada por uma cruz. E o brilho enterrado…

Gustavo – É o tesouro!

Gregório – Que deve estar localizado em algum lugar perto desse templo.

Uma sombra se mexe no início do corredor, sumindo na direção da nave da igreja.

Cena 05: Nave da Igreja del Fiume.

Marlete está saindo da igreja. É interceptada por Inês.

Inês – Marlete, aonde estás indo?

Marlete – Bem, eu… Eu estou indo dar um passeio aqui por perto.

Inês – Eu irei contigo. Preciso distrair meus pensamentos dessa tragédia. E do crápula do Brás. Aliás, será que não já sabes onde ele está? Será que não me escondes nada?

Marlete – Claro que não. Quer saber, depois de toda essa desconfiança, eu perdi a empolgação para passear. Com licença.

Marlete entra na igreja e se perde no meio do povo. Encontra Gustavo.

Gustavo – Marlete, foi bom te encontrar. Eu estive pensando… Não sei se já sabes, mas ontem,quando fomos ao acampamento para buscarmos o baú, sabe quem apareceu lá?

Marlete – Com licença, eu não tenho tempo para conversar sobre isso.

Gustavo – Calma lá! Tu não queres saber, contudo eu digo, mesmo assim. Quem estava lá era Brás. Brás, o mesmo homem que, dizendo-se Magno, resolveu pôr um fim ao meu noivado com Cecília. Como não conseguiu pegar o baú, ele disse que encontraria um modo próprio de conseguir esse tesouro. Duas coisas me intrigaram. Primeiro: como ele sabia do baú, e que ele estava com os saqueadores? Segundo: que outra maneira ele teria para conseguir esse tesouro? Por acaso não és tu quem responde perfeitamente às duas perguntas? Não és tu quem o fez lutar pela arca de meu avô ontem, e quem o ajudará a conseguir esse tesouro?

Marlete – Eu já disse várias vezes, e posso repetir outras. Eu posso até ter tido interesse em possuir esse tesouro, sim. Mas eu não sei onde Brás está, e, uma vez que ele é um mentiroso a ponto de falsear a própria morte, eu não me atreveria a ser sua amiga em nada! Agora, sai da minha frente!

Gustavo – Olha aqui, Marlete, dessa vez tu escapas. Porém, da próxima, tu terás de esclarecer minuto por minuto de toda essa história.

Marlete sai sem dar-lhe mais ousadia.

Cena 06: Igreja del Fiume. Sala de recepções.

A sala está vazia. Marlete entra, vai até um canto e puxa o baú, que estava escondido. Ela o abre.

Marlete – Quem sabe aqui eu não encontro respostas…

Agnella entra.

Marlete – Agnella? Por que vieste para cá? Estavas me seguindo, por acaso?

Agnella – Eu vim aqui para cobrar-te. Eu sei bem que estás de conluio com Brás nessa busca do tesouro que pertence a Cecília, e que está me afastando de Gustavo. Eu quero que vocês encontrem uma maneira rápida de achar esse tesouro, porque meu pai pretende me casar na semana que vem. E eu não posso ser de outro a não ser de Gustavo…

Marlete – Eu não sei bem se estás em condições de cobrares algo de nós. Cumpriste a tua parte no acordo, por acaso? Estás levando comida para Brás?

Agnella – Como poderia fazer isso? Se o povoado foi atacado?

Marlete – Nisso tu tens razão. Porém tu podes fazer outra coisa. Dar um recado a Brás por mim.

Agnella – Que recado?

Marlete – Tem a ver com o tesouro. Podes ficar tranquila, garota, porque estamos muito perto de encontrá-lo. Eu quero apenas que tu prestes bastante atenção. No que eu irei te contar, e no que está aqui, dentro desse baú.

Cena 07: Igreja del Fiume.

Agnella chega à nave da igreja, se mistura ao povo e sai da igreja sem ser notada. Seu pensamento parece estar longe.

Agnella – (Falando baixo) O tesouro, então, está perto da igreja… (Gradativamente, o volume da voz aumenta devido à sua “empolgação”) O tal tesouro está perto da igreja… O tesouro está perto da igreja… Perto da igreja! Quem diria… Um tesouro… Aqui!

Agnella passa pelo campo aberto, localizado atrás da igreja, e entra na floresta. Simone e Leonor vinham do cemitério, quando passaram por ela.

Simone – Minha amiga, eu ouvi bem?

Leonor – Se for o que eu ouvi, sobre tesouro, só pode ser maluquice… Essa menina deve estar doida.

Elas passam por um camponês e uma camponesa, que conversavam.

Estela – Meu querido, não fiques abatido… Deus nos ajudará e tu conseguirás recuperar tua plantação…

Ignacio – Mas como? Se eu não tenho um tostão para isso?

Simone – (Para Leonor) Ora já se viu… Um tesouro perto da igreja!

Estela – Um… Tesouro? Será que isso é verdade? Um tesouro… Ouro, prata, bronze, joias… Isso com certeza ajudaria a nos recuperarmos…

Ignacio – Isso deve ser lorota! Se bem que pode, sim, ser verdade… Eu me lembro de uma história que minha mãe contava, que uma vez um grande rei, um poderosíssimo rei…

Cena 08: Nave da Igreja del Fiume.

Pero está sentado em um dos bancos da igreja. Inês se senta ao seu lado.

Inês – Pero, eu sei que tu não queres falar comigo…

Pero – De maneira alguma, Inês. Eu não chegaria a esse ponto contigo.

