Ser Humano- Capítulo 08.

Ser Humano.

Capítulo 08.

Cena 01- Clube O Bicho&Eu/ Dia.

Continuação imediata da cena anterior. Fausto se levanta e revida o soco, mas Onofre perde a paciência e lhe dá outro. Os dois caem no chão, agarrados. Vasco chega, correndo e separa ambos.

Vasco, nervoso: VOCÊS ESTÃO LOUCOS? PARECEM DUAS CRIANÇAS BRIGANDO POR CONTA DE UM DOCE.- Ele agarra Onofre.

Onofre, tentando sair dos braços do amigo: E NO CASO O DOCE É A NATÁLIA! EU QUERO VOCÊ LONGE DELA, ENTENDEU? LONGE DELA, SEU ESPERTINHO, LONGE DELA. OU EU COMETO UMA LOUCURA.

Fausto, limpando o sangue da boca: Foi esse louco que começou, insiste em dizer da minha aproximação com Natália mas sabe que somos apenas colegas e bons amigos, isso é ciúme descabido! E que eu saiba, Onofre, você não é namorado dela nem nada… Cuidado, ciúme desse jeito vira doença. Doença!

Onofre começa a chorar e sai correndo.

Vasco, com pena: Você não devia ter usado essa palavra…- E vai atrás dele.

Fausto sai andando e volta as tarefas: Louco…

Cena 02- Mansão de Úrsula/ Dia.

Bernardo chega com as passagens: Só espero que minha mãe e Paula não tenham engolido a Maísa- Ele percebe a sala vazia.

De repente Úrsula surge por trás: Comprou o bilhete rumo ao inferno tropical?

Bernardo a fita: Consegui pra hoje mesmo- Diz, sorrindo- Vou arrumar minhas malas.

Úrsula, chocada: H…Hoje? Wait Wait Wait, filho, como assim? Vocês tão fugindo da polícia é isso? Tá parecendo, pela pressa!

Bernardo ignora: Não…Estou satisfazendo um desejo da Maísa. Ela quer sair daqui, alguma coisa aconteceu, mas ela não me contou ainda. Enfim…

Úrsula ri: Eu sei o que foi…- E se lembra do tapa que a garota deu em Lilian- Essa Maísa não é boa pessoa, a Paula é.

Bernardo revira os olhos: De novo esse assunto? Não vou mais comentar, só subir e fazer minhas malas- Ele lhe dá um beijo na bochecha e sobe correndo- A Maísa tá aonde?

Úrsula indica: No seu quarto…BERNARDO!- O chama, fazendo ele parar no topo da escada- Você tá escolhendo o caminho errado, filho, ainda dá tempo de consertar o erro. “ Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros”, conhece essa frase?

Bernardo sorri: “ O erro que cometemos é quando procuramos ser amados, em vez de amar”- Ele pisca pra mãe- Lembra dessa? Você mesma me ensinou- Ele sobe mais um degrau e sai.

Úrsula cruza os braços, brava: É…As vezes eu ensino coisa demais.

Cena 03- Hotel onde Elisafran e Meddeiro estão hospedados/ Dia.

Meddeiro está sentado no sofá. A mulher, que finge a todos ser sua irmã como parte de um plano, aparece.

Meddeiro, se levantando: Finalmente!

Elisafran, séria: Não começa, tudo bem? Fiz um bate-volta rapidinho, fui tomar café da manhã com Sid na casa da Úrsula e…Nem te conto o que aconteceu. Amo a vida dos ricos- Ironiza.

Meddeiro, enciumado: Eu não estou gostando nadinha da ideia de você ficar desfrutando da riqueza do Sid – Pronuncia o nome com nojo. – Enquanto eu fico aqui, abandonado.

Elisafran, sorrindo: Ciúmes agora? Mas fica tranquilo que eu não vou meter em treta alguma. Pelo contrário, você vai ter que cultivar paciência. Em breve eu me aproximo mais da Úrsula e tomo dela o dinheiro que me pertence. O dinheiro que é meu!- Ela fala, soturnamente- Você sabe bem o porque…Enquanto eu não me vingar, não terei sossego, foi pra isso que nos aproximamos dessas pessoas- E se deita na cama do quarto- Em breve, a justiça será feita!

Meddeiro a encara: Você me assusta quando fala desse plano, ainda não sei porque não desistiu dele…A essa altura da sua vida, Fran, 70 anos e querendo vingança?

Elisafran ri: Vingança não tem idade, só vou desistir de acabar com a raça daquela Úrsula quando eu morrer. Mas tenho certeza que eu não serei a primeira a bater as botas…- Ela ri maldosamente, Meddeiro se assusta.

Cena 04- Mansão de Acácia/ Dia.

Acácia chega ainda segurando Lilian, Raquel vai atrás, olhando pra baixo.

Téo se levanta ao vê-las: Lilian…

Lilian paralisa ao vê-lo: Você…- Ela se desenrola do cachecol que lhe protegia e avança em sua direção- VOCÊ FOI O RESPONSÁVEL POR TUDO- Ela o pega pelo colarinho- COMO FOI CAPAZ DE GRAVAR NOSSA CONVERSA?

