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Em nome do filho

“Em Nome do Filho” – Capítulo 19

Roteiro de Telenovela Brasileira                 Capítulo 019

 

 

Uma novela de:

Wesley Alcântara

 

Cena 01. Trilho do Trem/ Ext./ Noite.

Tia Pombinha ouve barulho de carro e se esconde em um matagal próximo. Segundos depois o carro para em frente aos trilhos e Vitória e Antero descem.

Antero começa a beijá-la, que faz cara de nojo.

Vitória – Primeiro vamos tomar um champanhe, pega no porta-malas?

Antero dá as costas para Vitória, que saca a pistola e lhe dá uma coronhada, desmaiando-o. Close em Tia Pombinha filmando tudo.

Vitória arrasta o corpo até o trilho do trem.

Vitória (a Antero) – Nossa parceria foi boa enquanto durou. Pena você ser tão idiota.

Vitória então ouve o barulho do trem.

Vitória – Eu desejo que você queime no inferno.

O trem vem a todo vapor e passa por cima do corpo de Antero. Close no sangue espirrando todo em Vitória.

Vitória (debochando) – Até morto você gruda em mim Antero, mas que pena que você já cantou pra subir, ou melhor, apertou o térreo no elevador da morte e foi direto pro umbral. Queima bastante lá, bebê!

Vitória olha para os lados, percebe que não há ninguém, retira sua roupa, coloca outro vestido que estava dentro do carro. Pega uma garrafa de gasolina, e joga na roupa suja.

Vitória (acendendo o fósforo) – E pra fechar a noite, uma fogueirinha a la São João.

Vitória joga o fósforo aceso nas roupas, que rapidamente pegam fogo, ela entra no carro e sai.

Tia Pombinha sai do mato com sua câmera nas mãos, corre e apaga uma parte do fogo, salvando a blusa quase intacta e suja de sangue.

Tia Pombinha (pra si/ vitoriosa) – Agora sim, muito dinheiro.

Tia Pombinha sorri.

Corta para:

Cena 02. Casa de Fernanda/ sala/ Int./ Noite.

Fernanda e Julieta estão paradas se olhando. Clima muito tenso para as duas.

Fernanda – Você vai falar alguma coisa Julieta? Por que você entra na minha casa falando que acabou com a minha felicidade, mas não diz mais nada? Não tô entendendo.

Julieta – Você é mesmo muito cara de pau né. Acho que esse é o mal dos homens, gostarem das mulheres sonsas e fáceis. Porque você é uma biscate de primeira linha, uma vagabun…/

Fernanda (rude) – Eu não admito que você venha a minha casa me…/

Julieta (corta) – Deixa eu falar, que eu sou visita, é de boa educação.

Fernanda – Não é de boa educação vir à casa das pessoas sem ser convidada.

Julieta – Pois pelo meu marido? Eu apareço até diante do papa sem ser convidada.

Fernanda – Para com essa conversa fiada, com esses assuntos sem relevância e diz logo o que você quer.

Julieta – Sem relevância? Sem relevância pra você, porque não é o seu marido que está saindo de casa.

Fernanda – Então o César vai realmente sair de casa?

Julieta – Momentaneamente. Mas o fato é que eu tenho uma carta na mesa e você vai me ajudar a fazer com que ele volte pra casa.

Fernanda – Não tem como, o César não vai voltar, e se isso te consola, ele vai ficar comigo, vai viver comigo. Chega! Se era isso que você tinha a me dizer, pode pôr-se daqui pra fora.

Julieta – Eu ainda nem comecei filhinha. Trata de fazer um café e me convidar pra sentar, porque a conversa vai ser longa, muito longa.

Fernanda (irritada) – Fala de uma vez por todas o que tem a dizer, antes que eu te arrebente a cara aqui mesmo, sem dó nem piedade.

Julieta respira fundo.

Julieta (firme) – Essa garota que você chama de filha, a Malu, não é sua filha.

Fernanda (surpresa) – O que?

