Capítulo 5 – Em nome do filho
Roteiro de Telenovela Brasileira Capítulo 005

Cena 01. Mansão Amadeu/ Quarto de Vitória/ Interior/ Dia.
Continuação do capítulo anterior.
Dama (convicta) – Como tem passado Nameless? Gostou do presentinho que lhe dei?
Close em Vitória assustada.
Dama – Te assustei? Desculpa, não era a minha intenção.
Vitória – Então é verdade a sua volta? O que tem naquele monte de papel?
Dama – Sua vida, contada em versos, prosa e poesia. Tô até pensando em fazer um filme, pornográfico ou de terror, é claro.
Vitória pega o bloco e senta-se na cama.
Dama – Como você está vendo, esse daí é uma Xerox, o original eu tô guardando, caso você tente algo contra mim ou contra Regininha. Dessa vez eu fiz o meu dever de casa direitinho Vitória.
Vitória – Você tá secando meu sangue.
Dama – Relaxa. Eu ainda vou secar seu sossego e sua conta bancária. Isso é questão de tempo.
Vitória – Te dou vinte mil reais pra você evaporar e não aparecer nunca mais aqui.
Dama – Com a fortuna do Ângelo aí, você acha que me resolve com essa mesquinharia? Nós duas trabalhamos no mesmo setor: a ganância. Só que eu estou no poder. Respira fundo e me engole. Vem chumbo grosso por aí.
Vitória (brava) – O que você quer de mim?
Dama – Eu quero seu dinheiro, seu sossego e um pouco da sua vida.
Vitória coloca as mãos na cabeça, impaciente.
Vitória – Meu Deus do céu. Onde foi que eu errei?
Dama – Quer que eu te mostre? Tá na página três. Mas não vou fazer da sua vida um purgatório não. Essa parte eu deixo pro Miguel, seu filho. Eu vou só acender o fogueirão, depende de você mantê-lo aceso.
Vitória – Me dá um tempo. Vai caçar alguma coisa pra fazer e me deixa aqui, sozinha.
Dama – Eu vou. Te dou o tempo que quiser, mas isso gera uma reação. Tempo é dólar.
Dama sai e Vitória aflita começa a folhear o dossiê.
Corta para:
Cena 02. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Tamara está desligando o celular, abaladíssima, enquanto Eva vem descendo as escadas e percebe isso.
Eva – O que foi Tamara?
Tamara – Eu terminei meu namoro, acabou tudo.
Eva – Como assim?
Tamara (chorando) – Foi pelo celular. Ele ligou e disse que não dá mais. Não entendi o motivo, mas ele não quer mais nada.
Eva – Calma, vou pegar um copo d’água pra você.
Tamara – Não precisa. Eu tô bem. Deixa esse idiota pra lá. A partir de hoje eu vou ver novela.
Eva (desorientada) – Hã? O que?
Tamara – Vou ver novela. Tá decidido. Uma preguiça em arrumar homem. Novela pelo menos avisa “é a última semana!”. Homem some no auge da primeira.
Eva ri fartamente.
Eva – Só você Tamara. Você e sua filosofia “dor de cotovelo”. Dá até medo.
Tamara – Já falei com o pessoal da limpeza, agora tô indo fazer orçamentos dos matérias pro nosso salão.
Eva – Obrigada.
Eva se encaminha até algumas prateleiras.
Tamara (pra si) – Quero tudo do bom e do melhor. Essa festa vai ser a minha vitória.
Tamara sai da livraria. Logo em seguida Miguel entra na livraria e de longe olha Eva, que está organizando alguns livros.
Miguel (tom alto) – Eva?
Nesse instante Eva para tudo que está fazendo e olha para Miguel, que vem caminhando em sua direção.
Miguel (chegando) – Gostou das flores?
Eva então dá um longo abraço em Miguel.
(Música “Uma História de Amor” – Fanzine)
Corta para:
Cena 03. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Dia.
Miguel está sentado em um sofá, enquanto Eva o entrega uma xícara de café.
Close em um grande e lindo jarro com o buquê de rosas.
Eva (se sentando) – Espero que goste do café. Eu mesma fiz.
Miguel – Tá uma delícia, assim como seus lábios.
Eva (envergonhada) – Eu fico sem jeito perto de você.
