Capítulo 44 – Cantiga de Amor (Reta Final)
Cena 01: Nave da Igreja del Fiume.
Santorini – Brás está vivo. E está por perto.
Simone – O que o senhor disse, padre?
Adelmo – Mas isso é impossível!
Leonor – O senhor mesmo nos anunciou a morte desse crápula!
Inês – Padre, o senhor terá que nos explicar isso direito.
Cena 02: Igreja del Fiume. Quarto em que Pero está.
Pero – Inês! Por que entraste desse modo tão abrupto?
Inês – Pero, é verdade que tu sabias de toda essa história de que Brás está vivo?
Pero – Sim, é verdade. Só que eu só tive conhecimento dela depois que vocês voltaram do porto para cá. Tu lembras que eu ainda fiquei lá? Foi lá que eu descobri a verdade sobre teu marido.
Inês – Mas… E por que não me contaste assim que chegaste aqui?
Pero – Calma, Inês, calma. Eu te digo tudo o que aconteceu.
Pero explica sobre a queda da carroça, a fuga de Brás e a ajuda de Agnella.
Inês – Pero, eu nem sei se te agradeço ou se brigo contigo. Ser viúva definitivamente não é bom. Porém a experiência de ser novamente a mulher de Brás me é extremante repulsiva.
Pero – Eu fiz o que pude. Meu interesse foi de apenas desfazer essa mentira para todos.
Inês – Eu te entendo. O problema agora… É que eu tenho medo. Medo de que Brás resolva reaparecer e tornar novamente a minha vida em um suplício.
Pero – Inês, eu sinto muito. Mas, como eu disse, e espero que concordes, a verdade é o mais importante. E se for para ficares segura, é preciso encontrarmos Brás o mais rápido possível. E eu sei de uma pessoa que pode estar escondendo alguma coisa. Eu falo de Marlete, a prima de Cecília.
Inês – Marlete? Sim, sim! Eu me lembro dela! Nós duas nos tornamos amigas no navio! Por que tu achas que ela deve saber onde Brás está?
Pero – Ela me pareceu ser também amiga de Brás. E, seu fosse tu, eu ficarias mais atenta com ela. É como o que eu já ouvi o padre dizer vária vezes: na vida, não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo.
Inês – Será?…
Cena 03: Nave da Igreja del Fiume.
Enzo – Padre, será que nós poderíamos tratar agora do casamento de Agnella? É que eu preciso ir às terras, para trabalhar.
Santorini – Meu caro, eu sei que você irá me compreender. Acabo de descobrir que um homem que pensei estar morto está vivo. E que está em algum lugar perto daqui, se escondendo de todos nós. É preciso procurá-lo agora.
Enzo – O senhor não pode pedir a outros homens para fazerem esse trabalho em seu lugar? Sair, sem rumo, talvez entrar na mata fechada… Isso pode ser perigoso para o senhor.
Adelmo – Eu posso fazer isso pelo senhor, padre. Ele é meu cunhado; é de meu interesse tirar satisfações com ele.
Enzo – Mas se tu fores, não poderemos tratar do casamento. Considero importante a tua participação nessa decisão, Adelmo.
Santorini – Enzo, não seria possível esperarmos até amanhã? Eu lhe garanto que dedicarei a minha atenção apenas a isso. Então resolveremos tudo.
Enzo – Tudo bem, tudo bem, padre. Eu espero. Vamos, Agnella, tu tens que voltar para o teu quarto.
Agnella – Mas pai, eu preciso fazer uma coisa importante…
Enzo – Não precisas fazer nada! Não deverias nem ter fugido de casa! Vamos logo!
Eles saem.
Simone – Quer dizer que o senhor irá procurar pelo traste do meu genro, padre?
Santorini – Sim. Adelmo irá comigo. Vamos?
Adelmo – Já, já estaremos de volta, mãe.
Leonor – Vão! Tomara que dessa vez o achem morto por alguma fera!
Cena 04: Igreja del Fiume.
Marlete está saindo da ala dos aposentos, quando é interceptada por Inês.
Marlete – (Fingindo surpresa e alegria) Inês, minha amiga! Que bom vê-la aqui!
Inês – Eu quem tenho que dizer isso! Afinal, não esperava que tu estivesses na região.
