Capítulo 41 – Cantiga de Amor
Cena 01: Nave da Igreja Del Fiume. Manhã.
Giancarlo – Deve existir algo, além disso, para o senhor ter me perguntado de quem meu pai o ganhou. E eu sugiro que esteja disposto a terminar logo essa conversa, porque o senhor e sua família não sairão daqui até que a verdade seja dita.
Edetto – Mas o senhor não acha que está havendo muita audácia de sua parte, não? Olha só, eu já disse tudo o que eu podia dizer sobre isso, e preciso ir embora para as minhas terras. E não será o senhor quem irá me impedir.
Giancarlo – Eu realmente não posso impedi-lo. Não posso trancar as portas dessa igreja, é verdade. Porém eu tenho quase certeza de que a curiosidade que o moveu naquele dia e que ainda deve movê-lo não o deixará sair daqui.
Edetto – O que o senhor quer dizer com isso?
Giancarlo – Vamos conversar melhor, com mais calma. O senhor pode me contar a verdade sobre seu interesse no colar, e então, quem sabe, eu respondo a outras perguntas que o senhor tenha.
Izabella – E então, Edetto, tu irás aceitar essa conversa? Ou nós podemos encontrar Gustavo e partirmos para casa?
Edetto – Não, Izabella, deixa. O cavalheiro está insistindo demais nisso. Quero entender também qual é o objetivo dele.
Santorini – Se os senhores quiserem, eu posso levá-los até a sala de recepções da igreja, que fica próximo a minha sala.
Giancarlo – Ótimo. Assim evitamos interferências de outras pessoas. Vamos?
Cena 02: Floresta.
Pero está conduzindo uma carroça. Com ele, está Brás, amarrado nos pés e nas mãos.
Pero – Chegou a hora de contares a verdade sobre tua mentira para a tua mulher, Brás. Tu és um crápula, Inês já sofreu muito contigo, porém essa farsa não pode subsistir.
Sem que Pero veja, Brás se aproveita de um prego mal colocado para folgar as cordas de suas mãos. Assim, ele consegue soltar suas mãos, e depois seus pés. Ele se arrasta na carroça, se aproxima de Pero e dá um golpe em sua cabeça, fazendo-o “cambalear”. Ele consegue tomar o controle da carroça. Brás dá a volta bruscamente, jogando, sem querer, Pero para fora da carroça. Pero entra rolando na floresta. Brás pega o caminho da volta.
Brás – Fique com Deus, Pero. Não será agora que tu irás estragar meus planos.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.
Agnella ouve a porta de casa bater.
Agnella – E agora? Gustavo deve estar indo embora em pouco tempo. Se ele não já foi… Enquanto isso, eu estou presa nesse quarto. Mas eu preciso sair daqui. Essa batida na porta… Foi meu pai, sim, que acabou de deixar a casa para buscar água e comprar o pão.
Agnella se dirige até a porta.
Agnella – (Grita) Mãe! A senhora não precisa me chamar para o café! Eu não estou com fome!
Ela vai até a janela.
Agnella – E agora, é só eu dar um jeito de abrir essa janela trancada. E então, eu vou até a igreja e me encontro com Gustavo. E nós poderemos ficar juntos.
Cena 04: Floresta.
Agnella está vindo do povoado, indo em direção à igreja.
Agnella – E ainda por cima estou a pé… Espero que Gustavo já não tenha ido embora…
Ela sente algo tocando em seu pé, e leva um susto.
Agnella – (Grita) Ahh! Que é isso!
Ela olha para o chão. Foi Pero quem tocou no seu pé.
Agnella – Pero? O que tu fazes aqui, no meio da floresta? Pensei que…
Pero – Por favor, Agnella, ajuda-me. Eu estou um pouco machucado, e eu preciso ir até Inês…
Agnella – Então que vá sozinho. No momento eu estou com pressa para ir até a igreja.
Pero – Então me ajude a levantar. Eu posso ir contigo à igreja mesmo.
Agnella – Ah, tudo bem, tudo bem. Mas, por favor, faz um esforço para caminhar rápido…
Cena 05: Igreja del Fiume.
Ao lado do convento, que fica ao lado da Igreja, Gustavo está sentado sobre uma pedra, embaixo da sombra de uma árvore. Ele olha para a parede do convento, mas seus pensamentos povoam outros lugares. Sua boca reproduz involuntariamente esses pensamentos.
Gustavo – Oh, minha senhora
Só longe de ti
Posso perceber
Não é bom viver
Nem mesmo uma hora
Sem te ver sorrir.
Ah, será que os traços
Dos nossos caminhos,
Mesmo tortuosos,
Vão, tão venturosos,
Dar-me teu abraço
Como um terno ninho?
Uma voz o surpreende, vinda do convento.
Cecília – Que versos lindos. Pelo visto tu não perdeste a inspiração para tuas cantigas…
Ela se senta ao seu lado.
Gustavo – Cecília? Tu estavas aí? Eu… Quer dizer, tu não deverias estar voltando para Termes com o teu pai?
