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Ilusões

Capítulo 4: Amie – Ilusões

Amie – A garota que não se iludia

Autor: Yannikson Pereira

Amie é a dona de longos cabelos pretos encaracolados e de intensos olhos verdes esfumaçados que segue à risca o lema “Live Free or Die”. Sentia que as pessoas estavam presas em um mundo de ilusões que não correspondia ao seu e isso a incomodava. Muito. Entediada com tantas pessoas fajutas e desordenadas ao seu redor, certo dia ela resolveu pegar o primeiro ônibus que viu pela frente e fugir, rumo a lugar nenhum. Mas não precisava ser uma fuga permanente, não precisava ser algo extremista e/ou exagerado. Podia ser algo simples e de curta duração, mas que lhe fizesse bem, que lhe permitisse sair da caverna onde estava escondida. 

Da janela reluzente do ônibus avistou a praia. Pessoas dançavam revezando os pés, os casais, os copos cristalizados e isso tudo parecia muito interessante. Amie desceu do ônibus e não custou muito para chegar até aquelas pessoas. Podia não conhecê-los, mas, naquele instante, isso não parecia ter grande importância. 

– Hey, porque tu estás sem copo? – questionou John percebendo a chegada da jovem. – Venha cá, vamos buscar um copo pra ti. – e a puxou pelo braço como quem já esperasse pela sua chegada. 

– Eu me chamo Amie. 

– John, prazer em conhecê-la Amie. Tu não vieste no ônibus da faculdade com a gente, viestes? 

– Faculdade? – e Amie deu uma gargalhada espontânea que respondia instantaneamente a pergunta de John. 

– Que bom que viestes. Venha, vamos dançar. 

E os dois se juntaram aos outros 46 jovens naquele fim de tarde. Amie sentiu-se realizada ao ver a naturalidade daquelas pessoas embriagadas e não demorou muito para que ela chegasse ao mesmo ponto de embriaguez que os 
outros. Dançando, eles não pareciam ter classes sociais diferentes, não pareciam estudar Direito ou Engenharia da Computação, não pareciam preocupados com o que aconteceria no futuro de suas vidas, tampouco chateados por não terem rios de dinheiro ao seu redor. Pareciam-se, de certa forma, com Amie. 

As pessoas iam puxando a morena para dançar e se empolgavam a cada desdobramento corporal que ela fazia. Amie fechava os olhos e deixava que o ritmo eletrônico de uma música qualquer balançasse seus cabelos naturalmente. Parecia tudo muito interessante. Ela sentia-se interessante como há tempos não se sentia. 

– O mundo precisava saber que isso existe. 

– Isso o que? – perguntou John sentando-se na areia. 

– Esse mundo em que todos se jogam de cabeça. – e naturalmente ela envolveu a cabeça de John com seus braços e o puxou para trás, deixando a cabeça do jovem por cima de sua barriga. – Tu estás me esmagando! 

– Quem me puxou foi tu! 

E em seguida um bando de gente se embolou no chão da areia junto com os dois, dando inúmeras risadas. Dançaram de novo. Beberam de novo. Molharam-se de novo. Deram risadas de novo. Tudo como se ainda não tivesse ocorrido, como se o tempo não tivesse passado. Depois de entregar um drink gelado para John, Amie notou que o olhar do rapaz estava muito bem direcionado aos seus olhos. 

– Eu não sei por que tu viestes pra cá hoje, não sei quem te convidou. Mas eu gostei. Obrigado pelas felicitações. 

– Felicitações? 

– Hoje é o meu aniversário. 

– HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHA. – e a jovem ficou alguns instantes rindo sozinha. – Meu Deus, eu sou a furona da festa não é mesmo? 

– A furona mais interessante que eu podia ter tido na minha festa. – e John segurou a nuca de Amie, a trazendo para perto de seu corpo, para perto de sua respiração. 

– Eu não me importo em ser a mais interessante. Só me importo em fazer com que as coisas que faço valham a pena. 

– Está valendo? 

– Mais do que eu podia imaginar. 

E John puxou de leve o cabelo dela, grudando seus lábios carnudos na boca delicada e desenhada de Amie. Seus corpos seguiram o ritmo das músicas, seus lábios o ritmo das línguas. 

– Onde está o botão de pausa? Preciso te ter na minha vida mais vezes. 

– Como se eu fosse uma mera música que tu pausa e continua na hora que bem entender? 

– Uma música minha. Que eu crie, cantei, gravei. Que eu cuido. Que eu ouço e repito incansavelmente sem reclamar, sem questionar. 

– Que romântico John! E entediante também. HAHAHAHAHAHAHAHA. Preciso ir, obrigada pela tarde, pela noite. Por isso… – e seguiu caminhando pela praia naquela manhã que começava preguiçosa, bem como os diversos corpos espalhados pela praia. 

– Onde tu vais? – e John começou a segui-la. – Fica mais um pouco. 

– É esse o problema cara. Se eu ficar vai ficar clichê. Já pensou que droga isso seria? 

– Como posso te encontrar? Onde posso te encontrar? Quando? 

– Só vais me encontrar quando não pensares em me encontrar. 

E a jovem Amie parecia fazer questão de ser complexa. Ou será que a vida de John que era complexa demais para a simplicidade da vida de Amie? Ilusão? Realidade? As histórias e os fatos se mesclaram e se fundiram como as mais belas músicas nos mais aguçados ouvidos. E isso tudo ocorreu em qualquer lugar, com quaisquer pessoas… Somente nos ouvidos de quem se dispôs a ouvir.

Fim?

 

Quarto e último capítulo do especial, de Yannikson Pereira.

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