Capítulo 17 – Cantiga de Amor
Cena 01: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella. Final da tarde.
Agnella – Eu não queria contar isso para ninguém, mas não há saída. Mãe, eu… Eu e Gustavo nos… Nos amamos… Nós… Nós nos deitamos, ficamos juntos… Aconteceu, foi… Inevitável. E por isso, mãe, nenhum homem, a não ser ele, poderá se casar comigo. Só ele! Só…
Agnella vira o rosto, envergonhada. Prudência, atônita, tenta se levantar, mas sente uma tontura e cai no chão, desacordada. Vendo isso, Agnella se ajoelha ao lado dela.
Agnella – (Desesperada) Mãe! Acorda, mãe! Perdoa-me! Me perdoa…
E, olhando para o teto, começa a chorar. Como a mãe não responde, Agnella pega o copo de água, e joga no seu rosto. Depois de alguns minutos, Prudência abre o olho.
Agnella – (Aliviada) Graças a Deus a senhora acordou! Eu já estava pensando tanta coisa, mãe…
Prudência – Ai, minha cabeça. Filha, me ajuda a levantar, por favor. (Ela se levanta com a ajuda da filha).
Agnella – A senhora está bem? O que houve?
Prudência – Me senti tonta, minha visão começou a embaçar… (Fica séria) Filha, por Deus, diga que tu mentiste pra mim. Que o que tu falaste não é verdade…
Agnella – (Olha para baixo, envergonhada) Mas é verdade sim… Mãe, por favor, me perdoa!
Prudência – Eu não sei, Agnella. Preciso pensar bastante a respeito.
Ela se dirige à porta do quarto.
Agnella – Por favor, mãe, promete para mim que meu pai não ficará sabendo disso! E… Que eu me casarei com Gustavo! Não me negue isso, mãe! Eu… Preciso!
Prudência – Já falei, minha filha, que eu irei pensar. Eu estou muito abalada com o que acabei de ouvir.
Prudência sai.
Agnella – Irás desculpar-me, meu amor, mas esse é o único jeito de ficarmos juntos!
Cena 02: Entrada do Povoado das Hortaliças.
Assim que Brás caiu,devidoà pedra arremessada por Pero, Inês conseguiu, se arrastando, sair debaixo dele. Ao lado dos dois, estava Pero.
Inês – Ai, Pero, eu nem sei como te agradecer por isso…
Pero – Depois, minha flor do campo. Agora temos que levar esse fugitivo para a igreja, que é onde ele já devia estar.
Pero dá um chute em Brás, que sente a dor e começa a se levantar.
Pero – Muito bem, Brás, agora tu não tens mais como fugir.
Pero amarra os braços, as pernas e a boca de Brás fortemente e o coloca em cima do cavalo em que ele tentou fugir, e que agora é montado e guiado por Inês. Pero monta em seu cavalo e eles seguem para a igreja.
Cena 03: Igreja del Fiume. Quarto em que Gustavo está trancado.
Gustavo estava impaciente.
Gustavo – Já era hora de terem aberto essa porta…
A porta é aberta pelo padre, que “joga” Brás dentro do quarto. Junto com Santorini, estavam Pero e Inês.
Santorini – Venha, Gustavo. É hora de outro rebelde parar para pensar em suas atitudes.
Gustavo sorri e sai. Inês tenta entrar, mas é impedida pelo padre.
Inês – (Irônica) Boa sorte, meu amorzinho… Tenha bons sonhos…
Eles saem e fecham a porta.
Brás – Que raiva! Inês maldita, Pero desgraçado, podem esperar, porque eu ainda volto. Eu volto!
Cena 04: Nave da Igreja del Fiume.
Gustavo encontra seus pais, e os abraça.
Izabella – Por que fizeste isso, meu filho? Tu sabes que é pecado desobedecer, ainda mais a um padre!
Edetto –E mesmo que não tivesse sido a irmã Francisca a tomar atitude, eu te colocaria de castigo!
Gustavo – Não exagere, meu pai. Não há motivo para tanto.
Izabella – Há, sim, meu filho. Mas eu acho que o padre está te chamando.
Gustavo – Ah, sim. Com licença.
Gustavo vai até o padre.
