Ser Humano- Capítulo 22.

Ser Humano.

Capítulo 22.

Cena 01- Ruas do Rio de Janeiro/ Noite chuvosa.

Continuação imediata da cena anterior. Natália fica desesperada ao saber que é Fausto caído no volante.

Natália, tentando abrir a porta: FAUSTO! FAUSTO! – Ela não obtém resposta. A intensa chuva continua. A rua estava vazia– Meu Deus o que eu vou fazer? – A mulher olha ao redor e percebe que tem um orelhão próximo dali e corre até lá. Ela disca o número da ambulância. – Alô! – diz, desesperada.

No mesmo instante, no restaurante…

Onofre toma uma taça de vinho e observa as outras mesas, com casais conversando. Ele olha para o relógio toda hora, apreensivo.

O garçom se aproxima: Boa noite! Já sabe o que vai pedir, senhor?

Onofre, olhando o relógio: É, eu estou esperando uma pessoa. – Ele desvia o olhar para o garçom. – Ela já deve estar chegando. Aí eu te chamo para fazer o pedido. Certo?

O garçom confirma, e então sai. Onofre continua apreensivo, balançando as pernas, olhando constantemente para o relógio, mas a hora parecia não se mexer.

De volta à cena…

A ambulância chega e tira Fausto do carro, ainda desacordado.

Enfermeiro: Obrigado por comunicar pelo acidente. Ainda bem que você estava aqui, essa rua é tão deserta. Você conhece algum parente dele. Ou melhor, sabe quem ele é?

Natália, ainda em choque: Não, quer dizer, sim. Eu conheço a família dele, ele é meu amigo de trabalho. Eu… eu… eu vou com ele até o hospital, lá eu ligo para alguém da família.

O enfermeiro sorri e confirma. Minutos depois, a ambulância parte.

As horas passam, Onofre desiste de esperar, já havia bebido duas garrafas de vinho. Furioso com o atraso, paga a conta e resolve que irá procura-la.

Cena 02- Botafogo/ Flat de Natália/ Madrugada.

Onofre chega no corredor do apartamento e bate furioso na porta: NATÁLIA! NATÁLIA!- Ele chuta a porta, descontrolado- Ela me deve uma explicação, me fez de palhaço, fiquei esperando por ela a noite inteira…Que humilhação, eu não mereço isso, EU NÃO MEREÇO, NATÁLIAAAAAAAAA.

Téo coloca o roupão, ele esfrega os olhos: Meu Deus, mas quem será, a essa hora da noite?

Yara, assustada: Cuidado, pode ser um ladrão. Nessa cidadezinha aqui eu não duvido, o porteiro deve estar dormindo e…

Téo tapa sua boca e escuta uma voz conhecida- Ih, é ele…O Onofre…- O compositor espia pelo olho-mágico- E parece bem alterado, mas não vejo a Natália…

Yara se senta no sofá: Abre logo a porta, será que a Natália morreu?

Téo fica apreensivo, ele abre a porta e Onofre vai entrando, e acaba tropeçando no gato que dormia.

Onofre chora: CADÊ? CADÊ AQUELA INFELIZ?- Ele está visivelmente embriagado, talvez porque ficara a esperando por horas, apenas pedindo vinhos- APARECE, SUA COVARDONA! APARECE! VAI!

Téo não entende nada: Onofre, o que aconteceu? Minha irmã devia estar com você!- Ele o ajuda a levantar- Ela saiu e não chegou no restaurante?

Yara supõe: Deve ter ido jantar com outra pessoa…Mais interessante, talvez.

Onofre, já babando: Pera aí…Se ela não chegou no restaurante e nem tá aqui? Ai…AQUELA VAGABUNDA TÁ MESMO COM OUTRO HOMEM! ELA NÃO PODIA TER FEITO ISSO COMIGO, EU NÃO MERECIA, EU TENTO SER CARINHOSO E ELA ME VEM COM ESSA? NÃOO!- Téo o senta no sofá.

Téo pega um copo com água: Pelo visto você bebeu muito, já não sabe o que diz, claro que minha irmã não fez isso, ela jamais o magoaria de tal forma. Sua falta de consciência tá fazendo você dizer coisas absurdas…Bebe essa águinha, por favor.

