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Cantiga de Amor

Capítulo 40 – Cantiga de Amor

Cena 01: Casa de Enzo. Quarto de Agnella. Final da tarde.

Enzo – (Enfurecido) Vamos, não mintas mais para mim! Admite que sabias de tudo!

Prudência se levanta da cama.

Prudência – Meu senhor, eu confesso que já tinha conhecimento desse fato, sim. Peço-lhe perdão por não ter lhe contado… E peço que compreendas que tudo o que fiz acabou sendo para o bem de nossa filha.

Enzo – Para o bem de nossa filha? Quer dizer que o fato de Agnella ter fugido e ter quase chegado a Jerusalém foi o melhor para ela? Se ela tivesse permanecido em casa, se tivéssemos tido paciência até que Adelmo se recuperasse do acidente, Agnella nunca teria entrado nessa aventura maluca em que embarcou!

Prudência – Mas nós não sabíamos nem se Adelmo voltaria a acordar! E se ele não tivesse…

Enzo – Chega de conjecturas e de ações impensadas, Prudência! Aliás, tu não tens honrado o teu nome como deverias fazer.

Prudência – Não, meu senhor, tu não entendeste o real sentido do que fiz…

Agnella – Meu pai, perdoe minha mãe. Ela apenas…

Enzo – Basta! Vocês duas erraram bastante ao não envolver em suas atitudes o homem responsável por ambas. E se foram tão levianas assim, terei que impedi-las de cometer quaisquer novos erros. Tu, Prudência, não tomarás mais parte de nenhuma decisão com relação ao futuro de Agnella. E eu também não quero mais que as duas conversem enquanto eu não estiver por perto. Por isso, Agnella, tu estás de castigo, até que tudo sobre o teu casamento se resolva. Vamos, Prudência, saias desse quarto e vá para o teu. Agora!

Prudência – Tudo bem, Enzo. Eu confio nas suas determinações.

Eles saem.

Agnella – E agora… Eu não posso mais contar com minha mãe… O que faço para ter Gustavo?

Cena 02: Nave da Igreja del Fiume.

Gustavo – É isso, padre. Foi por isso que eu não fui até Jerusalém.

Santorini – Por pura ambição? Eu não sabia que você tinha pensamentos tão ambiciosos, meu filho. Fingir ser outro homem para conseguir algo que não é seu?

Gustavo – Mas, padre, eu não queria ter feito isso… Digo, mentir sobre mim. Eu só aceitei procurar essa família por causa de Marconi, como realização do último desejo de um falecido…

Santorini – Todavia você mentiu. Sabe, meu rapaz, eu poderia repreendê-lo severamente por isso, mas parece que sua própria experiência já lhe rendeu o bastante para você entender que isso é algo que nunca pode ser feito.

Gustavo – O senhor pode ter certeza de que eu nunca mais tomarei esse tipo de atitude.

Francisca – Será que podemos ter certeza? Parece-me que tu tens um histórico que nos recomenda a ficar de sobreaviso…

Izabella – O meu filho, irmã Francisca, é em geral muito obediente.

Edetto – E nós esperamos que ele não nos decepcione novamente.

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone está abraçando Inês. Adelmo também está na sala.

Simone – Minha filha! Quanta saudade! Eu… Eu estive tão aflita esses dias todos… Olhe bem para mim, Inês. Aquilo que tu disseste para mim antes de fugir foi muito duro. E eu fiquei muito magoada contigo. Tudo o que eu queria agora era ouvir de ti um pedido de perdão.

Inês – Minha mãe, eu percebo agora. Fui uma tola, todo esse tempo. A senhora é a melhor mãe que existe nesse mundo. Me perdoa?

Simone – Sim, Inês. Eu a perdoo. (Ela beija o rosto da filha) E tu, meu querido Adelmo, conseguiste trazer Agnella?

Adelmo – Sim, mãe. Se Deus quiser, nos casaremos em breve.

