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Cantiga de Amor

Capítulo 32 – Cantiga de Amor

10 dias depois…

Cena 01: Termes. Casa de Giancarlo. Manhã.

Gustavo está em seu quarto. Está se trocando.

Gustavo – Chegou o dia… Eu…Estou fazendo o certo? (Suspira) Está tudo nas mãos de Deus.

Em seu quarto, Cecília também se veste, com a ajuda de uma criada.

Cecília – É hoje o dia do meu noivado… Senhor, Nossa Senhora, nos guarde. Se isso for o correto, que assim seja.

Criada – Senhora Cecília, é bom a gente se apressar. Em pouco tempo a festa começa.

Cecília – Sim. Vamos lá.

Cena 02: Região portuária da península.

Em frente a uma estalagem, param duas carroças. Delas, saem cinco pessoas, que entram no recinto.

Pero – Bom dia. Gostaria de saber se há vagas na estalagem para nós cinco.

Agnella – Vamos mesmo ficar aqui?

Funcionário – Vocês têm como pagar a estada?

Inês – Temos algumas roupas e objetos que devem valer o suficiente para passarmos um bom tempo. Mas, por favor, não demores com isso.

Funcionário – Mostre-me.

Eles mostram os objetos que Pero trouxe de sua casa.

Funcionário – É… Dá para um certo tempo.

Gregório – O senhor pode me dizer uma coisa? Essa região é tão movimentada assim ou está acontecendo algo de especial aqui?

Funcionário – Ah, sim, é a tal Guerra Santa. Um tempinho atrás, a Igreja promoveu a viagem para Jerusalém. Hoje, é o próprio povo que se juntou para ajudar, numa luta independente.

Gregório – Hum… Entendi.

Valentina – Então, vamos para os quartos? Quanto menos tempo estivermos à vista, melhor.

Cena 03: Estalagem na Região Portuária. Algum tempo depois.

Andando furtivamente, Agnella apareceu na sala de recepção, sozinha, carregando uma trouxa. Cruzou a sala e saiu, ganhando a rua.

Agnella – Ufa, consegui sair sozinha. Então há gente indo para Jerusalém… E se meus quatro companheiros não querem partir para lá, eu partirei por mim mesma.

Poucos minutos depois, é Inês quem aparece.

Inês – Até parece que eu irei ficar escondida em um quarto, quando há um lugar novinho e inteiro para eu conhecer. Pero me perdoe, mas eu não posso perder esse passeio. Tcha-au.

Do lado de dentro, na sala de recepção, Valentina e Pero surgem.

Valentina – Mas onde Agnella se meteu?

Pero – E cadê Inês? Elas não podem ter saído assim…

Eles procuram na sala de recepção, e não acham.

Funcionário – Vocês estão procurando por aquelas duas moças que os acompanhavam? Elas saíram daqui há pouco tempo, e uma delas, a loira, levava uma trouxa com ela.

Valentina – Ai, meu Deus! Agnella está metendo os pés pelas mãos. Mas eu não posso permitir que isso aconteça.

Pero – Nem eu posso permitir que Inês suma assim.

Valentina – Vou chamar Gregório. Temos que encontrar Agnella.

Cena 04: Termes. Casa de Giancarlo. Sala.

Giancarlo – Muito bem, meus amigos. Eu agradeço a todos que puderam comparecer a essa simples cerimônia, que eu não chamaria propriamente de festa. É apenas uma ocasião alegre, na qual minha filha, Cecília, e este rapaz, Gustavo, estão reafirmando publicamente o compromisso de se casarem. E eu creio que a hora de isso acontecer chegou. Por favor, os dois se aproximem a mim, antes de eu passar o bastão ao padre.

Eles se aproximam.

Giancarlo – Eu gostaria de dizer umas coisinhas, antes. Primeiro, para a minha filha. Apesar de esse não ser ainda o casamento, saiba que estou muito feliz por ver tua vida no rumo certo.

Cecília – (Meio sem graça) Muito obrigada, pai.

Giancarlo – E quanto a ti rapaz, eu gostaria de te desejar juízo. E de anunciar, na frente de todos, que, como irás casar com minha filha, e já que ainda és um peregrino nesta terra, eu te permitirei fixar morada. Tu trabalharás comigo no comércio local.

Gustavo – Eu… Não sei nem como agradecer ao senhor, Giancarlo.

