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Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 13

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Cozinha – Tarde]

ANITA – Sua mãe é muito exigente.
RICARDO – É eu sei, mas vem aqui (estende a mão) já está na hora de descansar.
ANITA – (Segura a mão de Ricardo) Tudo bem, acho melhor ir tomar um banho, estou toda suja e encharcada de suor.
RICARDO – Que nada, continua bonita da mesma forma.
ANITA – Você sempre me elogiando.
RICARDO – Só digo verdades (rir)
ANITA – Galanteador todo.
RICARDO – Anita, eu queria falar uma coisa… melhor fazer.
ANITA – O que?

Ricardo se aproxima de Anita e a beija. Pilar entra na cozinha.

PILAR – Então você me trocou pela cozinheira?

Ricardo e Anita se separam.

PILAR – E então?
ANITA – Não é nada do que você está pensando.
PILAR – Não?! (com sarcasmo) Então o que eu estou vendo aqui é uma miragem, talvez um pesadelo ou melhor isso aqui é um circo e a palhaça sou eu.
RICARDO – Para com isso Pilar, quer fazer um escândalo uma hora dessa, uma cena.
PILAR – To fazendo mesmo, uma cena trágica e cômica de uma mulher que acaba de ser traída.
RICARDO – Que traída o que? Eu terminei com você, lembra? Não temos mais nada, agora acho melhor você ir.
PILAR – Agora me expulsa?
RICARDO – Só quero evitar mais escândalos.
ANITA – Acho melhor vocês conversarem e esclarecerem tudo.
RICARDO –Não tem nada pra ser esclarecido, agora basta, por favor Pilar, no dê licença.
PILAR – Isso não vai ficar assim. (sai)
ANITA – Não deverias ter feito isso.
RICARDO – Está preocupada com a Pilar.
ANITA – Nós somos amigos e… e eu tenho namorado.
RICARDO – Eu gosto de você.
ANITA – Eu também gosto, mas isso não é certo, nunca mais faça isso, nunca mais.
RICARDO – Tudo bem, fica calma.
ANITA – Melhor eu ir pro meu quarto. (sai)
RICARDO – Boa noite.

***

[São Luís – Maranhão – Casa de Susana – Tarde]

TEODORO – Eu estarei viajando pro Rio hoje a noite, tem certeza que não quer vir?
SUSANA – Eu ainda não sei.
TEODORO – Suas passagens já estão reservadas e o hotel pra você ficar lá também, pensa na sua filha que tá sozinha lá.
SUSANA – Se eu for é só por ela.
TEODORO – Susy, até quando você vai fingir que já não aceitou ir comigo?
SUSANA – Larga de ser chato Teodoro. Que horas é o voo?
TEODORO – As nove da noite.

O telefone de Teodoro toca.

TEODORO – Oi amor.
BEATRIZ – Não vai voltar mais de São Luís?
TEODORO – Volto hoje à noite.
BEATRIZ – E aquele problema no garimpo?
TEODORO – Está tudo sobre controle.
BEATRIZ – Ótimo, boa volta querido.
TEODORO – Obrigado, agora preciso desligar.
BEATRIZ  – Tudo bem
TEODORO – Até a volta (desliga)
SUSANA – Deixa eu adivinhar, Beatriz?
TEODORO – É, perguntando quando volto.
SUSANA – Pelo visto ainda continua ciumenta.
TEODORO – De certa forma eu a entendo, ela sempre perdeu muitas coisas, primeiro a mãe biológica, depois o pai, a mãe de criação, ela é insegura por causa dessas coisas.
SUSANA – Mas ninguém tem culpa dessa insegurança dela. Ela acabou nossa amizade por causa dela, me escorraçou do casarão. Eu vou pro Rio de Janeiro, mas não quero encontrar ela.
TEODORO – Tudo bem, mas acho que deveriam dar uma trégua e superar essas desavenças.
SUSANA – Prefiro evitar… Me diga uma coisa como vamos achar minha filha naquela cidade enorme?
TEODORO – Quando chegarmos irei contratar um detetive pra acha-la. Mas por hora você deveria se preocupar em fazer suas malas, levar o suficiente para passar alguns meses lá.
SUSANA – E minha casa, quem vai tomar de conta dela?
TEODORO – Eu posso contratar segurança patrimonial pra preserva-la durante esse tempo, mas a título de sugestão porque não se muda pro Rio?
SUSANA – E deixar minha terra? De jeito nenhum.
TEODORO – Tudo bem, vou contratar a empresa pra fazer a vigilância. Agora preciso ir, estarei aqui as sete, esteja pronta.
SUSANA –Ta bom.
TEODORO – Trouxe algumas malas pra você.
SUSANA – Eu nem tenho tanta roupa assim.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Casa de Beatriz – Sala – Tarde]

