Capítulo 13 – Cantiga de Amor (Haverá Noivado?)
Cena 01: Nave da Igreja del Fiume. Tarde.
Francisca falava de Agnella.
Francisca – Ela é filha de camponeses.
Edetto – Isso… É verdade, padre? Nós estamos noivando nosso filho com uma camponesa?
Izabella – E o senhor sabia disso o tempo todo?
O padre abaixou a cabeça, e a ergueu novamente.
Santorini – Sim, meus filhos, isso é verdade.
Edetto – Como o senhor teve coragem de mentir para nós durante esse tempo todo?
Santorini – Eu… Eu não menti… Eu falei a verdade quando disse que eles tinham boas condições!
Izabella – Mas omitiu muito de nós! Omitiu o mais importante! A posição social a que essa família pertencia!
Edetto – Eu estou decepcionado com o senhor, padre! E não haverá mais casamento!
Gustavo – Pai, não! O senhor não pode… O senhor já deu sua palavra!
Santorini – Meus filhos, eu peço que me perdoem. Mas eu garanto que vocês não se arrependerão de investir nessa união!
Edetto – Eu não irei concordar com uma mentira dessas.
Francisca – Ele tem toda a razão, padre. Ele é um senhor feudal, e não pode casar seu filho com uma camponesa. Deve arranjar um casamento melhor para seu filho.
Santorini – Irmã Francisca, a senhora precisa parar de se meter em assuntos que não lhe dizem respeito!
Francisca – Diz respeito, sim! Eu estou vendo uma coisa errada ser cometida, e não posso me calar! Eu estou fazendo o que o senhor deveria ter feito, padre. Enquanto uma integrante da igreja, eu estou trabalhando para manter a ordem do nosso mundo!
Edetto – E a irmã está mais do que certa! Chega de noivado, chega de casamento! Nós voltaremos para casa amanhã mesmo, entendeste, Gustavo?
Gustavo – Eu me recuso a voltar para casa.
Sem que os outros esperassem, Gustavo sai da igreja, monta no seu cavalo e parte em direção ao povoado. Edetto, Izabella e Santorini montam em seus cavalos, e o seguem.
Edetto – Filho! Volta já!
Santorini – Ele está apenas guiando-nos para o caminho correto.
Izabella – Meu senhor, o padre está certo. Não há mais o que fazer. Demos a nossa palavra de que esse casamento iria acontecer.
Edetto – Nós iremos até lá, buscaremos Gustavo e retornaremos para a igreja. Eu não voltarei mais atrás.
Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Exterior.
Gustavo chegou à casa de Agnella. Ele desceu do cavalo, mas permaneceu parado, como se tomasse coragem. Nesse momento, o padre chegou com os pais dele.
Gustavo – Pai, vai embora.
Edetto – Tu não tens direito de me ordenar nada!
Santorini – O seu filho está certo, Edetto. Contenha seus ânimos. Por favor, Izabella, ajude seu marido a se conter. Uma palavra foi dada, um acordo foi firmado, e não se pode voltar atrás.
O padre bateu na porta. Ela foi aberta por Enzo, e Santorini e Gustavo entraram. Seus pais ficaram parados.
Santorini – (Falando de lado para os outros não ouvirem) Vamos, meus filhos, entrem. Não nos façam desfeita.
Edetto e Izabella entram e vão a um canto da sala.
Edetto – Isso não irá ficar assim. Eu tenho certeza de que encontrarei um jeito de acabar com essa comédia.
Izabella – Calma. Tem paciência, meu senhor. Tudo irá se arranjar.
Enzo se aproximou.
Enzo – Tomem assento, por favor.
Santorini – Graças a Deus, chegou um dos momentos mais importantes da vida de dois jovens. (Edetto sentou-se ao olhar seu lado. Ao ver a expressão furiosa de Edetto, o padre dirigiu-se a ele em voz baixa) Contenha-se, meu bom homem.
Edetto – Mas…
Santorini – Shh!! Quieto! Ah, continuando, de onde parei. Onde está a noiva?
Enzo – Ela está terminando de se arrumar, padre. Já deve estar chegando. (Vira-se para Gustavo) Te prepare, meu rapaz, porque, modéstia à parte, e com a licença do padre, devo dizer-te que minha Agnella é linda.