Miguel – Quero que se sinta confortável, feliz perto de mim. Assim como eu estou agora.
Eva – Pode parecer bobagem da minha cabeça, delírio e tal, mas eu tô gostando muito de você. A cada dez coisas que penso, onze são você.
Miguel – É a coisa mais linda que alguém já me disse na vida.
Miguel beija Eva com fervor.
(Música “I’ll Try” – Allan Jackson)
Miguel – Eu vim na verdade pra te fazer um convite irrecusável.
Eva – Pois então me diga querido.
Miguel – Eu quero que você jante comigo hoje no Frigideira, aceita?
Eva (feliz) – Nada me faria mais feliz do que sair com você.
Eva e Miguel se beijam novamente.
Corta para:
Cena 04. Elevado/ Bar Chegaí/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Ondina está varrendo a calçada, a porta do bar está fechada.
Ondina (cantando) – “Olha eu já tô preparada pro que pode acontecer, quando a inveja é pesada, o trabalho bem feito não pague pra ver…”.
Enquanto Ondina varre a calçada, Fernanda passa com algumas sacolas de mercado.
Fernanda – Bom dia Ondina, tá animada.
Ondina – Ih mulher, tô nada. Isso aqui era serviço do Zé Diogo, mas muquirana como ele é, já deu no pé cedo. Disse que foi no centro da cidade ver um freezer novo aqui pro bar.
Fernanda – Eu tô correndo com meu almoço. Deixei a Maria de Lourdes em casa fazendo um arroz e corri ali na quitanda pra comprar umas coisinhas. Tomara que ela não tenha me queimado a casa.
Ondina – Você num acha que tá na hora da Malu arrumar um emprego não? Ela tá muito grandinha já. Como diz o ditado: “É desde menino que se torce o…” Como é mesmo? Esqueci.
Fernanda – É desde menino que se torce o pepino.
Ondina – Isso mesmo. Pepino. Sempre esqueço.
Fernanda – Mas a minha filha tá estudando, fazendo curso. Ainda não tá na hora dela trabalhar não. Mas eu vou indo nessa, outra hora a gente conversa Ondina. Beijo.
Ondina – Beijo.
Fernanda continua andando em direção a sua casa e Ondina fica parada observando-a.
Ondina (pra si) – Assim é fácil. Colocou a sobrinha pra trabalhar e a filha fica só na maré mansa, tô te dizendo. “Pimenta nos olhos dos outros é…” Como é mesmo? Esqueci. Ah, deixa pra lá. Eu só quis dizer.
Ondina volta a varrer cantarolando.
Corta para:
Cena 05. Casa de Edu/ Portão Frontal/ Exterior/ Dia.
Edu está próximo ao portão de sua casa, pelo lado da rua, falando ao celular.
Edu (ao cel.) – Ah meu amor, hoje não vou ao curso. Tô muito cansado.
Nesse instante Julieta chega por trás dele, sem que ele perceba, e fica imóvel.
Edu (ao cel.) – Olha Malu, vou desligar. Mas qualquer dia desses vou te trazer pra jantar aqui em casa (PAUSA) Isso mesmo, eu domo ela. Beijo e te amo.
Edu desliga o celular e vira-se, dando de cara com Julieta.
Edu (gritando) – Ai mãe, que susto. Quer me fazer ter uma crise no miocárdio?
Julieta – Crise terei eu se você continuar insistindo nesse romance com aquela pivete.
Edu (ríspido) – Já vi que com você não tem conversa.
Julieta – Tem sim, desde que não seja sobre essa Malu.
Edu dá as costas para a mãe e vai se encaminhando pra entrar em casa.
Julieta (andando) – Eduardo me espera. Eu não terminei ainda.
Corta rapidamente para:
Cena 06. Casa de Edu/ Sala/ Interior/ Dia.
Seu Lucído está sentado no sofá, com o notebook no colo, digitando. Quando entra Edu e atrás dele Julieta.
Julieta – Você ouviu bem né?
Edu – Esquece de mim. Vá cuidar da sua bruxaria, das suas cartas.
Seu Lucído fica assustado.