Marlete – É que meu tio resolveu fazer uma viagem de última hora, e todos nós tivemos que acompanhá-lo. Devaneios que temos que aturar por sermos família, não é?
Inês – Marlete, quando tu dizes que todos tiveram que acompanhar teu tio, tu incluis Brás?
Marlete – Oh! Pelo visto tu descobriste tudo! (Fingindo compaixão) Minha amiga, como estás? Deves estar arrasada com essa notícia… Eu confesso que quando eu soube, lá no porto, que Magno não era quem disse ser… Ah, eu fiquei revoltada! Enganou-nos por tanto tempo! Mas parece que ele sumiu, não foi?
Inês – Por mim, ele teria morrido de verdade. Seria melhor do que tê-lo como marido. Porém agora, com ele por perto, ele pode querer fazer alguma loucura, não é? Por acaso tu sabes onde ele está?
Marlete – Eu? Por que eu saberia? Estou tão no escuro quanto todos.
Inês – Sabe, Marlete, não me entendas mal. É que eu me lembro de que, no navio, tu cuidavas de um Magno, que estava doente… Era Brás, não era? Então eu pensei que, de certa forma, vocês fossem amigos, e que tu poderias ter pelo menos uma ideia de onde ele está agora.
Marlete – Eu te entendo. Só que naqueles dias eu ainda não sabia a verdade. Mas tu podes ter certeza, Inês, que, enquanto tua amiga, eu faço questão de te ajudar a encontrar o teu marido.
Inês – Tu vais sair agora?
Marlete – Eu? É… Não. Quer dizer, vou lá fora, só para tomar um ar. Amo esse clima que faz hoje…
Cena 05: Rio dos Campos.
Marlete – Brás, trago-lhe más notícias.
Brás – (Arregala os olhos) Não vais me dizer que…
Marlete – Exatamente. Pero Marques abriu a boca e contou ao padre que tu estás vivo. E o padre contou a Inês.
Brás – (Esbraveja) Maldito seja! Agora eles devem estar me procurando… O que é que eu vou fazer… Preciso encontrar um lugar melhor para me esconder.
Marlete – Tu conheces a região muito bem. Deves saber onde há um lugar.
Brás – Eu só consigo pensar em me abrigar na floresta. Tu não tens medo da floresta, não é?
Marlete – Claro que não! Se tivesse nem teria vindo aqui.
Brás – Pois bem. Vem comigo, eu já pensei em um lugar aqui perto.
Cena 06: Igreja del Fiume.
Simone e Leonor estão ajoelhadas em frente ao altar, aparentemente rezando.
Simone – Que Deus e Nossa Senhora protejam meu filho na busca por esse maluco do Brás.
Leonor – Sabes que até agora eu não entendi bem como tudo isso foi acontecer?
Simone – Ah, mas é só esperarmos até acharem Brás. E ele terá que nos contar melhor cada detalhe da confusão em que ele se colocou.
Leonor olha para trás.
Leonor – Olha só quem está ali atrás. É o pai do seminarista.
Simone também olha.
Simone – Hum… Ele parece um pouco abatido hoje… Será que aconteceu alguma coisa com o filho dele? Ele deve estar precisando de ajuda, coitado.
Ela volta a olhar para trás.
Simone – E quem é aquele outro homem ao seu lado?
Leonor olha. Simone fala de Giancarlo.
Leonor – Nunca o vi por aqui. O que será que ele faz na região?
A irmã Francisca aparece por trás das duas. Pigarreia, e elas olham para a irmã.
Francisca – As duas não acham que deveriam rezar em vez de ficarem olhando para esses homens? Onde pensam que estão? Aqui é a casa de Deus!
Simone – Mil desculpas, irmãs. Vamos rezar, Leonor.
Leonor – Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco…
Francisca sai.
Leonor – E lá se foi a inspetora da igreja. Depois eu é que sou intrometida. Ora já se viu…
Elas riem e voltam a rezar.
Cena 07: Floresta.
Em uma clareira na floresta, cercada por mata fechada, estão Marlete e Brás.
Marlete – É… O lugar é perto de onde estávamos. Ainda assim é bem escondido.