Gustavo – O que o senhor quer dessa vez?
Santorini – Decidi abrir uma brecha. Tu podes ir ao rio. (Gustavo começa a se animar) Porém será no trecho que passa aqui atrás, nada de se dirigir ao povoado. E eu irei contigo.
Gustavo – Bem, se esse é o único jeito, não é? Pelo menos eu me despeço da paisagem daqui.
Eles saem e vão até a margem do Rio dos Campos. Gustavo senta embaixo de uma árvore, deita, cheira sua flor. Pensa em Agnella, e no primeiro beijo dos dois. Pega um pouco da água do rio com as mãos, e se lembra do balde de água que fez tudo começar. Pensa em chorar, mas resiste.
Gustavo – (Falando baixo) Seja forte, Gustavo. Você vai superar tudo isso.
Santorini – Vamos voltar, rapaz! Já está escurecendo, e pode ficar perigoso.
Gustavo – Vamos, padre.
Gustavo olha o rio pela última vez. Lembrou de Heráclito de Éfeso, um filósofo grego.
Gustavo – “É impossível entrar no mesmo rio duas vezes…” É, ele estava certo. Tudo muda… Sejam as águas do rio, sejam as nossas vidas. Tudo muda.
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Final da tarde.
Pero e Inês estão na sala.
Inês – Então quer dizer que foi tua a ideia de fazer Brás sumir da minha vida?
Pero – Perfeitamente. Tu sabes que eu só quero o melhor para ti, e pensei nisso assim que ouvi o padre falar da Guerra Santa. Não fui genial?
Inês – (Relativamente sedutora) Com certeza, camponês. E eu te serei eternamente grata. Aliás, não só pela ideia. Pelo salvamento também. Como tu soubeste que Brás estava fugindo?
Pero – O padre me falou que o mandaria ir ao final da tarde. Saí mais cedo das terras e fiquei esperando para ver o que aconteceria.
Inês – E como um herói tu me tiraste dos braços daquele crápula e me trouxeste até aqui. Não sei nem como te agradecer…
Pero – Não fales nada, Inês. Eu sei.
Pero se aproxima para beijá-la. Ela desvia.
Inês – Não, Pero. Pelo menos não agora.
Pero – Vamos, Inês! Ninguém precisa saber!
Inês – (Ela se aproxima o rosto dele) Bem, nesse caso… (Vira bruscamente) Deus. Deus está vendo. (Abre a porta da casa) Agora, saia.
Pero – Bem, se você acha melhor, meu amorzinho, eu espero. O quanto quiseres. Mas não tanto, é claro.
Pero sai soltando beijos.
Inês – Quem diria, hein, que esse inútil serviria para alguma coisa?
Cena 06: Igreja del Fiume. Quarto de Gregório. Noite.
Gregório está dormindo. Começa a sonhar. No sonho, ele está sentado, agachado, com a cabeça entre as pernas, e encostado em alguma coisa. Está chorando. Até que sente alguém chegando, e levantando sua cabeça. É Valentina. Ele segura na mão dela, e percebe que estão em uma floresta. Então, eles veem a sombra de um rosto e de uma mão. Os dois correm, mas a sombra corre atrás deles. Depois de um bom tempo sendo perseguidos por ela, eles chegam ao final do caminho, que dá na igreja. Quando dão mais um passo, com a sombra ainda atrás, o que era chão vira precipício, e caem no abismo. Ao chegar ao chão, Gregório acorda. Suspira aliviado ao ver que está na cama, deitado, e não caído.
Cena 07: Igreja del Fiume. Quarto em que Brás está preso. Dia seguinte. Manhã, bem cedo.
Brás dormiu muito pouco. Quando os primeiros raios de sol surgiram do lado de fora, a porta foi aberta.
Santorini – Levante-se, Brás. È hora de comermos, porque, em pouquíssimo tempo, viajaremos.
Brás se levanta, bufando.
Brás – Maldito dia em que esse camponês nasceu! Maldito seja esse dia!
Santorini – Nada de xingamentos dentro da igreja. Venha comigo.
Cena 08: Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo.
Gustavo está ao lado de Edetto e Izabella.