Giancarlo – Agradeça trabalhando e não me decepcionando. Eu estou confiando em ti. Tenho motivos para isso, não tenho?

Gustavo permanece calado.

Giancarlo – (Elevando a voz) Tenho ou não tenho? Vamos, rapaz! Diga-me! Sim ou não?

Nesse momento, Marlete entra pela porta da frente.

Marlete – É claro que ele não vai responder. Então eu faço isso por ele: a resposta é não.

Giancarlo – Não? Por quê? Podes me explicar, Marlete, já que ele não me respondeu?

Marlete – Pelo visto, o senhor não é tão burro quanto pareceu. Esse homem não merece sua confiança. E o senhor sabe por quê? Se não, eu digo. Porque ele não é quem diz ser!

Cecília – O que estás falando?

Marlete – Que Gustavo é uma farsa! Que não era ele quem deveria estar aqui, agora, nesse noivado! Que ele não é o homem a quem Cecília está prometida!

O povo entra em alvoroço.

Giancarlo – Ora, ora… Podes provar isso, Marlete?

Marlete – Com toda a certeza.

Ela vai até lá fora, e volta com Brás, “disfarçado”.

Marlete – Este homem, por nome Magno, viu quando o falsário, por nome Gustavo, matou o legítimo herdeiro do tesouro da família, e roubou o seu colar, com o único objetivo de se passar por ele e tomar o que era seu!

Todos se espantam e se calam.

Cena 05: Região Portuária. Lugar próximo ao porto.

Valentina e Gregório estão em uma rua movimentada, que fica no caminho para o porto.

Gregório – E aí? Já a avistaste?

Valentina – Ainda não. Mas vamos andar mais. Ela só pode ter vindo para cá.

Então, Valentina encontra Agnella no meio do povo, e corre com Gregório para encontrá-la. Quando a alcança, a segura pelo braço.

Valentina – Ficaste louca, Agnella? Não podes sair assim. Alguém pode nos ver!

Agnella – Me larga! Eu vou embarcar nesse navio! Eu vou para Jerusalém!

Gregório – Não, Agnella! Isso é uma loucura! Nós ficaremos aqui, escondidos, pelo menos até nos certificarmos de que não sabem onde estamos!

Agnella – Falem por vocês.

Agnella se solta. Quando vai correndo, encontra Pero e Inês, que a seguram.

Pero – Pronto. Agora não podes mais fugir!

Valentina – E onde Inês estava, Pero?

Pero – Eu a encontrei conversando com alguns homens no porto, e tratei de trazê-la de volta.

Inês – Ai, camponês, eu não posso nem passear um pouco? E quanto aos homens que eu conheci, eles estão de partida para Jerusalém. E parece que mulheres também irão lutar nessa Guerra. Daqui a pouco o navio deles vai embora.

Valentina – É, mas Jerusalém não é nosso destino. Vamos voltar para a estalagem.

Eles andam. Quando chegam ao final da rua, têm uma surpresa vinda da outra rua.

Edetto – Olha só! Nós encontramos os fugitivos! Demoramos, mas os encontramos!

Agnella, Pero, Valentina, Inês e Gregório param. A comitiva do padre se aproximava.

Francisca – Muito bem! (Se dirige aos cinco) Vocês não têm o que fazer. Nós os pegamos!

Cena 06: Termes. Casa de Giancarlo.

Giancarlo – Essa parte é surpresa para mim. Como… Como conheceste esse homem, Marlete? Como sabes que ele diz a verdade?

Brás – Em primeiro lugar, como já dito, eu sou testemunha ocular do fato. Eu estava no mesmo navio que ele, quando conheceu o verdadeiro herdeiro e decidiu lhe tomar o lugar. Depois, já aqui, eu procurei a senhorita Marlete, porque estava preocupado com sua família. E o senhor irá me desculpar, mas é só olhar para a cara do rapaz para saber que eu estou sendo sincero.

Giancarlo – (Bate palmas lentamente) Muito bem. Pelo visto, essa manhã está me rendendo mais do que esperava. Vamos, rapaz, admita que o que ele disse é a verdade. Que você tentou nos enganar todo esse tempo!

Cecília –Por favor, Gustavo, diga que não…

Gustavo está acuado. Ele se senta.

Gustavo – Eu… Eu… Ele está certo.