Julieta – Você pode fingir que não está me ouvindo, que eu não estou nem aí, o que eu não quero é essa garota enfiada aqui na minha casa. Isso eu não vou admitir em hipótese alguma. Eu não gosto dela e pronto.
Edu – Fique tranquila. Ela não vai pisar aqui. Mas isso não muda o que eu sinto por ela e muito menos eu me afastarei dela. Você pode ter a certeza que só fortalece nosso namoro com isso.
Julieta – Aquela lá é igual à mãe: figurinha fácil. Dessas que os rapazes pegam, usam e jogam fora.
Edu – A Malu não é nenhum tipo de mulherzinha vulgar o quanto você acha que é.
Lucído (assustado) – Parem de discutir.
Edu – Eu jamais vou esquecer tudo isso mãe.
Julieta – Eu não quero que esqueça.
Edu corre em direção a seu quarto.
Lucído – Vocês foram muito duros um com o outro.
Julieta – Eu fui objetiva. Fui sincera.
Lucído – Onde está o César?
Julieta – Foi no centro resolver alguma coisa sobre a hipoteca da casa.
Lucído volta a digitar.
Julieta (saindo) – Vou trabalhar um pouco mais. Tô indo na casa da Rosilda. Tem café na garrafa e sopa no forno.
Julieta sai. Close em Lucído digitando.
Corta para:
Cena 07. Mansão Amadeu/ Piscina/ Exterior/ Dia.
Uma enorme piscina com várias cadeiras e mesas em sua volta.
Milena está sentada em uma, só de biquíni, tomando sol. Teresa chega com um copo de suco em uma bandeja.
Teresa (entregando) – Aqui está seu suco de melancia dona Milena.
Milena pega o suco e prova.
Milena – Tá do jeito que eu gosto Teresa, obrigada!
Teresa – Quer mais alguma coisa?
Milena – O Fabrício tá aí?
Teresa – Ele e a dona Ana Rosa estão dormindo.
Milena – E a Vitória?
Teresa – Está no escritório com o doutor Antero.
Milena então põe seus óculos e volta a tomar seu sol.
Corta para:
Cena 08. Mansão Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória e Antero estão sentados conversando.
Antero – Mentira que ela criou esse tal dossiê?
Vitória – Criou. Claro que foi ideia da Regininha. Mas de alguma forma eu sei que elas querem e vão me destruir.
Antero – Então a gente precisa de um plano.
Vitória – Meu plano é matar as duas, juntas.
Antero – Isso seria muito arriscado, não acha?
Vitória – Meu erro foi não ter limado essas duas no passado. Mas eu achei que nada disso iria interferir nos meus planos.
Antero – Elas são testemunhas.
Vitória – Sempre há testemunhas de um crime, mas os mortos não falam.
Antero – Você me dá medo.
Vitória – Pelo meu sossego e bem estar? Passo por cima de qualquer um feito um tanque de guerra.
Antero – E quando pretende fazer isso?
Vitória – Calma. Na hora certa você saberá.
Close em Antero, assustado.
Corta para:
Cena 09. Cidade Flores/ Exterior/ Dia.
(Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres. 4º: Fachada da Prefeitura de Flores.
A imagem da fachada da prefeitura se funde com a cena a seguir. (fad out trilha “Uma história de amor” – Fanzine).
Corta parra:
Cena 10. Prefeitura/ Sala e Antessala de Meg/ Interior/ Dia.
Lui está em sua mesa, na antessala digitando algo no computador. Nesse instante Meg chega com Boticário no colo.
Lui (gritando) – Dona Méguiiiii.
Meg – Fala borboleta de mi jardim.
Lui se levanta e começa a medir a temperatura de Meg.
Lui – A senhora tá doente? Febre não tem.
Meg – Por quê? Tô pálida? Meu rosto tão acabado?
Lui – Nada disso, mas é que a senhora me tratou com tanto carinho, até estranhei.
Meg – Não adianta tratar mendigo com caviar.
Lui – O que?
Meg – Esquece Lui. Agora me envia os relatórios por e-mail e depois leve o Boticário pra passear na praça, pode ser?
Lui – O que eu não faça pela minha Diva Meg?
Meg – Odeio gente bajuladora.
Meg joga Boticário no colo de Lui e entra para seu gabinete.
Lui (a Boticário) – Agora somos eu e você rapazinho. Chegou a nossa hora de dar um rolé.