Malu entra em casa sem ser percebida e escuta:

Julieta – No nascimento, eu troquei a sua filha biológica pela Malu.

Malu (gritando) – Que palhaçada é essa Julieta?

Close: Malu com muito ódio. Fernanda desesperada e Julieta sorrindo.

Corta para:

Cena 03. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Noite.

A sala está toda escura, Miguel chega pela porta de entrada principal e acende as luzes, deparando-se com Milena, sentada no sofá.

Milena – E eu te esperei para jantarmos, pra poder comemorar a boa nova.

Miguel – Não deu. Tive que fazer um falso noivado com a Eva.

Milena – Sempre a Eva. Tudo que você faz agora é voltado a ela.

Miguel – Mas tem que ser. Só a Eva pode nos dar o que queremos. Presta atenção Milena, e para de fazer graça.

Milena – Eu tenho duas boas notícias.

Miguel – Diz quais são.

Milena – A primeira é que as barrigas falsas chegaram. Todas perfeitas.

Miguel – E a segunda?

Milena – A segunda é que contei pra sua mãe da minha gravidez e a otária caiu direitinho. Tá até feliz com a possibilidade de ficar rica.

Miguel – Então você conseguiu ludibriar a dona Vitória?

Milena – Sua mãe não é tão inteligente quanto aparenta ser.

Miguel – Cuidado. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Agora vamos nos deitar. Tô exausto. Bancar o bonzinho cansa mais que correr na maratona de São Silvestre.

Milena – Bora lá.

Miguel abraça Milena e os dois sobem as escadas em direção ao quarto.

Corta para:

Cena 04. Casa de Fernanda/ Sala/ Int./ Noite.

Fernanda está sentada no sofá, chocada. Enquanto Malu está de pé, com muito ódio e de frente para Julieta que sorri.

Malu (nervosa) – Tira esse risinho tosco da fuça e me explica direito essa história de troca de bebês. Tô me sentindo protagonista de novela mexicana.

Julieta – Você quer saber de tudo? Então você saberá.

Fernanda (a Malu) – É tudo mentira filha, não escuta. Garanto que é mais uma armação dela.

Malu – Deixa mãe, vamos ver até onde vai à dissimulação da Julieta. Vamos ver o quanto mais ela quer arrasar a gente.

Julieta – Como eu ia falando, eu troquei você no berçário. Ninguém se deu conta, eu era faxineira ali mesmo, e como sua mãe não tinha te visto ainda e era troca de plantão, eu me aproveitei e troquei as pulseiras dos bebês de lugar…

***Insert do flashback a ser gravado***

Hospital/Berçário/ Int./ Dia.

Local decorando com enfeites infantis. Berçário contendo mais ou menos 20 bebês.

Julieta (aparentando ter entre 20 e 25 anos) está passando pano no chão do local, até que para, olha para os lados e vê que não há ninguém por perto. Ela se encaminha até onde se encontra o berçário de Malu.

Julieta (olhando Malu) – Você vai ser a filha da Julieta. Aquela vagabunda vai ter a maior decepção da vida dela.

Julieta tira a pulseira com a identificação e coloca em outra bebê, retirando a original da outra bebê e colocando em Malu.

Julieta (pra si) – Nada como um sanduiche de pão com pão para se dar o devido valor ao presunto.

Julieta sorri, termina de limpar o chão e sai do berçário calmamente.

Close na bebê, que seria a suposta filha de Julieta.

***Fim do insert de flashback***

Julieta – Naquela época o César andava diferente, mas eu ouvi uma conversa dele dizendo que poderia ser o pai do filho que você esperava.

Fernanda – Não houve a mínima possibilidade.

Julieta – Eu estava tomada pelo ódio, tomada por um sentimento que só me destruía. Eu não poderia ficar sendo passiva desses fatos. Eu tinha que fazer alguma coisa, e fiz! Eu troquei as crianças na maternidade como forma de vingança.

Num acesso de fúria, Fernanda se levanta gritando de ódio e dá dois tapões na cara de Julieta, que cai no chão, rindo, radiante.