PILAR – A senhora acredita que ele me trocou pela cozinheira.
BEATRIZ – Primeiro que aqui não tem senhora, agora que estou na segunda idade. Segundo, não acho que meu filho se envolveria com a cozinheira.
PILAR – Eu vi os dois se beijando na cozinha, eu sabia que tinha mulher no meio.
BEATRIZ – Calma, isso deve ser coisa passageira, sabe como são os homens.
PILAR – Mas o Ricardo é diferente.
BEATRIZ – Mas continua sendo homem.
PILAR – Eu já não sei mais o que fazer.
BEATRIZ – Ai Pilar, você é uma grande mulher, mas se desespera por tudo, não está vendo que isso não tem futuro? São de classes sociais diferentes, ela é só uma doméstica.
PILAR – Como se isso fosse problema para o seu filho, esqueceu que ele só vive no meio de pobres?
BEATRIZ –Tem razão, mas eu vou dar um jeito nisso, podes confiar.
PILAR – Eu também não vou deixar barato.
BEATRIZ – Assim que se fala.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Leonardo, Quarto, Noite]

Leonardo encontrava-se sozinho no quarto, deitado preparado para dormir, ele pega o celular e admira a foto de uma menina.

LEONARDO – Como você é linda Alicia. (Beija e depois abraça a foto)
PENSAMENTO – Você acha mesmo que ela vai querer ficar com você? Esqueceu o que aconteceu nas outras vezes que tentou se declarar para alguém? É só olhar para você, gordo, feio. Ninguém nunca vai te querer, esquece isso.
LEONARDO – (olhando a foto) Quem sabe um dia você possa olhar para mim Alicia.
PENSAMENTO – Para de se iludir burro, tantos meninos mais bonitos que você, acha mesmo que ela iria te querer? (Ecoando na mente de Leonardo) Gordo… Feio… Sozinho…

Leonardo chora, o vazio dentro dele doí e faz as lágrimas cada vez mais rolarem pelo rosto.

***

[Aeroporto Internacional Tom Jobim – Início da Manhã]

SUSANA – Como é que pode um negócio desse tamanho não cair?
TEODORO – (rindo) Lembro da primeira vez que eu viajei de avião, me fiz a mesma pergunta, mas você me pareceu bem segura.
SUSANA – Você sabe que não sou de demonstrar os meus sentimentos.
TEODORO – É eu sei, quer se fazer de durona. Vamos pegar as nossas bagagens e eu te deixo no seu hotel.
SUSANA – Olha, nada de luxo viu?
TEODORO – Você merece o melhor.
SUSANA – Rum um, te digo nadinha.
TEODORO – Larga de ser ranzinza, agora vamos?
SUSANA – Vamos.

Os dois saem do aeroporto e vão para um hotel em Madureira.

TEODORO – Esse está bom para você?
SUSANA – Está ótimo
TEODORO –Agora tenho que ir, você sabe como a Beatriz é.
SUSANA – Sei sim, sobre a minha filha…
TEODORO – (Cortando) Não se preocupe, vou contratar um detetive, vou deixar aqui anotado o endereço da minha casa, qualquer coisa só me procurar.
SUSANA – (pega  o papel dobra e coloca dentro da bolsa sem ver) Como coisa que eu vou até lá, né. Quanto mais longe da Beatriz, melhor é.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Leonardo – Quarto – Início da Manhã]

DONA ROSA – (Do lado de fora do carro) Leo, tá na hora de levantar meu filho.

Leo não responde.

DONA ROSA – Leonardo, meu filho? Ta aí?
LEONARDO – (grita) Já vou mãe!
PENSAMENTO – Já vai mesmo? Pra que você vai sair dessa cama? O pessoal lá fora vai continuar comentando sobre seu peso, rindo de você, acha mesmo que vai ser diferente? Melhor ficar na cama, aqui tem ninguém para te julgar.
LEONARDO –A mãe precisa de ajuda na venda, melhor ir.
PENSAMENTO – Burro, você sabe que não vai ser um dia bom.

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz–Manhã]

Teodoro chega em casa.

BEATRIZ – Meu amor que bom que chegou, estava morrendo de saudade.
TEODORO – Eu também, como você está?
BEATRIZ – Melhor agora que chegou.
TEODORO – E os meninos como estão?
BEATRIZ – Ricardo terminou com a Pilar e parece que ta se engraçando com a nova cozinheira, mas isso vou dar um jeito.
TEODORO – Beatriz deixa ele, já é maior de idade.