Brás – Eu já passei por aqui uma vez, quando precisei coletar algumas ervas.
Marlete – Ervas? Mexes com magia negra também?
Brás – Não, não! Deus me livre e guarde disso! Eram ervas daninhas, na verdade, para as plantações de Pero. É uma pena que isso não tenha dado certo na época.
Marlete – Agora eu tenho que voltar para a igreja. Na verdade, quase não pude sair. Estão começando a desconfiar de que eu posso saber de teu paradeiro. Irá ficar mais difícil trazer-te novas informações. Além de comida, é claro. Se bem que essa parte tu poderias fazer sozinho, já que conheces tão bem a floresta.
Brás – Não sei se abrirei mão de uma comida melhor, não. Porém eu sei quem poderá te ajudar quando não puderes vir até aqui. Tu irás até essa pessoa agora mesmo e a mandará ao meu encontro.
Marlete – E quem seria essa pessoa?
Brás – Agnella, a garota apaixonada por Gustavo. Ela tinha feito um acordo comigo de convencer Pero a não contar a verdade sobre mim, mas parece que não deu certo. Agora, ela terá que nos ajudar, se ainda quiser o amor de volta. Eu irei te ensinar como chegar à casa dela. Só tens que tomar cuidado para não ser percebida pelos vizinhos.
Cena 08: Nave da Igreja del Fiume.
Inês se ajoelha ao lado de Simone e de Leonor.
Inês – Vim rezar para que Deus tenha misericórdia do meu futuro.
Simone – Isso, minha filha, junta-te a nós. Já estamos fazendo isso.
Leonor – Se eu fosse a má pessoa que tu dizes que sou, não faria isso, não concordas, Inês?
Inês – Isso não vem ao caso.
Francisca se aproxima.
Francisca – Inês, Inês… Ainda bem que te achei. Gostaria de falar contigo.
Leonor – (Sussurra para Simone) A inspetora voltou…
Simone – (Sussurra de volta) Espera, eu quero ver de que se trata.
Inês – Pois não, irmã Francisca… No momento eu estou rezando. A senhora não poderia falar comigo daqui a pouco?
Francisca – Minha querida Inês Pereira, se eu bem imagino, tu vieste aqui porque o padre iria dar-te as recomendações devidas com relação ao pagamento dos pecados que cometeste com Pero Marques. Estou certa?
Inês – Claro, irmã. Porém, ao que parece, os planos tiveram que ser mudados, uma vez que descobrimos que o meu marido não era mais falecido. Eu não vejo, então, razão para a senhora querer falar comigo.
Francisca – Muito pelo contrário. A gravidade de teu pecado aumentou, pois tu o cometeste sendo ainda casada. Isso configura-se como um adultério.
Ao fundo, percebe-se Santorini e Adelmo chegando.
Simone – Irmã Francisca, nós não sabíamos que Brás estava vivo! Nem mesmo a senhora!
Francisca – Ah, e a senhora concorda com o que sua filha fez, então?
Simone – Claro que não! Porém a culpa por trair o marido a minha filha não tem.
Francisca – Deixe só o padre chegar, que eu terei uma conversa com ele.
Santorini se aproxima.
Santorini – Eu estou aqui, irmã Francisca. E, na minha visão, a mãe de Inês está certa. Por maior que tenha sido o erro de Inês e Pero, ele não passou pelo adultério.
Francisca – Padre, o senhor está plenamente certo de que essa visão é a mais correta?
Santorini – Bem, enquanto o sacerdote dessa igreja, eu assumo a responsabilidade pelas minhas decisões. Se a irmã quiser reclamar de algo, que o faça ao bispo Ricardo, que deve nos visitar novamente em alguns dias.
Francisca – Se é assim que o padre deseja, eu farei desse modo. Quando o bispo Ricardo chegar, eu terei uma conversa muito importante com ele.
Francisca sai.
Leonor – Essa mulher está doida.
Santorini – Calma, Leonor. A irmã Francisca apenas ameaça, mas ela sabe o que é certo.
Simone – Mas e então, padre, dê-nos alguma informação. Acharam quem estavam procurando?
Santorini – Não. Vasculhamos em torno da igreja, mas nada de encontrarmos Brás. Mais tarde faremos novas procuras.
