Capítulo 08 – Cantiga de Amor
Cena 01: Igreja Del Fiume. Exterior.
Gustavo – O quê? Por acaso já esqueceste que tu me afirmaste que me amavas?
Agnella – Não, não esqueci. Por isso queria te dizer que eu aceito esse amor. Que eu quero viver o amor que eu sinto por ti.
Os dois se beijam. Então, para evitarem confusão, se soltam.
Agnella – Mas, por favor, aqui não poderemos fazer nada. As pessoas do povoado, tu sabes como elas são…
Gustavo – Sei, sei… Tu nem podes imaginar como eu estou feliz com esse momento. Eu… (Tem uma ideia) Amanhã, cedo, estarei te esperando no rio. Sei que tu irás pegar água lá.
Agnella – Ah, cavalheiro, é claro que imagino como estás, porque eu também estou muito contente! E, quanto a esse encontro no rio, eu confirmo. Agora, com licença, tenho que voltar logo.
Agnella sorri e sai. De longe, Leonor observa tudo.
Cena 02: Convento. Pátio interno.
As noviças estão todas alinhadas, à espera de um comunicado da irmã Francisca. Nesse momento, ela chega.
Francisca – Muito bem, irmãs. Mandei que todas se aprontassem porque hoje chegou um momento especial. Pela primeira vez, a missa na Igreja del Fiume, aqui ao lado, terá a nossa participação. As pessoas dos povoados ao redor irão conhecê-las, vocês que sabiamente resolveram se dedicar ao serviço do Senhor, e…
A irmã Francisca continua falando. Valentina, entretanto, não presta muita atenção nas suas próximas palavras, já que algo que ela havia falado chamou sua atenção. E a deixou com medo.
Valentina – (Falando baixinho) Eu não posso ser vista por essas pessoas… Preciso fazer algo logo…
Uma noviça, à sua direita, a ouve balbuciar algo.
Noviça – Irmã, falaste algo?
Então, a noviça vê a novata, que entrara ontem, desmaiar ao seu lado.
Noviçã – Irmã Francisca! Ajude-me aqui! A novata acaba de desmaiar!
Começa um burburinho, que logo é repreendido pela irmã Francisca. Então, ela se dirige a uma das administradoras do convento.
Irmã Francisca – Irmã Gertrudes, mande levar essa noviça para o seu quarto agora. Pelo amor de Deus, não queremos problemas hoje. (Vira-se para as noviças) E vocês, nem inventem de passarem mal, desmaiarem ou algo parecido. Hoje é um dia especial para todas nós.
Cena 03: Igreja Del Fiume. Tempo depois.
A missa acabou, e as pessoas estão se despedindo. Na nave da igreja, conversam Enzo e o padre Santorini.
Enzo – Então, padre, falaste com o rapaz?
Santorini – Meu filho, eu pensei melhor… Não é melhor tu te preservares, e procurares um marido para tua filha aqui mesmo? Ir até lá e ter sua proposta rejeitada é pior.
Enzo – Padre, eu também pensei no assunto. Nós mentiremos, e diremos que eu sou um homem de posses. Eles só descobrirão quando chegarem aqui, e, então, já será tarde. Afinal, o valor de uma palavra acordada é muito grande.
Santorini – Não! Eu me recuso a fazer isso!
Enzo – Por favor, padre! Eu prometo ao senhor que posso pagar um valor um pouco maior nos meus impostos à Igreja.
Santorini – (Sério) Está bem, filho. Mas essa é a única coisa “errada” que farei por ti. Quanto ao rapaz, falei com ele, sim. As notícias não parecem tão desanimadoras assim. Segundo ele, seus pais não têm tantas posses como os outros senhores feudais da região da Campania, que é de onde ele vem.
Enzo – E o nome dele? E o nome dos seus pais?
Santorini – Ele é Gustavo Schiartoni. E os pais dele são Edetto e Izabella Schiartoni.
Enzo – Hum… Belos nomes. Sabe, padre, eu gostaria muito de conversar com seus pais sobre esse casamento. Ele não disse como achá-los?
Santorini – Não. Até porque não comentei sobre a sua ideia de casamento, meu filho. Mas, se você quiser, eu o chamo para conversarem. Quem sabe até você não consegue fazê-lo se interessar por seus planos…
Enzo – Verdade… O senhor pode fazer isso agora, padre?
Santorini – Claro, claro.
Santorini sai por um instante e volta com Gustavo.