Yara cruza as pernas: Mas o bebarrão pode estar certo, Téo, se ela não está lá nem aqui…Ou tá com outra pessoa- Debocha- Ou então foi sequestrada, não duvido nada.

O telefone toca. Téo corre pra atender: Alô? NATÁLIA, ONDE VOCÊ TÁ?

Onofre soluça: Eu quero falar com ela…ME PASSA ESSE TELEFONE- Ele tenta arrancá-lo, mas Téo o impede- NATÁLIAAAAAAAA, NATÁLIA, VENHA JÁ PRA CÁ!

Téo lhe dá um soco e ele acaba dormindo no colo de Yara: Pronto, pode falar…

Natália, do hospital: O Onofre tem razão de estar furioso, mas é que um acidente aconteceu, um carro bateu no meu e, coincidentemente, era o carro do Fausto, parece que não foi nada grave mas agora estamos no hospital, ele chegou aqui inconsciente. Ninguém da família sabe, ainda.

Téo fala: Eu vou avisar pra Lilian, sei onde ela mora, pode deixar isso comigo. Estão no hospital Botafogo? Certo, tudo bem então, tchau irmã- Ele desliga.

Yara joga Onofre, ainda desacordado, no chão: Como assim? Eu ouvi o nome daquela infeliz, o que você vai fazer lá?

Téo pega a carteira: Vou avisar pra ela que o Fausto sofreu um acidente, por isso Natália não chegou no restaurante, porque o carro dele bateu no dela no meio do caminho. Alguém precisa avisar a coitada…

Yara, furiosa: E esse alguém é você? Eu não vou admitir…

Téo vai pro quarto: Eu não tenho tempo pra os seus caprichos agora, vou resolver um assunto urgente- Ele coloca roupa- Vou avisar a Lilian sim, é meu dever. Fica aí, cuidando do Onofre e do gato, qualquer coisa chama o Vasco- Ele sai correndo.

Yara: Téo, isso é uma desculpa pra você ir ver a Lil…- Mas a porta bate.

O apartamento fica em silêncio, só se escuta o ronco de Onofre, que dormia com a boca aberta.

Cena 03- Apartamento dos Segata/ Madrugada.

O apartamento está completamente escuro. Todos já estão dormindo, ou pelo menos quase todos. No quarto de Lilian, ela ainda se lamenta pelo acontecido. E deitada na cama, ela chora, olhando para uma foto de família. A campainha toca e Geórgia se levanta repentinamente, veste um roupão e vai atender.

Geórgia coloca o chinelo: Deve ser o seu Fausto, ele saiu daqui tão furioso. – A mulher tenta achar o interruptor da luz, mas não encontra. – Ah, vou abrir no escuro mesmo. – Um homem entra. – Pode ir entrando, seu Fausto, saiu sem a chave né?

No instante, Lilian aparece e acende o abajur da sala e o rosto de Téo aparece, fazendo Geórgia se assustar.

Lilian, séria: Téo! O que você tá fazendo aqui? – Ela olha para Geórgia, que nada entende. – Pode ir, eu me entendo com esse homem. – A empregada obedece e sai lentamente, olhando desconfiada para o “ estranho” – E então, o que você está fazendo aqui a essa hora?

Téo, sério, assustado: Lilian, eu tenho uma coisa muito séria para te contar.

Lilian cruza os braços: No meio da madrugada?- Téo confirma- Tá esperando eu perguntar o que aconteceu? Fala logo, Téo!

No hospital…

Lilian e Téo chegam correndo. Lilian está desesperada. Ela encontra com Doutor Pierre, o médico que cuida de Fausto.

Doutor Pierre, tentando acalma-la: Calma, calma. Está tudo bem com o Fausto, felizmente nada de mal lhe aconteceu. Ele só teve um pequeno corte na testa e ficou desmaiado por um certo tempo. Agora, ele faz exames.

Lilian, se acalmando: É difícil ficar calma em uma situação dessas. Meu marido é encontrado desmaiado em uma rua deserta? Impossível de ter sanidade num momento desse.

Doutor Pierre: É. Mas o quadro do Fausto não tá mais grave graças a uma mulher que conseguiu trazê-lo a tempo no hospital, ou então as consequências seriam piores, já que estava desacordado.