Prudência aparece.
Prudência – Boa tarde a todos. Boa tarde, padre. Boa tarde, meu rapaz. Boa tarde aos seus pais também. Prazer em conhecê-los. Prazer em noivar a minha única filha com um rapaz tão belo, não é mesmo! Mas, sem mais delongas, quero vos apresentar a minha filha. Agnella, venha conhecer a sua futura família.
Agnella aparece. De cabeça baixa, não quer olhar quem é essa família que querem lhe empurrar, e está também chateada com o fato de Gustavo não ter ido falar com seu pai.
Enzo – Levante a cabeça, minha filha. Vamos!
A contragosto, ela levanta. Então, vê aquele que ela menos esperava: Gustavo. Olhando para ele, ela sorri. Gustavo recebe o sorriso da amada, e devolve com outro.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Alguns minutos antes.
Brás está saindo de casa. Abre a porta. Nesse momento, nota que esqueceu o seu sapato. E também vê algo curioso.
Brás – Mas olha só, o rapaz de quem falei hoje cedo para Enzo! O que ele faz aí?
Decidido a descobrir, Brás volta para buscar seu sapato. No caminho, percebe algo diferente.
Brás – Inês, diga-me uma coisa. Por acaso tu viste um balde que eu deixei aqui, no caminho da cozinha?
Inês – (Gaguejando) U-um b-balde?
Brás – Sim, um balde. Cheio de terra, e com algumas plantas. Ele sumiu.
Inês – (Sem graça) É que… Eu usei as ervas que estavam aí no almoço de ontem. Tu não notaste, querido, um sabor diferente?
Brás – (Ficando enfurecido) Eu não acredito que fizeste isso com as minhas plantinhas! Pelo visto, tu gostas de confusão, não é, Inês?
Inês – Perdoe-me, Brás, eu não sabia que tu ias usá-las para outra coisa. Eu… Eu… Pensei que elas eram para o almoço!
Brás – Pois pensaste errado! Já para o quarto!
Inês – Não, Brás, isso não faz sentido. Não estou presa, de qualquer jeito?
Brás – (Gritando) Já para o quarto!
Inês entra no quarto. Brás pega um cinto e bate nela. Ela grita de dor.
Inês – Seu safado!
Brás – Como é, Inês? (E bate novamente) Repete isso!
Inês – Safado! Traidor! Pelo visto tu não és diferente dos outros homens, como tu disseste!
Brás – Não sou mesmo! (E bate nela mais uma vez) E tu vais ficar aí o resto do dia!
Inês – Não tem problema mesmo. Estou presa há tanto tempo que nem solidão eu sinto mais.
Brás – Vais falando, para tu veres o que é bom. Podes falar.
Brás tranca a porta do quarto, e calça o sapato.
Brás – Agora eu vou tirar a história desse rapaz a limpo.
Brás sai de casa. Leonor também aparece.
Leonor – Xiii… Não acredito que este homem também foi convidado. Nem que terei que suportá-lo.
Brás – A senhora se enxergue, velha fofoqueira. Além disso, eu não fui convidado. Vim apenas esclarecer uma dúvida.
Cena 04: Povoado das Hortaliças. Interior da casa de Enzo.
Agnella e Gustavo estão sentados em lugares opostos, mas não param de se olhar. Depois de alguma conversa, o padre e os pais dos noivos resolvem se apressar.
Santorini – Pois bem, acho que está na hora de selarmos esse compromisso. Vocês pais, se aproximem. Serão vocês que colocarão as alianças nos dedos desses dois jovens.
Enzo e Prudência se aproximam. Edetto e Izabella, não.
Santorini – Mas onde estão as alianças de noivado?
Edetto – Estão comigo.
Enzo – Algum problema, senhor e senhora Schiartoni? Vocês não se levantaram…
Santorini – Claro que não. Não é, Edetto?
Edetto – Sim. Há um problema sim.
Então, ouvem batidas na porta.
Prudência – Isso é hora de baterem na porta?