Acácia faz sinal pra que Pascoal e Raquel saiam. Lilian fica só com Téo. Mesmo assim, Raquel fica atrás de uma parede, ouvindo tudo.

Téo afirma: Não sei do que você tá falando!

Lilian, furiosa e frágil ao mesmo tempo: Canalha, mentiroso…Gravou nossa conversa e mandou entregarem pra Maísa, agora ela descobriu tudo, ligou os fatos, percebeu que não é filha do Fausto, desistiu de desfilar e ainda foi atropelada…Viu a tragédia que provocou? Não podia pelo menos ter esperado o desfile? Você foi sujo ao extremo, ainda bem que me afastei!- Ela chora- Agora, a minha filha tá com raiva de mim, eu não a culpo, mas isso não podia ter acontecido dessa forma! FOI CRUEL DEMAIS!

Téo a domina: Eu não fiz nada disso…Não sabia dessa gravação até agora! Acha mesmo que ia armar um plano desse por pura diversão? Eu mudei, Lilian…Se fosse pra contar tudo a Maísa, eu conversaria com ela. Sou integro, honesto, e não sujo a esse ponto.

Lilian se afasta: Mas então…QUEM? QUEM FEZ ISSO?

Raquel olha pro gravador em sua bolsa entreaberta: Meu Deus…O que eu fiz?- Ela leva as mãos até a cabeça- O que eu fiz? Como eu pude?- E sai correndo.

Téo dá de ombros: Não sei…Eu vim aqui pra saber como ela estava com esse atropelamento.

Lilian, frustrada: Ela tá me rejeitando, foi pra casa de um namorado…Ela me culpou por tudo isso, e…Me bateu, sei que foi por impulso mas…Dói até agora, na minha alma- Ela sorri nervosa, querendo chorar na verdade- Sabia que nossa história só ia trazer mágoa pra todo mundo, e ainda tem meu marido Fausto que não sabe disso, eu me envolvi com ele pouco depois que você fugiu, e a Maísa nasceu de sete meses, mas todos acham que foi de nove- Conta- Ai…Eu me preparei tanto pra esse dia, mas agora tudo desmoronou e…Não sei o que fazer.

Téo a abraça: Por favor, Lilian, me perdoa, me perdoa- Implora- Com toda a veracidade possível, diz que me perdoa.

A porta é escancarada. Yara observa os dois abraçados, furiosa: O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?

Lilian se assusta. Téo fica surpreso. Yara respira ofegantemente, com um olhar um tanto quanto…Diabólico.

Cena 05- Laranjeiras/ Casa de Flávia/ Dia.

A campainha toca, ela atende: É Leblônio. Seu amigo, sobrinho de Fausto, como se fosse da família. A mulher fica com vergonha por conta da situação financeira mas o convida para entrar.

Leblônio se senta no sofá: Vim trazer um capacete que você me emprestou faz tempo, Flavinha! Soube do acidente, e acho que a falta de convivência comigo fez você cair daquela moto e bater no carro, então vim te visitar!

Flávia ri: Não foi nada demais…Mas gentileza da sua parte vir aqui.

Leblônio observa a sala: Tá tudo escuro aqui, e com esse calor o ventilador desligado?- Ele tenta ligar, mas não consegue- Qual o problema? Porque a casa tá escura?

Flávia tenta disfarçar: Apagão! Aqui em Laranjeiras tá tendo muito apagão, é isso- Ela cora.

Leblônio se levanta: Entendo, bem, eu vou voltar pro lava-rápido ou o patrão me demite, e você sabe que tô há três dias nesse emprego…É o máximo que já consegui na minha vida.

Flávia ri: Mas você não tava na barraca do pastel na feira?

Leblônio explica: Eu fui demitido porque o chefe falou que não pode provar os sabores novos de pastéis. Depois fui pra lojinha de estátuas, trabalhei de segurança por dois dias mas parece que cochilar não é permitido… Trabalhei de tudo o que pode imaginar nesse meio-tempo, e olha que foram só duas semanas…Mas agora estou me estabilizando no lava-rápido, até agora só molhei três pessoas por engano.

Flávia pega em seu ombro: E quantos carros já lavou?

Leblônio: Três.

Flávia abre a porta no momento exato que um sujeito trajado como empresário iria bater, está de carranca: Finalmente lhe achei em casa. Precisamos falar sobre o aluguel atrasado.

Leblônio ri na cara dele: O senhor é um palhaço? Flávia não atrasa nada, imagina aluguel.

O homem não ri: Pois ela já me deve três meses de aluguel, e assim não poderei mantê-la aqui!- Ele encara a inquilina- E então? Tem o dinheiro?

Flávia olha apreensiva pra Leblônio e faz sinal pra que o dono da casa entre: Até outro dia- E fecha a porta, deixando o rapaz curioso.