Close em Boticário.
Corta para:
Cena 11. Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Mafalda está sentada no sofá conversando com Téo. Conversa já iniciada.
Mafalda – Ah Téozinho, há muita coisa sobre essa Vitória que todo mundo desconhece. Eu tenho pena do Miguel, que não sabe a mãe lacraia que tem.
Téo – Aquele show dela na hora do sepultamento foi horroroso.
Mafalda – Você ainda não viu nada. Por dinheiro, aquela lá faz até campanha eleitoral na Faixa de Gaza.
Téo – Deus me proteja de gente assim.
Mafalda – Vem cá meu ébano, eu te protejo, vem.
Téo abraça Mafalda e em seguida deita em seu colo. Marinês passa pela sala e Mafalda percebe.
Mafalda (gritando) – Volte aqui Nês.
Marinês dá meia volta.
Marinês – A senhora quer algo?
Mafalda – Álvaro tá em casa?
Marinês – Não. Saiu bem cedo, junto com a dona Meg.
Mafalda – Então pode tirar à tarde de folga. Volte só pro jantar, ok?
Marinês – Ah que ótimo, vou visitar minha prima Ondina. Obrigada dona Mafalda. A senhora é um anjo.
Mafalda – Prefiro ser diabinha, agora raspa fora daqui.
Mafalda sai correndo feliz.
Téo olha maliciosamente para Mafalda.
Téo – Ninguém em casa, tá pensando no que eu tô pensando?
Mafalda (ousada) – Uhum. Vem cá me beijar, vem.
Mafalda e Téo se beijam com fervor.
Corta para:
Takes e movimentações da cidade
Corta para:
Cena 12. Mansão Amadeu/ Sala de Jantar/ Interior/ Dia.
Miguel, Milena e Fabrício estão almoçando, enquanto Teresa os serve.
Teresa – Fiz uma salada de frango, posso trazer?
Miguel – Por mim não, estou satisfeito com essa comida aqui.
Milena – Por mim também.
Miguel – E você Fabrício?
Fabrício – Tô satisfeito também.
Miguel – A Ana Rosa não vai descer pra comer com a gente?
Milena faz cara feia.
Ana Rosa (chegando) – Ouvi meu doce nome?
Fabrício – Senta e almoça com a gente querida.
Ana Rosa se senta.
Ana Rosa – Essa comida parece estar ótima. Parabéns Teresa.
Teresa – Muito obrigada.
Ana Rosa – E então Miguel, está melhor?
Milena – Por que você não pergunta isso ao seu namorado?
Ana Rosa – Por que você não fica caladinha?
Miguel – Milena para.
Ana Rosa (a Fabrício) – Depois do almoço vou tomar um sol na piscina, tentar relaxar. Me acompanha?
Fabrício – Não. Vou tentar escrever um pouco.
Milena – Você é mesmo uma inútil né? Só quer saber de aproveitar as benfeitorias.
Ana Rosa – Depende do ponto de vista, porque inútil pra mim é ficar com o alerta ligado 24 horas por dia, com medo de levar outro chifre.
Milena se levanta brava e aponta uma faca para Ana Rosa.
Milena (descontrolada) – Eu esfaqueio você se continuar me tratando desse jeito.
Miguel segura Milena.
Ana Rosa – Não tenho um pingo de medo de você. E não preciso de faca não. No mano a mano eu me garanto.
Fabrício – Para de atiçar Ana Rosa.
Miguel (bravo) – Você é uma otária Milena. Para de briga, larga essa faca.
Milena larga a faca e sai correndo.
Miguel – Desculpa Ana. Ela é muito imatura.
Ana Rosa – Vai atrás da sua mulherzinha, vai.
Miguel sai.
Fabrício – Que situação.
Ana Rosa – Odeio a Milena. Muito infantil e amargurada.
Close em Teresa, assustada.
Corta para:
Cena 13. Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel/ Interior/ Dia.
Milena está deitada na cama chorando, Miguel entra e fecha a porta.
Milena (chorando) – Sai daqui, quero ficar sozinha.
Miguel (rude) – Até uma criança de dez anos é mais madura que você. Que atitude infantil foi aquela?
Milena – E você mais uma vez defendendo ela.