Enzo – Deve ser a Leonor. Eu a convidei. Afinal, a especialista em casamentos do povoado não poderia ficar de fora dessa cerimônia.
Enzo abre. Leonor e Brás entram.
Enzo – Brás? O que estás fazendo aqui?
Brás – Eu vim porque vi esse rapaz entrar na sua casa. (E aponta para Gustavo, que está de costas.) E fiquei muito curioso.
Nesse momento, Gustavo se vira. Leonor se desequilibra, mas é amparada por Brás.
Brás e Leonor – Mas é ele!
Enzo – Como assim “ele”? Não gostaste do noivo que eu escolhi para minha filha? Já o conheces?
Leonor – Por Deus, foi ele quem eu vi conversando com Agnella na entrada do povoado! Foi sobre ele que eu te falei hoje! E digo mais: acabo de lembrar o que eu havia esquecido. Eles se beijaram uma vez, lá na igreja! Eu juro que vi isso, com esses olhos que a terra há de comer!
Brás – E foi ele que eu vi trazendo comida para Agnella quando ela estava de castigo. E tomei um susto quando o vi aqui. Quer dizer que é com ele que tu vais casar a tua filha, Enzo?
Todos estão estarrecidos com as notícias. Agnella e Gustavo se entreolharam, com o olhar carregado de medo. Tudo estava indo por água abaixo.
Enzo – (Enraivecido) Então quer dizer que o homem a quem eu ia entregar a minha filha já estava se engraçando com ela há muito tempo? Canalha! (Ele avança para dar um murro em Gustavo, mas Agnella o impede.)
Agnella – Não faças isso, papai. Por favor! Perdoe-nos! Nós… Nós nos amamos!
Enzo – Que nada! Vocês estão é querendo se perverter! E você, rapazinho, fora daqui! E vocês também, que são parentes desse cafajeste, fora daqui!
Santorini – Controle-se, meu filho. Não se precipite.
Enzo – E o senhor também, vá embora!
Edetto – Antes de eu ir embora, porém, eu só gostaria de deixar bem clara uma coisa. (Vira-se para Enzo) Se não fosses tu a desistir de tal loucura, seria eu quem pararia esse noivado, mesmo que o senhor, padre, não quisesse. Porque jamais um filho de senhores feudais se casaria com uma reles camponesa!
Enzo – Já disseste o que querias? Agora saia de uma vez!
Izabella – (Com desprezo) Vamos sair desse casebre sem graça.
Os pais de Gustavo e o padre saem de cabeça baixa, mas revoltados com a situação. Gustavo é o último a deixar a casa. Antes de sair, solta um beijo pra Agnella. Ela devolve.
Enzo – Safado! Pilantra! Não se atreva a fazer mais nada com a minha filha!
Gustavo sai. Monta no cavalo e corre em disparada em direção à igreja, ultrapassando o padre e os seus pais, que tinham ido embora antes dele. Enquanto isso, Agnella corre chorando para o quarto. Prudência a segue.
Enzo – Raios!
Cena 05: Igreja del Fiume. Final da tarde.
Gustavo chega atordoado à igreja. Com receio de ser repreendido pelo padre e por seus pais, e também procurando refúgio, vai até seu quarto. Em um canto escondido, Gustavo tira uma chave. Sem que ninguém o veja, ele segue até a sala do padre. Entra, mas com a pressa, e por achar ter ouvido a voz dos seus pais, se esquece de trancar a porta e apenas a encosta. Então, ele puxa a cadeira do padre, levanta o tapete e abre o galpão da biblioteca. Desce.
Gustavo – (ofegante) Cheguei, graças a Deus. Preciso encontrar alguma leitura que me acalme.
Ele puxa um livro, o qual não tem indicação de sua autoria. Abre em qualquer página e começa a lê-lo.
