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Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 19

 [Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Manhã]

MARCELO – E então? É com ele que você tem me traído?
ANITA – (soltando Ricardo) Marcelo? O que faz aqui?
MARCELO – Vim saber notícias de você, mas pelo visto você está muito bem.
ANITA – Não é nada disso, o Ricardo é só um amigo meu e meu patrão.
MARCELO – Você sumiu Anita, não mandou uma mensagem, uma ligação, vários dias sem saber de você, sua mãe preocupada e quando enfim ligou nem quis saber de mim.
ANITA – Eu tive alguns problemas quando cheguei no Rio, fui assaltada e levaram meu celular, só conseguir um novo quando vim trabalhar aqui, por isso não telefonei antes.
RICARDO – É verdade, posso te assegurar que ela não está mentindo.
MARCELO – Mermão fica na tua antes que eu te dê uns bogues.
RICARDO – Bogues?
ANITA – É como chamam soco lá no Maranhão.
RICARDO – Bem, acho que você pode ficar no hotel que ficou hospedada antes.
MARCELO – Nada disso, ela vem comigo.
EUPÁTRIDA – (se aproximando com outro capangas com armas na mão) Nada disso ela vem com a gente.
RICARDO – O que é isso?
EUPÁTRIDA – Ficam parados onde estão que ninguém vai se machucar, agora vamos.
SUSANA – (desesperada) Não, minha filha não.
MARCELO – O que vocês querem.
RICARDO – Vamos fazer um acordo, eu pago o valor que vocês querem.
EUPÁTRIDA – Não queremos dinheiro algum, agora vamos, você não quer que haja uma chacina aqui né.
ANITA – Eu vou, mas deixem eles. (voltando para Marcelo, Susana e Ricardo) Fiquem tranquilos vai dar tudo certo.

O Eupátrida pega Anita pelo braço e leva para o carro, enquanto os capangas se afastam, mas apontando as armas para Marcelo, Susana e Ricardo)

SUSANA – (Gritando) Minha filha não (tenta correr até o carro)
MARCELO – (Segurando Susana) Calma, nós vamos trazê-la de volta.
RICARDO – Vamos, eu lhe prometo, eu sei para onde levaram ela.
SUANA – Pra onde?
RICARDO – Um galpão na zona portuária.
MARCELO – Como você sabe disso?
RICARDO – Bem, tem uma coisa sobre a Anita que vocês não sabem.

***

[UPA Madureira, Rio de Janeiro – Manhã]

DONA ROSA – (Na recepção) Estou procurando o meu filho, Leonardo da Silva, ele foi trazido da UFRJ, parece que passou mal.
RECEPCIONISTA – Ele está sendo atendido, vou pedir para que o vigilante a leve até lá.
DONA ROSA –Tudo bem.

O vigilante se aproxima e leva Dona Rosa até o consultório.

DONA ROSA – Meu filho, o que aconteceu? (Abraça Leonardo)
LEONARDO – Nada mãe.
DONA ROSA – Então doutor, ele está bem?
MÉDICO – Bom, parece que o rapaz aqui resolveu parar de comer e começou a tomar vinagre.
DONA ROSA – (Olhando para Leonardo) Mas por que você fez isso?
LEONARDO – Eu preciso ficar magro, para poder as pessoas se interessarem por mim, pra ficar bonito, pra não ouvir mais chacota ou apelidos, para que as pessoas não me vejam como uma aberração, uma baleia orca, que não pode amar ninguém.
DONA ROSA – Mas você não é uma aberração.
MÉDICO – Bem, eu vou passar para ele tomar soro aqui, para ele ganhar alguma força, quando chegar em casa tem que comer. Para de tomar vinagre que isso não ajuda emagrecer ninguém, só faz mal para seu estomago e esôfago. Eu vou passar uma endoscopia para ver se está tudo bem com esses órgãos, o ácido do vinagre pode ter afetado eles, além disso vou encaminhá-lo para um psicólogo, você tem problema com autoestima e está desenvolvendo um quadro depressivo.
LEONARDO – Eu não preciso de psicólogo, preciso emagrecer, ficar bonito. (Levanta)
DONA ROSA – (falando pra Leonardo) Ei calma ai. Obrigada doutor.
MÉDICO – Aqui está o receituário e os encaminhamentos para o exame e o psicólogo.
DONA ROSA – Obrigada.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz, Sala – Manhã]