Simone – E Ele há de querer, meu filho. Ele sabe o quanto a amas.

Cena 04: Igreja del Fiume. Quarto de Gregório.

Gregório – Padre, o senhor precisa me compreender… Eu sei que o senhor é capaz! Sabe, Deus, Deus nos uniu…

Santorini – Eu estou bastante triste, Gregório… Deus não seria conivente com um seminarista e com uma serva fugidos. Como você pode colocar o nome do Senhor nessa história?

Gregório – Os sonhos que nós tivemos, ao mesmo tempo, sem nem termos conhecimento do que se passava com o outro… Eles não são prova suficiente de que a vontade de Deus para nós…

Santorini – Mas por que você não conversou comigo e com seu pai antes? Por que teve que fugir?

Gregório – Era o único jeito! Se não fugíssemos, Valentina seria presa novamente!

Santorini – Por favor, Gregório, você já me disse coisas demais. Eu preciso pensar em todos esses sonhos e acontecimentos. Amanhã eu quero conversar com você de modo definitivo. Tenha uma boa noite, meu filho.

Gregório – Boa noite, padre.

O padre sai do quarto.

Gregório – Se eu ao menos pudesse ir até o convento… A única maneira seria, claro, pela sala do padre. Mas eu não tenho a chave… E eu não tenho como pegá-la…

Gustavo entra.

Gustavo – Será que eu não poderia ajudá-lo com isso, meu amigo?

Gregório – Mas tu, Gustavo? Eu realmente te agradeço por tua disposição, mas eu não vejo como podes me ajudar.

Gustavo – Talvez… Eu possa tentar pegar a chave da sala do padre por ti. Basta que me digas onde a posso encontrar.

Gregório – No quarto do padre Santorini, é claro. Mas isso é muito arriscado. Como devolveríamos a chave sem que ele desconfiasse?

Gustavo – Posso dar um jeito de fazer isso amanhã de manhã, assim que ele acordar… O que importa é que tu te encontres com Valentina e os dois saiam daqui o mais rápido possível. É só tu me dares os detalhes de como conseguir a chave. E aí, mais tarde, quando todos dormirem, nós dois iremos até o convento.

Cena 05: Igreja del Fiume. Quarto de Gregório. Noite.

Gregório está andando de um lado para o outro do quarto. Até que ele ouve leves batidas na porta. Ao abri-la, vê Gustavo, que segura uma lamparina.

Gregório – Estive tão ansioso que pareceu que nunca chegarias.

Gustavo – Mas agora eu cheguei. E estou com a chave. Vamos, meu amigo. Não podemos chamar a atenção de ninguém.

Cena 06: Convento. Quarto provisório de Valentina.

Valentina está dormindo. Ela se revira, de um lado para o outro do chão. Um sonho a incomoda.

Ela e Gregório estão dentro de um rio. Em uma margem, se avistam casas. Na outra, se avista, ao longe, paredes de um grande precipício. Eles estão olhando para o leito do rio, um pouco apreensivos. De repente, porém, não estão mais no rio. Reaparecem, cada um encostado em uma árvore, à beira de um precipício. Eles olham para a frente, e veem uma igreja, e sobre ela a sombra de uma grande mão. Tentam sair, mas parecem estar presos, ainda que não estejam amarrados. Ao mirarem o fundo do abismo, veem, ao longe, um pequeno brilho. Subitamente, tudo escurece.

Cena 07: Igreja del Fiume. Sala do padre.

Gregório e Gustavo entram na sala de Santorini e trancam a porta. Gregório aponta para a mesa do padre.

Gregório – Ali, embaixo do tapete. Há um alçapão que deve nos levar ao convento.

Eles afastam mesa, cadeira e tapete, e levantam o alçapão. Descem as escadas.