Lilian, estranhando: E que mulher foi essa? Preciso agradecê-la e muito, será que a coitada teve algum prejuízo?

Natália, chega: Eu! – Ela cumprimenta Lilian. – O carro do Fausto bateu no meu, eu nem sabia que era ele, felizmente vi pelo vidro. – Lilian sorri falsamente, sem gostar do que acabara de ouvir.

Lilian franze a testa: Nossa, que coincidência tremenda…

Doutor Pierre: Bom, o Fausto vai ter que passar uma noite aqui, de observação. E eu só posso permitir que duas pessoas fiquem.

Téo se dispõe: Eu fico com você, Lilian, se não tiver problemas, claro.

Natália, se pronunciando: Eu sou amiga de trabalho do Fausto, eu preferia ficar. Será que tem algum problema, Lilian?

Lilian, jogando o cabelo para trás: Não! Claro que não! Téo, ela já vai ficar comigo. Pode ir em paz, e… Obrigada por ter me avisado.

Téo beija a irmã no rosto e vai embora. Lilian e Natália se sentam, lado a lado.

A madrugada vai dando lugar a um dia ensolarado…

Cena 04- Casa de Vittória/ Sala/ Manhã.

Vittória serve um suco para Eliane, uma jornalista que viera lhe oferecer propostas de emprego, sem saber de sua doença: Aqui está, geladinho- Diz a mãe de Breno, sorridente.

Eliane bebe um pouco: Mas você ainda não me respondeu, vai querer ou não um trampo lá na nossa redação? Precisamos de um ícone forte como você, Vittória, que sempre se destacou no mercado de trabalho, com suas ideias, com sua personalidade…Quando eu soube que tava desempregada, corri pra cá.

Vittória: Eu fico feliz que tenha pensado em mim…

Eliane: Fiquei curiosa por estar desempregada, logo você? Briga com a chefe, né? Não se preocupe, lá na redação o chefe é super tranquilo. Enfim, você aceita minha proposta?

Vittória, preocupada: Eu…Queria muito voltar a trabalhar, mas você tem de ficar ciente que fui demitida por um motivo. Tenho uma característica que os contratantes não gostam muito. Uma característica não muito agradável.

Eliane ri: Pare de bobeira, Vittória, o que foi?

Vittória suspira: Eu…Tenho uma doença, que pode comprometer meu trabalho, que me deixa muito instável, as vezes me sinto bem, as vezes não. E isso é desconfortável no ambiente de trabalho, posso atrapalhar o serviço alheio, me sinto mal…

Eliane ergue o pescoço: E que doença é essa? Olha, não se preocupe quanto a isso, nós podemos te liberar quando passar mal, mas é algo passageiro…Não é?

Vittória, séria: Não é passageiro, é pelo resto da minha vida. Eu desenvolvi AIDS, Eliane. AIDS.

Eliane fica chocada: Aids? Não é possível, Vittória, essa doença…- Ela se levanta- Essa doença é de gente que se envolve com pessoa do mesmo sexo, eu não tô acreditando…

Vittória também se levanta: Eu não me envolvi com outra mulher, apenas aconteceu, todos estamos sujeitos. Eu sabia que ia reagir assim, Eliane, todos se assustam. Ninguém compreende que…

Eliane pega sua bolsa: Não tem nada pra compreender, Vittória, você tá sendo punida, se envolveu com outra mulher SIM, é a única explicação. E eu achando que tava falando com uma pessoa de respeito…Você é só mais uma aidética castigada. Licença- Ela vai saindo.

Vittória vai atrás dela: ESPERA! ESPERA! Eliane, eu que me enganei ao seu respeito, nos conhecemos a um bom tempo e nunca percebi sua mente fechada! Que ignorância toda é essa? Eu tenho direito de me explicar, e não pode sair por aí fazendo acusações pra que…

Eliane grita: SE AFASTA DE MIM, VITTÓRIA! Vocês…Vocês aidéticos ainda vão contaminar muita gente inocente por conta de seus erros. O lixo do mundo devia ser varrido.- Ela encara Vittória- Eu nunca ia esperar isso de uma mulher como você.

Vittória pega em seu braço: Você tá dizendo que eu fiquei doente de propósito, ou por causa de um erro meu? Sou vítima desse vírus, Eliane, provavelmente recebi sangue contaminado, não sei ainda…Você não pode levantar a voz pra dizer que eu tô assim por conta de um erro meu porque isso é mentira!