BEATRIZ – Você quer comer alguma coisa?
MAXWELL – Não mãe, eu não quero nada. A senhora vai ficar do meu lado o tempo todo agora? Como se eu fosse uma criança?
BEATRIZ – Me desculpe meu filho, eu só quero que você se sinta bem.
MAXWELL – Só quando eu voltar a enxergar que vou ficar.

A campainha toca e Raimunda vai atender.

RAIMUNDA – (abrindo a porta) Pois, não?
LIA – Oi, meu nome é Lia, eu que chamei a ambulância para socorrer o Maxwell, na queda acabou caindo a carteira e o celular também, eu vim entregar e saber como ele está.
BEATRIZ – (Aproximando) Quem é Raimunda?
RAIMUNDA – Essa jovem que está dizendo que veio trazer o celular e a carteira de Maxwell.
BEATRIZ – E então cadê as coisas?
LIA – Estão aqui (pega na bolsa e estende para Beatriz)
BEATRIZ – (Pega rapidamente os pertences) Já entregou, agora pode ir.
LIA – Eu queria saber notícias dele.
BEATRIZ – O Maxwell está ótimo, já tem sua notícia.
MAXWELL – (aproximando-se com a bengala guia) escutei o meu nome, quem está ai?
BEATRIZ – É ninguém filho, só uma mulher que veio deixar sua carteira e telefone.
MAXWELL – (Estendendo a mão para o nada) Muito obrigado.
LIA – (pegando a mão) Por nada e como você tá?
MAXWELL – Mão delicada e macia… Entre, por favor, conversamos aqui dentro.
BEATRIZ – Mas você tem que descansar.
LIA – Se eu tiver incomodando posso voltar outra hora.
MAXWELL – Não, nada disso, entre.

Maxwell pega a mão de Lia e a leva para dentro. Beatriz observa com Raimunda.

LIA – E então, como você tá depois do acidente?
MAXWELL – Eu ainda sinto dores, e estou temporariamente cego.
LIA – Quanto tempo vai ficar nessa situação?
MAXWELL – Não sei, pode demorar, pode ser rápido.

Perto da escada.

BEATRIZ – Eu espero que ele não se interesse por ela.
RAIMUNDO – Até parece que você não conhece o seu filho, sempre rodeado de mulheres.
BEATRIZ – Mas essa daí é totalmente diferente das outras, não é sendo preconceituosa, já que hoje em dia nem podemos mais expressar nossa opinião, mas ela é muito… como posso dizer, desprovida de beleza. Já vi modelos vindo aqui em casa… Deus não há de deixar.
RAIMUNDA – Não fale assim, a senhora nunca ouviu falar em beleza interior
BEATRIZ – Que beleza interior o que. Deixe de conversa e vá logo trabalhar, diga para Abigail pegar todas as roupas suja do Fernando e do Maxwell e bota para lavar, depois diga para ela arrumar todas as roupas dele dentro das malas que depois ele vem pegar ou eu mando pro hotel onde ele estiver.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Hotel de Susana – Manhã]

RICARDO – A Anita foi enganada por uma sociedade secreta machista e acabou se tornando uma escrava deles, ela conseguiu fugir, por isso não tava conseguindo falar com vocês. Eu encontrei ela na noite que ela conseguiu fugir, ajudei ela e arrumei um emprego lá em casa.
SUSANA – Obrigado, mas por que ela não nos pediu ajuda?
RICARDO – Pra proteger vocês.
MARCELO – Proteger? Íamos ajudá-la, levá-la de volta pro Maranhão.
RICARDO – Cara, acho que eles iriam atrás dela onde fosse.
MARCELO – E agora? O que vamos fazer?
RICARDO – Bom, ela me disse que quando fugiu viu uma placa escrita zona portuária e com numeração de 60 a 65, suponho que seja os galpões que tem lá na zona.
SUSANA – Vamos chamar a polícia e dar essa informação para eles.
RICARDO – Melhor não, pode ser pior para elas, eu vou ligar para o meu pai e ver o que podemos fazer.
MARCELO – Eu vou com vocês.
RICARDO – Pode ser perigoso.
MARCELO – E eu por acaso tenho medo de perigo?
RICARDO – Tudo bem, vou falar com meu pai.