Gustavo – Isso tudo são… Livros…

Gregório – Vê bem, Gustavo, tu não podes dizer em nenhum momento que estiveste, ou melhor, que estivemos aqui. Senão, nossa punição pode ser efetuada pelas supremas cortes papais.

Gustavo – Tudo bem, tudo bem. Eu prometo ficar quieto.

Gregório – Porém eu confesso que nem mesmo eu sei para onde ir. Na verdade, eu nunca estive nesse lugar…

Gustavo começa a andar em determinada direção. Gregório o segue. Eles chegam a uma porta.

Gregório – Como… Como soubeste que o caminho certo era esse? Pareceste tão decidido, Gustavo.

Gustavo – Eu… Foi apenas uma tentativa. Que deu certo de primeira. Mas onde está a chave?

Gregório – Tenta usar a chave da sala do padre. Quem sabe não encaixa?

Gustavo tenta, porém a chave nem gira. Ele começa a tatear a parede, quando encosta na porta e ela se abre.

Gustavo – Mas olha só… Estava aberta o tempo todo.

Eles atravessam a porta. Sem querer, Gustavo chuta algo no chão. Quando se abaixa para ver o que era, encontra uma chave.

Gustavo – Só pode ser a chave dessa porta. Mas por que está no chão?

Gregório – Não sei… Mas quem quer que tenha vindo aqui por último a deixou cair sem perceber. (Ele olha para a frente) Veja, Gustavo, um corredor. Vamos ver até onde ele vai.

Eles atravessam o corredor subterrâneo e chegam à cavidade na parede do convento, onde só podem andar de lado. Ao final, uma surpresa. A porta secreta está aberta.

Gregório – Isso é muito estranho… Por que a porta que leva a um lugar tão bem guardado pela Igreja estaria aberta?

Gustavo – Olha só: tem um lampião no chão… Está apagado… Mas esse lampião não deveria estar na parede?

Gustavo pega o lampião e o coloca em seu apoio na parede. Insatisfeito com a posição do objeto, ele o troca com o lampião menor. Então, a porta se fecha. Gregório se lembra de algo.

– Flashback –

Dia da fuga de Gregório. Ele, Valentina e Agnella estão no quarto do padre.

Valentina –Estes lampiões à tua frente. Troque-os de lugar, colocando-os sobre seu apoio, ao mesmo tempo.

Agnella – Claro!

Gregório – Bem, se é assim que queres…

Gregório faz a troca. Blocos de pedra que estão na parede se movem, abrindo um estreito corredor dentro da grossa parede.

– Fim do flashback –

Gregório – Gustavo, esses lampiões são uma espécie de chave para essa passagem… E se um deles estava no chão, com a passagem ainda aberta, isso significa…

Gustavo – Que quem quer que tenha deixado esse lampião no chão, deve ter saído daqui com pressa. Talvez até tenha sido agora, ao perceber nossa presença… Gregório, eu acho que precisamos investigar melhor isso.

Gregório – Mas e Valentina? Eu vim aqui para resgatá-la e fugir com ela!

Gustavo – Amanhã, antes de irmos embora, eu te ajudo com isso. Agora, se tu quiseres, podes ficar aí me esperando. Eu quero ver se descubro quem esteve aqui.

Gregório – Mas isso é muito perigoso, Gustavo! Ninguém pode saber que estamos aqui!

Gustavo – Não importa. Eu irei arriscar.

Gregório – Então eu irei contigo.

Pé ante pé, eles saem da antessala da irmã Francisca. O silêncio domina o local. Um som longínquo de passos chama sua atenção. Eles decidem segui-lo. Com dificuldades, chegam até a sala de entrada do convento. A porta está fechada. Eles tentam abri-la, e depois procuram sua chave, mas sem sucesso.

Gregório – Eu confesso que eu não entendi essa tua vontade repentina de seguir esses passos. Afinal, qual a importância disso tudo?

