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Cantiga de Amor

Capítulo 35 – Cantiga de Amor

Cena 01

Os navios de Gustavo e de Agnella estão se aproximando, em rotas opostas.

Agnella – Até que enfim eu te achei, Gustavo!! Me espera, meu amor! Eu estou indo ao teu encontro!

Gustavo – Mas isso é Agnella mesmo… Como… Como é possível isso? Como ela pode estar nesse navio? Será que ela me viu?

Agnella – Aguarda só um pouco, meu amor! Só um pouco!

Gustavo – Parece que ela está falando… Será que é comigo?

Cecília – (Se aproximando) O que aconteceu, Gustavo?

Gustavo – O que ela está falando? E agora? Os nossos navios estão em direções opostas…

Gregório – Meu Deus, mas é Gustavo mesmo que está nesse navio! Agnella, o que pensas em fazer?

Pero – Mas esse rapaz não estava em Jerusalém?

Valentina – Só Deus sabe o que aconteceu. Mas pelo amor de Deus, não faças besteira, Agnella!

Agnella – Não. Eu preciso ir ao encontro do meu amor. Tchau.

Dito isso, Agnella se joga na água do mar.

Valentina – Agnella!! Volta aqui, Agnella!

Agnella – Eu irei até tu, Gustavo! Eu irei até onde estás!

Do navio 2, Gustavo vê Agnella.

Gustavo – Agnella está louca! Ela… Pulou do navio? O que ela pensa em fazer? Será que… Eu não posso permitir que nada aconteça com ela.

Gustavo pula na água.

Cecília – Gustavo, aonde vais? O que está acontecendo?

No mar, Agnella começa a dar sinais desesperados.

Pero – Gente, precisamos resgatá-la! Ela não sabe nadar. Irá se afogar se não fizermos nada!

Gregório e Valentina se entreolham.

Gregório – O rio… O mar. A mão…

Valentina – Era Agnella? Era Agnella no sonho?

Gregório – Só pode ser. Precisamos salvá-la. Sabes nadar?

Valentina – Aprendi enquanto tive que fugir dos meus senhores feudais.

Gregório – Então vamos. Pero, fique no navio. Deve haver alguma corda aí perto. Precisaremos de ti para nos tirar do mar.

Pero consente. Gregório e Valentina pulam e nadam até Agnella. No sentido oposto, chega Gustavo.

Gustavo – (Ofegante) Agnella, eu irei te salvar. Eu estou chegando…

Gustavo alcança Agnella e a pega pelo braço. Ela estava quase perdendo os sentidos.

Gustavo – Graças a Deus! Vem comigo, Agnella! Eu te ajudarei.

Gustavo começa a nadar de volta para o navio.

Gregório – Mas o que é isso? Por que Gustavo está levando Agnella com ele?

Valentina – Deixa ele levá-la, Gregório. Ela não o ama? Com certeza preferiria ele a nós.

Gregório – Mas… O sonho… Nós é que deveríamos salvá-la, lembra?

Valentina – Só que no sonho ela, ou a mão, recuava, voltava. Assim como está acontecendo com Agnella. Agora vamos voltar. Essa água está muito gelada.

Gregório – Não percebes, Valentina? Precisamos segui-la! Ela ainda pode precisar de nós…

Gregório começa a nadar em direção a Gustavo e Agnella.

Valentina – Gregório, volte já! Volte agora!

Gregório parece não ouvi-la. Inconformada, Valentina começa a persegui-lo.

Pero – Mas o que está acontecendo? Não me pediram a corda? Pensei que eles voltariam para cá. Será que eles… Ai, minha nossa Senhora…

No mar, Gustavo alcança o navio.

Gustavo – (Gritando) Cecília! Peça a algum dos homens para me lançar uma corda! Preciso voltar para o navio! E preciso que alguém me ajude a subir com Agnella!

Cecília – Eu não entendo nada… Mas tudo bem.

Cecília sai e volta com dois homens, que lançam a corda.

Gustavo – Aqui, Agnella, tu consegues segurar a corda?

Ela dá uma resposta afirmativa com a cabeça. Ele coloca a corda em suas mãos.