Maxwell desce as escadas.

MAXWELL – Iai coroa, como foi a viagem (indo até onde o pai)
TEODORO – Foi cansativa e você como tá?
MAXWELL – To de boa.
BEATRIZ – De boa nada, tá é perdido isso sim… Acredita que resolveu trazer prostituta pra casa?
TEODORO – Como assim? Explica melhor.
MAXWELL – Que prostituta o que, a Benedita é uma amiga minha, mamãe que cismou com isso agora.
TEODORO – Ah sim.
BEATRIZ – Conheço cheiro de puta de longe… Maxwell escuta a mamãe, essa moça não é flor que se cheire.
MAXWELL – Você acha isso de todo mundo.
BEATRIZ – Meu filho, a gente precisa comer um quilo de sal com a pessoa para saber quem ela é.
TEODORO – Bem eu vou descansar um pouco, antes do almoço.
BEATRIZ – Ta bom meu amor.
MAXWELL – Eu vou dar um role.
BEATRIZ – Nada disso,você vai sentar lá na mesa e tomar um bom café.
MAXWELL – Mas mãe…
BEATRIZ – (Cortando) Sem mais, já pra mesa tomar café mocinho.

***

[São Luís – Maranhão – Casa de Marcelo –Manhã]

Marcelo estava saindo do banho, quando seu celular toca.

MARCELO – Oi dona Susana, como vão as coisas?
SUSANA – Estou bem, só estou ligando para avisar que não estou em São Luís, estou no Rio de Janeiro, vim atrás da Anita.
MARCELO – A senhora conseguiu alguma notícia dela?
SUSANA – Ainda não, mas assim que eu tiver eu lhe digo.
MARCELO – Eu não sei se vou conseguir ficar aqui esperando sem notícias Dona Susana, eu amo muito a sua filha.
SUSANA – Eu compreendo, acredito no seu amor por ela, vejo que cuida dela, espero que possam mesmo ficar juntos para sempre.
MARCELO – Obrigado, qualquer notícia que tiver me avise.
SUSANA – Sim claro, agora preciso desligar, fique bem meu filho.
MARCELO – Obrigado dona Susana.

Marcelo desliga o celular, olha a foto da Anita que estava no bloqueio de tela e deita na cama.

MARCELO – Anita, Anita onde será que você está?

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Cozinha –Manhã]

ABIGAIL – A dona Beatriz e o filho já estão na mesa e ainda tem nada pronto.
RAIMUNDA – Eu to fazendo o que eu posso, cadê a Anita?
ABIGAIL –Ainda não deu as caras por aqui.
ANITA – (Entrando na cozinha) me desculpem o atraso, perdi o horário.
ABIGAIL –Tá querendo perder é o emprego mesmo.
ANITA – Eu vou preparar os omeletes e já sirvo, alguém pode preparar um suco para mim?
RAIMUNDA –Claro.
ANITA – Vai dar tudo certo.

Na mesa do café Ricardo senta com o irmão e a mãe.

RICARDO – O pai já chegou?
BEATRIZ – Sim e foi descansar, mas acho que precisamos conversar, né?
RICARDO – Sobre?
BEATRIZ –Tem coisas que eu deixo passar, mas algumas não posso deixar com tanta facilidade, a Pilar veio conversar comigo sobre o que aconteceu ontem.
RICARDO – Ela contou que já tínhamos terminado?
BEATRIZ – Trocar a Pilar, que é uma mulher fina, elegante, tem posses por uma cozinheira?
MAXWELL – Foi rápido em maninho e a nova cozinheira é uma delícia de mulher, muito linda, até eu queria ficar com ela.
BEATRIZ – (dando uma mãozada no braço de Maxwell) Que linguaja é esse menino? Pois, quero que saiba senhor Ricardo que não me agrada nada de ver meu filho se enrabichando para cima de empregada, isso não tem futuro.
RICARDO – Mãe para a senhora as coisas só têm futuro se tiver dinheiro no meio, a felicidade é muito mais que bens matérias.
BEATRIZ – Quero ver é a felicidade encher bucho.
MAXWELL – O café está demorando, né?
RICARDO – (Se levantando) Eu vou lá ver o que aconteceu.
BEATRIZ – (Intervindo) De maneira alguma, sente-se, eu vou lá ver. (sai)
MAXWELL – A mamãe é fogo, né mano?
RICARDO – E põe fogo nisso.

Na cozinha.