***

[Zona Portuária, Rio de Janeiro, Galpão 64 – Manhã]

EUPÁTRIDA – (no telefone) Sim, deu tudo certo, estamos com ela aqui no galpão.
BASILEU / JOANA – Ótimo, mas eu queria uma reunião a noite, assunto importante sobre o futuro da sociedade.
EUPÁTRIDA – Tudo bem, até a noite então, vou dar um corretivo naquela vadia por ter fugido.
BASILEU / JOANA – Não, eu quero encontrar com ela pessoalmente, em uma sala reservada.
EUPÁTRIDA – Ok (desliga o telefone), Rapazes deixem ela trancada na sala de jogos.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Leonardo – Hora do almoço]

DONA ROSA – Eu preparei um almoço bem delicioso para nós hoje.
LEONARDO – Eu não quero comer nada, não estou com fome.
DONA ROSA – Vai comer sim, escutou o que o médico falou.
LEONARDO – Eu preciso emagrecer, preciso ficar bonito
DONA ROSA – Você é bonito, meu amor. (dar um beijo na bochecha de Leonardo), você é bonito do jeito que é. Vai comer porque assim não vai apenas emagrecer, vai acabar morrendo, prometo que vou marcar uma consulta com o nutricionista para você ter uma alimentação saudável.
LEONARDO – Ah, mais isso demora, pelo SUS deve ser pra daqui dois meses.
DONA ROSA – Tenha calma, que você vai conseguir, agora trate logo de comer mocinho.
LEONARDO – Cadê a Benedita?
DONA ROSA – Eu não sei, saiu, não disse para onde ia. Vou ligar para ela.

Dona Rosa vai até a sala e pega o telefone.

DONA ROSA – Alô!, Filha? Onde você está?
BENEDITA – Eu to com uma amiga, vou almoçar fora, quando chegar vamos conversar, uma conversa séria.
DONA ROSA – Ainda sobre aquela história? Já disse para esquecer.
BENEDITA – Eu não vou esquecer, tenho direito de saber a verdade. Agora preciso ir, até mais tarde. (desliga)

Dona Rosa coloca o telefone no gancho e fica triste.

DONA ROSA – Minha menina

***

[Leblon, Rio de Janeiro, Restaurante Le gustô – Hora do almoço]

BENEDITA – Eu nunca tinha provado comida francesa.
JOANA – Eu particularmente adoro.
BENEDITA – é tão bom.
JOANA – Pois comigo você vai comer sempre bem.
BENEDITA – Quando o resultado do exame fica pronto?
JOANA – Hoje à tarde ou amanhã pela manhã, mas fique tranquilo vai dar positivo. Agora termine que temos que passar em um lugar.
BENEDITA – Ta bom, onde?
JOANA – Na casa da minha outra filha.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Tarde]

Beatriz está sentada no sofá, quando Abigail passa com uma cesta de roupa.

BEATRIZ – Ei, ei, ei, ei, onde você vai com essa cesta de roupa molhada?
ABIGAIL – Vou estender lá no jardim, porque o varal já está cheio.
BEATRIZ – (Levanta) Tá ficando louca, né? Tá achando que minha casa é o que? Favela? Não é porque moramos em um subúrbio que minha casa vai ser um. Chega uma visita e dá de cara com uma cueca, onde já se viu.

A campainha toca.