As pessoas voltam a se alvoroçar.

Gustavo – Mas eu não matei ninguém!

Brás – Isso é mentira!

Giancarlo – Vamos, rapaz. Conte-nos tudo o que escondeste de nós e que ainda não sabemos.

Gustavo – Eu confesso. Eu não sou quem disse ser. Mas eu não matei o neto do amigo de seu pai. Eu conheci Marconi no navio que estava partindo da península para Jerusalém. Logo nos tornamos amigos. Só que ele estava muito doente, e previu que iria morrer em alto mar. Então, me contou sobre a história de sua família e sobre o colar. E ele me pediu para possuir o tesouro em seu lugar. Foi um pedido dele… E, repito, eu não o matei. Pelo contrário, o que eu queria era que ele estivesse aqui! Em nenhum momento eu quis tomar o lugar de ninguém!

Giancarlo – Mas quando vieste ao meu encontro naquele jantar, vieste como Marconi. E assim ficaste. E foi esse teu deslize bobo que me fez saber a verdade.O teu nome estava errado!

Gustavo – Não era a minha intenção me passar por ele. Eu queria ter sido sincero com o senhor… Só que Marconi não me contara sobre a promessa de casamento com Cecília. E quando, no jantar, o senhor fez o anúncio,eu… Percebi que só seria assim que eu teria o tesouro. Eu nunca quis enganar ninguém. Só quis atender ao desejo de um amigo…

Marlete – Ah, mas enganou, principalmente à coitada da minha prima. E iria continuar enganando até colocar as mãos no tesouro! E então, só Deus sabe o que faria depois!

Giancarlo – Eu não acredito nessas tuas palavras de boas intenções, Gustavo. Quer saber? (Grita) Fora daqui! Vá embora dessa casa! Vá agora ao quarto que eu fiz questão de preparar para você, no qual, aliás, não sei como conseguiste dormir esses dias! Pegue suas coisas e saia do meu lar! Saia também dessa cidade! (Respira) Há um, ou melhor, dois navios que já, já estarão partindo para a península de onde deves ter vindo. Embarque em qualquer um deles, mas vá embora desse lugar! Agora!

Cecília – Pai, talvez estejamos sendo injustos…

Gustavo – Não, Cecília. Seu pai está certo. Eu não devia ter feito o que fiz.

Gustavo sai para o quarto.

Giancarlo – E quanto aos senhores e senhoras que compareceram aqui hoje, me perdoem por esse transtorno. Talvez eu tenha os usado, mas foi por uma boa causa: eu gostaria que vocês me ajudassem, não permitindo que esse rapaz permaneça na cidade. A festa acabou. Podem ir embora para suas casas.

O povo fica triste, mas vai saindo. Gustavo aparece com suas coisas.

Gustavo – Senhor Giancarlo, eu sei que errei. Por isso, gostaria de pedir o seu perdão, e de dizer que o tesouro nunca foi meu maior objetivo. E quero agradecer por esse tempo que passei aqui, e por me permitir ir embora assim. Ah, e para ti, Cecília, também peço perdão. Acho que acabei de destruir seus sonhos.

Giancarlo – Eu só estou permitindo isso com a condição de ires agora, e nunca mais voltares! Porque se pisares o teu pé em Termes novamente, eu não conterei minha ira!

Gustavo – Tudo bem. Eu partirei agora.

Ele passa por Marlete e Brás, que estão sorrindo.

Gustavo – Eu não sei qual a intenção de vocês. Nunca nem vi o senhor para entender seus motivos de ter feito isso. Mas de uma coisa eu sei: isso deve ter sido o melhor que poderiam ter feito por mim. Me livraram de um caminho… Tortuoso.

Ele vai embora. Cecília sai em direção ao seu quarto.

Giancarlo – Agora que eu mandei esse homem embora, a minha conversa é com vocês dois. Digam-me: com que intenção fizeram isso? E não adianta dizerem que queriam apenas me ajudar, porque eu te conheço, Marlete, há muito tempo. Tem a ver com o tesouro, não tem?

Brás – Ora, senhor Giancarlo, o senhor não acha que merecemos uma… Recompensa?

Marlete – O senhor é inteligente. Nunca duvidei disso. E está certo, sim.

Giancarlo – (Ri) Humpf, se vocês pensam que irão possuir o tesouro, estão enganados! Ele não pertence a ti, Marlete, muito menos a esse homem que apareceu do nada aqui! Desistam!

