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Ela Veste Preto, mas o Baile é Cor de Rosa

Capítulo 9 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

Sábado de manhã.

– Nossa! Como é maravilhoso! – espanta-se Dora observando do lado de fora o loft que alugou.

O apartamento ficava em Holanda Garden, um bairro mais afastado e carente, bem diferente dos que já havia estado na vida. Ela abriu a porta com ansiedade e rapidamente descobriu um salão vazio de médio porte com grandes janelas e muita luz onde só o banheiro e a cozinha eram separados do resto.

– Meu primeiro canto… Minha mãe vai ter um treco quando souber! – pensava enquanto tirava suas coisas do furgão.

Dora tirou primeiro as malas com roupas e seus pertences pessoais que estavam distribuídos numa sacola e um necessaire, até perceber que uma mesa de madeira estava atravancando a retirada das outras coisas. Tentou desatar sozinha, puxando-a o máximo que pode, porém não conseguiu nem fazê-la se mover.

– Droga! Só essa que me faltava! – sussurra raivosa pela impotência. – Calma! Ninguém disse que morar sozinha seria fácil. Vamos, Dora! Você consegue! – termina encorajando-se.

De repente, alguém vem subindo a rua rumo a seu encontro.

 

 

Música: Passos pela rua – Marcelo Mirra.

Passos pela rua, lá vem o amor
Vem cambaleando entra pra um café
Sem carro do ano
Sem anel dourado
Na mão uma rosa
Sapato furado

Passos pela rua, lá vem o amor
Vem sorrindo alto, lá vem o amor
Hoje ela já sabe que o amor é raro
Hoje ela passeia com o amor ao lado

 

 

– Calma aí! Deixa eu te ajudar! – diz o rapaz.

– Não, tudo bem! Eu me viro! – agradece tirando-o do caminho.

– Pelo que sei, arrogância ainda não dá super poderes! – brinca.

– Cara dá um tempo! Eu nem te conheço… Tô no meio de uma mudança e tava tudo bem até você chegar com as suas gracinhas. Cai fora! – ordena Dora grosseira.

– Nossa, que grosseria! Eu não te conheço, quero te ajudar e você vem com sete pedras na mão, enquanto deveria me agradecer pelo favor prestado… Esse mundo tá perdido mesmo!

Dora finalmente olhou para o rosto do rapaz e viu que ele estava sendo sincero.  É que ultimamente ela estava tão vacinada contra a turma de New Park, que pensava que qualquer coisa podia ser uma retaliação deles. Reconsiderou.

– Olha, me desculpa! É que as coisas não têm sido muito fáceis pra mim nos últimos tempos. E eu ando muito irritada, mas não vou te alugar mais! Você não quer saber! – anima-se.

– Ah! Sei, aqueles dias no mês! – ri.

Dora fechou a cara de novo.

– Não é nada disso! – responde.

A essa altura, ambos carregavam o móvel, mas a bravinha largou e entrou na frente apenas indicando o caminho. O rapaz estava atrás, tentando arrastar a mesa, dando-se conta do quanto realmente era pesada. Arrependendo-se minuto a minuto de seu ato de cavalheirismo até o fio dos cabelos.

– Isso! Vai ajudar a garota frágil! Quem vai acabar fragilizado aqui é você, mané! – grita para si próprio.

– Acho que já vi esse cara em algum lugar… – pensa Dora péssima de fisionomia, mas logo se esqueceu da cisma, empolgada com a arrumação das coisas no apartamento.

 

Música: Dog Days Are Over – Florence And The Machine

Os dias de cão acabaram

Os dias de cão passaram

Os cavalos estão vindo

Então é melhor você correr

 

Ela dançava e se mexia, pulando de um lado ao outro para ajeitar pufs e almofadas que trouxe de New Park. Sua ideia era ser bem despojada, viver num moderno ateliê de uma designer antenada. Já havia se esquecido da vida quando rodopiando percebeu no meio do giro uma imagem parada à porta.

– Aí! É você! – assusta-se.

– Sim, sou eu! Ou você deixou mais alguém na rua pra morrer trazendo seus trecos? – diz o moço bufando, irônico e destruído pelo trabalho.

– Foi você que insistiu! – ironiza ela.

– Depois dessa eu vou ser canonizado. Onde coloco? – pergunta referindo-se a mesa atrás dele.

– Ah! Pode ser lá dentro no quarto. – responde Dora quase rindo com a cara de pavor que ele fez medindo a distância.

Porém, o rapaz não se deixou abater e começou a arrastá-la. Nesse momento surgiu um estalo na mente dela.

– Claro! Ele é o garoto da aula de história, o que tirou a minha nota! Que cara sujo… Ainda por cima veio aqui pra me espionar, desgraçado!

Dora irada começou a lhe dar murros e o moço sem entender, apenas foi rápido em segurar suas mãos.