BEATRIZ – Acho que eu tinha dito que não queria mais atrasos na hora das refeições.
ANITA – Desculpe dona Beatriz, a culpa foi toda minha.
BEATRIZ – Já ta fazendo corpo mole, não podemos nem elogiar mais empregados, depois quero ter uma conversa a sós com você.
ANITA – Claro, sim senhora.
BEATRIZ – Agora apressem esse café antes que ele vire almoço. (sai)
ABIGAIL – Olha é bom tu andar na linha porque essa daí é pior do que o capeta.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Mercadão de Madureira –Manhã]

DONA ROSA –Você parece cansado meu filho.
LEONARDO – Não dormir direito essa noite.
DONA ROSA –Insônia?
LEONARDO – Meus pensamentos que não deixaram eu dormir, ficaram girando na minha mente.
DONA ROSA – Você não quer ir pra casa descansar?
LEONARDO – E deixar você aqui sozinha? Não mãe.
DONA ROSA – Cadê sua irmã?
LEONARDO – Acho que fingiu que acordou quando a senhora chamou e voltou a dormir.
DONA ROSA – Pois amanhã ela vai ter uma surpresinha, hoje podemos encerrar mais cedo para você descansar e dormir antes de ir pra faculdade.
LEONARDO – Tudo bem mãe. (Pensa e depois fala como se quisesse falar algo) Mãe…
DONA ROSA – Sim?
LEONARDO – (Como se tivesse desistido de falar) Te amo.
DONA ROSA – Também te amo.

[Madureira – Rio de Janeiro – Hotel –Manhã]

Recepção do Hotel.

SUSANA – Por favor, você poderia me indicar onde tem uma igreja aqui perto?
RECEPCIONISTA – Tem a Igreja do Santo Sepulcro que fica aqui perto, vou anotar pra a senhora o endereço… Pronto ta aqui.
SUSANA – Obrigado. (Pega o papel e coloca na bolsa) O senhor sabe que ônibus passa lá.
RECEPCIONISTA – Dá para ir andando, se a senhora quiser pode contratar o serviço de passeios ou de carros alugados.
SUSANA – Não obrigado eu vou andando, dizem né que quem tem boca vai até Roma né?

O Recepcionista sorri.

SUSANA –Podes me explicar como chega lá?
RECEPCIONISTA – Você vai sair do hotel e seguir para a direita, daqui a uns três, não, quatro quarteirões você vira a esquerda, você pode se informar mais lá.
SUSANA – Obrigada.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Quarto –Manhã]

ANITA – A Senhora queria falar comigo?
BEATRIZ – Sim, entre.
ANITA – (Entrando) Pois não?
BEATRIZ – Eu vou direto ao assunto, qual é a sua garota?
ANITA – Não entendi.
BEATRIZ – Apareceu aqui do nada e agora quer ficar com o meu filho, não se faça de sonsa.
ANITA – Eu não sei do que a senhora está falando, eu vim atrás da vaga porque eu precisa do emprego, tanto para me manter aqui no Rio, quanto para ajudar minha mãe que está doente no Maranhão.
BEATRIZ – Hum Maranhão (pensa) e de qual município?
ANITA – Ela é da capital.
BEATRIZ – Voltando ao assunto, se quer manter seu emprego é bom ficar longe do meu filho, não vou aceitar que uma mulher venha lá do escambal para separar ele de minha nora.
ANITA –Eu não separei ninguém, ele já tinha terminado com ela.
BEATRIZ – Não importa. Escuta bem, se você não se afastar dele eu te boto no olho da rua entendeu? Não fique chateada eu só estou defendendo os meus interesses e princípios.
ANITA – Tudo bem, serei profissional.
BEATRIZ – Ótimo, agora preciso que compre algumas coisas para o almoço. (Entrega a lista e o dinheiro)
ANITA – Tá bom. (Sai)

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Manhã]

Susana anda pela rua e procurar o papel como o endereço da igreja dentro do bolsa, para em um bar e mostra para um dos atendentes.

            ATENDENTE – A senhora vai virar a esquerda e no primeiro canto a direita e vai chegar logo.
            SUSANA – Obrigada.

Susana volta a caminhar e em pouco tempo está na Rua João Pereira, ela olha de um lado para o outro e não ver igreja nenhuma, pega o papel e ler o endereço e se dar conta de que era o errado. Ela avista uma mansão e deduz que ali mora sua ex-amiga Beatriz. Ver alguém saindo do casarão e se esconde, mas fica olhando, ver Anita saindo da casa e depois um rapaz que a abraça, Anita se desvencilha e sai para o portão, de dentro uma mulher chama por filho, o rapaz que tinha abraçado a filha de Susana.

Anita anda pela calçada em direção ao ponto de taxi. Atrás dela surge uma mulher.

SUSANA – Anita!?

Lucas Serejo

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