Fernanda – Você é vagabunda.

Julieta – O que os olhos não veem, o coração não sente.

Julieta se levanta.

Malu (chorando) – Então quer dizer que eu não sou sua filha, mãe?

Fernanda – Você sempre será minha filha.

Eva chega à sala.

Eva – O que tá acontecendo aqui?

Julieta – Pronto, agora a corja de mariposas está completa: a falsa filha, a destruidora de lares e a drogada.

Eva (irritada) – Eu não admito que você fale assim da gente.

Julieta – Você pensa que eu não sei do seu envolvimento com as drogas? Que você agora arrumou um boy rico pra te sustentar e tá toda se querendo. Tudo farinha do mesmo saco.

Fernanda – Sai daqui ou eu vou acabar com a sua raça.

Julieta – Vem comigo Fernanda, eu preciso falar em particular com você.

Malu (chorando) – Não vai mãe, deixa ela para lá.

Fernanda – Eu preciso saber o que mais essa louca varrida tem a me dizer.

Julieta e Fernanda saem da casa, Enquanto Malu cai no choro e Eva a consola.

Corta para:

Cena 05. Casa de Fernanda/ Calçada/ Ext./ Noite.

A rua em frente está sem movimento algum. Ninguém passa pelo local, onde apenas Fernanda (desesperada) e Julieta (normal), estão conversando. Conversa tensa para Fernanda.

Fernanda – Não sei como você pôde ter sido tão diabólica. Que coisa horrível. Diz, diz pra mim como é que a princesa da maldade conseguiu guardar esse segredo por tanto tempo?

Julieta – Na vida, meu bem, ou você engole ou é engolida. Mas agora não adianta chorar pelo leite derramado.

Fernanda – Troca de bebês é crime e dá cadeia. Pra onde eu vou te levar. Mesmo que isso não pague a dor, o sofrimento e o tempo perdido, você vai sofrer as punições da lei. Você é incapaz de viver em sociedade, vai ser mais um bicho recluso num metro quadrado fétido e isolado.

Julieta – É aí que as coisas começam a fazer sentido Fernanda. Eu não vim aqui revelar esses segredos, por puro prazer em te ver no chão, mesmo que essa tenha sido a minha vontade todos esses anos. O fato é que o César está mesmo decidido a sair de casa pra viver com você, mas eu não vou deixar, ou melhor, você não irá deixar.

Fernanda – Como assim? Você só pode ter pirado.

Julieta – Eu sei quem é a sua filha biológica, sei onde ela vive. Mas só te contarei se você fizer o que estou mandando. Só revelo quem é a songamonga se você aceitar minhas exigências.

Fernanda – E quais são?

Julieta – A primeira é que você diga ao César que não o ama mais, que quer manter distância dele, que o que ele anda fazendo comigo é uma cafajestagem pura. Resumindo a ópera: Que você o force a voltar a conviver comigo, que reestruture meu casamento. Já a segunda é que você não me denuncie a polícia. Diga que a troca foi por parte do hospital, ou melhor, nem abra o assunto às demais pessoas.

Fernanda – Em troca disso eu ganho o que?

Julieta – O nome e o endereço da sua filha biológica. É pegar ou largar.

Fernanda – E como vou saber se você está dizendo a verdade?

Julieta – Você não tem outra saída. Ou obedece a mim, ou bye bye filha biológica.

Julieta sai andando e Fernanda fica parada, pensativa.

Corta para:

Cena 06. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Ext./ Noite-Dia.

(Música “Aceita, paixão” – Péricles). Transposição da noite para o dia. Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys. Close no Bar Chegaí.

Corta para:

Cena 07. Bar Chegaí/ Int./ Dia.

Ondina está varrendo o salão, enquanto Zé Diogo repõe cervejas no freezer.

Ondina – Num tá sabendo de nenhuma fofoca não Zé?

Zé Diogo – E nem gostaria de saber. Larga mão de ser mexeriqueira.