– O quê você tá fazendo? Além de aproveitadora, você é louca, é?

– Você é um espião pra eles, não é? Bem que eu desconfiei… Bonzinho demais pra ser verdade! – grita.

– Eu não sei do que você tá falando! – grita também.

– Da aula de história da arte, da nota e sua falta de educação exibicionista. Foi tudo ideia dela não foi? – pergunta eufórica.

– Ah! Você lembrou! Mas foi tudo uma grande coincidência infeliz! Quando vi, já tava respondendo! E quanto ao bairro, eu moro aqui… É que tenho uma bolsa lá naquela escola metida e preciso mostrar que mereci! Agora tava passando na rua, vi alguém precisando de ajuda e resolvi ajudar, eu te reconheci a pouco também. Não tem nada a ver com perseguição, acredita em mim e se desarma só um minuto! – explica.

Dora se acalmou em parte. O suficiente para perguntar.

– Então, qual o seu nome?

– Alonso Aloha. Como você já percebeu, ao seu dispor. – responde ironizando uma reverência. – E o seu, irritadinha? – continua.

 

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Nome: Alonso Aloha

Status: Cara Legal

Idade: 22 anos.

Hobby: Inovar, improvisar.

Livro de Cabeceira: O Retrato de Dorian Gray.

Frase: “Quem pensa segundo a opinião dos outros, está muito longe de ser um homem livre.”

 

__________________________________________________________

 

 

– Isadora Réquiem, mas todos me chamam de Dora. Aloha é, igual a saudação havaiana? – debocha.

– Isso mesmo! Mas tá debochando do quê, com um sobrenome desses. Réquiem, como a marcha fúnebre? – devolve.

– É, e não tem me dado sorte! – termina a menina.

– Mas mudando de assunto… Tem algum lugar pra eu me lavar antes de ir? – pergunta Alonso tirando a camisa e mostrando seu abdômen moreno de tanquinho.

Dora não pôde ignorar aquilo, porém se sentiu meio estranha por não tê-lo ignorado, disfarçando.

– Ah! Claro, tem uma pia no banheiro. Eu não testei, mas acho que tá funcionando.

Alonso foi para lá a fim de se refrescar, enquanto Dora ouvia batidas na porta da frente. Correu para abri-la, estranhando quem poderia ser. Porém o mistério não durou muito.

– Minha, filha! Você está bem, não fizeram nada com você? Quando li o seu bilhete quase tive uma síncope. – despeja a mãe afoita.

– Não mãe, eu estou bem! – responde desvencilhando-se da agarração.

– Pegue suas coisas, vamos embora já! – ordena a mulher. – Você está maluca, o que deu na sua cabeça pra vir pra um bairro cheio de mortos de fome como esse?

– Eu vou ficar! Você não me entende, mãe! – Dora esbraveja.

Nesse momento, Alonso saiu do banheiro rumo à saída e assustou Lara.

– Quem é esse daí?

– Pode deixar… Sou Alonso, um morto de fome local, mas não se preocupe, já tô indo embora. – diz recolocando a camisa. – Ah! Dora, agora já sei por que você é tão educada. – termina saindo.

Lara ainda estava de boca aberta quando Dora reiniciou a discussão.

– Eu vou ficar ao menos um tempo! Esse será meu ateliê e não minha casa, eu volto pra lá. É que preciso de um lugar… Preciso ficar longe pra juntar as peças e descobrir a verdade ao mesmo tempo que preciso ficar perto pra perceber os detalhes que ainda não vi. Ninguém finge pra sempre e um dia eles vão cair! – termina astuciosa.

– Minha filha, você continua com isso! Pelo menos me prometa que fará uma refeição por dia em casa.

– Eu prometo! Palavra de escoteiro. – diz cruzando os dedos atrás de si.

A mãe despediu-se e foi embora no mesmo táxi que veio e pediu que a esperasse. Dora continuou com sua arrumação até que um tempo depois ela notou um cartão vermelho debaixo da porta dizendo:

BEM VINDA AO LAR!

ASS: R

 

Novamente não havia nem sinal de quem o tivesse deixado.

Camila Oliveira Santos

Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

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Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

2 comentários sobre “Capítulo 9 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

  • Nossa, gostei da maturidade da Dora. Finalmente acordou para a vida e agora parece que está decidida!!!
    Morar sozinha não é tarefa fácil, se eu fosse você ficava esperta garota hehe! Afonso Aloha, então é este o rapazinho que está mexendo com a nossa mocinha. Até que eu gostei dele: muito simpático e prestativo 😉
    Por outro lado, a mãe de Dora, a Lara é uma mão na roda!! Que mulher mais… chata. Não quero que a Dora dê ouvidos para ela!!
    Agora, a pergunta que não quer calar: quem enviou a carta? Esse R está fazendo história, e me deixando muito curioso 😯

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