Miguel – Eu não estou defendendo ninguém, meu amor. Apenas estou sendo justo. Como assim apontar uma faca pra Ana Rosa? Como assim ameaçar ela?
Milena – Eu não gosto dela e você sabe muito bem disso.
Miguel – E vai fazer o que? Toda vez que a ver, você vai tentar tirar a calça pela cabeça? Vai tentar machuca-la com palavras ou objetos pontiagudos? Não dá pra ficar bancando a raivosa a todo instante. Você rá fazendo papel de ridícula.
Milena – Me esquece Miguel.
Miguel – Hoje a noite eu vou sair.
Milena (tom) – E vai onde? Com quem? Fazer o que?
Miguel – Tenho uma reunião com um acionista. Mesmo em luto, preciso proteger nosso patrimônio.
Milena (desconfiada) – Não sei por que, mas não estou acreditando nessa sua história.
Miguel – Eu não iria mentir, mais uma vez, pra você meu amor.
Milena – Espero que não mesmo.
Miguel se deita na cama e abraça Milena.
Corta para:
Cena 14. Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia.
Edu está abraçado a Malu por trás. Ambos estão admirando a vista da cidade. Conversa já iniciada.
Malu – Você não deveria ter enfrentado sua mãe desse jeito. Assim ela só vai me detestar mais.
Edu – Não dava pra ouvir ela falando aquelas asneiras e ficar calado.
Malu – Não entendo o porquê de tanto ódio assim. Sua mãe simplesmente não gosta de mim. Não gosta e pronto.
Edu – Sabe o que eu acho que é isso? É dor de cotovelo, porque meu pai não ama a minha mãe. Tá com ela porque infelizmente eu nasci e também, porque eles estão estabilizados.
Malu – Credo, não acredito que seu pai seja assim. O seu César é tão gente boa.
Edu puxa Malu e a vira de frente para ele. Ambos se olham.
Edu – Promete pra mim que vai me amar eternamente?
Malu (meiga) – Sempre.
Edu – Eu te amo demais Malu. Você é uma bênção de Deus.
Malu – Mesmo que sua mãe seja contra, Deus é a favor da nossa relação. Deus sabe o quanto nos amamos e o quanto nos sentimos felizes e isso basta.
(Música Tema: “Relicário” – Nando Reis e Cássia Eller)
CAM mostra beijo entre Malu e Edu, ao fundo a cidade.
Corta para:
Imagens do cruzeiro anoitecendo (Com a continuação da música anterior)
Corta para:
Cena 15. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
(Fad out trilha “Relicário”)
Vários funcionários estão reunidos pertos da porta de saída, as luzes estão quase todas apagadas. Eva e Tamara vem descendo as escadas com pressa.
Eva (a todos) – Mil perdões. Eu acabei me empolgando no projeto e perdi a hora. Tô atrasadérrima.
Tamara – Vai sair Eva?
Eva – Vou jantar fora, mas antes tenho que ir praquele fim de mundo gostoso que é o nosso Elevado.
Tamara – Então simbora que tá na hora do busão.
Eva – Elias fecha a livraria pra mim?
Um rapaz, Elias, diz que sim e Eva e Tamara saem.
Corta para: Cena 16. Ponto de ônibus/ Exterior/ Noite.
Eva e Tamara estão sentadas.
Eva (olhando o relógio) – Assim eu vou me atrasar. Que saco.
Tamara – Vai sair com seu admirador, acertei?
Eva (sorrindo) – Acertou.
Tamara – Manda uma mensagem pro celular dele avisando que você vai se atrasar um pouquinho.
Eva – Tem razão.
Eva pega o celular e começa a digitar. Close em Tamara olhando de rabo de olho.
Corta para:
Cena 17. Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel/ Interior/ Noite.
Milena está deitada na cama, enquanto Miguel tira sua roupa, ficando apenas de sunga.
Miguel – Não vai descer pra jantar não?
Milena – Com a Ana Rosa aí? Perdi o apetite querido. Aliás, como não dormi a noite passada. Vou capotar cedo.
Miguel (pegando uma toalha) – Eu vou resolver esse assunto com o acionista e prometo voltar cedo. Tô morto também.
Milena – Então entra pra esse banheiro agora.