Eliane se solta: ME SOLTA, SUA NOJENTA! AI…COMO EU ME ARREPENDO DE TER VINDO AQUI, ACHANDO QUE IA CONTRATAR UM SER HUMANO DE RESPEITO. MAS AGORA NUNCA MAIS, NUNCA MAIS EU QUERO TE VER, SUA INFELIZ- Ela abre a porta e sai.

Breno chega: Mãe, eu ouvi os gritos do quarto, você falou que tava doente. É verdade?

Cena 05- Apartamento dos Segata/ Dia.

Raquel se arruma no quarto para ir para a faculdade. Acácia chega, sorrindo.

Acácia repara fixamente na moça: Está bonita. Isso tudo é para o primeiro dia de aula na faculdade? Se bem que quem faz Direito tem que andar bem arrumado.

Raquel se vira para Acácia: Como assim Direito? Eu não escolhi esse curso, e sim, Turismo. Nunca quero ser advogada, é enjoativo só de pensar.

Acácia fica triste. Ela acaba tendo uma lembrança.

FLASHBACK.

Acácia e Gorete estão deitadas na cama, conversando.

Acácia, rindo: Eu sempre fui uma garota muito estudiosa, tá? Aluna aplicada desde que entrei na escola.

Gorete, rindo: Sei! E quem não garante que você era uma pestinha que adorava tacar bolinhas de papéis no professor enquanto ele passava dever?

Acácia gargalha: Claro que não. Olhe bem para minha cara e veja se tenho cara de fazer isso. – Elas ainda riem um por um tempinho. – Por falar nisso, você entra na faculdade esse ano. Já tem ideia de qual curso quer fazer? As universidades aqui da Itália tem ótimas opções.

Gorete, radiante: Mamãe, desde pequeno o meu sonho sempre foi fazer direito. Eu ainda vou virar uma advogada de sucesso e nada pode me impedir. Tenho certeza, quero DIREITO…

DIREITO…

DIREITO…

FIM DO FLASHBACK.

A voz de Gorete ecoa a mente de Acácia, que surta.

Acácia, séria: Não, você vai fazer direito. DIREITO! É o seu destino, filha, não tente mudar ele!

Raquel, sorrindo: Claro que não, eu já até comprei meus livros. Olha eles ali. – Ela aponta para o material, que se encontra na cama.

Acácia, furiosa: VOCÊ VAI FAZER DIREITO! – Ela pega os livros de Raquel e taca pela janela, que estava fechada e acaba se quebrando por conta do peso deles.

Raquel, assustada: AHHHHH! – ela grita. – PARA, VOCÊ ESTÁ LOUCA?! ISSO CUSTOU UMA FORTUNA.

Na sala…

Irene, assustada: Geórgia, você ouviu isso?

De volta ao quarto…

Acácia, segurando Raquel pelos braços: VOCÊ VAI FAZER DIREITO, VOCÊ VAI FAZER DIREITO, NEM QUE SEJA A FORÇA!

Raquel, chorando, desesperada: PARA, PARA, PARA, ME SOLTA, POR FAVOR! – Ela grita, com medo.

Irene e Geórgia chegam ao local, e ficam perplexas.

Irene, assustada: O que tá acontecendo aqui?

Acácia está com olhos vermelhos.

Cena 06- Hospital Botafogo/ Corredores/ Dia.

Lilian acorda, enrolada em sua echarpe: Ai…Não lembrava que as cadeiras desse hospital eram tão desconfortáveis- Natália a encara- Nossa, eu dormi demais, alguma novidade do Fausto?- Ela esfrega os olhos- Tive uma noite agitada, por isso tanto sono…

Natália cruza as pernas: Tudo bem, eu também acordei faz pouco tempo. O Fausto vai ser liberado em breve e…Não que esteja querendo me intrometer na vida de vocês, mas…Porquê ele tava dirigindo tão descontrolado a ponto de bater no meu carro violentamente?

Lilian abaixa a cabeça: Nós brigamos, Natália. Na verdade, foi fruto de uma coisa muito antiga, que eu não devia ter escondido dele…Acho que depois dessa…Meu casamento tá acabado- As lágrimas se formam- Eu fui uma idiota.