Gustavo – E pensar que eu vim a essa igreja apenas para passar uma noite. Acabei ficando um mês. E agora vou para, só talvez, voltar…
Izabella – Não fales isso, meu filho. Tu voltarás sim, voltarás para nós.
Edetto – Tu és um homem forte, meu filho. Vais passar por isso, lutar com garra, e sobreviver.
Gustavo – E, ainda assim, eu não posso perder Agnella…
Edetto – A história já é outra, Gustavo. Aliás, essa história nunca deveria ter começado. Esqueça essa menina. É hora de levantar a cabeça e encarar essa situação. E pra começar, precisamos comer, é claro. Vamos lá. Todos nos esperam.
Cena 09: Igreja del Fiume. “Sala de jantar”.
Santorini, Gustavo, Gregório, Edetto, Izabella e Brás terminaram de comer.
Santorini – Bem, meus caros, partiremos na próxima batida do sino, ou seja, em uma hora. Estejam prontos até lá. E você, Gregório, já sabe: ficará responsável por cuidar da igreja, e me substituir enquanto eu estiver fora. A nossa viagem durará, no máximo, três semanas. Vamos a cavalo, ou em carroças mesmo. O litoral não está tão longe.
Gregório – Certo, padre. Cuidarei bem de tudo.
Santorini – (Se aproxima de Gregório) Confio em você. A irmã Francisca estará observando seu trabalho, e me dirá como você se comportou. E, quando eu chegar, tu já sabes, não é? Faltarão apenas dez dias para a tua ordenação!
Gregório – (Com um sorriso amarelo) Isso mesmo… Dez. Dias. Para a minha ordenação.
Olhando-o de esguelha, o padre sai. Gregório sai da “sala de jantar”, passa pela nave da igreja, e chega ao lado de fora. Senta no chão e começa a olhar a floresta.
Gregório – Meu Deus… Eu não posso te decepcionar. Não posso!
Cena 10: Igreja del Fiume. Uma hora depois.
O padre está reunido na porta da igreja, junto com uma grande comitiva de homens vindos dos vários povoados da região, e com suas famílias, sendo que muitas delas se despedem, enquanto outras irão com eles até o momento da partida. Brás e Gustavo também estão lá.
Santorini – Bem, é hora de irmos. Até logo, irmã Francisca. Até logo, Gregório. Que Deus esteja com vocês e os guie enquanto eu não estiver aqui.
Francisca – Até logo, padre. (Irônica e sugestiva) Cuidado com todo esse povo.
Santorini – Sei muito bem do que a senhora fala, irmã Francisca. Mas não se preocupe: ninguém me dará trabalho. Ninguém. Vamos, pessoal! Temos que partir!
Eles começam a andar, seguindo o padre. Gustavo fica parado, atrás.
Edetto – Vamos, filho! Não faças besteira agora.
Gustavo – Pode deixar, pai. Eu vou. Deixe-me apenas me despedir de meu novo amigo.
Gustavo se aproxima de Gregório, desce do cavalo e o abraça. A comitiva para.
Gustavo – (Falando baixo) Obrigado por ontem. Espero que não haja nada contigo. E lembra-te de seguir o teu coração. Deu errado comigo, mas pode não dar contigo.
Gregório – Boa viagem, meu amigo. Espero poder vê-lo novamente.
Gustavo sobe no cavalo, anda um pouco, mas para novamente e se vira, olhando em direção ao povoado. Fala consigo mesmo.
Gustavo – Até mais, Agnella. Podes ter certeza de que ainda voltarei para ficarmos juntos. E, dessa vez, será para sempre.
Uou, que bom poder voltar a acompanhar a web. Aos poucos vou me atualizando, ansioso. Abraço.
Que bom que você está de volta!! A web já está quase no fim, mas não importa o momento, o que importa é saber que ela está sendo acompanhada! Muito obrigado, e comente sempre! 😀
Agora vai começar a fase da guerra, o que virá por aí?? Acho que muitas surpresas!
Me surpreendi com a Inês desprezando Pero depois de tudo, ele merecia ao menos um beijo no rosto haha. Gustavo se despedindo, bela cena! Nossa eu também achei que Prudência tinha passado dessa pra melhor! Ainda bem que não!