Inês – De qualquer forma, eu gostaria de te pedir perdão. Só que, dessa vez, sem querer nada em troca. Eu reconheço que errei pelo que te fiz passar, principalmente naquele navio. Eu traí tua confiança… E perdi, quem sabe, minha última chance de ser feliz. Já que Brás está vivo e desaparecido, eu não sei o que será da minha vida a partir de agora.

Pero – Não te preocupes, Inês. Eu já te perdoei. Não guardo mais nenhuma mágoa a respeito de ti.

Inês – Muito obrigada, Pero. E se tu me permites essa pergunta… Se quiseres, podes nem me responder. Mas… Tu, por acaso, ainda guardas algum pedaço daquele amor que sentias por mim?

Pero – Eu não sei… Talvez sim. Talvez eu ainda sinta algum amor por ti. Só que eu prefiro esquecer isso. Eu quero dar um fim nessas aventuras de amor, e reconstruir minha vida. Assim como a tua vida precisa ser consertada.

Inês – Tu tens razão. Eu espero não ser mais um estorvo para ti, Pero. Tu és livre para decidir teu destino da maneira que desejares, e que for possível. Mas será que eu não poderia ao menos te pedir um abraço?

Pero sorri. Ele abre os braços, e Inês o abraça.

Cena 09: Floresta.

Brás – Quer dizer que esse tesouro está mais perto do que nós imaginávamos? Quer dizer que ele está por aqui, perto da igreja? Foi só isso mesmo que Marlete te disse? Estás certa de que ela não sabia de mais nada? Como o local onde ele está escondido?

Agnella – Tenho certeza absoluta. Foi só isso que ela me disse. Agora tu já podes encontrar esse tesouro, e então eu terei Cecília longe de Gustavo!

Brás – Tá, tudo bem, como quiseres. No entanto, eu ainda sinto que ela pode estar guardando alguma informação para si. Deixa-me, então, recapitular. A cruz e a linha tortuosa desenhadas no baú representavam uma igreja e um rio; ou seja, a Igreja del Fiume. Não havia mais nada nesse baú, além da árvore? Só que eu não consigo ver como ela se encaixa. Aliás, Agnella, tu prestaste bem atenção a essa árvore, não foi? Será que serias capaz de desenhá-la… Ali, naquele ponto onde tem mais areia?

Agnella – (Ela assume uma expressão grave) Não haveria como eu não saber desenhá-la.

Agnella pega um graveto e faz o desenho.

Brás – Estranho… Como pode haver alguma relação disso com o tesouro? A não ser que essa teoria sobre sua localização esteja errada.

Agnella – Como assim? Não pode estar errada. Esse tesouro precisa ser encontrado antes do meu casamento com Adelmo! Ou tu estás esquecido que eu tive que fingir aceitá-lo para poder sair do castigo?

Brás – Calma, menina! Eu disse isso porque conheço muito bem essa floresta. E eu posso garantir que essa árvore não é nativa da região. Não há árvores como essa perto da igreja!

Agnella – Claro que há! (Seus olhos se enchem de lágrimas) Eu sei onde existe uma. No rio.

Brás – Então tu irás me levar até lá. E iremos de carroça. Pode ser que precisemos de algumas coisas que eu ainda salvei da noite de ontem.

Cena 10: Beira do Rio dos Campos.

Agnella e Brás chegam a um trecho da margem do rio. Param em frente a uma árvore.

Agnella – É essa. (Uma lágrima cai) Reconheci-a assim que vi o seu desenho… É a árvore em que eu me encontrava com meu amor… Gustavo…

Brás – Claro! Eu já havia visto essa árvore outras vezes, mas tinha me esquecido completamente dela. (Os olhos dele começam a brilhar) Agnella, eu tive uma ideia… Pode ser a mais maluca de todas. Mas também pode ser a mais genial. Dê-me, por favor, o machado que eu consegui trazer do acampamento dos saqueadores, junto com as outras ferramentas que estavam na carroça.

Agnella – O que pensas em fazer? Tu não podes derrubar essa árvore! Ela… Ela é parte de minha vida!

Brás – Não há tempo para sentimentalismos! Se não queres pegar o machado, eu mesmo pego.

Brás pega o machado, e começa a golpear a árvore próximo ao chão. Agnella ainda segura o cabo do machado, tentando impedi-lo, mas não consegue, sendo jogada ao chão.

Brás – Apesar de ter uma grande copa, essa árvore nem é tão difícil de ser derrubada. Parece até que o tronco estava corroído. Devem ter sido cupins.

Agnella – Não! Para com isso!

A árvore cai no chão. Agnella corre para o seu caule, agarrando-se a ele, chorando.

Agnella – Não te preocupes, Gustavo… A nossa árvore pode ter ido ao chão. Mas o nosso amor não irá ser derrubado! Nunca será…

Brás lança-lhe um olhar de desdém, enquanto amarra uma corda ao toco que ficou no chão. Então, ele sobe na carroça, chicoteia forte o cavalo, que corre de modo tão repentino a ponto de conseguir arrancar o toco. Brás consegue parar o cavalo, desce da carroça, pega uma pá e se põe a escavar a terra. Enquanto se livra de raízes, ele continua escavando. Até que a pá bate em algo que soa de modo diferente. Brás olha direito para o que está na terra. Dá um forte murro no chão, e pula, sorrindo.

Brás – Um baú… Um baú! Já podes ficar contente, Agnella! Eu achei o que eu queria! O que nós queríamos! O tesouro… É meu!

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