Miguel então entra para o banheiro, deixando a porta entreaberta. Ouve-se o barulho do chuveiro ligado.
Milena (ligando a TV) – Quero assistir a mais um capítulo daquela novela dançante. Adoro.
Nesse instante o celular de Miguel toca e Milena o olha. Milena resiste, mas em poucos segundos, pega o celular e visualiza a mensagem.
Milena (lendo/ tom baixo) – “Meu querido, vou me atrasar um pouquinho para nosso jantar, mas irei. Beijos, Eva”.
Milena fica desconfiada.
Milena (pra si) – Eva? Meu querido? Tô sentindo cheiro de sem-vergonhice no ar. Miguel que me aguarde.
Milena se levanta da cama, e começa a se arrumar, quando termina, volta a deitar-se e se cobre com um edredom.
Miguel (saindo) – Amor você viu aquela minha colônia francesa?
Milena – Precisa ir tão cheiroso assim a esse jantar com o acionista?
Miguel – Tudo por um bom investimento.
Milena – Sua colônia está dentro do guarda-roupa.
Miguel então abre o guarda-roupa, pega a colônia e passa bastante. Close em Milena, curiosa.
Corta para:
Cena 18. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Bar Chegaí/ Interior/ Noite.
Ondina está servindo algumas mesas. Movimento mediano. Som Ambiente: “Aceita, Paixão”.
Ondina (a um casal) – Aqui está a porção de pastel e a cerveja.
Ondina volta para trás do balcão. Nesse instante Zé Diogo chega todo contente.
Zé Diogo (gritando) – Ondina, mulher. Tá tudo certo.
Ondina – Tudo certo o que?
Zé chega perto de Ondina, do lado de fora do balcão.
Zé Diogo – Consegui Ondina. Conversei hoje com um dos empresários do Péricles. E ele vai cantar aqui, no nosso bar.
Ondina – Como assim?
Zé Diogo – Ele vai fazer por esses dias, um show numa cidade vizinha e passará por aqui, um dia antes. Conversei por telefone com um empresário dele, acertamos tudo. Amanhã farei o depósito de metade do cachê e em seguida começarei a divulgação.
Ondina – Mas com que dinheiro você vai pagar um show desses? Péricles é famoso e com certeza seu show deve ter um preço bem salgado.
Zé Diogo – Como ele estará de passagem por aqui, o empresário dele viu nisso um bico. Não vai ser show de mega estrutura e nem de horas a fio. É apenas um show mais simples, coisa boba mesmo.
Ondina – Se é assim, perfeito! Como dizia minha mãe: “Deus ajuda quem…” Caraca, como que é mesmo? Esqueci.
Zé Diogo – Deus ajuda quem cedo madruga.
Ondina – Isso mesmo. Bora festejar meu lindo.
Ondina cai no samba e Zé a acompanha.
Corta para:
Cena 19. Restaurante Frigideira/ Entrada Principal/ Exterior/ Dia.
Fluxo de pessoas e carros luxuosos. Miguel chega, desce de seu carro e entrega as chaves para o manobrista. Miguel entra no restaurante.
Close em Milena olhando tudo escondida dentro de um táxi.
Corta para:
Cena 20. Táxi/ Interior/ Noite.
Milena está sentada, impaciente e olhando para o restaurante.
Taxista – A senhora pretende ficar aqui quanto tempo?
Milena – Eu vou sair, vou entrar no restaurante e não sei quanto tempo ficarei lá, mas quero que você me espere aqui. Pago o quanto for.
Taxista – Sim senhora.
Milena (saindo do carro) – A mulherzinha boba dele acabou. Chegou a hora de matar cachorro a grito.
Milena sai do carro, atravessa a rua e entra no restaurante.
Corta para:
Cena 21. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Leve música instrumental, ritmo blues. Planos gerais do local. Pouco vozerio. Clima muito requintado.
Close em Miguel sentado ao fundo, tomando um vinho. Está sozinho na mesa.
Foco em Milena, ao fundo da imagem, durante todo o diálogo a seguir.
Milena (a Recepcionista) – Boa noite. Eu queria uma mesa. Não tenho reserva.
Recepcionista – Boa noite. A senhora deu sorte, hoje poucos clientes fizeram reservas. Qual mesa a senhora escolhe?