Ondina – Eu só comento os fatos. Tem algo no ar, Ondina capta e espalha feito chuva de verão.

Zé Diogo – Para com isso. É feio mulher.

Ondina – Por isso que a gente tá na pindaíba, você nunca quer saber dos acontecimentos que rolam por aí.

Nesse instante entram no bar: Bebê, vestido de segurança, e Lui, com suas roupas espalhafatosas.

Lui (gritando) – Ondina! Ondina! Ondina! Corre aqui minha nega, o babado é forte e o badalo é um close.

Ondina (curiosa) – É fofoca Lui?

Lui – Veja lá se fico por aí fazendo fofoca? Tecerei apenas um breve comentário.

Zé Diogo – Você deveria era ter casado com a Ondina. Dois fofoqueiros, um casal perfeito né Lui.

Lui (fazendo o sinal da cruz) – Deus me livre desse mal. Da fruta que eu gosto, a Ondina lambe até o caroço.

Ondina – Para de dar trela pra esse desembestado e me conte o babado.

Lui vai até a porta do bar ver se vem alguém, olha para os lados e volta correndo para próximo de Ondina.

Lui – Ontem rolou o maior bate-boca na casa da Fernanda.

Ondina (curiosa) – Como assim?

Lui – Além de velha é surda, vá se tratar Ondina. Eu disse que ontem rolou um bate-boca, um quebra-pau, um rebuliço, um barraco lá na casa da Fernanda. Não pude deixar de escutar, já que sou vizinho da solteirona.

Bebê – Era algo bem sério.

Ondina – Vocês conseguiram escutar?

Lui – Ouvi pouco, quase nada. Só sei que a mulher do César estava chamando ela de piranha e tudo mais. E falaram também sobre bebês.

Ondina (encucada) – Bebês?

Lui – Por um instante eu achei que estivessem falando do meu Bebê. Mas não era não. Estavam falando sobre bebês recém-nascidos e falaram também sobre maternidade.

Ondina – Será que é o que estou pensando?

Lui – Que a Fernanda tá grávida do César?

Ondina – Eu não duvido. Aquela lá, na infância da Malu, tinha um namorado para cada mês.

Lui – Também pensei nisso. Mas a Fernanda parece tão centrada, tão meiga.

Ondina – Meiga? Mei galinha, só se for.

Lui – Agora eu tenho que ir, senão minha chefa me esgana.

Ondina – Obrigado pelo comentário. Até mais tarde eu apuro o caso, passa aqui quando voltar.

Lui – Mas é claro que vou passar. Hoje eu não entro em casa sem uma cerveja na mãe meu bem. (SAINDO)- Beijos Zé. Vem Bebê!

Lui e Bebê saem do bar.

Ondina (surpresa) – Então a Fernanda tá grávida de um homem casado? Que moral de merda que ela tem. A segunda a ficar prenha naquele casebre.

Zé Diogo – Ninguém confirmou que ela esteja grávida, aliás, ninguém sabe se ela tem mesmo um caso com o César.

Ondina – Pra Julieta estar soltando os cachorros lá, boa coisa que não é.

Zé Diogo faz que sim com a cabeça e Ondina volta a varrer.

Corta para:

Cena 08. Mansão Amadeu/ Sala de Jantar/ Int./ Dia.

A mesa do café está toda posta, quando Teresa e Eneida chegam ao loca.

Teresa – A senhora não vai esperar ninguém para tomar café?

Eneida – Eu preciso resolver a minha vida cedo. Se alguém perguntar por mim, diga que eu fui dar uma corrida, depois farei umas compras, sei lá, inventa alguma coisa.

Teresa – Se eu fosse a senhora esperava a dona Vitória acordar.

Eneida (tomando café de pé) – Mas como você se chama Teresa e é empregada desta casa, vai ficar de bico calado, ou melhor, vai falar o que te pedi.

Eneida entrega a xícara a Teresa.

Eneida (saindo) – Deixe-me ir, há muitas coisas a serem resolvidas hoje.

Eneida sai da sala de jantar, apressada.