BEATRIZ –Tá vendo? Agora leva essa cesta daqui.
ABIGAIL – Mas…
BEATRIZ – (Cortando) Sem mais, sai daqui com essa cesta logo, deixa que eu atendo a porta.
ABIGAIL – Não tem mais onde botar, muita roupa lavada hoje.
BEATRIZ – Dá teu jeito, coloca atrás da geladeira, só não me coloca aqui no jardim, agora vai.

Abigail sai e Beatriz vai atender a porta.

BEATRIZ – Pilar? Quanto tempo (abraça)
PILAR – Eu soube do acidente com o Maxwell e vim ver como está. Além disso não estou mais com o Ricardo, fico com vergonha de vir aqui.
BEATRIZ – Deixe disso querida, entre. Você é de casa, sempre bem-vinda. Nem ti conto as últimas.
PILAR – Pois conte sim. (rir)
BEATRIZ – Você não precisa mais se preocupar com a empregada, coloquei ela pra correr daqui.
PILAR – Como foi isso? Me conta.
BEATRIZ – O mundo é pequeno mesmo, acredita que ela é filha da mulher que matou o meu pai?
PILAR – Logo vi que não era gente boa, coisa ruim vem de sangue.
BEATRIZ – Coloquei também meu marido para fora dessa casa. Ele que trouxe a mãe da desgraçada para o Rio. Devia era ter matado ela quando tive chance.
PILAR – Beatriz, você não é uma assassina.
BEATRIZ – Mas quando o sangue ferve, a gente perde a razão.
PILAR – Bem, onde está o Maxwell?
BEATRIZ – Está no quarto dele, acredita que veio uma, como posso dizer educadamente, uma mulher desprovida de beleza aqui devolver as coisas dele e ficaram íntimos ai conversando, ele que namorou grande modelos.

A campainha toca, Raimunda vai atender a porta.

RAIMUNDA – (Abrindo a porta) Pois não?
JOANA – Eu estou procurando a minha filha, a Beatriz.
RAIMUNDA – Desculpe mas acho que você errou de casa.
JOANA – De certo que não, pode chamá-la?
RAIMUNDA – Espere um momento

Raimunda vai até onde Beatriz e Pilar.

RAIMUNDA – Desculpe interromper a conversa, mas é que tem uma mulher na porta dizendo ser sua mãe, dona Beatriz.
BEATRIZ – Como é que é? Minha mãe?
RAIMUNDA – Sim, como eu lhe disse
BEATRIZ – Sim eu entendi, não sou surda. (Falando para Pilar) Querida vou ver que história é essa, fique à vontade. Aceita alguma coisa?
PILAR – Um suco por favor.
BEATRIZ – (Se dirigindo a Raimunda) Você escutou né? Agora deixa eu ir ver.

Beatriz se aproxima da porta e quando levanta a cabeça um turbilhão de memorias vem a sua mente.

BEATRIZ – Mãeinha.

***

[Joalherias Meu Rio escritório – Rio de Janeiro – Tarde]

RICARDO – Temos que fazer alguma coisa, pai. Não posso deixar a Anita com esses caras.
TEODORO – Mas temos que pensar com calma meu filho, o que você quer fazer? Ir procurando em cada galpão por ela? Muito perigoso.
RICARDO – Então vamos até a polícia, isso é tráfico de pessoas.
TEODORO – Acho mais sensato.
RICARDO – Então vamos, Dona Susana está muito abalada.
TEODORO – Imagino. Uma mãe sabe a dor de ver um filho sofrer.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Leonardo – Quarto – Tarde]