Santorini – Meu rapaz, esse é Enzo, um camponês de boas condições, aqui da região. Ele gostaria de falar com você.
Enzo – Em particular, de preferência.
Santorini – Muito bem. Vocês podem se dirigir à sala de recepção aqui da igreja. (Grita) Gregório!
Gregório aparece e os leva até a sala de recepção da igreja.
Gustavo – Pois não, senhor. O padre já falou meu nome. Eu sou Gustavo. O que o senhor quer?
Enzo – Cavalheiro, isso não é algo tão fácil de falar, principalmente com você. Mas eu preciso ser breve. Pelo que eu sei, você é filho de Edetto e Izabella Schiartoni, senhores feudais da região de… Campania, não é isso?
Gustavo – (Impressionado) Sim… Por acaso o padre Santorini contou isso para o senhor? Por que ele contaria, aliás?
Enzo – Fui eu quem pediu ao padre para que lhe perguntasse isso. Bem, como ele mesmo falou, eu sou um camponês da região, mas, mesmo assim, consegui criar uma pequena fortuna. Talvez não se compare à de sua família, mas, pelo que também me foi dito, suas terras não são tão grandes, o que seria bom para o que pretendo. Em suma: tenho uma filha linda, e é de meu interesse casá-lo com ela.
Gustavo – C-como?
Cena 04: Igreja Del Fiume.
Logo após Enzo e Gustavo serem levados por Gregório, Leonor e Simone chegaram para conversar com o padre.
Simone e Leonor – Bênção, padre!
Santorini – Deus as abençoe, minhas filhas. O que as trouxe aqui para conversarem comigo?
Leonor – É um assunto um tanto sério, padre. E deveras vergonhoso, por assim dizer.
Santorini – Mas o que houve, realmente? Porque, com tais conversas, as senhoras me assustam.
Simone – Queremos falar sobre a minha filha, padre. Ela está sofrendo muito nas mãos do esposo.
Nesse momento, Pero, que estava passando próximo, para e começa a ouvir a conversa.
Santorini – De que maneira ela está sofrendo? Podem explicar melhor?
Leonor – Vamos falar de uma vez. Brás, padre, na verdade é pobre. Ele mentiu o tempo todo sobre suas posses, e Inês descobriu isso ao ouvir uma conversa sua com um amigo. Seu marido, é claro, havia de puni-la por ouvir conversas dos outros. Apesar de que mentira também é pecado, não é, padre? E uma mentira dessas então… Só que ele está a punindo cruelmente.
Simone – Pois é, padre! Ele pôs uma libertina dentro da casa deles e pecou com ela na frente da minha Inês! Uma coisa terrível! E, depois, ainda a trancou dentro do quarto, sem lhe dar comida, água, nada! Ela ainda teve sorte, por ter conseguido fugir e nos contar isso, não é, Leonor?
Leonor – Verdade, padre. Coitada dela, estava com uma cara de cansada, abatida… Dava até pena.
Simone – E nós imaginamos que o senhor pudesse ajudá-la de alguma maneira. Aquele marido dela está louco!
Santorini – Calma, minhas filhas, calma. Essa história é mesmo verdade?
Leonor – Claro! E por que mentiríamos para o senhor?
Santorini – Não sei. Do jeito que as senhoras são, e eu falo isso porque as conheço, qualquer intriga serviria para acusar alguém de quem não gostaram.
Simone – Padre, por favor! Francamente! Será que o senhor não percebe que minha filha está sofrendo?
Santorini – Tudo bem, tudo bem. Eu irei investigar isso melhor. Talvez amanhã eu passe lá no povoado, e então tirarei essa história a limpo. Se o que as senhoras me falam for verdade, tomarei as providências cabíveis para que Brás pague por seus pecados.
Leonor – Pois bem, padre. Assim esperamos.
E saem.
Pero – Não sei sobre o padre, mas eu tenho que fazer algo.
Cena 05: Convento. Quarto de Valentina.
Valentina está deitada em sua cama, pensando em como conseguira se livrar das pessoas do povoado, e em como seria difícil a vida em um convento, um lugar no qual ela nunca pensara que pararia. Então, a porta se abre, e a irmã Francisca entra.
Valentina – Irmã Francisca?
Francisca – Como tu estás, irmã?
Valentina – Eu estou me sentindo melhor, graças a Deus. Eu gostaria de pedir perdão por esse incidente comigo. Eu devo ter reagido mal à comida de ontem.