Ótimo capítulo, João 😀
Sim, surpresas virão! Surpresas difíceis, inclusive, mas surpresas.
Inês ainda vai repensar suas atitudes perante Pero. O problema é que ela não tem muita “margem” nessa sociedade…
Fico muito satisfeito por ver que a cena da despedida de Gustavo tem agradado.
E Prudência não poderia morrer. Ela é uma personagem importante, principalmente enquanto ainda for responsável pelo destino de Agnella.
Obrigado por comentar! E continue acompanhando! 😀
Ótimo capítulo, com certeza agora a coisa começa a andar mais depressa hehe.
Eu me encanto pela sua escrita, amei a cena do Gustavo no Rio… foi sensacional 😉
A web em si está perfeita.
Acho que está guerra ainda vai influenciar e muito na vida de todos, principalmente de Gustavo e Agnella que foram separados por ela.
Essa Inês me pareceu um pouco esnobe quanto ao Pero, depois do que for fez por ela, sei não….
Aguardando os próximos capítulos que será ótimos!!!!! 😀
Realmente, agora a novela engata 😉
Eu repito agora o que disse ali embaixo: eu nem pensava em fazer uma cena sensacional. Apenas uma cena simples, uma cena de despedida. Mas que teve detalhes que fizeram a diferença. E eu fico feliz por isso.
A viagem, a separação, e tudo o mais, vão mesmo influenciar a vida das pessoas. Resta acompanhar para entender como.
E Inês… Ela vai repensar mais sua relação com Pero.
Obrigado por comentar, por gostar, por contribuir com a novela! E eu lhe espero nas próximas emoções de Cantiga de Amor! 😀
Acredito que esta viagem promete mesmo… Só falta o Brás se soltar enganando alguém inocentemente, ai o pampeiro ta feito… Achei lindo a cena do Gustavo sobre os vales de “Rios dos Campos”, pensando nos momentos de amor com Agnella sobre o rio e no seu silêncio mais profano um arauto a um grande Filósofo,”Heráclito de Éfeso”, cena marcante João não tenha dúvidas… Abraços
Obrigado!! A viagem, como eu disse ali embaixo, guarda surpresas para os personagens dela. Tanto Brás, como Gustavo, como outras pessoas envolvidas com eles, serão alcançadas pelo que acontecerá. Quanto à cena, eu confesso que nem pensei em fazer dela uma cena marcante. Mas o bom é quando um pequeno detalhe que a gente coloca faz a diferença pra quem lê. 🙂
Obrigado por comentar, e abraços pra vc também!
Nossa fiquei impressionado com a Inês quanta frieza desprezando o amor de Pero, Gregório pensando preocupado em desapontar o Padre, a amizade de Gustavo e Gregório me deixou impressionado também em fim também estou “Mega”, ancioso para o capítulo de Segunda João como sempre é impossível postar minha trama Salamandra e não ler a sua eu amo a sua novela… Eu pra relaxar depois de escrever Salamandra eu leio sempre sua história é tão verdadeira que eu me sinto nela sabe? Parece até que estou vendo as cenas diante de meus olhos a sua novela ganhou um fã incondicional… ❤
Inês ainda vai ter tempo pra pensar no que Pero fez por ela. Ela vai ter tempo pra mudar de ideia sobre ele. Esse “dilema” de Gregório ainda vai durar mais um pouquinho, mas acho que já dá pra entender seus pensamentos. Gregório e Gustavo se tornaram amigos e ainda serão muito importantes um para o outro.
Eu fico muito feliz por você estar gostando de Cantiga de Amor. Saber que o que eu escrevo conquistou, de verdade, alguém, me dá uma sensação de alegria, e de dever cumprido. Obrigado, mesmo, por sua presença nos capítulos de minha novela.
Ah, o próximo capítulo vai ser agora, no sábado. Mas você acompanhando e comentando é o importante, sem precisar ser no mesmo dia da exibição. Conto com você! 😀
Aposto que essa viagem ainda vai dar o q falar na história. Esperando o próximo capítulo. 🙂
Ih… Isso com certeza. Essa viagem guarda surpresas pros personagens envolvidos nela. O próximo capítulo apresentará mais uma mudança de rota no destino de um personagem…
Conto com você! Obrigado por comentar! 😉