LEONARDO – (No telefone) Eu to bem Alicia, não precisa si preocupar.
ALICIA – Claro que me preocupo, você é meu amigo.
LEONARDO – Como eu disse, estou bem. Como foi o resto da aula?
ALICIA – O professor liberou logo depois que você desmaiou.
LEONARDO – Pelo menos uma coisa boa eu fiz, livrei vocês daquela aula.
ALICIA – Você faz muitas coisas boas.
LEONARDO – Não adianta eu ter mil qualidades, que quando eu gosto de alguém só sabem olhar para os meus defeitos, principalmente o físico. Parece que eu tenho uma doença, saca? Que quando eu gosto de alguém as pessoas se afastam como se fosse algo contagioso. Sinto como se eu não pudesse amar ninguém e ninguém pudesse me amar.
ALICIA – Oh, meu anjo, não pense assim, você é um cara super bacana, si preocupa com as pessoas e isso que é a beleza verdadeira, mas você está gostando de alguém?
LEONARDO – Não, deixa pra lá.
ALICIA – Tem certeza.
LEONARDO – Bem… hum. Sim, tenho.
ALICIA – Se tem porque isso está ti incomodando tanto?
LEONARDO – Por nada.
ALICIA – Bem, mudando de assunto, e seu aniversário amanhã?
LEONARDO – É só mais um dia normal como qualquer outro, não tenho nada para comemorar.
ALICIA – Como não? A sua vida, já é uma grande comemoração.
LEONARDO – (fala baixo) Eu nem queria tá vivo.
ALICIA – Como?
LEONARDO – Nada, eu disse que isso não é importante… Alicia eu preciso desligar, eu estou sentindo-me um pouco tonto ainda.
ALICIA – Tudo bem, espero que melhore logo, amanhã te vejo na faculdade.
LEONARDO – Até lá (desliga)

Leonardo deita-se na cama.

PENSAMENTO – Ela nunca vai ti querer, você é feio, gordo, chato. Ninguém ti quer, você vai ficar sozinho, seu gordo, sozinho…

Leonardo sente as lágrimas rolar pelo rosto, tenta desviar o pensamento para algo positivo, mas é vencido pelos pensamentos negativos.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Sala – Tarde]

BEATRIZ – Mãeinha.
JOANA – Minha filha.
BEATRIZ – (Com raiva) Como a senhora pode me abandonar? Eu era só uma menina, fiquei sozinha.
JOANA – Eu deixei você com sua avó, ela ia cuidar de você. E eu nunca te abandonei, eu precisava ir atrás de sua irmã.
BEATRIZ – Você não sabe como minha vida virou um inferno depois que você foi embora.
JOANA – Eu te disse que iria voltar quando encontrasse sua irmã. (aponta para Benedita)
BEATRIZ – Ah não, não me diga que essa quenga é minha irmã?
JOANA – Vocês já si conhecem?
BEATRIZ – Eu tive o desprazer de tê-la em minha casa com meu filho… Pera aí, vocês não fizeram nada não, né? Porque além de quenga, também prática incesto?
BENEDITA – Claro que não e eu não sabia.
BEATRIZ – A culpa de toda a desgraça na minha vida foi tua, só você nascer que eu perdi minha casa, meu pai, minha mãe, tudo.
BENEDITA – Tá louca? Eu era uma recém-nascida como podia ter feito essas coisas? Deve ser a velhice mesmo que já está afetando seus neurônios.
JOANA – Chega vocês duas, eu cumpri o que prometi, de voltar quando encontrasse sua irmã. Agora podemos entrar? Eu ti dei educação, isso tenho certeza.

***

[Polícia Federal, Rio de Janeiro, Delegacia – Tarde]

DELEGADA – Bom, me expliquem o que aconteceu.
SUSANA – A minha filha delegado, ela foi sequestrada, foi levada por uma organização secreta.
DELEGADO – Sociedade secreta?
RICARDO – Bem, vou explicar do início. A Anita foi trazida para o Rio de Janeiro enganada por uma sociedade secreta, ela pensava que iria vir para trabalhar, mas acabou tornando-se uma escrava sexual de um grupo que inclui gente poderosa de todo o país. Ela conseguiu fugir, mas eles vieram atrás dela e a levaram.
DELEGADO – E o senhor é o que para ela?
RICARDO – Um amigo, quando ela estava fugindo, acabou esbarrando em mim, consegui emprego para ela e tiramos uma nova identidade.
DELEGADO – E como você sabe tudo disso?
RICARDO – Bem, ela me contou.
DELEGADO – Mais alguma informação relevante.
RICARDO – Humm… Ah sim, ela me disse que quando tava fugindo viu uma placa com o nome Zona Portuária, Galpão de 60 a 65. Por isso viemos aqui, talvez eles estejam em um desse galpões.
DELEGADO – Vou pedir uma levantamento dos galpões da área e verificar quem são os proprietários.
SUSANA – Salva a minha filha, delegado. Salva a minha filha.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Sala – Tarde]