Adelmo – Bem, mas eu terei que ir às terras agora, não é? Tenho duas mulheres para sustentar, e logo, logo uma terceira. Não posso descuidar de nenhuma delas, não é?
Santorini – É certo que não.
Simone – Tchau, filho!
Ele sai.
Santorini – Quanto a você, Inês, eu realmente preciso ter uma conversa. Com você e com Pero. Só não poderá ser agora. Parece que Edetto está à minha procura.
Cena 09: Igreja del Fiume. Sala de recepções.
Edetto – É isso, padre. Eu estou em dúvidas se fico e pressiono Giancarlo a terminar a conversa que ele interrompeu na metade; ou se vou embora para minhas terras. Foram tantos dias longe, que eu sinto que eles devem estar precisando de mim.
Izabella – Por mim, nós voltávamos logo para casa. Não vale a pena ocupar a cabeça com alguma bobagem que tenha trazido esse comerciante para cá. Teu pai mesmo, Edetto, sempre disse que não confiava em comerciantes, que um comerciante o traiu uma vez.
Gustavo – Parece que ninguém está interessado em minha opinião, não é?
Ottavio aparece na sala de recepções.
Ottavio – Desculpe me meter nessa conversa, mas… Onde fica o seu feudo mesmo, senhor?
Edetto – Nós somos da região da Campania.
Ottavio – Mas o local não é um pouco longe para vocês partirem agora? Talvez não dê tempo de vocês encontrarem um abrigo seguro, antes que anoiteça.
Santorini – O que Ottavio disse faz sentido. Por que vocês não passam mais uma noite aqui?
Edetto – Tudo bem. Vocês me convenceram. Amanhã nós partiremos, quer queiram Gustavo e o comerciante insistente, quer não queiram.
Gustavo sai.
Gustavo – Mais um dia aqui… Eu preciso resolver meus problemas de vez. Será que Agnella ainda está na igreja?
Cena 10: Atrás da Igreja del Fiume.
Marlete está vindo da floresta, onde teve a conversa com Brás, quando vê Giancarlo e Cecília conversando.
Marlete – Eu preciso chegar mais perto, mas eles não podem me ver… Quem sabe essa conversa não pode ser importante…
Ela anda pelas árvores até chegar a um local próximo à lateral da igreja, de onde consegue ouvir o que eles estão falando.
Giancarlo – Por isso, minha filha, que eu decidi procurar esse Edetto. Só que eu não contei o motivo real porque eu não tenho certeza de quem ele é, não sei se ele é confiável. Porém tu és minha filha, e esse tesouro é, acima de tudo, do teu interesse.
Cecília – Pai, eu acho que o senhor não foi muito claro. O senhor me disse que o tesouro não está em Termes. Porém isso não explica por que vir até aqui!
Giancarlo – Em seu leito de morte, meu pai me contou que o tesouro não estava em Termes. Só que ele não me disse apenas isso. Ele também me disse que…
Gustavo se aproxima, vindo da igreja, mas ainda não é visto nem ouvido pelos dois.
Gustavo – Cecília está ali… Terá ela visto Agnella?
Ele se aproxima mais, conseguindo ouvir a conversa.
Giancarlo – O meu pai me disse que o tesouro está escondido em outro lugar. Acontece que ele não me disse onde. E foi por isso que eu pensei que o pai de Gustavo poderia ter a resposta para essa pergunta.
Cecília – Mas eu ainda não entendi em que ele se encaixa nisso. Digo, como ele pode saber desse tesouro. (Pausa) A não ser que o tesouro esteja… Pai, ele está mesmo no local, ou melhor, na região em que eu estou pensando?
Giancarlo – Provavelmente. O tesouro foi enterrado em algum lugar dessa península.
Agnella está cada vez mais se envolvida nesse caso com Brás e Marlete, isso não é nada bom.
E essa história do tesouro, está mexendo com meus neurônios, está muito bom isso!!!! 😉
Realmente, não é bom para Agnella estar envolvida com Brás e Marlete.
E o tesouro guarda surpresas, revelações muito importantes. A principal delas está no capítulo 47, postado nessa sexta. Mas outras coisas ainda virão.
Que bom que você está gostando! Não perca as próximas emoções! 😉