Gustavo – Puxem-na!

Os homens a puxam, e lançam novamente a corda para Gustavo.

Gregório – Espera, Gustavo! Nós também precisamos subir nesse navio.

Gustavo – Esse dia está cada vez mais maluco. Mas tudo bem. Podes subir primeiro.

Valentina – Tu não podes fazer isso, Gregório! Pero nos espera de volta àquele navio! Não podemos retornar para aquele lugar que só nos trouxe problemas!

Gregório – Esses sonhos, Valentina, são como guias de nossas ações. E nós temos uma missão a cumprir agora.

Gregório segura e começa a subi-la. Do navio 1, Pero observa tudo.

Pero – O que raios é isso? Gregório e Valentina estão subindo naquele navio? E a corda? E… (Pausa) Quer saber? Se mesmo eles decidiram mudar o destino da viagem, quem sou eu para me negar a fazer isso. (Grita) Gregório, Valentina! Eu também estou indo! (Pero pula na água) E adeus, Inês. Aproveite agora que estás livre desse asno.

Pero começa a nadar em direção ao navio, porém ele acaba tendo que dar braçadas mais fortes, pois os navios começam a se afastar. Valentina está subindo, e Gustavo o vê.

Gustavo – Mais um? Só espero que ninguém ache que foi culpa minha…

Pero se aproxima.

Pero – Que bom que consegui chegar. Podes subir primeiro, cavalheiro. Já passaste tempo demais nessa água fria.

Gustavo sobe. Pero pega na corda.

Cena 02: Navio 1.

Inês estava presa no compartimento pelo “ermitão”. Conseguiu se livrar.

“Ermitão” – Venha cá, Inês! Ainda temos muita coisa para tratar!

Inês – Me esquece, ermitão! Isso já durou tempo suficiente. Agora preciso encontrar Pero.

Inês sai e consegue trancar a porta por fora.

“Ermitão” – Ah, quanta gente maluca nesse mundo. Vá! E que Deus a abençoe, então!

Inês começa a procurar por Pero no navio. Até que se dirige à popa. Já um pouco distante, ela enxerga algo.

Inês – Isso é um navio? E o que Pero faz subindo nele? Ele está indo embora! Como ele conseguiu fazer isso?

Enraivecida, Inês bate a mão na madeira. Se machuca um pouco. Nervosa, começa a andar um pouco sem rumo.

Inês – (Agitada) O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?

Ela caminha até chegar à proa. E leva um susto. Próximo ao seu navio, ela avista um terceiro, navegando na mesma direção que o anterior.

Inês – Outro navio… Ah, isso é coincidência demais para que eu não aproveite.

Os navios passam a se aproximar, se “cruzando”. Inês vê um homem na lateral. Então, rapidamente, se dependura na lateral de seu navio.

Inês – (Gritando) Senhor, por favor! Eu preciso que o senhor me ajude!

Giancarlo – (Aéreo) Como? (Gritando) Falas comigo, senhora?

Inês se solta, caindo na água.

Inês – Eu preciso que o senhor me salve! Faça alguma coisa, por favor! Mas me tire daqui!

Cena 03: Barco.

O barco que seguia o navio 1 se aproxima do navio 2.

Edetto – Mas o que é aquilo? Por acaso eu estou vendo Valentina nesse navio à nossa frente?

Adelmo – Sim, o senhor está certo. E aquele parece ser Pero. E o seminarista, também. Será que Inês está lá? E Agnella…

Izabella – E olha, marido. Aquele é nosso filho! Gustavo… Será que ele já voltou da guerra?

Edetto – Precisamos tirar isso a limpo. Essa história está muito confusa. Comandante, é possível refazermos a rota e passarmos a seguir esse outro navio?

Comandante – Eu vou fazer o possível, senhor.  Mas preciso de ajuda.

Edetto – Tudo bem. Eu e Adelmo o ajudaremos.

Cena 04: Nave da Igreja del Fiume.

Ottavio – E então, padre? Onde está meu filho?

Simone – E os meus dois filhos? Eles estão aí fora?

Santorini – Infelizmente, não. Eles conseguiram fugir.