JOANA – Então vai nos deixar entrar ou não?
BEATRIZ – Entrem (vão até onde Pilar) essa é minha amiga e futura mulher do meu filho, Pilar.
JOANA – Um prazer conhecê-la.
PILAR – O prazer é todo meu.
BEATRIZ – Essa é minha mãe, que me largou pra ir atrás dessa demônia, por causa dela fiquei sem ela quando mais precisei.
BENEDITA – Demônia é lá, não tenho culpa se sou preferida.
BEATRIZ – Insolente.
JOANA – Chega vocês duas, parecem duas crianças. Se não pararem vou amarrar as duas bucho com bucho e da uma surra daquelas e depois botar para vocês se beijarem e pedirem desculpa.
PILAR – Bem, eu vou deixar vocês três conversando e eu vou ver como está o Maxwell.
BEATRIZ – Tudo bem querida.

Pilar sobe.

BEATRIZ – Pelo visto a senhora subiu de vida né.
JOANA – Quando eu sai de Mororó, em busca de sua irmã, alguns anos depois me casei com um homem que tinha boas condições, ele morreu alguns meses atrás.
BEATRIZ – E o que a senhora pretende agora?
JOANA – Ficar com vocês duas para sempre. Onde está o Teodoro? Vi em uma reportagem que vocês casaram.
BEATRIZ – Ele deve estar na empresa, vou ligar para ele.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz, Quarto de Maxwell, Tarde]

PILAR – (Entrando no quarto) Iai Max, como você está?
MAXWELL – Cego, apesar de não ser permanente, mas me sinto um peso morto desde que voltei, o único momento que eu não me sentir assim foi quando a Lia veio aqui, você tem que conhecer ela, é uma mulher esplendida.
PILAR – É, eu soube dela, sua mãe disse que ela é, como posso dizer, diferente das outras.
MAXWELL – E muito, tem conteúdo, saca? Uma pessoa maravilhosa.
PILAR – Espero conhecer essa pessoa maravilhosa.
MAXWELL – Você vai gostar.
PILAR – Espero que você goste quando voltar a enxergar.
MAXWELL – Por que?
PILAR – Bom, por nada. Deixa para lá.
MAXWELL – Hum, ta certo. Você pode me ajudar a ir no banheiro? Estou apertado.
PILAR – Claro, (indo até maxwell e ajudando ele a levantar) vamos, deixa que eu te guio… Pronto (abrindo a tampa do  vazo sanitário), vou esperar você lá fora.

Alguns segundos depois.

MAXWELL – Pilar!
PILAR – (Entrando no banheiro) O que foi?
MAXWELL – (sorrindo) Quer dar a balançadinha pra mim?
PILAR – Ah pelo amor de Deus Maxwell, ver se cresce.

***

[Joalherias Meu Rio escritório – Rio de Janeiro – Tarde]

TEODORO – Como assim minha irmã?
BEATRIZ  – A minha mãe de criação, sua irmã, apareceu aqui em casa, tá aqui, quer ti ver.
TEODORO – Joana?
BEATRIZ – E você tem outra? Venha logo para cá (desliga).

Casa de Beatriz.

BEATRIZ – Bem ele já está vindo.
JOANA – Ótimo, mas além do Maxwell, você tem outro filho?
BEATRIZ – Sim, o Ricardo, ele é mais velho.
JOANA – E sua amiga Susana? Vocês eram tão amigas.
BEATRIZ – Bom…

O celular de Joana vibra.

JOANA – (Olhando o celular) É o resultado do exame de DNA.
BENEDITA – E então?

Lucas Serejo

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