Marlete – Ah, é? O que o senhor irá fazer com ele, então? Sua filha não irá se casar com um morto. E, se eu bem me lembro, o falecido também não deixou ninguém na família. O tesouro continuará escondido, então? Será que isso agradaria ao seu finado e respeitado pai?

Giancarlo – O meu pai nunca previu essa situação! Eu tenho certeza de que ele me apoiaria!

Marlete olha para Brás, que estrategicamente sai da sala e se dirige à ala feminina da casa.

Marlete – É… Talvez. Mas o que isso importa? O senhor irá nos dizer agora onde está o tal mapa do tesouro, senão… O meu caro amigo, que daqui a pouco voltará trazendo minha priminha Cecília, sairá, digamos, para passear com ela, por um tempo indeterminado!

Cena 07: Região Portuária. Lugar próximo ao porto.

Os cinco fugitivos começam a recuar para trás, com a comitiva do padre se aproximando mais.

Valentina – Irmã Francisca? A senhora…

Francisca – Eu encontrei vocês, sim! Eu e seus senhores feudais.

Edetto – Não tens mais o que fazer, serva atrevida!

Izabella – Nós te pegamos!

Adelmo – Agnella, vem comigo!

Enzo – Filha! Tu voltarás ao meu lado para casa!

Agnella – Não! Me esquece, Adelmo! E pai, me perdoa, mas meu lugar é com Gustavo!

Adelmo – E tu, Inês, tens que voltar para casa! Nossa mãe está sofrendo!

Inês – Diga a ela que o meu caminho é com Pero! E que eu não quero mais depender dela!

Francisca – Tu és uma pecadora, isso sim! E irás pagar por esse pecado! E Pero também!

Pero – Me desculpe, irmã, mas a senhora não pode falar assim conosco!

Santorini – E tu, Gregório, por que fizeste isso? Por que deixaste a obra do Senhor para trás?

Gregório – Padre, eu sigo respeitando e temendo a Deus. Mas meu destino não é ser padre!

Enfim, a comitiva os alcança.

Francisca – Fim do caminho para vocês!

Valentina – É aí que a senhora se engana. (Para os outros) Corram!

Edetto – Voltem aqui!

Eles começam a correr, derrubando tudo o que veem pela frente, a fim de atrapalhar os que os perseguem. Durante a corrida, eles conversam, ofegantes.

Gregório – O que faremos agora?

Pero – Vamos voltar para a estalagem?

Inês – Não dá!

Agnella – Então vamos embora!

Gregório – (Irônico) Para onde? Jerusalém?

Valentina – Detesto admitir! Mas é a nossa única saída!

Eles correm até chegarem ao cais, ganhando certa distância dos outros. Ouvem algo.

Homem – O navio já está saindo! Quem ainda for embarcar, essa é a última chance!

Cena 08: Termes.

Gustavo está chegando à praia, de onde estão saindo alguns barcos em direção aos dois navios ancorados ali perto.

Gustavo – Foi uma completa insanidade! Realmente, ir embora é o melhor que eu posso fazer.

Nesse momento, Gustavo ouve uma voz familiar lhe chamando. Se vira e tem uma surpresa.

Cecília – Espera, Gustavo! Eu irei contigo! Eu embarcarei contigo em um desses navios!

2 comentários sobre “Capítulo 32 – Cantiga de Amor

  • Não teve jeito a farsa do Gustavo foi descoberta por todos 😮 Marlete e Brás, esses dois realmente não vale o que o gato enterra, só estão de olho no tesouro. E agora o Gustavo foi expulso de Termes.
    Vish, a comitiva do padre achou os fugitivos, será o fim da linha? Acho que não, já que eles encontraram um navio dê saída, veremos no que isso dará.
    Cecília resolveu ir com Gustavo? Mas com que finalidade gente? Se Gustavo está voltando para casa, irá dê desecontrar de Agnella!!!
    Mais complicações 🙂

    • Complicações, complicações… Na vida, nem tudo sai da maneira como nós queremos. E na ficção, a gente pode alterar uma coisa ou outra, mas não é mais interessante quando a arte imita a realidade?
      Gustavo, Cecília, Agnella e sua trupe estão enfrentando isso na pele.
      Obrigado por comentar! 😀

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