Cecília – Sim, é verdade. Porém meu pai cismou que possuía um assunto para resolver com o teu. E então ele decidiu segui-los.
Gustavo – Mas que assunto é esse?
Cecília – Loucura do senhor Giancarlo. Tem a ver com o colar. Mas não deve ser importante. Agora, Gustavo, se me permite… Eu estava ouvindo teus versos… Tu falavas de solidão. A quem te referias? A mim? Ou a Agnella?
Gustavo – Por favor, Cecília, eu confesso que estou muito feliz com a surpresa de tua aparição… Porém eu ainda estou de certo modo confuso com o que aconteceu, e…
Cecília – Esquece essa confusão. Todos esses dias longe de ti foram um pouco ruins, mas foram importantes para me fazer pensar. Olha, eu não quero te forçar a nada. Tu já sabes que eu te amo, não sabes? Porém eu quero deixá-lo livre para fazer tuas escolhas. No entanto, Gustavo, se Deus deu um jeito de me trazer novamente ao teu encontro, isso pode ser uma oportunidade única para…
Gustavo – Para nós dois? É isso o que queres dizer?
Cecília – Sim, Gustavo. Se tu me amares, se estiveres disposto a tentar uma relação de verdade comigo, não desperdices essa oportunidade.
Gustavo desvia rapidamente o olhar de Cecília, mas volta a olhar para ela.
Gustavo – Eu… Eu… Não sei… Talvez…
Aos poucos, Gustavo aproxima o rosto de Cecília do seu, e eles acabam se beijando.
Cena 06: Rio dos Campos.
No trecho do Rio dos Campos que passa atrás da Igreja del Fiume, Marlete está sentada sob uma árvore. Brás chega com a carroça.
Marlete – Até que enfim, Brás! Por acaso não acha que demoraste? E onde está Pero?
Brás – Ele caiu na floresta quando eu tomei o controle da carroça. Do jeito que caiu, deve ficar lá por mais um tempo. Mas daqui a pouco tu vais lá e dá um jeito de calá-lo.
Marlete – Isso era para tu teres feito, Brás! E se ele contar a todos que estás vivo, o maior prejudicado será tu! Para todos os efeitos, eu não sabia quem realmente eras, e sempre achei que teu nome era Magno!
Brás – Tudo bem, tudo bem! Porém, antes, eu queria entender o que tu tio quer com o pai de Gustavo. Afinal, qual é a relação de tudo isso com esse tesouro?
Marlete – Isso é algo que nós não sabemos ainda, e que somente o senhor Giancarlo pode explicar. É por isso que eu estou indo agora para a igreja. Enquanto isso, tu ficarás aqui, me aguardando.
Brás – E Pero?
Marlete – Por causa de tua incompetência, é melhor rezares. Porque só poderás voltar a passar por lá quando for bem mais tarde. O dia está ficando cada vez mais claro, e as pessoas já começaram a sair de suas casas. Eu… Eu pensarei em como evitar que Pero fale alguma coisa.
Cena 07: Nave da Igreja Del Fiume.
O padre Santorini acaba de chegar à nave.
Santorini – Enquanto eles conversam, eu vou procurando por Gustavo. Onde aquele rapaz se escondeu?
Agnella entra na igreja com Pero.
Agnella – Então Gustavo ainda não saiu daqui? Que bom! Graças a Deus! Padre, eu preciso falar com Gustavo.
Santorini – Minha filha, por favor, é melhor que evites problemas para ti. Mas agora eu quero saber o que houve com Pero… Pero, eu havia sido informado que tu tinhas ficado no porto. Por que decidiste voltar? Ah, mas estás tão machucado…
Pero – Me leve para algum quarto, padre… O senhor pode me ajudar, buscar um pouco de água para mim…
Santorini – Tudo bem, meu filho. Eu também quero conversar melhor contigo. Vamos por aqui.
O padre segue em direção aos aposentos da igreja. Agnella vai junto com Pero. Eles entram, e Pero senta na cama. O padre sai e volta com um copo d’água.
Santorini – E então, Pero, tu tens muito a me explicar sobre a tua jornada durante esses últimos dias, não é mesmo?
Pero – Eu acredito que sim.
Agnella – E durante esse tempo em que vocês conversam, eu irei procurar por Gustavo.
Agnella sai.
Santorini – Ai, meu Deus, eu preciso evitar que essa menina faça alguma besteira. Pero, por favor, não saia daí. Temos muito a tratar ainda.
Cena 08: Sala de recepções da igreja.
Giancarlo – O senhor falou tanto, e a única coisa de útil que teve para me dizer sobre sua preocupação, digamos assim, com o colar de minha família foi que tem a impressão de já ter visto seu desenho antes?
Edetto – Bem, mas não era isso o que o senhor queria? A verdade? Foi isso o que eu lhe disse.
Izabella – E agora nós já podemos ir embora, Edetto.
Giancarlo – Todavia a verdade que seu marido disse, minha senhora, ainda é vaga. Se o colar pelo qual ele se interessou é de família, como pode ele já ter visto seu desenho antes?