Leonor – Mas… O que sucedeu, então? Será possível que eles conseguiram enganá-los?

Francisca – Não somos tolos, Leonor. Não fomos enganados. Nós quase os alcançamos, aliás. Porém eles apenas foram mais rápidos que nós.

Ricardo – E onde eles estão agora?

Santorini – Embarcaram para Jerusalém.

Simone – Oh, Deus… Inês fez isso mesmo? E onde está Adelmo?

Francisca – Ele, Edetto e Izabella conseguiram alugar um barco para segui-los. E eu tenho fé em Deus que dessa vez eles os trarão de volta.

Ottavio – Meu filho no mar uma hora dessas… O que Gregório está fazendo com sua vida…

Santorini – Tenhamos paciência. Logo, logo eles estarão aqui. E tudo se acertará. Vamos apenas continuar rezando.

Francisca – Isso mesmo. Tudo se acertará. E, se me permitem dizer, da maneira certa.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Prudência recebeu Enzo em casa.

Prudência – Então Agnella partiu para Jerusalém… Por que tudo isso está acontecendo, Enzo? O que deu errado com nossa filha?

Enzo – Tudo começou quando aquele rapaz entrou na vida de Agnella, e estragou todo o futuro de nossa filha! Tenho certeza de que ele pagará caro por isso, inclusive por tê-la desvirtuado. Aliás, Prudência, tu nunca suspeitaste de nada? Nunca nossa filha deu nenhuma pista a respeito disso?

Prudência fica um pouco pálida por um instante, mas recupera a cor.

Prudência – Não, meu senhor. Eu fui pega de surpresa por Adelmo da mesma maneira que tu.

Enzo – Oh, Deus. Guarda minha filha e trá-la de volta, em segurança…

Cena 05: Navio 02.

Gustavo está no interior do navio, ao lado de Agnella, que está deitada. Pero, Valentina, Gregório e Cecília estão por lá.

Agnella – (Agitada) Ai, Gustavo, que bom que enfim te encontrei. Tu estás aqui, meu amor, ao meu lado. De novo…

Gustavo – Calma, Agnella. Precisas descansar. Essa aventura ao mar te deixou cansada.

Gustavo a cobre com um pano de couro. Aos poucos, ela pega no sono. Ele e os outros saem.

Gustavo – Pelo visto há muita história para ser contada aqui. Quer dizer que tu saíste da igreja, Gregório? Não devias estar lá?

Gregório – Eu é que pergunto: não eras tu quem deveria estar em Jerusalém?

Eles continuam a conversa por um bom tempo.

Gregório – Eu e Valentina estamos ligados por um laço que eu não consigo explicar. E se eu estou aqui hoje, é porque eu também devo a ti, Gustavo. Muito obrigado pelas palavras que me disseste antes de partir.

Gustavo – Que é isso, desse jeito eu fico até envergonhado. Eu só fiz o que achei certo.

Pero e Valentina conversam paralelamente.

Pero – Acho que estamos um pouco fora de contexto.

Valentina – (Dá um risinho) Pois é… Mas deixa eles dois conversarem. Faz tempo que não se veem… E quem é essa moça que está perto de Gustavo?

Pero – Deve ser alguém que ele conheceu em Jerusalém. Enfim, vamos saindo. Deixa esses dois aí.

Depois de mais um tempo de conversa, Gustavo e Gregório se separam um instante. Cecília se dirige a Gustavo.

Cecília – Gustavo, com licença. Eu não quero ser inconveniente. Então, por favor, não fiques irritado comigo. Eu só queria saber se… É ela, não é?

Gustavo – É sim, Cecília. Eu não faço a mínima ideia de como ela chegou aqui, mas é ela.

Cecília – E agora? O que pretendes fazer? Afinal, tu a reencontraste…

Gustavo – Por favor, Cecília, me deixe só. Eu não quero falar nada agora. Estou cansado e preciso pensar.

Cecília – Tudo bem. Eu irei andar por esse navio enfadonho.

Cena 06: Navio 3.

Giancarlo puxou Inês por uma corda que havia no navio. Agora, ele está com ela a seu lado.

Giancarlo – Agora, me responde uma coisa. Como é teu nome mesmo?