Gustavo – Eu estou um pouco confuso ainda com relação ao que eu vi hoje, mas acredito que eu sei, sim, quem era essa pessoa. Tu também sabes, não é? Só pode ser a única pessoa que deve ter acesso àquele recinto subterrâneo. Quer dizer, se alguma outra freira ou noviça não já o tiver descoberto, como nós fizemos.

Gregório – Não acredito que… Quer dizer, é possibilidade mais provável. (Surpreso) Irmã Francisca? Mas o que ela fazia a essa hora ali? E para onde ela estava indo que nós não a podíamos ver? Não teria que sermos nós a fugir dela? Por acaso tu tens essas respostas, Gustavo?

Gustavo – Eu… Não sei… Vamos, temos que voltar. Talvez com o tempo nós descobriremos o que aconteceu aqui.

Cena 08: Nave da Igreja del Fiume. Dia seguinte. Manhã.

Edetto, Izabella e Santorini estão no local.

Izabella – Mas onde está Gustavo? (Fala alto) Filho, precisamos ir embora!

Edetto – Padre, mais uma vez agradeço ao Senhor por ter sido tão cordial conosco, e ter nos abrigado aqui por essa noite. Precisamos voltar agora, porque já faz muito tempo que deixamos nossas terras.

Santorini – Meu filho, você sabe que a casa de Deus sempre está aberta para seus servos. Eu espero vê-los de volta outras vezes.

Edetto – Talvez, padre. Só Deus sabe o que pode acontecer, não é?

Francisca entra na igreja, trazendo Valentina amarrada.

Francisca – E aqui está a tua serva. Pronta para retornar às terras de tua família, onde foi criada e de onde nunca deveria ter saído.

Valentina – Para voltar à prisão por impostos; à prisão da terra!

Edetto – Calada, Valentina! Irmã, por favor, recoloque o pano que servia de mordaça a Valentina. Fará bem a ela evitar que diga coisas erradas.

Izabella – Bem, agora só falta encontrarmos Gustavo para irmos embora, não é?

Giancarlo entra na igreja. Todos ficam surpresos.

Giancarlo – Errado. Antes, eu gostaria de conversar com o senhor, senhor Edetto.

Edetto – Comigo? O que o senhor quer comigo? Me perdoe, mas eu preciso prosseguir a viagem para meu feudo.

Giancarlo mostra algo a Edetto.

Giancarlo – Não sem antes me explicar o motivo do seu interesse, naquele dia, por esse colar. O senhor chegou a questionar a origem dele. De um colar de família, que nunca havia sido visto pelo senhor antes. E então?

Edetto – Eu já lhe disse. Eu apenas o achei bonito, pensei em adquirir um desses…

Giancarlo – Não… Deve existir algo além disso para o senhor ter me perguntado de quem meu pai o ganhou. E eu sugiro que esteja disposto a terminar logo essa conversa, porque o senhor e sua família não sairão daqui até que a verdade seja dita.

2 comentários sobre “Capítulo 40 – Cantiga de Amor

  • Giancarlo quer saber a verdade, Edetto fale logo ok? Rs.
    Agnella terá que casar com Adelmo, nossa a agora que tudo está mais que esclarecido para o Enzo, sobrou até para a Prudência…
    Agora esse segredo que a irmã Francisca esconde, o que está? Estou super curioso…
    Já Valentina terá que voltar para o Feudo de seus senhores, mas cadê o Gustavo?? 😮

    • Será que eles vão ter tempo para falar logo? Acontecerão algumas coisas antes da verdade ser dita, mas já, já ela sai. rsrs
      Pois é, Enzo aceitou Adelmo por ele estar disposto a casar-se com Agnella, mesmo ela não sendo mais virgem.
      E a irmã Francisca… Bem, talvez todo o comportamento seja um sinal de que ela esconde um segredo no mínimo perigoso para ela, não é mesmo?
      Valentina está presa, mas Gregório ainda vai contar com a ajuda de Gustavo para libertá-la.

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