Milena olha pelo local e aponta para uma mesa distante, mas que tem visão ampla para a mesa de Miguel.
Milena – Aquela mesma.
Recepcionista – Por favor, me acompanhe.
A recepcionista encaminha Milena até a mesa.
Milena – Traga-me um champanhe. O melhor que tiver.
Recepcionista – Uma taça?
Milena – Não me venha com mesquinharias, quero uma garrafa. Mas pode ir gelando duas.
Recepcionista – Não acha muito?
Milena – Sua opinião não foi solicitada. Quem pagará a conta sou eu. Trás logo, antes que eu arme um barraco e faça o gerente, que é meu amigo, te colocar pra correr daqui.
Recepcionista – Como a senhora quiser. Com licença.
A recepcionista sai.
Corta para:
Imagens da Cidade.
Corta para:
Cena 22. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Noite.
Miguel está sentado tomando vinho e impaciente olha o relógio três vezes seguidas. CAM mostra Milena, ao fundo.
Pouco depois Eva entra apressada, olhando para todos os lados, até que vê Miguel de costas. Ela sorri e caminha até sua mesa.
Eva – Boa noite senhor.
Miguel a olha surpreso e feliz. Miguel se levanta e dá um longo abraço, acalorado, em Eva. Close em Milena, chocada.
Eva se senta.
Eva – Desculpe meu atraso, mas a livraria tinha era muito serviço hoje. Não sei como dei conta.
Miguel – Deu conta, porque é boa em tudo que faz.
Eva (sorridente) – Você é sempre assim, ou muda com o tempo?
Miguel – Sou da filosofia: gentileza gera gentileza.
Eva então pega nas mãos de Miguel.
Eva – Casado eu sei que você não é. Não usa aliança e nem tem marca nos dedos.
Miguel – Eu sou alérgico a qualquer tipo de metal. Nunca usei e acho que nunca poderei usar.
Eva – Por isso usa essa pulseira de tecido.
Close na pulseira de Miguel, feita de tecido.
Miguel – Ganhei quando era criança.
Close em Milena, tomando champanhe com “sangue nos olhos”.
Milena – Então essa é a tal Eva. Eles vão se ver comigo.
Close em Milena, com uma pulseira idêntica a de Miguel.
Close na mesa de Miguel e Eva.
Miguel – Eu te convidei pra jantar porque gostei muito de você. Desde nosso primeiro encontro. Sabe, Eva, você é diferente, é linda por dentro e por fora. É doce, é meiga. Eu quero muito que…
Miguel abaixa a cabeça.
Eva – Muito que?
Miguel – Eu quero muito que a gente fique junto. Que nos vejamos mais vezes, que nos beijássemos mais vezes. Por isso eu tomei a liberdade de comprar uma coisa pra você. Mesmo que a gente não chegue a ter nada sério, seja pra você lembrar-se de mim.
Eva (curiosa) – E o que seria?
Miguel tira do paletó uma caixinha de veludo, abre e mostra um lindo anel com pedras verdes.
Miguel – É um anel com pequenas esmeraldas e banhado a ouro.
Eva (surpresa) – É lindo. O anel, você e o seu gesto.
Miguel coloca o anel no dedo anelar, da mão direita de Eva.
Miguel – E quando você olhar esse dourado, saiba que ele reflete o brilho dos meus olhos ao te ver, ao pensar em você.
(Música: “I’ll Try” – Allan Jackson).
Eva e Miguel se beijam apaixonadamente. Close em Milena, chocada e morta de ódio, que vira mais duas taças de champanhe.
Milena se levanta, totalmente alterada.
Milena (gritando/ alterada) – Vamos fazer um brinde pessoal.
Miguel, ao ouvir a voz de Milena, para de beijar Eva e assustado olha para Milena.
Milena (bêbada) – Um brinde ao casal que está se beijando. Aliás, já parou, que pena. Pararam por quê? Eu estava gostando tanto dessa cena, digna de Oscar.
Close em Miguel, totalmente perplexo e assustado.
Corta para:
FIM
Amei a Paola Bracho na fala de Vitória: “Sempre há testemunhas de um crime, mas os mortos não falam.” kkkkkkkkkkk