Izabella – Não sei. Em sonho, talvez. Nós sempre sonhamos coisas tão estranhas, não é?
Agnella entra na sala de recepções.
Edetto – Mas o que tu estás fazendo aqui, garota?
Agnella – Eu estou procurando Gustavo. Eu preciso vê-lo.
Izabella – Eu já te falei para ficares longe de meu filho, camponesa! E se quiseres saber, ele não está aqui conosco.
Edetto – Mas então onde ele está, mulher? Nós precisamos seguir viagem!
Giancarlo – Não agora, senhor Edetto! Nossa conversa ainda não acabou.
O padre Santorini entra no recinto.
Santorini – Bem, eu procurei por Gustavo em toda a igreja e não o encontrei.
Agnella – Então ele só pode estar lá fora. Eu vou atrás dele.
Agnella sai correndo. Santorini, Edetto e Izabella vão atrás dela.
Giancarlo – Lá fora? (Ele começa a acompanhar os outros) Eu havia mandado Cecília me esperar lá fora, justamente para evitar que ela se encontrasse com esse Gustavo… Eu também vou com vocês.
Mais à frente, Agnella passa pela nave da igreja, esbarrando na irmã Francisca, que deixa cair, sem perceber, um molho com algumas chaves. Os outros estão chegando.
Francisca – Estás louca, menina? Não olhas para onde andas? Padre, o que é isso? E que caravana é essa?
Santorini – Estamos indo evitar que alguma besteira seja feita.
Francisca – Como assim?
Edetto – Meu filho está lá fora, e essa garota maluca está indo atrás dele.
Francisca – Bem, mas isso eu também quero ver…
Francisca se junta a Giancarlo, e eles saem da igreja. Gregório aparece, vindo do lado dos aposentos. Ele olha para o chão.
Gregório – Essas chaves. A irmã Francisca deve tê-las deixado cair… É agora. A minha última chance de salvar Valentina.
Cena 09: Terreno ao lado do convento.
Gustavo e Cecília estão se dirigindo à frente do convento.
Cecília – Gustavo, esse beijo…
Gustavo – Cecília, eu te disse, não disse? Eu estou confuso… Confuso porque minha vida mudou de tal forma que eu acho que meu olhar sobre os sentimentos estão mudando. Sabe… Por Agnella eu senti uma espécie de paixão imediata, um amor simples, sensações inéditas para mim, que eu nunca tinha sentido antes como senti com e por Agnella. Só que contigo foi diferente… No tempo que passei em tua casa, eu aprendi a ver tua beleza de outro modo… A admirar teu jeito decidido… Eu construí um sentimento, entende? Não foi nada de repente…
Cecília – Só que tu pareces aflito, Gustavo. O que está havendo?
Gustavo – É que são dois sentimentos diferentes, mas ainda parecidos. Digo, por ambas eu sinto carinho, por ambas eu sinto afeto. Quando estou contigo, e quando estou com Agnella, o meu coração bate mais forte, bate diferente… Mas não é a mesma coisa nos dois casos. Só que , se eu tiver que escolher, eu não sei o que eu farei…
Cecília – Mas o nosso beijo… Não significou nada, Gustavo?
Gustavo – Sim, claro que sim. Por isso eu estou mais atordoado. Porque, por causa de minhas dúvidas, eu posso estar causando sofrimento em ti e em Agnella. Mas contigo eu estou sendo sincero agora. Porém com Agnella, não. Eu tenho um carinho especial por ela, e ela ainda é apaixonada por mim… Parece que ela enclausurou esse sentimento no seu peito, de modo que fez loucuras por minha causa… E eu não ficarei em paz enquanto eu não contar a Agnella a verdade sobre o que está havendo comigo. Enquanto u não contar a verdade sobre o que houve entre nós…
Eles “dobram”, chegando à frente do convento. São surpreendidos.
Agnella – Nós? Tens algo para falar sobre nós dois, Gustavo?
Ela se dá conta da presença de Cecília.
Agnella – Mas o que ela está fazendo aqui? E… Por que vocês estão… Gustavo, qual é essa verdade que tu tens para me contar? Por acaso é que tu não me amas mais, é isso? Tu já mentiste para mim uma vez, meu amor; por favor, não mintas de novo. Tu trocaste o meu amor por ela, Gustavo?
Brás e essa Marlete, por esse tesouro Deus me livre, olha o que ele fez com o Pero.
Parece que Gustavo r Cecília estão engatando um romance, já Agnella está trancada num quarto e só sai de lá para casar com Adelmo, quer dizer, só saia porque ela deu um jeito de fugir e ir atrás do Gustavo, mas parece que não saiu como ela esperava, explica essa Gustavo!
Já Gregório aproveitou a correria, que Irmã Francisca deixou a chave cair, e ele pegou para salvar sua amada Valentina 🙂
Indo pro próximo capítulo…. O/
As coisas estão difíceis pra Agnella e pra Gustavo… O que será que eles farão?
Brás e Marlete estão movidos pela ambição, e sofrerão as consequências disso.
E Gregório e Valentina travam mais uma luta pela liberdade…
😀