Inês – Eu me chamo Inês. E eu quero muito agradecer ao senhor por ter me resgatado do mar.

Giancarlo – Eu só não entendo por que estavas ali. E por que pediste ajuda a mim.

Inês – Eu… Me desequilibrei, foi isso. E acabei caindo na água. E o senhor foi o primeiro que eu vi. Depois foi que eu percebi que havia gente por perto no outro navio. Oh, se eu o incomodei, se o senhor acha que fiz errado, eu… Peço perdão.

Giancarlo – Não. De modo algum. Não há problema.

Ali por perto, Marlete e Brás caminham.

Brás – Vem cá, Marlete, por que ainda não falaste sobre o tal tesouro com o senhor Giancarlo?

Marlete – Ora, ora, não quero ser jogada ao mar. (Ela ri) É claro que eu não falei porque eu estou esperando o momento certo. Vamos esperar ele encontrar a filha, e seu humor melhorar.

Eles e aproximam ao lugar onde Giancarlo e Inês estão. Brás dá um pulo, de sobressalto.

Brás – (Assustado) O que se passa nesse navio? O que Inês faz aqui?

Cena 07: Navio 1.

Um tempinho depois de deixar Agnella, Gustavo voltou ao local. Encontrou-a acordando.

Gustavo – Perdão, perdão, Agnella. Eu te acordei? Podes voltar a dormir.

Agnella – Não, meu amor. Tu nunca me incomodas. Pelo contrário, eu me sinto segura contigo… Agora, senta aqui ao meu lado. Eu acho que nem preciso te dizer como estou feliz em te ver novamente.

Meio lentamente, meio receoso, Gustavo senta.

Agnella – Parece que eu esperava por isso desde que eu havia nascido… Ai, meu amor. Como é bom estar ao teu lado… Agora que nos reencontramos, tudo vai voltar ao normal… Nossas vidas, nossos destinos, tudo se reencontra. Não é mesmo, Gustavo?

Ele permanece calado, com a cabeça baixa.

Agnella– Não é, meu amor? Agora ficaremos juntos novamente. Seremos felizes novamente… Hein, Gustavo, me diz o que achas. Tenho certeza que achas o mesmo.

Gustavo não responde. Agnella começa a ficar impaciente.

Agnella – O que houve, Gustavo? Me diz, vamos!

Seu tom de voz muda. Começa a ficar um pouco ríspido, um pouco desesperado. Ela segura os ombros dele, que permanece impassível.

Agnella – (Bastante nervosa) Me diz, Gustavo! Nós seremos felizes, não é? Nós dois, juntos, novamente? Para sempre? (Eleva o tom da voz) Fala, meu amor! Fala! Fala que o nosso amor irá durar para sempre!  (Seus olhos passam a encher de lágrimas. Ela grita, como que desesperada, agitando os ombros dele) Vamos, Gustavo! Fala!

2 comentários sobre “Capítulo 35 – Cantiga de Amor

  • Parece que o povo todo foi destruído a outros navios, rs. Agnella finalmente reencontrou seu amor (mas pêra aí? que atitude é essa do Gustavo? Porque ele está agindo assim? Meu PAI!!! 😮 )
    Brás e Inês, juntos novamente!!! veremos onde tudo isso vai dar, acho que em nada agradável!!!!

    • A viagem a Jerusalém foi propositadamente abortada por mim 😛 Agora todo mundo tá voltando.
      Como eu disse na resposta a seu comentário anterior: o reencontro entre Agnella e Gustavo foi inesperado. Eles passavam por situações diferentes, e vinham de experiências diferentes. Talvez a vida tenha aplicado algumas mudanças aos dois. Talvez eles venham sofrendo – ou sofram a partir de agora – um processo de mudanças. Ou talvez não. Talvez essa reação de Gustavo seja apenas fruto do choque que foi esse acontecimento. Os próximos capítulos dirão.
      Quanto a Brás e Inês, o fato de estarem em um mesmo navio é perigoso pros dois. Mas vai se mostrar mais perigoso, de fato, para um deles. No próximo capítulo você entenderá.
      Obrigado por participar!! 😀

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