Teresa (pra si) – Depois eu que levo a culpa dentro dessa casa por não saber de nada.

No mesmo instante, Milena e Miguel entram na sala de jantar.

Milena (a Teresa) – Tá falando sozinha?

Teresa (disfarçando) – Claro que não. Tô aqui contando quantos pães tem.

Milena e Miguel sentam-se a mesa.

Teresa – Querem que eu prepare algo especial?

Milena – Omelete com peito de peru e rúcula.

Teresa – E o senhor?

Miguel – Nada.

Teresa (saindo) – Com licença.

Teresa sai da sala de jantar.

Miguel (falando baixo) – Você já sabe quando vai utilizar a barriga falsa?

Milena – Já sim. Daqui dois meses eu começo. No kit da barriga falsa, tem umas barrigas pequenas, que vou começar a usar, mas as que de fato tem presença, só daqui a alguns meses.

Miguel – Eu tô com medo de alguém descobrir.

Milena – Eu vou usar vestido a gravidez toda. Você só tem que esquecer que eu uso barriga falsa. De resto vai dar tudo certo.

Miguel e Milena dão um selinho, e Vitória entra e vê a cena.

Vitória – Qual foi a pulada de cerca dessa vez Miguel?

Milena – Como sempre, destilando veneno?

Vitória – Meu veneno é bálsamo querida, ele necrosa, sabia?

Vitória se senta a mesa.

Milena – Hoje nada do que você fale, vai estragar meu dia.

Vitória – Com essa cara sua de vodu que saiu da Magia Negra, meu bem, não precisa ninguém estragar nada, você já se basta.

Miguel – Mãe, por favor, para. A Milena está grávida e fica mais sensível nessa época.

Vitória – A culpa é sempre minha né? Porque sou uma velha inválida e sozinha.

Milena – Você precisa colocar as pessoas pra baixo para que a autoestima delas fique da altura da sua. Você toma conta da vida de todo mundo, porque a sua é um marasmo sem limite. Sabe Vitória, eu realmente sinto pena de você, que vai passar por essa vida sem deixar seu legado. Tudo que as pessoas vão lembrar sobre você é: “Aquela dondoca que cuidava da vida alheia”. É uma pena mesmo que Deus tenha desperdiçado um corpo na face da Terra.

Vitória aplaude sorridente.

Vitória – Amei o seu discurso. Diga mais o que pensas sobre mim. Vamos, derrame sobre vossos pés a mágoa, o ressentimento que você tanto sente.

Milena – De você eu só sinto pena e muito ódio.

Vitória – Cuidado, tanto ódio assim, pode ser amor encubado.

Miguel se levanta.

Vitória – Vai onde filho?

Miguel – Pra empresa, pra praça, pro diabo que me carregue. O que não quero é ficar aqui sendo plateia pra essa toca de farpas de vocês. Hello gente, são nove da manhã ainda.

Milena se levanta também e sai da sala de jantar junto com Miguel.

Close em Vitória, séria, tomando seu café.

Corta para:

Cena 09. Mansão Trajano/ Fachada/ Ext./ Dia.

Close no carro de Meg saindo da garagem. Dia lindo de sol.

Corta para:

Cena 10. Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Int./ Dia.

Álvaro está sentado, lendo alguns processos, quando Mafalda vem da sala de jantar.

Mafalda – Achei que tivesse ido para a empresa.

Álvaro – Hoje vou passar a manhã em casa lendo processos.

Mafalda – Álvaro, depois da festa no Chegaí, você voltou diferente. A gente tá se entendendo mais.

Álvaro – Tem razão Mafalda. Sabe, eu nunca gostei de você, não gostei de cara e por anos a gente ficou nessa queda de braço, mas hoje eu posso dizer que adoro estar com você. Na verdade, você nem parece ser irmã da Meg, tão diferente, tão superior a ela em tudo.

Mafalda – A Meg é um ser humano de muitos defeitos, não que eu não os tenha, mas ela é ambiciosa e até hoje não consigo entender o que a une tanto a Vitória assim.