Natália a consola: Calma, se vocês se amam mesmo, nada vai poder estragar a relação dos dois. Talvez uma viagem possa ser boa…

Lilian: Nem me fale em viagem, a última foi desastrosa. Minha vida não tá sendo nada fácil, sabe? Briguei com minha filha, meu marido, e a culpa é minha…Eu acho que…Eu não mereço mesmo o amor deles.

Natália: Não fala isso, Lilian, você tem de ser forte!

Lilian toma postura: Eu tentei ser forte, mas novamente fraquejei. E pensar que a culpa é de…Um relacionamento do passado, infeliz, que teve consequências até os dias de hoje- Ela pega nas mãos da bióloga- Na verdade, tenho que te contar uma coisa muito séria…Sobre o seu irmão, Téo.

Natália se assusta: O Téo?

Lilian respira fundo: Eu e o Téo…Já fomos namorados.

Natália fica boquiaberta.

Cena 07- Mansão de Úrsula/ Dia.

Úrsula está sentada no sofá, sendo abanada por Olive.

Úrsula: Ô incompetente, dá para abanar mais? Está calor, você sabia?

Olive, suando: Pois eu também estou com calor e nem por isso estou reclamando!

Úrsula a olha: Mas é muito abuso para uma pessoa só. Olha que eu te demito por justa causa!

Olive respira fundo: Por que eu te deixei com calor? Mas isso seria uma péssima explicação para o juiz!

Úrsula, irritada: Está insinuando que me colocaria na justiça, sua incompetente? Vai, Olive, abana, pelo amor de Zeus!

Paula chega: Pode parar de sentir calor então. Estou aqui para te fazer um convite- Ela tira o chapéu de praia enorme da cabeça e bagunça o cabelo.

Úrsula, não dando atenção: Tenho que pensar. – Ela se levanta. – E qual seria esse convite?

Paula, sorrindo: Vamos à praia? Está fazendo um calor terrível e aquele vento gelado da praia pode nos ajudar a não derreter. Além do que, tenho novidades para te contar. Vai é um “bate e volta” rapidinho.

Úrsula não responde por um tempo e Paula insiste.

Úrsula, sorrindo: Ok, ok. Eu vou, desde que seja rápido, a Elisafran está aqui em casa, está machucada, preciso dar atenção a ela. – Ela pega sua bolsa e olha para Olive. – Cuida da Fran, e tenta não matar a coitada, eu vou pegar meu chapéu e meu protetor, e já vamos!- Um pouco depois, ambas saem.

Minutos depois… Elisafran percebe que Úrsula saiu e desce, com um copo de suco. Propositalmente, ela derrama o copo no chão.

Elisafran, gritando: OLIVE! OLIVE! – A empregada vem correndo. – Eu derramei suco aqui sem querer, será que você pode limpar?

Olive sorri: Claro, eu vou ali no quartinho pegar os produtos. Só um minuto.

Olive vai até o quartinho com os produtos de limpeza e não percebe que Elisafran a seguiu. Friamente, Fran tranca a porta e deixa a jovem presa lá dentro. Ela sorri e caminha até o quarto de Úrsula.

Elisafran coloca a chave no sutiã: Eu vou ter que achar alguma coisa aqui dentro.

Ela começa a revirar as coisas da dona da casa, evitando o máximo de barulho possível.

Olive percebe que a porta fechou: Ué, cadê a chave?- Ela força a abertura- Janaina! Que brincadeira é essa? ABRE A PORTA!- E bate insistentemente- ABRE A PORTA! EU ODEIO ESSE TIPO DE TROTE! EI! SOU CLAUSTROFÓBICA! SOCORRO!!- Diz, desesperada.

Cena 08- Casa de Vittória/ Dia.

Breno joga a bola em um canto e cruza os braços: Não adianta mais me esconder, mãe, eu ouvi você dizendo que tem uma doença, e ainda discutiu com a mulher. Por favor, me conta qual o seu problema, eu posso tentar te ajudar. Nossa vida tava tão legal, poxa, e de repente essa crise?