Leblônio olha pra casa vizinha e percebe uma senhora assistindo a televisão: Ué, mas e o apagão?- Ele coça a cabeça.

Cena 06- Milão/ Mansão de Acácia/ Dia.

Yara vai correndo até Téo, furiosa: Você pode me explicar o que tá acontecendo aqui? E quem é essa mulher? Aliás, quem é essa mulher na sua vida? Estamos juntos há anos e nem ao menos ouvi falar da tal…Lilian, né? Pois bem, exijo explicações, ou tomarei medidas drásticas.

Téo, irritado: Você não tinha o direito de me seguir e ainda querer se intrometer em uma parte da minha vida que não lhe pertence, Yara, vá pra casa, o assunto aqui é sério, mas você não precisa saber.

Yara lhe dá um tapa na cara: Casal, somos um casal. Você não pode me esconder nada, assim como eu, que sempre fui integra e límpida na nossa relação- Ela se senta- Vamos, explique-se, conte a história que envolve vocês dois, deve ser algo muito forte…

Téo respira fundo: Lilian, depois continuamos com nossa conversa. Eu volto- Ele sai em direção a porta.

Yara se levanta: Espere aí, Téo! Você não ouviu? Eu mandei você contar a história que envolve vocês de uma vez por todas- Mas Téo se dirige ao carro- TÉO! TÉO!- Ela avalia Lilian de cima a baixo, e sai correndo- TÉO, NÃO VÁ SEM MIM!

Lilian se senta no sofá, cabisbaixa: Porque? Porque isso tinha que voltar justo agora? Só pode ser um castigo…Mas eu não mereço esse castigo, e sim outra pessoa- Ela escorre as lágrimas de raiva.

Cena 07- Rio de Janeiro/ Clube O Bicho&Eu/ Tarde.

Natália cuida do gato, em seguida Fausto chega.

Fausto, sorrindo: Será que eu poderia ajudar seu amigo de espécie?

Natália escova os pelos do bichano: Não perde o senso de humor.

Fausto ri: Nem a beleza! Pode falar, não precisa ficar com vergonha. – Ele se senta ao seu lado. – Mas agora é sério, posso te ajudar a cuidar do gatinho?

Natália, com vergonha: Claro que pode. Vem…Me ajuda aqui. Ele precisa comer e também…- Ela o encara e fica sem palavras.

Fausto: O que foi? O GATO COMEU SUA LÍNGUA?- Ele acaricia seu cabelo.

Natália morde o lábio: Não, seu bobo…Como eu ia dizendo…

Eles continuam rindo, conversando e cuidando do animal. De longe, Onofre observa tudo, furioso.

Onofre, se agarrando a parede: Infeliz…Parece que ameaça-lo não deu certo, terei de fazer coisas piores. Mas a Natália tem que ser minha, eu não quero morrer sem tê-la nos meus braços, e não vou.– Diz, determinado.

Cena 08- Mansão de Úrsula/ Noite.

Bernardo fala ao taxista que quer ir pra o aeroporto, Maísa adentra no veículo. Úrsula observa tudo do jardim, e se levanta quando Bernardo se aproxima.

Bernardo, com mochila nas costas: Tchau, mãe. Te encontro no Rio.

Úrsula, séria: Você não tinha porque fazer isso…Me abandonar aqui em Milão pra ir pro Rio de Inferno, sabendo que vou me preocupar e logo logo terei de embarcar pra lá, atrás de você.

Bernardo ri: Não precisa, eu vou ficar bem, agora que me especializei em fotografia, vou procurar um emprego e…Seguir com o meu namoro.

Úrsula acaricia seu rosto: Meu filho, não destrua sua vida ao lado dessa mulher. Ainda não entendi esse romance repentino, sendo que se conheceram um dia desses…E a Paul…

Bernardo cala sua boca: Não mencione esse nome, mãe.- Ele dá um beijo em sua testa e sai pro taxi- Tchau! Arrivederci!- E entra.

Úrsula o observa partir, furiosa: Esse romance relâmpago não pode durar muito, e nem vai durar, eu farei o possível e impossível pra impedir aquela espancadora de mães hippies médicas de se aproximar mais do meu filho! E tenho que reuni-lo com a Paula novamente, ou meu plano de golpe contra o velho Sid não irá pra frente…O namoro dos dois é o único elo que me liga ao idoso afortunado…- Ela entra na mansão e vai até o telefone, discando alguns números.

Olive se aproxima com um drink: Ligando pra quem, madame?

Úrsula a encara: Pra sua mãe- Alguém responde do outro lado- Alô? Oi, sou eu mesma…O Bernardo tá chegando aí com a intrusa espancadora de mães… É, aquela que tem nome de cantora falecida. Impeça a entrada deles aí. Impeça- Diz, em tom furioso- Impeça.

Olive se assusta.

Úrsula desliga o telefone: Se depender de mim, esse casal vai se desfazer mais rápido do que eu pronunciando meu nome- Ela começa a rir maleficamente- Prepare-se, Maísa. Você tem uma forte oponente.

TERMINA O CAPÍTULO 08.