Álvaro – Dizem que os opostos se atraem, mas é mentira. A Meg e a Vitória se unem pelo que mais tem em comum: a ambição. A Vitória eu não sei, mas a Meg parece ter uma face oculta.

Mafalda – É tão difícil pra mim, ter que ouvir isso e concordar. Mas eu sei que a Vitória e a Meg escondem algo.

Álvaro – Por falar em esconder algo, cadê àquela tia esquisita de vocês?

Mafalda (encucada) – Tem razão, desde ontem a noite que eu não vejo a Tia Pombinha. Isso não tá me cheirando a boa coisa.

Mafalda fica pensativa e Álvaro volta a ler os processos.

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Cena 11. Praça Central/ Ext./ Dia.

(Música “Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). Imagens aéreas da praça, com pessoas caminhando, conversando, passeando com cachorros. Close no chafariz, fazendo um belíssimo espetáculo com a água. Close Final em Tia Pombinha, com um envelope A4 EM MÃOS, conversando com um motoboy.

(Fad out trilha “Boogie oogie oogie”).

Tia Pombinha – Entendeu o que vai fazer?

Motoboy – Vou até a casa da tal Vitória e entrego esse envelope a ela?

Tia Pombinha – Isso. Caso ela pergunte quem enviou, o que você vai dizer?

Motoboy – Que foi um homem moreno, que tinha um nome diferente: Agenor, Antero ou Antenor.

Tia Pombinha – Isso mesmo!

Motoboy – Agora me passa a grana tiazinha.

Tia Pombinha retira do bolso cem reais.

Tia Pombinha (entregando) – Toma! E agora vai levar isso o mais rápido possível.

Motoboy pega o dinheiro, coloca o capacete, monta na mota e sai disparado.

Tia Pombinha (sorrindo) – E o grande império de Maria Pombalina começa agora.

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Cena 12. Casa de Fernanda/ Quarto de Fernanda/ Int./ Dia.

Fernanda está diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, ela acende uma vela e começa a rezar. Após alguns instantes ela termina sua oração e vai até sua janela, onde fica olhando, pensativa.

Eva entra de mansinho no quarto e abraça a tia por trás.

Fernanda (triste) – Quando a Julieta disse que acabaria para sempre com a minha felicidade, ela não estava mentindo.

Eva – Como que a senhora está?

Fernanda – Eu tô mal né, me sentindo a pior das mulheres. Tentando entender onde eu errei para merecer um calvário desses. Eu não vou poder ficar com o homem que amo, e não sei quem é a minha filha. Mas o pior é saber que a Maria de Lourdes, pode se rebelar e querer achar essa outra família.

Eva – Fica calma tia. A Malu está bem, acabei de sair do quarto dela. Ela sabe da gravidade do assunto e prometeu que não vai contar essa história a ninguém.

Fernanda – Mas chega de falar de mim e dessa tragédia. Eu quero saber da senhora e do seu bebê hein.

Eva – Ah tia, estamos bem, felizes. Agora eu quero conhecer a família do Miguel. Mas ele parece estar enrolando.

Fernanda – Aquela mãe dele é uma louca desvairada. Eu nunca fui com a fuça da dondoca.

Eva – A senhora e suas manias.

Fernanda – Eu e meus pressentimentos que nunca falham. Aguarde as cenas dos próximos capítulos e me diga se ela não é realmente uma megera de primeira linha.

Eva nega com a cabeça.

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Cena 13. Prefeitura/ calçada/ Ext./ Dia.

Movimento normal de pessoas passando pelo local ou entrando na prefeitura.

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Cena 14. Prefeitura/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.

Vitória está sentada, semblante de feliz e Meg está de pé, andando de um lado para o outro, nervosa.

Meg – Eu não acredito que você fez isso. Vitória, você está se arriscando demais. Não vê que a morte do Antero pode respingar a culpa em você?

Vitória – A única coisa que respingou, foi o sangue dele quando o trem passou. Precisa ver Meg.