Gustavo – “Eros, ao ver Psiquê, fica impressionado com sua beleza, acidenta-se com suas flechas e se apaixona perdidamente por ela, raptando-a para seu castelo dos sonhos, protegidos do mundo, vivendo o mais intenso amor. Mas, por falta de confiança, Psiquê acaba magoando Eros, além de ferir seu coração com uma cera de vela. Abandonada e em tristeza profunda, ela procura Afrodite, a mãe do seu amado, que já tendo confinado o filho traidor, a castiga com sua esperteza e, logicamente, não a ajuda, determinando que para ter Eros de volta teria que cumprir quatro tarefas, exigindo-lhe discernimento, criatividade, visão sistêmica e foco. A ‘sogra’ tinha em mente que Psiquê jamais conseguiria cumprir as provas, e que de tanto tentar as cumprir perderia toda sua graça e beleza, satisfazendo sua vingança.”
Gustavo para a leitura e começa a chorar, com indignação.
Cena 06: Nave da Igreja del Fiume. Final da tarde.
Depois de chegarem, os pais de Gustavo se dirigiram à ala dos quartos dos visitantes à procura de seu filho, mas não o acharam. O padre, ao saber disso, sentou-se, pensando.
– Flashback –
Dentro de seu quarto, estava o padre, que se assustou com o barulho de uma chave sendo jogada.
Santorini – A chave da minha sala? Ela não estava em meu guarda-roupa? Estranho…
– Fim do Flashback –
Santorini – Será possível? Meu Deus, será? Eu prefiro estar errado, mas tenho que fazer isso!
Santorini corre em direção à sua sala. Ao constatar que a porta está aberta, ele entra. Então, nota a sua cadeira fora do lugar. Aproxima-se. Ao fazer isso, ele percebe que o galpão que dá acesso à biblioteca está aberto. Cuidadosamente, desce. E vê Gustavo sentado no chão, lendo um livro.
Santorini – (Revoltado) Gustavo!
Gustavo se assusta. Notando o padre, ele deixa o livro cair, se levanta, e fica grudado à parede.
Santorini – Então foi você quem roubou a chave do meu quarto! E tudo isso para se infiltrar na minha sala, sabendo que era proibido! E o pior: você descobriu esse lugar!
Gustavo – Padre, eu… Eu…
Santorini – Nem tente se explicar, rapaz! O que você fez foi um pecado gravíssimo aos olhos da Igreja e de Deus! Sabe o que eu devia fazer? Entregá-lo para as cortes do papa!
Gustavo – (Desesperado) Não, padre! Clemência, por favor! Não faças isso!
Santorini – (Respira) Não, eu não irei fazer. Tu desobedeceste sim à nossas normas gravemente, e, pelo visto, isso já faz um bom tempo! Mas se eu não o entregarei à Santa Inquisição, devo pensar em uma boa maneira de fazê-lo pagar por seu pecado.
Gustavo – Eu pago qualquer penitência, eu rezo quantos terços o senhor quiser, padre. Palavra de honra!
Santorini – Não, só isso não basta. Eu já sei como proceder. Lembra-se da notícia que eu trouxe ontem para os meus fiéis, na missa? Se não, eu vou refrescar sua memória. Você, Gustavo, pecou gravemente, e para pagar por seus erros, será um dos nossos enviados para a Guerra Santa contra os mouros, em Jerusalém!
O número 13 é muito polêmico mesmo hahah. Esse capítulo 13 foi bem decisivo, infelizmente aconteceu o que eu temia: Os protagonistas foram separados. Por culpa da trinca Francisca, Brás e Leonor. Que raiva! E o pior, agora Gustavo terá de ir pra guerra! Grande reviravolta, parabéns pelo capítulo, João! 😀
Obrigado!!
Confesso que eu nem me toquei da polêmica sobre o número 13 kkkk Mas bem que veio a calhar. 😉
Sabia que o Gustavo seria mandando para essa tal guerra.
Coitados do Gustavo e da Agnella, tava tudo indo tão bom mas tudo desabou de uma hora para outra. E pelo visto tudo irá se complicar ainda mais para o nosso casal protagonista.
Esperando para ver o que virá por aí…
É… A vida é mesmo complicada. E com eles não poderia ser diferente. E realmente as coisas devem ter agravantes e novas situações, mudanças de planos… Gustavo logo, logo entenderá o que é ser o eu-lírico das cantigas de amor.
Continue acompanhando! 🙂
Eis o importante capítulo 13! E agora? Quais são suas apostas para o futuro? Deem suas opiniões nos comentários!