Francisca – Bem, irmã Valentina, a comida do nosso convento é de excelente qualidade, e abençoada por Deus. Então, não creio que o mal tenha vindo daqui de dentro. De qualquer forma, o que eu espero da senhorita é que evite causar novos problemas como esse. Nós não queremos imprevistos aqui. E, se algo parecido voltar a ocorrer, serás punida por isso. Entendido?
Valentina – (Engole em seco e baixa a cabeça) Entendido, irmã Francisca.
Francisca – Passar bem, então. E lembre-se: a nossa comida é ótima. Não será por causa dela que tu passarás mal de uma próxima vez. Isto é, se houver próxima vez.
Então, ela sai.
Valentina – Só me faltava essa. O que fiz para a freira querer implicar comigo?
Cena 06: Igreja Del Fiume. Sala de recepção.
Gustavo – O senhor quer me casar com a sua filha?
Enzo – Justamente, meu rapaz. Eu comecei a pensar nisso logo depois que você me salvou debaixo daquela carroça, lembra? Sua coragem, sua força e até seus modos de um verdadeiro cavalheiro me impressionaram.
Gustavo – Ah… Claro, claro que me lembro. Mas por que me casar com sua filha? Por causa de um simples salvamento?
Enzo – Não foi um simples salvamento. Foi uma demonstração de bons valores. Eu entendo que você está surpreso com essa minha proposta, mas eu pretendo conversar com seus pais sobre isso e eles hão de aceitar.
Gustavo – Mas o senhor não sabe onde, exatamente, eles moram.
Enzo – Tu podes me dizer. Ou dizer ao padre, se assim preferires. De qualquer maneira, a Campania é aqui ao lado, e não será difícil de encontrá-los. Perdoe-me, mas agora tenho que sair. Falarei com o padre, e ele há de descobrir essas informações. Com licença.
Gustavo desiste de discutir. Se ele falaria com os seus pais, tudo mudaria de cenário. Enzo, então, sai.
Cena 07: Igreja Del Fiume. Final da tarde.
As horas haviam passado, e o sol já se declinava.
Gustavo – O que terá de secreto na sala do padre? Acho que eu posso descobrir…
Após o jantar, seguiu o padre até seu quarto. Um tempinho depois, o padre saiu, e acidentalmente deixou a porta destrancada. Gustavo aproveitou a oportunidade e entrou, dirigindo-se, imediatamente, ao guarda-roupa que vira no dia anterior. Mexeu por um tempo, sem encontrar nada. Até sentir um fundo falso na parede do guarda-roupa. Abriu, e encontrou, lá, a chave que tanto procurava. Saiu, rapidamente, do quarto do padre, se escondeu, e esperou que ele voltasse e fechasse a porta para se dirigir ao quarto em que estava dormindo. Ficou lá por mais algumas horas, e, quando julgou que todos pudessem estar dormindo, acendeu seu lampião e seguiu, sorrateiramente, até a sala do padre. Abriu a porta e começou a procurar por tudo o que julgasse ser estranho. Olhou nas estantes, mas nada além de Bíblias e sermões. Não havia portas nem janelas. Quando já estava desistindo de procurar, cansado, resolveu sentar um pouco na cadeira do padre. Ao pisar sobre o tapete que forrava o chão, ouviu um barulho oco. Bateu, mais uma vez, o pé no chão, confirmando. Tirou a cadeira e levantou o tapete. Viu, então, uma alça. Puxou a alça, levantando um alçapão e revelando assim a existência de um galpão subterrâneo, algo como um porão. Seu acesso se dava por escadas.
Gustavo – (Surpreso) Um porão? O que será que há aí embaixo?
E desceu as escadas.
O que será que tem nesse porão? Estou curioso pra saber! O Gustavo mal sabe que a filha de Enzo é a mulher que ama, mas que confusão, não? Tomara que o padre possa realmente punir o Brás, coitada da Inês.
E parece que as coisas não começaram muito bem pra Valentina no convento!
Capítulo bacana. A web tem um ritmo ótimo, parabéns João.
Obrigado!
Eu nem preciso falar sobre o porão, porque ele já está no próximo capítulo. Quanto a Gustavo e Agnella, há realmente uma confusão aí; mas, para o público, está claro que eles estão no caminho “certo”. Mas será mesmo que tudo ficará bem?
Quanto a Brás, o padre deve encontrar, sim, uma punição a ele. E a vida de Valentina no convento não deve ser o que ela esperava. Mas haverá uma vantagem.
Agradeço de novo por sua participação!! 😀