Meg – Eu não queria ver nada. Deus me livre.

Vitória – Você é mesmo muito medrosa. Mas deu tudo certo Meg. Ninguém sabe e ninguém viu. Em menos de um mês eu me livrei das três pessoas que poderiam arruinar a minha vida: A chantagista da Dama, a revoltadinha da Regininha e o pau mandado do Antero.

Meg – Agora, para de se meter em confusão. Já que conseguiu apagar de vez o seu passado, agora é viver o presente.

Vitória – Quando o meu filho colocar a mão naquela grana, ah Meg Trajano, eu te garanto que vou viajar. Leste Europeu, Emirados Árabes, Caribe.

Meg – E voltar mais pobre que a sua empregada?

Vitória – Eu tô falando de uma fortuna.

Nesse instante Lui entra na sala.

Lui (entrando) – Com licença dona Meg e dona Vitória.

Meg – Você desaprendeu as regras de boas maneiras?

Lui – Na mesma velocidade que você aprendeu a dar em cima do macho dos outros.

Meg (irritada) – Que isso agora?

Lui – É a simples lei do retorno. O que vai, uma hora volta dona Meg.

Meg – Eu vou mandar te demitir.

Lui – Diferente da senhora, eu sou concursado. Eu exerço um cargo público, fiz prova e fui aprovado.

Vitória – Chega de mostrar seu currículo mixo Lui. Diga logo o que veio fazer aqui.

Lui – A polícia tá aí fora, ou melhor, o delegado, quer falar com a Dona Meg. Deixo entrar?

Vitória e Meg se olham tensas.

Meg – Manda entrar.

Lui sai.

Meg – Será que ele tá desconfiado?

Vitória – Fica calma. Às vezes não é nada disso e você acaba entregando o ouro. Respira fundo.

Meg respira e se acalma. O delegado entra.

Delegado – Bom dia. Desculpa interrompê-las.

Vitória – Bom dia delegado, eu sou amiga e assessora da Meg Trajano, se importa que eu fique?

Delegado – De forma alguma, por favor!

Meg – Sente-se delegado.

Delegado – Prefiro permanecer de pé. Quero ser rápido e objetivo.

Meg – E sobre o que se trata.

Delegado – Eu vim falar sobre uma morte muito suspeita que ocorreu ontem. A morte de Antero Dutra. Eu sei que foi homicídio e que vou resolvê-lo custe o que custar.

O delegado fica sério e Meg e Vitória se entreolham muito tensas.

Corta para:

Cena 15. Livraria Dom Casmurro/ Sala da gerência/ Int./ Dia.

Tamara está sentada em sua mesa, com um monte de contas em mãos, fazendo contas na calculadora, desesperada.

Tamara (em desespero) – Essas contas não batem, que inferno!

Tamara pega a calculadora e joga contra a parede. Alguém bate a porta.

Tamara (nervosa) – Entra.

Téo entra na sala.

Tamara – O que você quer?

Téo – Maninha, acho que a gente precisa conversar.

Tamara – Você me pegou num péssimo dia, deixa para amanhã.

Téo – É do seu interesse.

Tamara – O meu único interesse é que as contas desse mês batessem e que fechássemos a livraria no azul.

Téo – Pelo andar da carruagem, iremos fechar, mas fecharemos as portas.

Tamara (batendo na mesa) – Nunca, tá me ouvindo? Nunca!

Téo – Mas é para esse mar, que o rio caminha.

Tamara – Eu não vou dar esse gostinho para a Eva. Não vou deixar ela sambar na minha cara.

Téo – Então tente fazer algo. O movimento aqui tá fraco. As editoras perceberam isso e estão repassando poucos títulos para nós. Perdemos a noite de autógrafos da Diva Divina.

Tamara – Como se chama aquela moça daquele livro maravilhoso?

Téo – Cecília Meirelles?

Tamara – É, deve ser ela. Aproveita e a retire do túmulo onde você deveria passar a eternidade. Eu tô falando daquela autora daquele livro ótimo que virou febre na cidade: Tribo do Amor.