Vittória mexe nos cabelos: Você ouviu errado, Breno, é que a Eliane me irritou porque eu não quis trabalhar na redação dela…

Breno se irrita: MÃE, VOCÊ TÁ ACHANDO QUE EU SOU IDIOTA? FALA LOGO, PARA DE ME ESCONDER, EU SINTO QUE VOCÊ TÁ SOFRENDO E VOCÊ INSISTE EM MENTIR PRA MIM?

Vittória arregala os olhos: Isso é jeito de falar comigo? Quer saber, eu não te devo satisfação nenhuma, vai já pro seu quarto, ficar de castigo, sem poder jogar bola e nem nada! Que jeito feio você adquiriu!

Breno revela: Você tá com aids, mãe- Vittória se assusta- Eu ouvi tudo, só tava me fingindo de desentendido. Agora eu sei de tudo, por isso ficou desesperada quando te contei da palestra na escola, não adianta mais mentir.

Vittória tenta se manter séria: Cala a boca, garoto, para de inventar mentira!- Ela o pega pelo braço- Vai, vai logo pro quarto antes que eu esquente sua bunda com o chinelo…

Breno se solta: PARA, MÃE, PARA DE MENTIR, VOCÊ TÁ COM AIDS!

Vittória lhe dá um tapa: CALA A BOCA, EU NÃO TE DOU O DIREITO DE ME RESPONDER DESSA MANEIRA, BRENO VELASCO, VOCÊ NÃO É NINGUÉM PRA…

Breno a interrompe: Eu sou seu filho. Você não podia ter me escondido isso, mãe, com todas as dificuldades que vem passando, acha que eu sou burro em não ter percebido? Você acha que eu não sofro em te ver triste, mãe? Eu quero te ver feliz…E pode contar comigo no que está pra vir, seja isso bom ou ruim- Ele a abraça.

Vittória o beija: Filho, me desculpa, por favor. Mas EU é que não queria te ver sofrer, essa doença é muito complicada…

Breno, ainda abraçado a ela: Muita coisa é complicada, mas você é minha mãe e não vou me afastar por causa disso, ao contrário, nós vamos nos unir, e derrotar essa maldita doença. Juntos!- Fala, deixando a mãe emocionada- Eu te amo.

Vittória: Você é a coisa mais importante na minha vida, filho, eu não quero te deixar…E não vou. Eu vou lutar até o fim!

Breno sorri.

Mas na redação do jornal onde Eliane trabalha…

Eliane limpa a máquina de escrever, coloca os óculos e começa a digitar, pouco depois, termina: Essa Vittória acha que vai esconder a doença por muito tempo, mas pessoas como ela, não merecem viver! Ora se eu, uma jornalista que trabalha a favor do povo, vou deixar isso acontecer…A partir de amanhã, todos vão saber o que Vittória Velasco esconde, e essa mulher vai ser eliminada pro bem da nação, menos uma com a tal AIDS, menos uma.

Lê-se na folha: Publicitária Vittória Velasco esconde grave doença e é ameaça para a população.

Eliane ri maldosamente: Aguarde até amanhã, aidética nojenta. Ui, só de lembrar me dá repulso…

Cena 09- Hospital Botafogo/ Dia.

Fausto está deitado na cama, no quarto particular.

Doutor Pierre, chegando: Fausto! – ele sorri. – Tenho uma ótima notícia: Você teve alta!

Fausto se levanta: Graças a Deus! Eu já não aguentava mais ficar dentro desse quarto. E isso por que não estou aqui nem a 24hrs.

Doutor Pierre: Sim. Agora levante, erga a cabeça e vá enfrentar mais uma dessa. – Ele desliga os aparelhos.

Fausto se levanta e se arruma. Algum tempo depois, sai do quarto. Natália o espera.

Natália, comovida: Que bom que nada de grave te aconteceu. – Ela o abraça. – Eu achei que tivesse sido algo grave. Você bateu tão forte no meu carro. Depois eu te encontrei desmaiado.

Fausto, com dor de cabeça: Nossa! Eu não lembro de nada disso. Obrigado por ter salvado a minha vida eu te devo essa, afinal, não é você a barbeira aqui. – Eles se abraçam novamente.

Lilian sai do banheiro feminino na mesma hora. Ela flagra a cena e acaba deixando a bolsa cair no chão. Fausto repara na presença da mulher.

Os dois se encaram.

Fausto tem desprezo no olhar.

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Termina o capítulo 22.