Téo – Aquela moça com o cabelo vermelho? Vermelho da cor da paixão, do amor.

Tamara – Essa mesma. Eu tenho que admitir, ela é uma ótima autora e muito simpática também. Só não me recordo o nome.

Téo fica pensativo.

Tamara – Lembrei. O nome dela é Pit Larah.

Téo – Isso mesmo.

Tamara – Caça os contatos dela: telefone, Facebook, e-mail. Eu a quero aqui na livraria, para falar comigo. Acho que uma palestra seguida de uma noite de autógrafos pode reerguer a livraria.

Téo (saindo) – Vou procurar o contato dela.

Téo sai da sala, e Tamara se levanta, pega a calculadora e volta a fazer as contas.

Corta para:

Cena 16. Prefeitura/ Gabinete da prefeita/ Int./ Dia.

Meg e Vitória visivelmente tensas e o delegado sério.

Delegado – As senhoras parecem tensas, as assustei?

Vitória – Você falou em homicídio, será que existem pessoas tão perversas em nossa cidade?

Delegado – Pessoas ruins existem em todo lugar. Você às vezes, nem se dá conta de que está diante de um assassino. Isso dificulta o nosso trabalho.

Vitória – Que horror. Nem quero ouvir mais, vou ir para a minha casa.

Vitória sai da sala.

Meg – Mas então delegado, sobre o que quer falar comigo?

Delegado – Eu quero abrir uma sindicância para apurar essa morte. Quero pesquisar vestígios, e pra isso, preciso contar com a contribuição da prefeitura, para que eu traga perito e outros especialistas. Podemos estar diante de um Serial Killer.

Meg – O senhor está exagerando delegado. Acho que está assistindo demais aquela série da Glória Perez, mas o fato é que eu não posso dar tanto alarde assim, logo de cara.

Delegado – Isso quer dizer que não posso contar com seus investimentos em segurança pública?

Meg – Isso quer dizer que eu não posso abrir os cofres assim, sem relatório detalhado, sem algo que ligue esse crime a outros.

Delegado – Eu já entendi dona Meg Trajano. A senhora não está a fim de investigar o caso. Não tem problema, eu vou fundo com os recursos que tenho. Não vou me abastecer de hipocrisia.

Meg – A prefeitura estará de portas abertas a ajudar o caso.

Delegado – As vésperas das eleições a gente não precisa de dinheiro financiado por empreiteiras e políticos mais sujos que a senhora.

Meg – O senhor está exorbitando do seu direito como cidadão.

Delegado – Que o próximo crime desse Serial aconteça com a sua família.

O delegado sai da sala com raiva e bate a porta com força.

Corta para:

Cena 17. Mansão Amadeu/ Jardim/ Ext./ Dia.

Vitória vem da rua e estaciona seu carro bem em frente à porta de entrada da mansão, onde se encontra o motoboy, com o envelope na mão e sentado em um banco.

Vitória desce do carro e se aproxima do rapaz.

Vitória – Tá esperando alguém?

Motoboy – Eu tenho uma encomenda para a senhora.

Vitória – Eu não comprei nada.

Motoboy entrega o envelope a Vitória e sai em sua moto.

Corta para:

Cena 18. Mansão Amadeu/ Quarto de Vitória/ Int./ Dia.

Vitória abre o envelope e retira um embrulho de presente e um DVD. Close no DVD com os dizeres: “Que a felicidade vire rotina. Mas não para você”.

Vitória coloca o DVD em seu aparelho, que começa na parte em que Vitória arrasta Antero para linha do trem.

Desesperada, Vitória retira o DVD e o quebra em vários pedaços.

Vitória (com fúria) – Quem fez essa merda?

Vitória olha para o embrulho de presente, o pega e abre. No embrulho contém uma pequena boneca, usando um vestido feito com uma parte da blusa de Vitória que respingou de sangue.

Vitória (assustada) – Meu Deus, não pode ser!

Corta para:

Fim do capítulo!

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